Você está na página 1de 15

PubUc-ado D. O. E.

Em .p.'...
I,tJJ-!2L
_ '"
__.~'~~
40,,~_,:._._
.._ ... v.
~

TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTAtg,e~ .•, '" ." I il;:,í:J1 ;:";;no

PROCESSOTC N,o 01963/07

Objeto: Prestação de Contas Anuais


Relator: Auditor Renato Sérgio Santiago Melo
Responsável: Rosângela Galdino de Araújo Bonfim
Procurador: Dr. Idel Maciel de Sousa Cabral

EMENTA: PODER LEGISLATIVO MUNICIPAL - PRESTAÇÃO DE


CONTAS ANUAIS - PRESIDENTE DE CÂMARA DE VEREADORES -
ORDENADOR DE DESPESAS- APRECIAÇÃO DA MATÉRIA PARA FINS
DE JULGAMENTO - ATRIBUIÇÃO DEFINIDA NO ART. 71, INCISO II,
DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DA PARAÍBA, E NO ART. 1°,
INCISO I, DA LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL N.o 18/93 - Não
envio do Relatório de Gestão Fiscal relativo ao segundo semestre do
exercício no prazo determinado - Contratação de profissionais para
serviços típicos da administração pública sem o prévio concurso
público - Carência de realização de alguns procedimentos de
licitação - Pagamento de salários inferiores ao mínimo
nacionalmente estabelecido - Transgressão a dispositivos de
natureza constitucional, infraconstitucional e regulamentar -
Necessidade imperiosa de imposição de penalidade - Eivas que
comprometem o equilíbrio das contas, ex vi do disposto no Parecer
Normativo n.o 52/2004. Irregularidade. Aplicação de multa.
Concessão de prazo para recolhimento. Recomendações. Remessa
de cópia dos autos à ego Procuradoria Geral de Justiça do Estado.

Vistos, relatados e discutidos os autos da PRESTAÇÃO DE CONTAS ANUAIS DA


EX-PRESIDENTA DA CÂMARA MUNICIPAL DE POCINHOSjPB, relativa ao exercício financeiro
de 2006, SRA. ROSÂNGELA GALDINO DE ARAÚJO BONFIfvl, acordam, por unanimidade, os
Conselheiros integrantes do TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DA PARAÍBA, em sessão
plenária realizada nesta data, na conformidade da proposta de decisão do relator a seguir,
em:

1) JULGAR IRREGULARES as referidas contas.

2) APLICAR MULTA à ex-Chefe do Poder Legislativo, Sra. Rosângela Galdino de Araújo


Bonfim, no valor de R$ 1.000,00 (um mil reais), com base no que dispõe o art. 56, inciso II,
da Lei Complementar Estadual n.o 18/93 - LOTCE/PB.
1\
\ ~

3) CONCEDER-LHE o prazo de 60 (sessenta) dias para recolhimento voluntário da penalidade~. ~


ao Fundo de Fiscalização Orçamentária e Financeira f\1unicipal, conforme previsto no art. 3°, \. ~.,~
°
alínea "a", da Lei Estadual n. 7.201, de 20 de dezembro de 2002, cabendo à Procuradoria
Geral do Estado da Paraíba, no interstício máximo de 30 (trinta) dias após o término daq
período, velar pelo seu integral cumprimento, sob pena de intervenção do Ministério Pú Iico
e ' j' ' .. \

_...._,
Estadual, na hipótese de omissão, tal como previsto no art. 71, § 4°, da Consti leão "
,...\rjy~
~
,~,~---
.. ~Y \
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 01963/07

Estado da Paraíba, e na Súmula n.o 40 do ego Tribunal de Justiça do Estado da


Paraíba - TJ/PB.

4) ENVIAR recomendações no sentido de que o atual Presidente da Câmara Municipal de


Pocinhos/PB, Sr. Wilson Andrade Porto, não repita as irregularidades apontadas no relatório
dos peritos da unidade técnica deste Tribunal e observe, sempre, os preceitos
constitucionais, legais e regulamentares pertinentes.

5) Com fulcro no art. 71, inciso XI, c/c o art. 75, caput, da Constituição Federal, REMETER
cópias das peças técnicas, fls. 161/166 e 226/228, do parecer do Ministério Público Especial,
fls. 230/232, e desta decisão à augusta Procuradoria Geral de Justiça do Estado da Paraíba,
para as providências cabíveis.

