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e-RP

As Relações Públicas na Era da Internet


Herlander Elias
Universidade da Beira Interior
helias@sapo.pt

As Relações Públicas na era da Internet de uma dada área, a verdade é que o discurso
enfrentam o desafio da nova telecomunica- das RP mudou com o ciberespaço.
ção, para a qual se requer também um novo Numa moldura contemporânea repleta de
tipo de abordagem na área das Ciências da constantes mutações, em que o planeamanto
Comunicação. Por natureza, as Relações Pú- estratégico da comunicação tende a conside-
blicas encontravam-se no antípoda da Inter- rar tácticamente essas mutações, as RP ad-
net. As Relações Públicas originalmente pri- quirem um novo papel na área da comuni-
vilegiavam a Assessoria de Comunicação, a cação; o de prolongar uma mediação tecno-
figura do Assessor, o comportamento diplo- lógica concomitante com a do discurso so-
mático e a Imagem de Marca de uma Ins- cial. Sabemos que a comunicação e o ac-
tituição relativamente aos media ou ao pú- tual “ambiente-de-media” favorecem a imer-
blico. É claro que o público poderia sempre são do sujeito no seu ciberespaço, o que vem
ser o público mais específico de um evento, trazer algumas alterações mesmo ao nível da
de um sector profissional ou de um tipo con- própria concepção de “espaço público”, uma
creto de produção de acontecimentos dignos vez que todo o espaço é potencialmente me-
de mediatizar. Também é verdade que a In- diatizado, se ainda não o for. Além disso, a
ternet tradicionalmente tendia para a comu- noção de publicidade alterou-se também, o
nicação à distância, mas depois dos emails que fez com que a noção de público se adap-
se terem generalizado para todos os utiliza- tasse à nova noção de privado. Com as co-
dores do ciberespaço, bem como o aumento municações móveis a publicidade que se di-
da largura de banda ser altamente favorável rigia ao sujeito individual muda quando este
à videoconferência e ao videochat, as RP en- circula na rua e espalha a mensagem que o
contram na Internet um ponto de partida ou seu dispositivo com Internet Wi-Fi divulga,
uma extensão do trabalho iniciado na agên- recebe ou exibe. A publicidade é cada vez
cia. Por outras palavras, quer o RP de agên- mais feita pelo próprio cidadão, então tor-
cia, quer o RP freelancer se concentrem nos nado cidadão publicitário. E como este cida-
eventos e na relação com as figuras da indús- dão circula pelo espaço urbano, onde a pu-
tria, os jornalistas ou o público segmentado blicidade é mais feroz, por exemplo ao ní-
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vel de anúncios de outdoor ou de audiovi- tário, ferramenta de edição de texto e de pro-


sual, há como que uma difícil, mas não me- dução gráfica, animação e cultivo do leque
nos complicada, tentativa de misturar o es- de clientes para actividades de account. Na
paço público com o espaço privado, na óp- maneira de ver o mercado a agência encon-
tica da publicidade. Portanto as agências já tra no ciberespaço mais um meio para pro-
estão a criar conteúdos online para que seja mover eventos, que por mais que o ciberes-
descarregados pelos utilizadores, no sentido paço esteja evoluído, este nunca substituirá
de que estas possam fazer a sua tarefa: reme- o real. Mas também temos o caso oposto, o
diar o discurso publicitário, elevando a pro- de existirem agências que começam precisa-
moção a um terceiro nível; isto é, após agên- mente por promover eventos exclusivamente
cia e suportes de comunicação públicos, para online. Os casos de mais sucesso requerem a
os media portáteis. Com a Internet de hoje a simbiose de ambas as estratégias. Ou seja, a
publicidade está mais rápida, dirige-se a pú- de promover sempre através da Internet sem
blicos cada vez mais segmentados e encon- ficar tecnodependente, a não ser que o ni-
tra nos dispositivos móveis uma subversão. cho de mercado em questão seja substancial-
Essa novidade implica que seja difícil de de- mente considerável online, face ao do mundo
terminar onde termina a publicidade dirigida real.
