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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSO TC 2.565/06

Prestação de Contas da Prefeita do Município


de Piancó, Sra. Flavia Serra Galdino, relativa
ao exercício financeiro de 2005 - Atendimento
parcial aos dispositivos da LRF - Aplicação de
multa.

ACÓRDÃO APL TC N° )2 '1 /08

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos do Processo TC


2.565/06, que trata da Prestação de Contas apresentada pela Prefeita do
Município de PIANCÓ, Sra. Flávia Serra Galdino, relativa ao exercício
financeiro de 2005.

CONSIDERANDO que a Auditoria, após análise dos documentos que


instruem o presente processo, inclusive das denúncias a ele anexadas e dos
esclarecimentos apresentados pela Prefeita Municipal, constatou as seguintes
irregularidades:

1) Desequilíbrio entre receitas e despesas;


2) Arrecadação da Receita Tributária aquém da previsão;
3) Gastos com Pessoal do Poder Executivo correspondente a 56,87%
da RCl, em relação ao limite de 54% estabelecido no art. 20 da
lRF;
4) Não consolidação da Dívida Municipal nos demonstrativos
pertinentes;
5) Incompatibilidade de informações entre o REO, RGF e PCA;
6) Despesas contraídas em 2005, empenhadas e pagas em 2006, no
valor de R$ 309.867,10, ferindo o Principio da Competência;
7) Falta de detalhamento do Anexo XI da PCA/2005;
8) Incorreta elaboração dos Balanços Orçamentário, Financeiro e
Patrimonial e do Demonstrativo da Dívida Flutuante;
9) Não registro, ao final do exercício, da dívida municipal no
Demonstrativo da Dívida Fundada Interna, quanto ao saldo devedor
do INSS, dos precatórios e das dívidas da CAGEPA, no montante
de R$ 16.439.619,43;
10)Não realização de processos Iicitatórios no montante remanescente
de R$ 792.221,30, representando 8,8% da despesa orçamentária
realizada no exercício;
11)Diferença negativa de R$ 90.892,11 entre o saldo apurado negativo
de R$ 87.731,19 e o saldo conciliado de R$ 3.160,92, referente à
conta corrente do FUNDEF;
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PROCESSO Te 2.565/06

12)Ausência de controle de inventário atualizado e falta de tombamento


dos bens patrimoniais;
13)Despesas com serviços de consultoria, no montante de R$
14.640,00, sem documentação dos projetos e dos planos de
trabalho, com a empresa CEPAM - Consultoria e Planejamento;
14)Emissão reiterada de cheques sem a devida provisão de fundos, o
que ensejou a Câmara Municipal a instaurar uma Comissão
Parlamentar de Inquérito;
15)Existência de professores e diretores escolares inabilitados para
exercer seu mister;
16)Inadimplência das obrigações, com conseqüente inclusão do
Município em cadastros de proteção de crédito, a exemplo da
SERASA;

CONSIDERANDO que o Ministério Público desta Corte, em parecer de


fls. 1945/1953, pugnou pela:

a. Emissão de parecer contrário à aprovação das contas;


b. Declaração de atendimento parcial aos requisitos da Lei de
Responsabilidade Fiscal;
c. Imputação de débito à Prefeita, conforme apurado pela Auditoria,
em virtude das despesas com contratação de consultoria cujo objeto
e respectiva prestação de serviços não restaram comprovados, bem
como em face da diferença de saldo na conta do FUNDEF;
d. Aplicação de multa pessoal à Gestora, por transgressão de normas
constitucionais e legais, com base no art. 56, inciso 11 da Lei
Orgânica desta Corte;
e. Representação ao Ministério Público Comum acerca dos indícios de
prática de ilícito penal e de ato de improbidade administrativa,
verificados na Prestação de Contas e na denúncia formalizada no
Processo TC N° 5978/06 anexo, dentre os quais o suposto
enriquecimento ilícito por parte da gestora, tendo em vista a sua
competência;
f. Recomendação à Prefeitura Municipal de Piancó, no sentido de: (1)
guardar estrita observância aos termos da Constituição Federal,
sobremodo, no que tange aos princípios norteadores da
Administração Pública; (2) conferir a devida obediência às normas
consubstanciadas na Lei 4.320/64, na Lei 8.666/93 e na Lei
Complementar 101/2000; (3) organizar e manter a Contabilidade do
Município em consonância com os princípios e regras contábeis
pertinentes; (4) e, finalmente, adotar as medidas necessárias para

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regularizar as irregularidades constatadas na Secretaria Municipal
de Educação;

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TRIBUNAL
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CONSIDERANDO que as irregularidades concernentes à gestão fiscal


justificam a declaração de atendimento parcial às disposições da LRF;

CONSIDERANDO que as falhas relativas às divergências constatadas


nos registros e demonstrativos contábeis, o não empenhamento de despesas em
tempo hábil, a incorreta elaboração dos balanços gerais, a falta de controle de
inventário e tombamento de bens, no entender do Relator, devem ser relevadas,
por não macularam as contas prestadas, ensejando, no entanto, recomendação à
Administração Municipal no sentido de corrigi-Ias, adequando a contabilidade do
Município aos princípios e regras contábeis aplicadas, sob pena de desaprovação
de contas futuras;

CONSIDERANDO entender o Relator que a diferença encontrada entre


o saldo contábil e o saldo bancário conciliado do FUNDEF não motiva a
imputação sugerida pelo Órgão Ministerial junto a este Tribunal, uma vez que a
divergência apontada foi provocada por gastos realizados com as retenções
efetuadas em alguns pagamentos e que não foram transferidas para as
respectivas contas bancárias.