Presente ao julgamento o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas


Publique-se, registre-se e intime-se.
TCE - Plenário Ministro João Agripino

João Pessoa, j f dej-Mtl1 hO de 2008

.~

~/

\ \) (~JnlJJ'(tZ~'·
..·
Auditor Renato Sérgio Sàí1fiago lYfelo
Relator

r-
Presente:
RepreoentR:-do
g~
fY .:
Mlniofé,;o Público Especi
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 01963/07

Cuidam os presentes autos do exame das contas da ex-Presidente da Câmara Municipal de


Pocinhos/PB, relativas ao exercício financeiro de 2006, Sra. Rosângela Galdino de Araújo
Bonfim, apresentadas a este ego Tribunal em 27 de março de 2007, fI. 02.

Os peritos da Divisão de Auditoria da Gestão Municipal VI - DIAGM VI, com base nos
documentos insertos nos autos e em inspeção realizada na Comuna, emitiram o relatório
inicial de fls. 161/166, constatando, sumariamente, que: a) as contas foram apresentadas ao
TCE/PB no prazo legal; b) a Lei Orçamentária Anual - Lei Municipal n.? 890/2005 - estimou
as transferências em R$ 360.000,00 e fixou a despesa em igual valor; c) a receita
orçamentária efetivamente transferida, durante o exercício, foi da ordem de R$ 360.500,00,
correspondendo a 100,14% da previsão originária; d) a despesa orçamentária realizada
atingiu o montante de R$ 360.679,18, representando 100,19% dos gastos fixados; e) o total
da despesa do Poder Legislativo alcançou o percentual de 6,81% do somatório da receita
tributária e das transferências efetivamente arrecadadas no exercício anterior pela
Urbe - R$ 5.300.009,91; f) os gastos com folha de pagamento da Câmara Municipal
abrangeram a importância de R$ 197.323,90 ou 54,74% dos recursos transferidos;
g) a receita extra-orçamentária, acumulada no período, compreendeu o montante de
R$ 17.506,74; e h) a despesa extra-orçamentária, executada durante o exercício, atingiu a
soma de R$ 17.327,56.

Quanto aos subsídios dos Vereadores, verificaram os técnicos da DIAGM VI que:


a) os Membros do Poder Legislativo da Comuna receberam subsídios de acordo com o
disciplinado no art. 29, inciso VI, da Lei Maior; b) os estipêndios dos Edis estiveram dentro
dos limites instituídos na Lei Municipal n.o 866/2004; e c) os vencimentos totais recebidos no
exercício pelos Vereadores, inclusive o do Chefe do Legislativo, alcançaram o montante de
R$ 134.213,50, correspondendo a 1,54% da receita orçamentária efetivamente arrecadada
no exercício pelo Município - R$ 8.699.629,20.

No tocante aos aspectos relacionados à gestão fiscal, destacaram os analistas da unidade de


instrução que: a) a despesa total com pessoal do Poder Legislativo alcançou a soma de
R$ 235.917,22 ou 2,15% da Receita Corrente Líquida - RCL da Comuna - R$ 10.953.643,24;
b) o Relatório de Gestão Fiscal - RGF do primeiro semestre do período foi enviado ao
Tribunal dentro do prazo, com a comprovação da sua publicação; e c) a execução
orçamentária evidenciou, no encerramento do exercício, a inexistência de disponibilidades
financeiras, bem como de compromissos a pagar de curto prazo.

Ao final, os inspetores da Corte apontaram as seguintes irregularidades: a) não envio a este


Tribunal do Relatório de Gestão Fiscal - RGF do segundo semestre do período, bem como da
comprovação da sua publicação; b) realização de despesas sem o prévio procedimento de
licitação, no valor de R$ 56.240,00; e c) pagamento de salários com valores abaixo d
mínimo estabelecido.
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 01963/07

Devidamente citada, fls. 167/169, a Chefe do Poder Legislativo durante o exercício financeiro
de 2006, Sra. Rosângela Galdino de Araújo Bonfim, apresentou a contestação de
fls. 171/223, na qual juntou documentos e argumentou, em síntese, que: a) o RGF do 20
semestre do exercício foi anexado à defesa, com a comprovação da sua publicação no Jornal
Oficial do Município; b) as despesas tidas como não licitadas foram tratadas dentro das
normas estabelecidas pela Lei Nacional n.O 8.666/93 e suas posteriores alterações, cujos
procedimentos Iicitatórios foram juntados aos autos; e c) foram celebrados contratos de
prestação de serviços com carga horária mensal inferior ao que estabelece a Consolidação
das Leis do Trabalho - CLT, justificando o pagamento de valor inferior ao salário mínimo
estabelecido pelo governo federal.

