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Editorial Equipe
Direção Geral
Cadê o recheio?????? Adriana Melo
adriana@arteccom.com.br
Ontem, eu ia enviar um e-mail para a Bauducco. Queria dar minha Direção de Redação
opinião sobre um produto deles que eu estava consumindo. Entrei no site. Luis Rocha
luis@arteccom.com.br
Achei o contato... Que bom! (é, algumas vezes não encontramos o contato). Criação e Diagramação
Camila Oliveira
Quando me deparo com um formulário enorme, com endereço, profissão,
camila@arteccom.com.br
estado civil etc., pensei: “o interessado deveria ser o fabricante, me facilitar Leandro Camacho
leandro@arteccom.com.br
o acesso, afinal, eu poderia contribuir para a qualidade de seu produto e para Ilustração
Beto Vieira
suas vendas. Eu estaria até disposta a perder 1 minuto, pela credibilidade da
beto@arteccom.com.br
:: A Arteccom não se responsabiliza por informações e opiniões contidas nos artigos assinados, bem como pelo teor dos anúncios publicitários. :: Não é permitida a reprodução de textos ou imagens sem autorização da editora.
marca, mas não 5!”. Fechei. Existem outras marcas por aí. Publicidade
Bruno Pettendorfer
Então, tanto se fala de Web 2.0, foco no usuário, troca de experiências,
Débora Carvalho
mas o básico ainda não é feito. Enfim, me pergunto: temos tanto tempo para publicidade@arteccom.com.br
Gerência de Tecnologia
interagir assim? Com acesso a e-mail, celular, MSN, Skype... Definitivamente
Fabio Pinheiro
não. O tempo vai continuar sendo o mesmo, nosso dia vai continuar tendo fabio@arteccom.com.br
Desenvolvimento Web
24 horas. E agora ainda temos que encontrar tempo para conversar com as Cadu Sant'Anna
cadu@arteccom.com.br
marcas dos produtos que consumimos! Conversaremos apenas com as marcas
Financeiro
que nos encantarem e olhe lá. Então, nosso desafio agora é criar ambientes Cristiane Dalmati
cristiane@arteccom.com.br
que realmente atraiam a atenção do usuário. Será um processo de seleção
Atendimento e Assinaturas
natural. O nosso cliente não deixará de conversar com um amigo para trocar Luanna Chacon
luanna@arteccom.com.br
experiências com nossa marca. A não ser que... Aí que estará a oportunidade
A Arteccom é uma empresa de design, especializada na
de demonstrar seu diferencial. criação de sites e responsável pelos seguintes projetos:
Revista Webdesign :: www.arteccom.com.br/webdesign
Bem, mas comecei falando de interatividade porque a WEBDESIGN Concurso Peixe Grande :: www.arteccom.com.br/
webdesign/peixegrande
pretende, ainda este ano, focar bastante neste assunto. Queremos trazer Encontro de Web Design :: www.arteccom.com.br/encontro
Fórum Internacional de Design e Tecnologia Digital ::
para vocês, em 2007, as melhores soluções, estratégias e experiências www.arteccom.com.br/find
Projeto Social Magê-Malien :: www.arteccom.com.br/ong
com interatividade na web, além de tratarmos de assuntos como aplicação
de vídeos em sites, internet no celular, cases internacionais, faremos uma Criação e edição
www.arteccom.com.br
coleção super especial “Café com Criação” e outras surpresas.
Produção gráfica
Um grande abraço e um feliz 2007! www.prolgrafica.com.br
9
menu :: 5
apresentação e-mais
pág. 4 quem somos pág. 38 debate: Ultrapasse os limites
pág. 5 menu pág. 46 e-mais: Desbravadores
pág. 51 estudo de caso: Brastemp
pág. 56 tecnologia na web: ActionScript
contato
pág. 60 tutorial: Produtividade 2.0 - Parte 3
pág. 6 emails
pág. 6 fale conosco
com a palavra
pág. 64 tecnologia: Abel Reis
fique por den tro
pág. 66 arquitetura da informação: Luiz Agner
pág. 8 métricas e mercado
pág. 68 marketing: René de Paula Jr.
pág. 10 direito na web
pág. 70 bula da Catunda: Marcela Catunda
pág. 11 post-it
pág. 72 webdesign: Luli Radfahrer
portfólio
pág. 12 agência: Plano B
pág. 18 freelancer: Andrezza Valentin
pág. 20 ilustração: Glauco Diogenes
matéria de capa
pág. 22 entrevista: Padrões web
pág. 30 reportagem: Gestalt
6 :: emails
Tudo bem? Preciso dar uma Como funciona a organização, atualizando e nos enviando material
resposta urgente para o meu os backups e o desenvolvimento de alta qualidade. Forte abraço!