ao espaço público e ao espaço privado, dado Quanto ao discurso das RP na era da Inter-
que os novos aparelhos de media portáteis net, o que faz com que ambos os pólos se to-
como a PSP (PlayStation Portable), da Sony, quem é que tanto as Relações Públicas, como
ou o iPhone, da Apple, são temporariamente a Internet, padecem de ser esferas dependen-
fixos e temporariamente móveis. O mesmo tes de “relações”. No caso do ciberespaço,
será dizer que o regime do que é público ou os canais de conversação, os sites de progra-
privado tende a ser caótico e complexo de mação cultural, os sites de Agência, os de
definir em termos de fronteiras, quando a pu- artistas auto-representados, todos eles visam
blicidade e a privacidade se tornam comple- promover a ligação forte entre o público e
mentares. o site em questão. A questão é que a Inter-
Relativamente às RP própriamente ditas, net é muito mais do que sites de instituições,
esta área da comunicação veio encontrar ini- assim como mensagens enviadas com gráfi-
cialmente no ciberespaço, mais concreta- cos e convites animados por email, participa-
mente nos Web Sites, uma extensão de media ção em canais de conversação directa como
para divulgar conteúdos, receber utilizado- MSN Messenger, ou de acesso público como
res, organizar agendas comerciais, divulgar a os usuais canais de MIRC. Para além destes
programação de eventos e comunicar com o MUDs (MultiUser Displays ou Domains), o
novo público. E esse novo público, da emer- ciberespaço veio facilitar a comunicação de-
gente geração Internet, já reconhece que o ci- pendente de correio, desta feita electrónico,
berespaço, pelo tempo que nos exige, no mí- mas despojada dos erros do suporte-papel
nimo, é já uma extensão do espaço real. Fun- aquando dos envios de FAX, por exemplo.
ciona como extensão no caso da Internet por- Envio de imagem digital, vídeo para a Web
que se trata de mais um instrumento de traba- disponibilizado online acerca de eventos, en-
lho, que é simultaneamente suporte publici- trevistas exclusivas, fotos manipuladas em

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Adobe Photoshop e animações de Motion Os profissionais da RP, em agência, lidam


Graphics são apenas algumas das mais va- com clientes certos, campanhas e marcas que
lias que as RP encontram no espaço digital. são coniventes em termos de planeamento,
Numa era de constante comunicação multi- o que lhes permite abordar a Internet num
dimensional e não-linear, o conceito de ad- quadro de tempo mais sistémico (organiza-
ded value é relevante porque tudo tem de ção de dados e calendarização de eventos);
ter algo mais, caso contrário parece que tem mas os RP freelancers são mais autónomos
algo menos, mesmo quando o que quer que e podem migrar de marcas, produtos, cam-
se anuncie pareça aceitável. panhas e serviços, simplesmente por terem
A Internet vem modificar o acesso à infor- um posto de trabalho móvel com acesso In-
mação, e aliar-se fortemente à publicidade, ternet. Neste caso em especial, o RP está
mas onde esta erra pela sua comunicação usufruir da tecnologia digital, mas ao mesmo
propositadamente dirigida à distância para o tempo é organizado por essa mesma tecnolo-
público, com excepções, é claro, as RP triun- gia, ficando mais dependente, em termos téc-
fam. O segredo das RP na era da Internet nicos, mas pessoalmente, mais liberto. Ao
prende-se com o facto de que: com tanta relacionar-se com o público de um evento,
informação omnipresente e um discurso pu- o RP freelancer pode tirar partido das múl-
blicitário repetível incessantemente, onde só tiplas experiências e injectar conhecimento
mudam as narrativas e as figuras, as RP bene- em estado óptimo nas comunicações e me-
ficiam da vantagem de sublinhar o regresso diações que fizer em público. Para este mo-
ao Real. Noutros termos, as RP apostam no delo de trabalho em RP, o mais interessante é
regresso ao contacto com o humano, com o que se trata de um RP que disfruta do conhe-
público “palpável”, na orientação da comu- cimento de públicos, que podem ser muito
nicação proxémica, em detrimento da eterna adversos entre si, mas cuja atitude beneficia
dependência da telecomunicação. Uma ou- desse novo formato de cruzamento de infor-
tra questão também é esta: “até que ponto é mação, por sua vez herdeiro dos cross media.