Ato contínuo, o álbum processual retornou à unidade técnica, que, examinando a referida
peça processual de defesa, fls. 226/228, acatou inicialmente a comprovação da publicação
do RGF - 2° semestre do período e destacou, como mácula remanescente, o não envio do
referido instrumento a esta Corte de Contas dentro do prazo estabelecido. Em seguida, os
analistas do Tribunal mantiveram in totum o seu posicionamento exordial relativamente às
demais elvas apontadas.

o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas, ao se pronunciar sobre a matéria, emitiu o


parecer de fls. 230/232, opinando pela regularidade com ressalvas das contas da Mesa da
Câmara Municipal de Pocinhos, relativas ao exercício de 2006, e pelo atendimento integral às
disposições da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Solicitação de pauta, conforme fls. 233/235 dos autos.

É o relatório.

Da análise efetuada pelos peritos deste Sinédrio de Contas, constata-se que as contas
apresentadas pela ex-Presidenta da Câmara Municipal de Pocinhos/PB, Sra. Rosângela
Galdino de Araújo Bonfim, relativas ao exercício financeiro de 2006, revelam algumas
irregularidades. Com efeito, conforme destacado pelos técnicos da Corte, fI. 226, verifica-se
ab initio o não envio ao Tribunal, no prazo estabelecido, do Relatório de Gestão Fiscal - RGF
relativo ao segundo semestre do exercício em análise, descumprindo o disposto no art. 18,
§1°, da Resolução Normativa RN - TC - 07/04, e implicando em multa automática e pessoal
para o responsável, consoante dispõe o seu art. 32, cabeça, in verbis.

Art. 18 - (omissis)

RGF, acompanhada da respectiva comprovação


TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSO TC N.O 01963/07

Tribunal de Contas do Estado, até o quinto dia útil do segundo mês


subseqüente ao de referência.

...
( )

Art. 32 - O atraso na entrega dos documentos, informações e dados


obrigatórios relativos ao PPA, LDO, LOA, BME, RGF e PCA, implicará, para o
responsável, em multa automática e pessoal no valor de R$ 500,00
(quinhentos reais) acrescido de R$ 50,00 (cinqüenta reais) por dia de atraso,
este contado a partir do segundo dia após o vencimento do prazo previsto,
não podendo o valor total da multa ultrapassar o limite de R$ 1.600,00.
(grifas ausentes no texto original)

No tocante às contratações de assessorias jurídica e contábil, nos valores de R$ 11.020,00 e


R$ 19.000,00, respectivamente, bem como da empresa INFO EXPRESS EQUIPAMENTOS E
SERVIÇOS DE INFORMÁTICA LTDA. para a elaboração de FOLHAS DE PAGAMENTOS, RAIS,
GFIP e SEFIP, na soma de R$ 9.500,00, mediante a utilização de procedimento
administrativo de inexigibilidade de licitação, constata-se que a Chefe do Poder Legislativo da
Urbe em 2006, Vereadora Rosângela Galdino de Araújo Bonfim, fundamentou sua conduta
com o disposto no art. 25, inciso lI, da respeitada Lei de Licitações e Contratos
Administrativos - Lei Nacional n.o 8.666/93 -, verbatim:

Art. 25. É inexigível a licitação quando houver inviabilidade de competição,


em especial:

I - (omissis)

II - para a contratação de serviços técnicos enumerados no art. 13 desta


Lei, de natureza singular, com profissionais ou empresas de notória
especialização, vedada a inexigibilidade para serviços de publicidade e
divulgação; (grifas nossos)

Com efeito, a supracitada autoridade considerou os referidos serviços como de natureza


especializada e singular, impossibilitando, por conseguinte, a competição entre os possíveis
prestadores. Entrementes, em que pese as recentes decisões deste Pretório de Contas
acerca da admissibilidade da utilização de procedimento de inexigibilidade de licitação para a
contratação dos serviços jurídicos e contábeis, guardo reservas em relação a esse
entendimento por considerar que tais despesas não se coadunam com aquela hipótese,
tendo em vista não se tratar de atividades extraordinárias que necessitem de profissionais
altamente habilitados nas suas respectivas áreas, sendo, na realidade, atividades rotineiras
da Casa Legislativa. .--

