Este artigo discute a avaliação do dano psicológico em perícias acidentárias. Os autores descrevem como o dano psíquico pode ser definido e graduado em leve, moderado ou grave, dependendo do impacto no funcionamento social e emocional da vítima. Também destacam a importância de se estabelecer o nexo causal entre o acidente e as sequelas, e de se considerar aspectos como simulação ou gravidade dos sintomas apresentados.
Este artigo discute a avaliação do dano psicológico em perícias acidentárias. Os autores descrevem como o dano psíquico pode ser definido e graduado em leve, moderado ou grave, dependendo do impacto no funcionamento social e emocional da vítima. Também destacam a importância de se estabelecer o nexo causal entre o acidente e as sequelas, e de se considerar aspectos como simulação ou gravidade dos sintomas apresentados.
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Este artigo discute a avaliação do dano psicológico em perícias acidentárias. Os autores descrevem como o dano psíquico pode ser definido e graduado em leve, moderado ou grave, dependendo do impacto no funcionamento social e emocional da vítima. Também destacam a importância de se estabelecer o nexo causal entre o acidente e as sequelas, e de se considerar aspectos como simulação ou gravidade dos sintomas apresentados.
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Roberto Evangelista Diretor da rea de Sade do Ministrio Pblico do Estado de So Paulo, ex-perito do Imesc, mestre em Psicologia Clnica pela USP, supervisor Clnico de Psicologia Preventiva do Centro Universitrio FMU, professor Universitrio e psicoterapeuta
Ivani Valarelli Menezes Psicloga e perita do Ncleo de Percias Clnicas do Imesc
Este artigo fruto de reflexes que acompanham os autores deste trabalho ao longo da trajetria pericial, especificamente na peritagem psicolgica civil.
Apresentamos parte destas reflexes no III Congresso Ibero Americano de Psicologia Jurdica ocorrido na cidade de So Paulo e, oportunamente, ao pblico desta revista, como contribuio discusso e reflexo a todos envolvidos direta ou indiretamente neste campo de trabalho.
O dano psicolgico, ou psquico, como muitos assim o entendem, pode ser definido como a seqela na esfera emocional ou psicolgica de um fato particular traumatizante.
Na realizao da percia psicolgica busca-se determinar esta seqela, como tambm vincul-la ao fato traumatizante (na maioria das vezes acidentes de trabalho e acidentes de trnsito). Esta vinculao o chamado nexo causal que o pressuposto indispensvel para existir a responsabilidade civil.
Podemos dizer que o dano psquico existe quando o evento desencadeante (no caso o acidente) gerou efeitos traumatizantes na organizao psquica ou no repertrio de comportamentos da vtima. Isto significa que o acidente dever trazer uma alterao tal que modifique sua vida de relao, ou seja, nos aspectos familiar, social, interpessoal e ou laboral.
A dimenso do prejuzo psicolgico varivel, podendo ser graduada em leve, que implica em alteraes reativas na dinmica de personalidade ou na vida social, sexual, afetivo-emocional e profissional, requerendo tratamento breve e focal; a grave, que corresponde inclusive, em alguns casos, ao aparecimento de episdio depressivo grave com sintomas psicticos, como alucinaes, idias delirantes, lentido psicomotora podendo evoluir para estupor. Pode haver um comprometimento tal que todas as atividades sociais normais tornam-se inoperantes, podendo existir o risco de morte por suicdio, desidratao ou desnutrio.
Como muitas vezes o prprio Poder Judicirio ou o perito mdico requisitante (nos casos de exame complementar) solicita a quantificao do prejuzo emocional, entendemos que seria valiosa a existncia de uma tabela prpria de dano emocional que discriminasse os diversos graus: levssimo, leve, moderado, grave e total, com suas definies operacionais. Tal procedimento contribuiria sobremaneira na quantificao do dano psquico em suas nuanas particulares.