que faz sentido pensarmos em telecomunica- A Internet modificou o panorama das co-
ção?”, quando o que se passa é que a comu- municações, em geral, de uma forma muito
nicação no ciberespaço já implica o seu pró- avassaladora.
prio modelo de proxémia. Este modelo é o Na realidade, a Internet que temos não tem
modelo da associação de contactos por dis- nada que ver com a Internet que surgiu no
positivos de competência técnica, da gestão início da década de 90, e menos terá a ver
de bases de dados, de informação viral lan- com a Internet que vem. Esta futura ver-
çada online como “boato”, ou simplesmente são da Rede implicará computadores mais
o de promoção de figuras. Para este caso da pequenos, componentes miniaturizados, dis-
promoção de figuras, sejam estas conheci- cos rígidos ópticos, vídeo de alta-definição,
das do grande público, ou não, o importante ligações Wireless metropolitanas e mobiliá-
é que funcionam como estado-atractor para rio informático em grande expansão. Nas
que o público online sinta interesse em con- nossas vidas, o que construímos cada vez
firmar na realidade um evento em concreto. que alimentamos o ciberespaço com o nosso
acesso singelo é a manutenção de um sen-

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timento de comunidade cada vez mais per- vistas online e a disponibilização de stands
dido na contemporaneidade dita de “carne e interactivos com ligação à Internet para fazer
osso”. Como se não fosse já suficiente, este promoção de eventos dentro e fora do cibe-
crescente “ambiente-de-media” vem trans- respaço. Como refere Matt Haig (2000), em
formar, todo e qualquer cidadão, já poten- E-PR: The Essential Guide To Public Relati-
cialmente cidadão-publicitário, num futuro ons On The Internet:
Relações Públicas a tempo inteiro; quer este
tenha sido profissionalmente diplomado para “The key to business success online is
tal, ou não. Isto porquê? Porque no ambiente therefore to have a PR (or public relati-
informático repleto de imagens gráficas de ons) perspective: to build and manage re-
última geração os utilizadores são todos os putation by communicating information
cidadãos que entrem na Rede. E tendo isso and listening to the demands of an online
ocorrido, todos os sujeitos podem trabalhar public. Of course, good communication
a sua imagem, gerir contactos e carteiras de has always been important in the busi-
clientes, fazer teleconferência, encetar reu- ness world; it’s just that with the arrival
niões por videoconferência e comunicar em of the Internet age it has become essen-
vídeo em eventos idênticos aos de Realidade tial” (p.1).
Virtual.
Para podermos continuar a compreender De facto, a questão da reputação é de ex-
todos os factores, relativamente às RP, e à trema importância, pois se o boato é o meio
Internet, há que referir que: se exige uma de comunicação mais antigo, e que tira aliás
compreensão dos novos âmbitos onde inter- muito partido das particularidades viróticas
vir, uma presença constante online e offline, da Rede, qualquer detalhe relativo à reputa-
bem como uma atitude de atenção face às ção padece do mesmo mal: o de ser divul-
marcas emergentes, para as quais o planea- gado antes de qualquer sinal de confirma-
mento estratégico de comunicação se faz re- ção. Todavia, na perspectiva das RP na era
novado. As tecnologias utilizadas reforçam da Rede, há a reter que o mesmo vale para
as tendências de consumo, fazem prevalecer o discurso e reputação da figura do RP, no
agências, campanhas, produtos e serviços, sentido de que a comunicação viral do cibe-
onde as RP têm um papel fulcral na divul- respaço, se for previamente fundamentada,
gação. Mas mais do que na simples divulga- encontra no ciberespaço o hospedeiro ideal.