Evelyn Gomes
diretor. Qual é a estatística de dos arquivos? Como é a
evelyn@rosa-shock.com
usuários que utilizam 1024x768 e dinâmica interna de trabalho,
800x600? É urgentíssimo... quando vários desenvolvedores Muito obrigado por este feedback, Desculpe a nossa falha!
Luciane Carvalho e designers atualizam Evelyn! É um grande estímulo para Edição de novembro:
wcfdesign@yahoo.com.br
constantemente o mesmo portal? a nossa equipe saber que a revista - Página 44, onde se lê “um dos
Juliana Diniz tem ajudado em seu crescimento envolvido”, por favor considerar
Luciane, pela urgência, já enviamos
jds.juliana@gmail.com
a informação por e-mail. Mas profissional. Aproveitando o como “um dos envolvidos”;
achamos sua dúvida válida e vamos Juliana, esta sua sugestão é super ensejo, se você gosta de tipografia - Página 73, o olho da coluna do
compartilhá-la com os nossos válida, pois reflete um dos principais inspirada em tipos populares, Luli Radfahrer saiu repetido, com o
outros leitores! Na edição de julho desafios para a constituição de uma recomendamos que você leia a mesmo da edição de outubro;
(nº30), publicamos as seguintes boa dinâmica de trabalho. entrevista de capa da edição de Edição de dezembro:
informações: 63% dos 17,5 milhões Um dos temas citados por você setembro, que fala sobre o projeto - Página 51, na parte superior do
de PCs em funcionamento no vem sendo abordado na seção “Tipos Populares do Brasil” (www. texto, aparece repetida a passagem
Brasil utilizam 800x600 pixels como Tutorial. A partir da edição de sibilina.com/tipos). “...e as regras desse universo”.
Brasil DF RJ SP
CLT Terceiro CLT Terceiro CLT Terceiro CLT Terceiro
Webdesigner 1.354,00 1.913,00 1.700,00 2.340,00 1.617,00 2.344,00 1.671,00 2.305,00
Webmaster 1.653,00 2.350,00 1.908,00 2.477,00 1.879,00 2.687,00 1.991,00 2.798,00
YouTube 3 x 1 SuperBowl
p o r d entro ,
Fique cas, eventos ias
das di e referênc undo
livros vimentam o m
que mo ign na web
do des
serviços terceirizados para outros escritórios de design. Em maneira distinta. O importante é que o cliente se reconheça
2002, Marcos Rogozinski, formado em engenharia de som como parte integrante do produto final”.
pela Berklee College of Music, associou-se ao escritório, Lembrando que a diversidade dos projetos
trazendo sua experiência no desenvolvimento de novas serve ainda como um estímulo ao trabalho de seus
tecnologias e programação”. profissionais. “No início do processo criativo,
Nesta caminhada, um dos principais desafios seria procuramos estimular uma discussão com toda a
conseguir verba para montar a agência dentro de uma equipe. Nessa etapa, todos podem, livremente, sugerir
boa infra-estrutura física. “Além das noites mal dormidas, alternativas para o desenvolvimento do projeto. Além
o escritório iniciou suas atividades em uma pequena sala disso, a diversidade dos projetos cria um processo de
sublocada de uma produtora de cinema. Receber clientes contínuo aprendizado, que ajuda a manter o interesse
naquela sala era sempre complicado. Mais tarde, com pelo desenvolvimento de novas soluções”, diz.