Da mesma forma, comparando o texto destacado da supracitada lei com a realidade


dos dispêndios com a elaboração de FOLHAS DE PAGAMENTOS, RAIS, GFIP ~rnR_
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSO TC N.O 01963/07

percebe-se que estes também não se encaixam em caso de inexigibilidade de licitação, uma
vez que a empresa contratada não desempenhou trabalhos de natureza excepcional, mas
sim serviços administrativos habituais, onde não se vislumbra a necessidade de notória
especialização.

Nessa linha de entendimento, devemos citar o posicionamento, acerca da singularidade dos


serviços técnicos, exarado pelo eminente doutrinador Marçal Justen Filho, que, em sua obra
intitulada Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos, 5 ed., São Paulo:
Dialética, 1998, p. 262, assim se manifesta, verbo ad verbum:

Como já observado, a natureza singular não é propriamente do serviço, mas


do interesse público a ser satisfeito. A peculiaridade do serviço público é
refletida na natureza da atividade a ser executada pelo particular. Surge,
desse modo, a singularidade.

Com o intuito unicamente de exemplificar o posicionamento das diversas Cortes de Contas


tupiniquins a respeito do assunto, transcrevemos decisão prolatada pelo egrégio Tribunal de
Contas do Estado do Rio de Janeiro - TCE/RJ, ipsis /itteris:

Contrato. Inexigibilidade de Licitação. Nulidade do Contrato e Multa. É


indispensável que os serviços técnicos sejam de natureza singular, assim
não é bastante que o profissional tenha notória especialização. Existindo
dois ou mais competidores aptos a oferecer os serviços necessários, a
Administração terá de submeter-se à licitação. (TCE/RJ, Cons. Humberto
Braga, RTCE/RJ n.? 29, jul./set./1995, p. 151) (grifamos)

Além do mais, como a propna norma preconiza, deve ficar evidenciada a notória
especialização do prestador dos serviços para se configurar a hipótese de inexigibilidade de
licitação. Nos autos, nada existe que suscite a manifesta especialização da empresa e dos
profissionais contratados pelo Poder Legislativo da Urbe. Nesse sentido, reproduzimos
entendimento do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo - TCE/SP, verbis:
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSO TC N,O 01963/07

competição. (TCE/SP, TC - 133.537/026/89, Cons. Cláudio Ferraz de


Alvarenga, 29 novo 1995) (grifos nossos).

Por sua vez, o colendo Tribunal de Contas da União - TCU estabilizou seu posicionamento
acerca da matéria em análise através da, sempre atual, Súmula n. o 39, de 28 de dezembro
de 1973, vejamos:

A dispensa de licitação para a contratação de serviços com profissionais ou


firmas de notória especialização, de acordo com alínea "d" do art. 126, § 2°,
do Decreto-lei 200, de 25/02/67, só tem lugar quando se trate de serviço
inédito ou incomum, capaz de exigir, na seleção do executor de confiança,
um grau de subjetividade, insuscetível de ser medido pelos critérios
objetivos de qualificação inerentes ao processo de licitação. (grifo ausente
no original)

Caminhando na esteira do raciocínio implementado pelo respeitável TCU, manifestou-se o


Tribunal de Contas do Estado do Paraná - TCE/PR, verbum pro verbo:

Licitação. Obrigatoriedade. Advogado. Contratação direta de advogado, com


base no art. 25, lI, da LF 8.666/93. Impossibilidade, tendo em vista que a
notória especialização só tem lugar quando se trata de serviço inédito ou
incomum. (TCE/PR, TC - 50.210/94, ReI. Cons. João Feder, RTCE, n.? 113,
jan/rnar 1995, p. 130) (grifamos)

No âmbito judicial, verificamos que Superior Tribunal de Justiça - STJ tem se posicionado
pela necessidade da efetiva comprovação da inviabilidade de competição para a
implementação do procedimento de inexigibilidade de licitação, consoante podemos verificar
do extrato de ementa transcrito a seguir, in verbis:

CRIMINAL. RESP. CRIME COMETIDO POR PREFEITO. COMPETÊNCIA


ORIGINÁRIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA. REJEIÇÃO DA DENÚNICA.
CONTRATAÇÃO DE ADVOGADO E DE EMPRESA DE AUDITORIA PELO
MUNICÍPIO. INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO. INVIABILIDADE DE
COMPETIÇÃO NÃO DEMONSTRADA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
I - A inviabilidade de competição, da qual decorre a inexigibilidade de
licitação, deve ficar adequadamente demonstrada, o que não ocorreu
in casu. (...) (STJ - 5a Turma - RESP nO 704.108/MG, ReI. Ministro Gilson
Dipp, Diário da Justiça, 16 mai. 2005, p. 402) (grifos nossos)

"' -.
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 01963/07

Especificamente em relação aos serviços de assessorias jurídica e contábil, a gestora da


Câmara Municipal de Pocinhos/PB deveria ter realizado o devido concurso público para a
contratação dos profissionais. Neste sentido, cabe destacar que a ausência do certame
público para seleção de servidores afronta os princípios constitucionais da impessoalidade,
da moralidade administrativa e da necessidade de concurso público, devidamente
estabelecidos na cabeça e no inciso II, do art. 37, da Constituição Federal, verbatim:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, imoessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
e, também, ao seguinte:

I - (omissis)

II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação


prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com
a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em
lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de
livre nomeação e exoneração; (grifos ausentes no original)

Abordando o tema em disceptação, o insigne Procurador do Ministério Público de Contas,


Dr. Marcílio Toscano Franca Filho, nos autos do Processo TC n.O 02791/03, epilogou de
forma bastante clara uma das facetas dessa espécie de procedimento adotado por grande
parte dos gestores municipais, verbo ad verbum:

Não bastassem tais argumentos, o expediente reiterado de certos


advogados e contadores perceberem verdadeiros "salários" mensais da
Administração Pública, travestidos em "contratos por notória especialização",
em razão de serviços jurídicos e contábeis genéricos, constitui burla ao
imperativo constitucional do concurso público. Muito fácil ser profissional
"liberal" às custas do erário público. Não descabe lembrar que o concurso
público constitui meritório instrumento de índole democrática que visa
apurar aptidões na seleção de candidatos a cargos públicos, garantindo
impessoalidade e competência. JOÃO MONTEIRO lembrara, em outras
palavras, que só menosprezam os concursos aqueles que lhes não sentiram
as glórias ou não lhes absorveram as dificuldades. (nossos grifos)

Comungando com o supracitado entendimento, reportamo-nos, desta feita, à jurisprudência


do respeitável Supremo Tribunal Federal - STF, ipsis /itteris:
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTe N.O 01963/07

praticado. Assim o é quando dá-se a contratação, por município, de serviços


que poderiam ser prestados por servidores, sem a feitura de licitação e sem
que o ato tenha sido precedido da necessária justificativa. (STF - 2a
Turma - RE nO 160.381/SP, ReI. Ministro Marco Aurélio, Diário da Justiça,
12 ago. 1994, p. 20.052)

No que respeita à documentação trazida aos autos pela defesa, fls. 174/196, a fim de
comprovar a realização das licitações reclamadas pelos técnicos do Tribunal, fls. 161,
impende destacar, inicialmente, que nenhum dos procedimentos foi informado no Sistema
de Acompanhamento da Gestão dos Recursos da Sociedade - SAGRES. Ressalte-se, ainda,
que, antes mesmo da elaboração do relatório inicial, os inspetores da unidade de instrução
realizaram diligência na Câmara Municipal de Pocinhos/PB, com o objetivo de verificar a
existência de processos de licitação referentes às despesas realizadas no exercício
sub studio, fls. 160 e 165.

Os procedimentos de Inexigibilidade de Licitação n. o 01, 02 e 03/2006, para a contratação


de serviços de contábeis, advocatícios e de elaboração de FOLHAS DE PAGAMENTO, RAIS,
GFIP e SEFIP, fls. 177/196, não contêm a publicação das respectivas ratificações na
imprensa oficial, condição para a sua eficácia, nem a justificativa dos preços contratados,
mediante o comparativo de contratações em outras localidades, contrariando, assim, o que
determina o art. 26, caput, e parágrafo único, inciso IH, do Estatuto de licitações e Contratos
Administrativos, verbis:

Art. 26. As dispensas previstas nos §§ 2º e 4º do art. 17 e no inciso IH e


seguintes do art. 24, as situações de inexigibilidade referidas no art. 25,
necessariamente justificadas, e o retardamento previsto no final do
parágrafo único do art. 8º desta Lei deverão ser comunicados, dentro de 3
(três) dias, à autoridade superior, para ratificação e publicação na imprensa
oficial, no prazo de 5 (cinco) dias, como condição para a eficácia dos atos.