ção em eventos, as RP são determinantes na Um aspecto de relevância, que Haig salienta,
manutenção de contactos e na consolidação é o de se “escutar” aquilo que o público pre-
da relação com o público in loco aquando de tende fazer, neste caso o público online. O
um evento. O papel cada vez interveniente conhecimento retido dos dados provenientes
do design de comunicação e do product pla- do público, seja em comentários de Blogs,
cement fazem dos eventos de RP um aconte- Web Sites, críticas em portais, discussões on-
cimento já hipermédia, pois é cada vez mais line em newsgroups, entre outros, vem pos-
frequente a presença de vídeo institucional sibilitar uma segmentação do público mais
em ecrãs LCD, música e voz off de acompa- eficiente, bem como uma sustentável gestão
nhamento da programação do evento, entre- de expectativas. Por outras palavras, o pró-

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prio público, neste caso online, que não é de- o que está em questão é acompanhar, gerir
monstrativo do potencial de todo o público o público com media sem que o público se
em geral (off e online), passa ao profissio- sinta controlado, mas sim acarinhado pelas
nal de RP a informação necessária para que novas extensões dos media electrónicos. A
o posicionamento de determinado produto, descentralização opera como um modelo de
marca ou serviço, seja mais preciso. Para divulgação e captação de informação preci-
que melhor se compreenda esta discussão, osa, mais ainda num ambiente de Internet
aceitemos o que McLuhan disse numa céle- sem fios, onde o público está perto de mim
bre entrevista à Playboy Magazine: [RP] e a comunicar entre si. Concluindo, o
RP tem toda a legitimidade para usufruir das
“The aloof and dissociated role of the tecnologias do ciberespaço, pois se estas an-
literate man of the Western world is tes eram antípodas da comunicação interpes-
succumbing to the new, intense depth soal, neste momento são mesmo uma exten-
participation engendered by the elec- são da realidade primeira. Vale a pena con-
tronic media and bringing us back in solidar ambas as posições, porque se a In-
touch with ourselves as well as with one ternet tende a desmaterializar os seus supor-
another. But the instant nature of electric- tes e ligações, já as RP tendem a prosseguir
information movement is decentralizing– no domínio do real e do virtual articulando e
rather than enlarging–the family of man mediando públicos.
into a new state of multitudinous tribal O lado negro das RP na Internet tem que
existences” (1994-1998). ver bastante com a introdução de informa-
ção errada em sites, blogs e portais de registo
O novo tipo de participação em questão como MySpace, Hi5, entre outros. Sem es-
é, como bem sustenta McLuhan, engendrado quecer, obviamente, que os newsgroups são
pelos media electrónicos, mas acima de tudo óptimos fóruns online para divulgar informa-
mais intenso. No caso concreto dos media ção. O prejudicial é quando nos newsgroups
digitais contemporâneos tudo gira, em maté- existe algo pior, como por exemplo uma po-
ria de comunicação, em torno de uma omni- lémica ou uma controvérsia difícil de conter.
presença mediática. O segredo, no caso das A dificuldade, com o tempo, cresce porque
RP, será como gerir esse constante acompa- outros utilizadores da Rede, na área da co-
nhamento de informação, esse up to date, de municação, ou mesmo noutras, recorrem à
forma benéfica para a agência de RP e para informação de uma discussão de um site, ou
a figura do RP, sem que o público se sinta aos comentários de um newsgroup, alimen-
coagido, pressionado e desmotivado. Aten- tando a informação viral e imparável. Neste
dendo ao facto de que os novos media são contexto podemos destacar que Matt Haig
descentralizadores, o que para McLuhan já fala em “Crisis E-PR”, isto é, uma Gestão
fazia sentido até no caso dos media que o de Crise no domínio das Relações Públicas.
envolviam na sua época, a comunicação mó- Se por acaso numa conferência online, para o
vel pode vir a ser a última lança de traba- público externo, ou se, noutro caso, numa vi-
lho para as e-RP, as Relações Públicas na era deoconferência entre elementos das mesma
da Internet. Só faz sentido este tema porque organização, para o público interno, ocor-

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rerem incidentes controversos, a velocidade information and communication must be


da mediação, em tempo-real, impossibilita managed with much greater care” (p.1).