CONSIDERANDO que, em relação às despesas apontadas como sem


comprovação com serviços de consultoria pagas à firma CEPAM, o Relator aceita
as alegações apresentadas pela defesa, uma vez que os planos de trabalho e
projetos desenvolvidos pela consultoria para a captação de recursos federais e
estaduais, constantes dos arquivos apresentados em mídia eletrônica, em sua
grande maioria, são datados de 2005;

CONSIDERANDO que, no tocante às denúncias anexadas ao presente


processo, os itens considerados procedentes são, na opinião do Relator,
passíveis de regularização pelo Poder Executivo Municipal, não sendo suficientes
para macular as contas prestadas, cabendo, entretanto, as devidas
recomendações no sentido de sua correção;

CONSIDERANDO que a douta Auditoria apontou a não realização de


licitação para diversas despesas sujeitas a este procedimento;

CONSIDERANDO que as despesas com a contratação de assessoria


contábil, de assessoria jurídica e de serviços de acesso à internet via rádio para
os prédios da Administração Municipal, no entender do Relator, poderiam ter sido
realizadas através de procedimento de Inexigibilidade de Licitação, inexistindo o
vício apontado pelo Órgão Técnico;

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CONSIDERANDO que, na opmiao do Relator, as despesas com a


aquisição de medicamentos junto ao LAFEPE - Laboratório Farmacêutico do
Estado de Pernambuco poderiam ser dispensadas de licitação, por tratar-se o
fornecedor de Órgão Público, criado com a finalidade específica da fabricação e
comercialização de medicamentos;

CONSIDERANDO que, em relação às despesas com aqursiçao de


combustíveis frente à firma Manuel Tomaz Sobrinho - Posto Sertanejo, o Relator
entende que foram realizadas despesas anteriores à realização do procedimento
Iicitatório no qual a citada firma sagrou-se vencedora;

CONSIDERANDO que, no atinente aos dispêndios com a aquisição de


medicamentos junto à Nordeste Hospitalar Ltda., com a aquisição de móveis,
equipamentos e materiais diversos junto à firma Soares Eletromóveis Ltda e com
a aquisição de materiais didáticos e de gêneros alimentícios, o Relator entende
haverem sido realizadas despesas superiores aos valores licitados, sem haver
nenhuma justificativa legal para tanto.

CONSIDERANDO que o Órgão Técnico desta Casa apontou também


diversas outras despesas não precedidas do competente procedimento licitatório,
a exemplo de dispêndios com a aquisição de material de expediente, locação de
aparelho de ultra-sonografia, compras de mochilas escolares, aquisição de
gêneros alimentícios, reformas de prédios, compras de peças automotivas e de
computadores;

CONSIDERANDO que o Conselheiro Fábio Túlio Filgueiras Nogueira e


o Conselheiro Substituto Antônio Cláudio Silva Santos acompanharam o voto do
Relator.

CONSIDERANDO que os Conselheiros Marcos Ubiratan Guedes


Pereira, Antônio Nominando Diniz Filho e Fernando Rodrigues Catão,
discordando do voto do relator, votaram pela emissão de parecer favorável à
aprovação da prestação de contas em análise, sem a imputação de multa.

CONSIDERANDO que o Conselheiro Presidente Arnóbio Alves Viana,


em voto de desempate, acompanhou as conclusões do Relator.

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CONSIDERANDO o Relatório e o Voto do Relator, o


pronunciamento do Órgão de Instrução, o Parecer escrito e oral do Ministério
Público junto a esta Corte e o mais que dos autos consta;

ACORDAM os membros integrantes do TRIBUNAL DE CONTAS


DO ESTADO DA PARAíBA, em sessão realizada nesta data, por maioria de
votos, em:

1) Declarar o atendimento parcial pela Chefe do Poder Executivo


Municipal, senhora Flavia Serra Galdino, às exigências da Lei de
Responsabilidade Fiscal, relativamente ao exercício de 2005;
2) Aplicar àquela Gestora a multa pessoal no valor de R$ 2.805,10, por
infração grave à norma legal, nos termos do inciso 11, do art. 56, da
Lei Orgânica deste Tribunal;
3) Assinar à responsável, acima citada, o prazo de 60 (sessenta) dias
para o recolhimento da multa ao Tesouro Estadual à conta do
Fundo de Fiscalização Orçamentária e Financeira Municipal,
informando-lhe que, caso não efetue o recolhimento voluntário, cabe
ação a ser impetrada pela Procuradoria Geral do Estado, devendo-
se dar a intervenção do Ministério Público, na hipótese de omissão
da PGE, nos termos do § 4° do art. 71 da Constituição Estadual;
4) Representar ao Ministério Público Comum acerca dos possíveis
indícios de práticas danosas ao erário, tendo em vista sua
competência, notadamente quanto à denúncia formalizada no
Processo TC n? 05978/06 anexo, em relação ao suposto
enriquecimento ilícito por parte da Prefeita Municipal de Piancó
5) Recomendar à Administração Municipal no sentido de evitar a
repetição das falhas e omissões constatadas no exercício em
análise, sob pena de desaprovação de futuras contas e da aplicação
de outras sanções legais;

Presente ao julgamento a Exma. Senhora Procuradora Geral.

Publique-se, registre-se, cumpra-se.

TC - PLENÁRIO MINISTRO JOÃO AGRIPINO

João Pessoa, / j de Ill-lvf de 2008.

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A~~OI~A'oALVES VIANA OSÉ MARQUES MARIZ
se heiro Presidente Conselheiro Relator

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Procuradora-Geral

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