a contratação de uma estagiária, a situação ficou ainda E dentro das transformações que vão ocorrer no
mais crítica. Depois de dois anos, o escritório mudou- m e rc a d o d e i n t e r n e t n o s p r ó x i m o s a n o s , a P l a n o B
se para um local mais amplo, permitindo o crescimento aposta cada vez mais no alinhamento entre a prática
da equipe que hoje conta com oito funcionários fixos do design e as possibilidades tecnológicas. “Os novos
(seis designers e dois programadores) e colaboradores recursos vão sendo incorporados aos projetos na
(redatores, fotógrafos e ilustradores)”. medida em que viabilizam uma interação mais fluida
Muito dessa evolução deve-se a variada oferta de e uma comunicação mais direta. A internet está cada
serviços (nas áreas de design gráfico, vídeo/animação, vez menos restrita à estação de trabalho. Em um futuro
identidade corporativa, exposições e webdesign), que próximo, as questões de interface e usabilidade serão
permitiu, em pouco tempo, que a Plano B conseguisse formuladas para outros ambientes, ampliando ainda
desenvolver um portfólio consistente e diversifi cado. “As mais o mercado”, argumenta Pedro.
principais conquistas são os próprios clientes. Atualmente, a
Plano B atende regularmente empresas, projetos e instituições Plano B: etapas envolvidas nos projetos digitais
como SHV Gas Brasil, Petrobras, Eletrobras, Anima Mundi, 1. Levantamento dos objetivos do cliente e das infor-
Fundação Casa de Rui Barbosa, entre outros”. mações relevantes ao projeto
Apostando na pluralidade 2. Pesquisa
Se fosse definir em uma palavra a característica marcante 3. Arquitetura de informação, estrutura de navega-
dos projetos desenvolvidos pela agência, Pedro Herzog ção e definição das principais ferramentas
aponta a pluralidade como a definição a ser apresentada. 4. Layout das principais páginas, de acordo com a
“Por isso, na hora de selecionar um profissional, além de identidade do projeto
uma avaliação do portfólio, pesa muito a versatilidade, a 5. Programação
capacidade e a vontade de aprender”. 6. Desenvolvimento da interface
Outra característica que confirma a forma como a 7. Testes de usabilidade
Plano B atua no mercado está presente nas etapas de 8. Ajustes
desenvolvimento de seus projetos. “O processo criativo de 9. Treinamento
cada trabalho se inicia no primeiro contato com o cliente 10. Fechamento do projeto
e, como cada cliente tem características e necessidades
diferentes, os projetos também são encaminhados de
14 :: portfólio agência - Plano B
O relacionamento com a SHV Gas representa dois gran- A oportunidade para a criação e o desenvolvimento do site do
des projetos: além dos sites da SHV Gas Brasil, Minasgás e Anima Mundi, considerado o maior festival de animação da América
Supergasbras, a agência ficou responsável pelo desenvol- Latina, surgiu através da recomendação de um cliente. “Conquista-
vimento da intranet da empresa, que centraliza ferramen- mos a conta através da participação em uma concorrência. A partir
tas de integração, comunicação interna e de otimização de
de então, a Plano B passou a atender todas as demandas relaciona-
recursos.
das ao projeto nos últimos três anos”, diz Pedro.
Diante de tal experiência, quais seriam as principais
A proposta era transformar o site em uma ferramenta dinâmica
diferenças na criação de interfaces para internet e intra-
que permitisse que os próprios funcionários do festival tivessem
net? “Os sites têm uma estrutura relativamente simples,
autonomia para administrar as informações disponibilizadas na
com navegação direta, ricos em informações sobre seus
rede. “Desenvolvemos um sistema para gerenciamento de todo o
produtos e serviços. São orientados para o consumidor
final e sofrem pequenas atualizações de conteúdo dentro conteúdo do site. Entre as funções deste sistema, destacamos: perfis
da estrutura de navegação proposta. Já a intranet é um de acesso; cadastro de notícias; sistema de votação on-line; grade
projeto mais complexo, em constante desenvolvimento. de programação; mural de fotos; calendário de eventos; cadastro de
A SHV.Net converge informações de todas as diretorias e produtos e links; mala direta para os usuários cadastrados etc.”.
departamentos, sendo constantemente revisada em seu Em relação à arquitetura da informação da versão 2006
conteúdo e estrutura, além do desenvolvimento de novas do site do festival, a agência procurou valorizar também as
ferramentas”. outras categorias que foram surgindo ao longo das edições.