o controlo das mensagens. Estas seguem e
chegam, e vice-versa, a um ritmo compli- Importa deixar bem claro que as Relações
cado, se não mesmo impossível de controlar. Públicas na era da Internet requerem um re-
Com um atitude mais prudente, as RP en- pensar de ambas as esferas, a da comunica-
contram na Internet, nomeadamente em fer- ção digital, bem como a das RP. Na prática,
ramentas como as dos downloads gratuitos as RP aderiram ao discurso tecnológico da
nos Web sites, ou no email, uma forma de aceleração das promoções de eventos, à di-
montar centros de media facilmente geríveis. vulgação súbita de conteúdos, assim como
Além de que os sites sempre foram mais do a Internet se tornou uma plataforma de elei-
que formas de divulgar dados, de publicita- ção para comunicar. E não é de todo acei-
ção ou informação. Se distribuir press re- tável que a Internet seja uma das platafor-
leases online funciona por email, e é consi- mas de eleição para comunicar, porque os
derado uma actividade rotineira de RP, que dispositivos móveis com Internet por Wi-Fi
requer apenas reunião de elementos textuais Max ou Wi-Fi Mesh, incitam à comunicação
e gráficos, genericamente, no que concerne a em Rede sem fios, em modo de malha num
lidar com anti-sites, o RP nesse domínio já tecido urbano, onde a comunicação é veloz
tem sérios problemas. A resposta muitas vez e constante. Ao afectar todos os domínios
existe na concorrência, em quem ganha algo da sociedade, a Internet constitui-se como a
em detrimento do sucesso da nossa reputa- vertente mais superficial e comercial do ci-
ção enquanto RP. Realmente, existem inú- berespaço, daí ser ideal para o discurso pu-
meros incidentes que simplesmente foram, blicitário e para o discurso proxémico das
em termos de fórmula, transportados para o RP, numa sociedade de comunicação gene-
mundo digital, porque os utilizadores da In- ralizada.
ternet são tão humanos quanto os que vivem O guru da comunicação dos nossos tem-
no mundo offline. Agora que existe muita pos, apesar da controvérsia de algumas das
coisa diferente nas RP na era da Internet, isso suas afirmações de teor xenófobo ou ma-
é um facto. Diz Haig que é um problema de chista, não deixou de reparar que a “auto-
noções, ao sustentar que: mation and cybernation can play an essen-
tial role in smoothing the transition to the
“While business must change their notion new society” (1994-1998). Na perspectiva
of how the Internet can work for them by mcluhanesca da comunicação nova, que se
thinking in terms of PR, they must also começou a desenrolar desde os anos 60-70
change their notion of PR itself. Public nos EUA, a transição para a nova sociedade
Relations on the Internet has a much big- é feita pela crucial automação. De facto, a
ger and broader role to play than they do comunicação automática dos nossos dias só
in the so-called “real-world”. As every tem sentido porque existe a telecomunica-
aspect of a company’s online activity has ção associada à informática, o domínio do
the power to affect its public relations, registo de informação a disponibilizar para
consulta automática. Assim, sem a “ciber-

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nação” e a automação não teríamos a Inter- indivíduos poderá ser suficiente a criação de
net de Banda Larga dos nossos dias, nem um Web Site, ou a gestão de conteúdos num
sites nem email, MUDs ou dispositivos de portal de um grande grupo económico, para
rede móvel que tanto prolongam a esfera outros não. E é nessa faixa de insatisfação
da comunicação para além dos escritórios e que o RP deve apostar online, e não só, mas
ecrãs. Com esta linha de pensamento, Matt sobretudo online, para que consiga acima de
Haig defende que “this new medium there- tudo manter relações com certos elementos-
fore brings with it a new form of marke- chave do público, tais como autodidactas e
ting, is which the online point of contact opinion makers. Mas sem dominar no mí-
between a firm and its public is everything. nimo a Internet e respectivos dispositivos co-
To give a name to this new Internet marke- niventes com um discurso de competência
ting, we shall call it e-PR” (p.1). Portanto, o técnica, há muita coisa que se torna difícil.