Parágrafo único. O processo de dispensa, de inexigibilidade ou de


retardamento, previsto neste artigo, será instruído, no que couber, com os
seguintes elementos:

1-( ...)

IH - justificativa do preço. (grifas inexistentes no texto original)

Além disso, as cópias dos contratos celebrados entre o Poder Legislativo de Pocinhos/PB e o
contador, Djair Jacinto de Morais, bem como entre aquele e a empresa INFO EXPRESS
EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS DE INFORMÁTICA LTDA., inseridas nos processos anexados'
defesa, fls. 188/189 e 195/196, não são compatíveis com as cópias obtidas previamente ela
unidade técnica, fls. 92/95.
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 01963{07

°
Quanto ao Convite n. 01/2006, objetivando a locação de um veículo, observa-se que a
documentação apresentada pela postulante, fls. 174/176, está incompleta, pois constam
apenas a ata de abertura e julgamento das propostas, a homologação e o termo de
adjudicação, onde se faz referência ao Município de Serra Redonda e não ao de Pocinhos/PB.

Portanto, diante da fragilidade e das inconsistências ora comentadas, que comprometem


sobremaneira a fidedignidade dos documentos, não há como prosperar a alegação de que
houve licitação prévia para as despesas questionadas. Assim, uma vez considerada a
necessidade de realização de concurso público para a contratação de profissionais da área
jurídica e contábil, tem-se que as despesas não licitadas somam, em verdade, R$ 26.220,00,
sendo R$ 16.720,00 com a locação de veículo e R$ 9.500,00 para a elaboração de FOLHAS
DE PAGAMENTOS, RAIS, GFIP e SEFIP.

Logo, cabe destacar que a licitação é o meio formalmente vinculado que proporciona à
Administração Pública melhores vantagens nos contratos e oferece aos administrados a
oportunidade de participar dos negócios públicos. Quando não realizada, representa séria
ameaça aos princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade
e eficiência, bem como da própria probidade administrativa.

Nesse diapasão, traz-se à baila pronunciamento da ilustre representante do Ministério


Público junto ao Tribunal de Contas do Estado da Paraíba, Ora. Sheyla Barreto Braga de
Queiroz, nos autos do Processo TC n.o 04981/00, senão vejamos:

A licitação é, antes de tudo, um escudo da moralidade e da ética


administrativa, pois, como certame promovido pelas entidades
governamentais a fim de escolher a proposta mais vantajosa às
conveniências públicas, procura proteger o Tesouro, evitando
favorecimentos condenáveis, combatendo o jogo de interesses escusos,
impedindo o enriquecimento ilícito custeado com o dinheiro do erário,
repelindo a promiscuidade administrativa e racionalizando os gastos e
investimentos dos recursos do Poder Público.

Com efeito, deve ser enfatizado que a não realização dos mencionados procedimentos
licitatórios exigíveis vai, desde a origem, de encontro ao preconizado na Constituição da
República Federativa do Brasil, especialmente o disciplinado no art. 37, inciso XXI
verbum pro verbo:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
e, também, ao seguinte:

I - (...
)
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 01963/07

XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços,


compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação
pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com
cláusulas que estabeleçam obrigação de pagamento, mantidas as condições
efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as
exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do
cumprimento das obrigações. (grifamos)

É importante salientar que as hipóteses infraconstitucionais de dispensa e inexigibilidade de


licitação são taxativas e estão disciplinadas na Lei Nacional n.O 8.666, de 21 de junho de
1993. Neste contexto, deve ser destacado que a não realização do certame, exceto nos
restritos casos prenunciados na reverenciada norma, é algo que, de tão grave, consiste em
crime previsto no art. 89 do próprio Estatuto das Licitações e dos Contratos Administrativos,
in verbis:

Art. 89 - Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei,


ou deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à
inexigibilidade:

Pena - detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa.