Dentre os aspectos importantes a serem verificados na peritagem psicolgica, citamos os recursos cognitivos e/ou intelectuais, coordenao motora geral e especfica, potencial energtico, vitalidade e habilidades para ao. Em termos de estruturao egica, fundamental a verificao dos sentimentos vivenciados ao nvel de conduta social, onde se engloba o afetivo e social; o grau de comprometimento da auto estima e da auto imagem Revista IMESC n 2, 2000. pp. 45-50. e o modo de reao do periciando frente s situaes de seu cotidiano. Considera-se tambm relevante para a avaliao pericial o impacto que a eventual deformidade fsica causa no perito enquanto agente social, servindo este dado como termmetro para uma anlise refinada da discriminao social.
Como a percia uma avaliao especfica que indicar ou no a recomendao de ressarcimento financeiro, torna-se particularmente necessria a ateno do psiclogo-perito a eventuais simulaes.
Em nossa populao especfica de atendimento no tem sido comum a simulao, provavelmente por ser uma clientela culturalmente simples e desprovida de recursos econmicos, alm de transparente e assistida, na maioria das vezes, por advogados dativos. No entanto, quando ocorre, no difcil que o psiclogo atento perceba, aps entrevistas e observao acuradas, a tentativa do periciando se mostrar traumatizado ou de supervalorizar seqelas moderadas.
Um fato particularmente curioso que temos notado em nossa experincia que o sentimento mais emergente da vtima, pelo menos ao primeiro contato com o psiclogo- perito, o seu grande sentimento de mgoa em relao pessoa fsica ou jurdica, responsvel pelo dano. A vtima sente-se profundamente desamparada e abandonada. Acredita ser merecedora de auxlio financeiro para as despesas iniciais vinculadas ao tratamento e tambm de visitas ou demonstrao de interesse por parte do causador do dano.
O descaso demonstrado pelo causador, conforme relatos usuais da vtima, o determinante para o pedido de instaurao do processo judicial. Parece-nos que tal comportamento est vinculado a um ressarcimento pelo no acolhimento do causador, sendo esse pedido (processo) uma espcie de vingana e uma tentativa de reordenar o seu cotidiano.
Por outro lado, relatos de outros profissionais, baseados em sua prpria experincia, apontam que o auxlio inicial no proporcionado vtima, pelo simples fato de que, mais cedo ou mais tarde, independente do fato de ter recebido o auxlio, a vtima deflagrar uma demanda judicial, a conselho ou no de advogados.
No exame pericial e, especificamente, no laudo resultante deve-se deixar claro a descrio das seqelas, a existncia do nexo causal com o fato descrito na exordial, a necessidade de tratamento com eventual durao e custo.
De modo geral, na peritagem psicolgica, tm-se constatado alteraes no quadro psicodinmico do periciando que no comprometem substancialmente o seu mundo de relao e, portanto, no requerendo tratamento de forma permanente. Entretanto, dado o prejuzo psicolgico de pequena monta, tem-se recomendado tratamento psicoterpico breve, focalizando os aspectos comprometidos.
Verifica-se, nos dias atuais, que o prejuzo psicolgico vem sendo contemplado mais sistematicamente, nas instituies jurdicas, com maior relevncia que remotamente, quando a ateno se voltava quase exclusivamente, com raras excees, para os aspectos fsicos. Considerava-se o fator emocional como sendo subjetivo, dificilmente mensurvel e desprovido de importncia. Portanto, legitimar os aspectos psicolgicos, alm dos danos fsicos do acidentado nas percias judiciais, no mnimo comprometer-se com o respeito, a proteo e a promoo dos direitos humanos, consolidando em parte a justia social, sem a qual a dignidade da pessoa no se realiza por completo. Assumir esta posio colocar tambm o seu fazer psicolgico como um instrumento de acesso justia, lembrando que os mesmos instrumentos psicomtricos criados pela moderna cincia do comportamento e Revista IMESC n 2, 2000. pp. 45-50. h muito criticados pelas suas funes meramente adaptativas, centradas na excluso dos no produtivos, so hoje os mesmos utilizados em favor do trabalhador acidentado, aferindo o nexo causal do dano psquico.
Bibliografia
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