“e” de electronic também pode ser o “e” de O segredo das e-RP é mesmo o de manter
“everything”, isto é, de todas as coisas, por- relações com o público, de apostar num con-
que as Relações Públicas não se associam ao tacto mais próximo iniciado, gerido, mantido
discurso do vendedor de rua, nem ao de por- online, mas que pode transpôr a fronteira do
teiros de discoteca, mas sim ao do marketing, ecrã para um evento ou um acontecimento
requerendo para tal formação avançada. É para fãs de determinada marca (como no
justamente por requerer formação avançada culto Apple). O correio electrónico, usual-
que se faz necessário que as Relações Públi- mente definido por email, deve ser reaprovei-
cas na actualidade se manifestem no marke- tado nas RP como ferramenta complementar
ting pela Internet. Digamos que a Internet e estratégica, sem descurar o progressivo au-
pode ser ferramenta, meio, fim e arquivo de mento de espaço de memória nas caixas de
dados com vista à conquista de um público, email, o que veio favorecer o envio e recep-
que por sua vez se deverá dar por satisfeito ção de brochuras de imagem-estática, e ima-
com determinadas opções de comunicação. gem animada, por exmeplo.
A quem se pode dirigir as E-RP? A to- Quanto a outros instrumentos, que não são
dos os negociadores da nova era, utilizado- a Internet em si, mas que recorrem à Internet
res comuns da Rede, consumidores em ge- pelo seu espectro amplo e técnico, como é
ral com uso frequente das TIC (Tecnologias o caso das newsletters, comerciais ou insti-
de Informação e Comunicação), gestores de tucionais (do sector público ou privado), são
marketing e alunos que pesquisem o futuro mais um meio, dentro do grande meio que
das RP no domínio científico-prático das Ci- é a Rede, para que o RP consiga ser mais
ências da Comunicação. Enunciam-se várias eficiente na sua actividade profissional. Par-
vertentes da prática de um Relações Públi- tilhando da opinião de Haig, o objectivo é
cas na era da Internet, tais como: actividades que “(. . . ) in the end integrate e-PR with
lúdicas anunciadas por Web sites, colocação real-world PR”. O mesmo será dizer que se
de informação em blogs de texto ou vídeo deve apostar na simbiose das RP do mundo
(como Ted Talks), pensar numa perspectiva digital com as actividades de RP do mundo
concomitante com a do mundo digital, em real, porque a diferença, em termos de áreas
marketing e pesquisa. Enquanto para alguns de comunicação, é cada vez mais difícil de

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aferir. Ora se está no mundo real a utilizar lado, na óptica da agência ou do RP freelan-
meios de comunicação, ora se está no mundo cer, a ideia é que as RP se baseiem na cons-
da Internet a contactar pessoas reais. Porém, trução da sua própria colecção de dados úteis
a Rede prevalece. para Internet Marketing, de forma a estar-se
Um dos privilégio do espaço electrónico é sempre in touch com o público. A base da
a predominância de relações com o público, Internet são as relações, como Haig defende
sem que, inicialmente se esteja em presença fortemente, por isso foi criada na década de
deste, do ponto de vista individual, de forma 90 esta versão da World Wide Web mais co-
singular (mas o videochat é uma excepção, mercial, superficial e funcional. Criou-se a
por exemplo). Pensar as Relações Públicas Rede para as massas e há que tirar proveito
na era da Internet implica que se investiguem disso. Um RP já não tem que depender da re-
formas de comunicar para públicos diferen- cepção de press releases online ou de press-
tes e tipos outros de audiências, o que nem kits offline, e menos ainda de investir no es-
sempre corresponde ao mesmo tipo de mer- paço publicitário. Desta feita, o que se pode
cado; há que considerar as microcomunida- fazer agora é contactar directamente a audi-
des. A questão das relações, as mediações, é ência, acompanhar o seu crescimento, vari-
a vantagem das e-RP: construir relações en- ação de gostos, novas tendências e sugerir
tre negócios e o público online. Criar mi- novidades (muitas destas providenciadas por
lhares de relações de um-para-um possibili- elementos da própria audiência).