Parágrafo Único. Na mesma pena incorre aquele que, tendo


comprovadamente concorrido para a consumação da ilegalidade, beneficiou-
se da dispensa ou inexigibilidade ilegal, para celebrar contrato com o Poder
Público.

Ademais, consoante previsto no art. lO, inciso VIII, da lei que dispõe sobre as sanções
aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato,
cargo, emprego ou função na administração pública direta, indireta ou fundacional - Lei
Nacional n.o 8.429, de 2 de junho de 1992 -, a dispensa indevida do procedimento de
licitação consiste em ato de improbidade administrativa que causa prejuízo ao erário,
verbatim:

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao


erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda
patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens
ou haveres das entidades referidas no art. 10 desta lei, e notadamente:

1-( ...)

VIII - frustrar a licitude de processo Iicitatório ou dispensá o


indevidamente; (grifo nosso)
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 01963/07

Comungando com o supracitado entendimento, reportamo-nos, desta feita, à manifestação


do eminente representante do Parquet especializado, Dr. Marcílio Toscano Franca Filho, nos
autos do Processo TC n.O 04588/97, verbo ad verbum:

Cumpre recordar que a licitação é procedimento vinculado, formalmente


ligado à lei (Lei 8.666/93), não comportando discricionariedades em sua
realização ou dispensa. A não realização de procedimento Iicitatório, fora das
hipóteses legalmente previstas, constitui grave infração à norma legal,
podendo dar ensejo até mesmo à conduta tipificada como crime. (grifo
ausente no original)

Igualmente inserida no rol das máculas destacadas pelos especialistas deste Pretória de
Contas está o pagamento de remuneração mensal à Sra. Maria das Dores Jacinto Costa, por
serviços de fornecimento de café e chá prestados diariamente na Casa Legislativa, com
valores abaixo do salário mínimo, fI. 88. Por estar configurada a relação de trabalho de
caráter não eventual sob vínculo de dependência, a referida servente equipara-se ao servidor
público. Logo, importa notar que constitui direito fundamental de qualquer trabalhador,
inclusive do servidor público de todas as esferas governamentais, o recebimento de
estipêndios nunca inferiores ao mínimo nacionalmente unificado, consoante estabelece o
art. 7°, inciso IV, c/c o art. 39, § 3°, ambos da Carta Magna, lpsis littens:

Art. 7° - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social:

I - (omissis)

IV - salário muurno, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de


atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia,
alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e
previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder """
aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim; \ \

Art. 39. ( ...)

§ 3° Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no


art. 7°, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX,
podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão quando a
natureza do cargo o exigir. (nosso grifo)

Nesse sentido, transcrevemos a Súmula n.? 27 do colendo Tribunal de Justiça do Est."Çd~


Paraíba - TJ/PB, que veda, de forma peremptória, o pagamento de salários aba!; do
mínimo nacionalmente unificado, verbis: \
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSO TC N.O 01963/07

Súmula 27 do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba: É obrigação


constitucional do Poder Público remunerar seus servidores, ativos e inativos,
com piso nunca inferior ao salário mínimo nacional unificado, instituído por
Lei Federal.

Outrossim, cabe destacar que até mesmo para aqueles que possuem remuneração variável,
fixada por comissão, peça, tarefa ou outras modalidades, a obrigatoriedade de se pagar o
mínimo legal vigora, conforme preceitua o art. 1°, da Lei Nacional nO 8.716, de 11 de
outubro de 1993, que dispõe sobre a garantia do salário mínimo e dá outras providências,
senão vejamos:

Art. 10 - Aos trabalhadores que perceberem remuneração variável, fixada


por comissão, peça, tarefa ou outras modalidades, será garantido um salário
mensal nunca inferior ao salário mínimo.

Feitas essas colocações, merece destaque o fato de que as três elvas encontradas nos
presentes autos são suficientes para o julgamento irregular da prestação de contas
sub iudtce, conforme determinam os itens "2", "2.2", "2.10" e "2.12" c/c o item "6" do
parecer que uniformiza a interpretação e análise, pelo Tribunal, de alguns aspectos inerentes
às Prestações de Contas dos Poderes Municipais (Parecer Normativo PN - TC - 52/2004),
verbum pro verbo:

2. Constituirá motivo de emissão, pelo Tribunal, de PARECER CONTRÁRIO à


aprovação de contas de Prefeitos Municipais, independente de imputação de
débito ou multa, se couber, a ocorrência de uma ou mais das irregularidades
a seguir enumeradas:

2.1. (omissis)

2.2. não pagamento efetivo do salário mínimo nacionalmente unificado;

...
( )

2.10. não realização de procedimentos licitatórios quando legalmente ~


exigidos;

( ...)