tadas pela tecnologia Web. O carácter matri- A realidade hoje não seria a mesma se de
cial da Internet favorece a comunicação em repente deixasse de haver Internet, é a no-
vários formatos, para vários públicos, me- vidade do século. Pode enunciar-se várias
dia offline e informação de natureza diversa. características da Internet, mas no que nos
O objectivo fulcral para um RP permanece interessa aqui discutir, este meio faz-se va-
quase intacto: conhecer e investigar públi- ler de permitir comunicação constante e ins-
cos, segmentá-los de acordo com os dados de tantânea, resposta imediatas de um público
pesquisa voluntária ou involuntária (da parte global e aprender com a audiência numa re-
dos indivíduos inquiridos), e activar procedi- lação dialógica com o público tecnicamente
mentos de branding que se estratifiquem so- mediada. Um mito que Haig desconstrói,
bre um sólido modelo de posicionamento. é o de que a Internet se encontra sepa-
Ver as Relações Públicas na óptica do ci- rada do mundo dito “real”: “on the Inter-
berespaço implica que se tenha em consci- net, you are permanently exposed to the out-
ência, mais do que em arquivo técnico, da- side world, and so everything you put on-
dos relevantes acerca do público. Seja este line can affect your reputation” (p.4). A
público um público que frequente a Rede ou Internet é um meio de comunicação pull-
não. Na prática a Internet acaba por absorver me, propenso para downloads. Os utiliza-
todos os cidadãos, porque mesmo os que não dores têm controlo completo da informação
acedem à Internet têm os seus dados disponí- que lhes interessa, assim como escolhem se
veis em colecções de dados confidenciais. O olham para a publicidade. Interessa-nos sa-
problema é a confidencialidade da informa- ber que o público quer informação, compete-
ção, que aqui não se discute, mas por outro nos saber que informação o público pre-

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tende, providenciá-la de forma exacta e per- a totalidade das visitas, e nem as altas taxas
tinente. Dizia McLuhan que “any approach de cliques em Web sites são bem adminis-
to environmental problems must be suffici- tradas como saber novo necessário para gerir
ently flexible and adaptable to encompass e-RP. O saber novo assenta na gestão e pro-
the entire environmental matrix, which is in moção da fidelidade de utilizadores na Rede,
constant flux” (1994-1998). E, de facto, o porque todo o utilizador é potencial público.
que se requer é mesmo isso: uma aborda- O mesmo não se passa fora da Rede, porque
gem ao ambiente, que na minha óptica é pelo menos dentro da Rede o público utili-
um “ambiente-de-media”, donde a pertinên- zador é já um público-alvo, no mínimo, para
cia dessa mesma abordagem ser flexível e a área emergente e global das novas tecnolo-
considerar a constantemente mutável matriz gias, propensamente lúdicas.
ambiental. O que se compreende na medida Quanto a estratégias, dado que a comuni-
em que o ambiente predominantemente me- cação na área das RP é imensamente coni-
diático implica o fluxo, a mutação e a génese vente com o pensamento estratégico comuni-
de novas problemáticas, para além das que cacional new age, as RP de nova geração de-
são constantes. vem implicar actividades de e-RP em curso,
Para que se possa pensar as RP no con- e novas; seguir percursos, provocar impacto
texto da Internet é importante reter que a In- e ter eficácia. A nova figura do RP deve pre-
ternet resulta da ligação de routers e servers ver situações de crise com públicos especí-
para que existam sites e páginas Web dispo- ficos, promover o negócio, seguir tendências
níveis para os utilizadores. Sem conteúdos tomadas pelos rivais, determinar que meios
disponíveis online a relação com o público de comunicação são mais adequados, e, so-
online é zero. É preciso pensar a fórmula de bretudo, a que campanha. Divulgar infor-
pensar o público justamente com a subcon- mação clara e concisa, conteúdos relvantes,
sideração de que a Rede vive da sua própria exclusivos, precisos e novos. Em suma, os
constante actualização de conteúdos e de in- objectivos de uma campanha de e-RP devem
fraestruturas. Claro que um Web site é uma, consignar-se a expandir negócios, à venda de
entre muitas outras formas, o rosto da ins- mais produtos ou serviços na Net, bem como
tituição, o email pode ser usado como fer- os mesmos fora da Internet. A crucialidade
ramenta de RP, para passar a palavra, pois mora inclusivé na conquista de apoios, no
podem enviar-se brochuras, catálogos, pos- lançamento de áreas e serviços no ciberes-
tais, flyers e outras imagens, montar chat ro- paço, tal como na recepção de boas críticas
oms ou conferências online. Ou inserir ví- do público, pois o que se tem em vista é a
deos promocionais em sites de eventos de capitalização de relações com os clientes po-
RP do mundo real. A construção da repu- tenciais e os do mundo real. Reconheçamos
tação no ciberespaço é crucial. O cerne da que o já datado enquadramento teórico de
comunicação online, que o RP atento às no- Haig, ainda assim, nos deixa pistas interes-
vas tecnologias deve ter em conta, é a forma santes, relativamente à estratégia de comu-
como se troca informação na Rede. As tro- nicação necessária para umas RP coniventes
cas de publicidade em banners não funcio- com o discurso da Rede:
nam. As taxas de cliques não representam

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“Your e-PR objective represents where Nesta senda, faz toda a lógica que tenham
you want to be; your e-PR strategy con- que se descobrir novos métodos, bases de da-
sists of how you are going to get there. dos, angariar patrocínios, sem nunca deixar
While your e-PR objective may only con- de pesquisar com recursos úteis. As relações
cern your Web site, the online strategy online necessitam de veicular informação,
you use to promote your site will inevita- assim como sustentar a relação dialógica en-
bly cover areas beyond your site such as tre os dois pólos. As audiências devem in-
e-mail and discussion groups. You need cluir clientes, potenciais consumidores, ou-
a strategy to keep you on track. Your tros públicos novos, investidores, competi-
individual tactics may change but your dores, organizações comerciais; agências de
strategy should remain fundamentally the marketing e publicidade, jornalistas e cen-
same” (p.12). tros noticiosos, figuras relevantes da indús-
tria, motores de procura, mediadores em ca-
Noutros termos, Haig é a favor da medi- nais de discussão no ciberespaço, patrocina-
ação da Rede como novo método de traba- dores e anunciantes na Rede, empresas com
lho para o emergente RP da era da Internet. links para e do nosso site. Termino com uma
A estratégia deve-se manter intacta, indepen- célebre frase de McLuhan, a que sublinha
dentemente da táctica individual adoptada, muito claramente que um “effective study of
isto porque enquanto a estratégia até pode the media deals not only with the content of
ser anunciada dentro do planeamento estraté- the media but with the media themselves and
gico da comunicação, a táctica é subreptícia the total cultural environment within which
e mais própria do sujeito, que do colectivo; the media function” (1994-1998).
mas a diferença residual permanece, por-
que a visão estratégica das tecnologias im-
plica o médio-longo prazo da moldura tem-
Bibliografia
poral, ao passo que a visão táctica das no- BAKER, Robin (1993). Designing The Fu-
vas tecnologias implica o curto-prazo prefe- ture – The Computer Transformation of
rencialemente. Por isso, quando McLuhan Reality. Hong Kong: Thames & Hud-
(1994) diz que “in the age of instant informa- son
tion man ends his job of fragmented specia-
lizing and assumes the role of information- BOLTER, Jay David & GRUISIN, Richard
gathering” (p.138) temos a revelação final. (2002). Remediation: Understan-
Toda e qualquer profissão em que o sujeito ding New Media (1999).Massachusetts,
se resguarda na informação já obtida, sem Cambridge: MIT Press
pesquisar e informar-se de novas tendências,
CABRERO, José Daniel Barquero et al
a sua área de trabalho diminui ou extingue-
(2001). O Livro de Ouro das Relações
se. À semelhança dos hunter-gatherers do
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período Paleolítico, a caça agora concentra-
se em públicos-alvo, as novas vítimas do CASTELS, Manuel (1999). A Sociedade em
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