2.12.
Resumidos de Execução Orçamentária (REO)
Fiscal (RGF), nos termos da legislação vigente;
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 01963/07

( ...)

6. O Tribunal julgará irregulares as Prestações de Contas de Mesas de


Câmaras de Vereadores que incidam nas situações previstas no item 2, no
que couber, realizem pagamentos de despesas não previstas em lei,
inclusive remuneração em excesso e ajudas de custos indevidas aos edís ou
descumprimento dos limites da Lei de Responsabilidade Fiscal e de decisões
deste Tribunal. (grifos inexistentes no texto original)

Por fim, ante as transgressões a disposições normativas do direito objetivo pátrio,


decorrentes da conduta implementada pela ex-Chefe do Poder Legislativo da Comuna de
Pocinhos, Sra. Rosângela Galdino de Araújo Bonfim, resta configurada a necessidade
imperiosa de aplicação da multa de até R$ 2.805,10 - valor atualizado pela Portaria
n.o 039/06 do TCE/PB -, prevista no art. 56, inciso 11, da referida Lei Orgânica do TCE/PB -
Lei Complementar Estadual n.O 18/93, in verbis:

Art. 56 - O Tribunal pode também aplicar multa de até Cr$ 50.000.000,00


(cinqüenta milhões de cruzeiros) aos responsáveis por:

I - (omissis)

II - infração grave a norma legal ou regulamentar de natureza contábil,


financeira, orçamentária, operacional e patrimonial;

Ex posltis, proponho que o Tribunal de Contas do Estado da Paraíba:

1) Com fundamento no art. 71, inciso 11, da Constituição Estadual, e no art. 1°, inciso I, da
Lei Complementar Estadual n.? 18/93, JULGUE IRREGULARES as contas da ordenadora de
despesas da Câmara Municipal de Pocinhos/Pê, durante o exercício financeiro de 2006,
Vereadora Rosângela Galdino de Araújo Bonfim.

2) APLIQUE MUL TA à ex-Chefe do Poder Legislativo, Sra. Rosângela Galdino de Araújo


Bonfim, no valor de R$ 1.000,00 (um mil reais), com base no que dispõe o art. 56, inciso 11,
°
da Lei Complementar Estadual n. 18/93 - LOTCE/PB.

3) CONCEDA-LHE o prazo de 60 (sessenta) dias para recolhimento voluntário da penalidade


ao Fundo de Fiscalização Orçamentária e Financeira Municipal, conforme previsto no art. 30,
alínea "a", da Lei Estadual n.o 7.201, de 20 de dezembro de 2002, cabendo à Procuradoria
Geral do Estado da Paraíba, no interstício máximo de 30 (trinta) dias após o término daquele
período, velar pelo seu integral cumprimento, sob pena de intervenção do Ministério Público
Estadual, na hipótese de omissão, tal como previsto no art. 71, § 4°, da constituiÇã~~
°
Estado da Paraíba, e na Súmula n. 40 do ego Tribunal de Justiça do Estad da
Paraíba - TJ/PB. ..'
.(~
'\..-. rYt.'-.J
\

1-.
~
\0··
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 01963/07

4) ENVIE recomendações no sentido de que o atual Presidente da Câmara Municipal de


Pocinhos/PB, Sr. Wilson Andrade Porto, não repita as irregularidades apontadas no relatório
dos peritos da unidade técnica deste Tribunal e observe, sempre, os preceitos
constitucionais, legais e regulamentares pertinentes.

5) Com fulcro no art. 71, inciso XI, c/c o art. 75, caput, da Constituição Federal, REMETA
cópias das peças técnicas, fls. 161/166 e 226/228, do parecer do Ministério Público Especial,
fls. 230/232, e d a.decísão à augusta Procuradoria Geral de Justiça do Estado da Paraíba,
~ara as provid n...cias.~à íveis.

E a pro sta. "


nc}0\"
\.
í"'t~"
....
~)~~
QJ.
\,

Você também pode gostar