Um aspecto interessante na interface da intranet é a “Embora o Festival Anima Mundi seja a principal referência
utilização de ícones para orientar a navegação dos colabora-
para a maioria dos visitantes, a estrutura deveria apresentar
dores da empresa. “Eles foram construídos a partir de uma
os módulos (Festival Anima Mundi, Anima Mundi Web, Anima
matriz de 25x25 pixels, destacando os tópicos mais utilizados
Mundi Celular e Anima Escola) com o mesmo valor hierárquico.
e contribuindo para uma interface mais leve e amigável”.
Outro fator levado em consideração foi a necessidade de mo-
dificar completamente os padrões de cores, tipografia e estilos
de texto, para cada edição do website. Além disso, a arquite-
tura de cada seção foi replicada para facilitar a navegação do
visitante e também a manutenção do website”.
portfólio agência - Plano B :: 15
Filmes do Serro
www.filmesdoserro.com.br
Tecnologias utilizadas: ASP, Flash e SQL Server
Andrezza Valentin
Contato: info@andrezza.com
Site: www.andrezza.com
Se alguém ainda tem dúvidas sobre a validade de se Analisando o portfólio de Andrezza, é possível per-
investir numa boa formação acadêmica, a trajetória profis- ceber uma forte ligação com a arte. Seria essa uma das
sional de Andrezza Valentin, formada em artes pela FAAP principais influências em seu processo de criação? “Acho
e em design gráfico pelo SENAI, serve para dirimir os prin- que tanto arte como design fazem parte de todos os meus
cipais questionamentos. trabalhos. O que acontece é que, às vezes, eu utilizo alguns
“Se você quisesse realmente estagiar na área de de- conhecimentos adquiridos em arte para a minha produção
sign, você tinha que correr atrás para conseguir porque de design e vice-versa. Quando estou criando um trabalho
as vagas eram disputadíssimas e entrar num estúdio de para web, sempre penso nele de forma espacial e com al-
design ou agência era quase impossível. Naquela época, gum tipo de narrativa. Talvez isso aconteça pelo fato dos
o mercado ainda não estava acostumado a contratar pro- meus trabalhos de arte serem tridimensionais e em grande
fissionais tão jovens. Apesar dessas dificuldades, tínhamos parte efêmeros ou com algum tipo de interação com os
ao nosso favor o fato de o SENAI dar aos alunos uma exce- espaços e/ou público”.
lente base de conhecimento em tipografia, diagramação e Falando ainda sobre seu trabalho, ela procura esti-
teoria das cores. Isso ajudou bastante no meu desenvolvi- mular seu processo de criação buscando diversas fontes
mento profissional, principalmente no início, pois apesar de informação. “Sempre começo vendo referências, re-
de ser muito jovem, eu acabava me destacando pela minha correndo a projetos, artistas e elementos que me impres-
boa formação”, destaca. sionaram de alguma forma. Depois, faço diversas leitu-
Após experimentar como seria o processo de tra- ras do briefing, planejamento e repasso todo o material
balho de um designer gráfico, e descobrir que não seria gráfico do cliente. Aí, é deixar as coisas cozinharem um
este o único segmento que gostaria de atuar, a internet pouco na cabeça e procurar os estímulos certos para
surgiu como o campo ideal para ela demonstrar todo o desenvolver o trabalho”, afirma.
seu potencial. “Quando comecei a trabalhar com web tive Uma lição valiosa que Andrezza aprendeu ao longo de
a sensação de ter me encontrado. Por muito tempo pre- sua carreira de designer está na cuidadosa preparação do
feri a linguagem de internet a qualquer outra, mas agora portfólio. “Quando analiso um portfólio, procuro entender
me sinto à vontade para fazer trabalhos de impresso, o processo de construção dos trabalhos e a evolução de
logos, animações. Demora um tempo para você se sentir um para outro, pois assim você consegue perceber o ritmo
confiante do seu próprio trabalho a ponto de não preci- e a velocidade do processo de aprendizagem da pessoa.
sar se prender a nenhum tipo de linguagem específica. Também presto muita atenção na escolha das cores, fontes
Isso também requer muito estudo e dedicação porque é e diagramação. Esses são os elementos fundamentais de
necessário conhecer bem todas as linguagens para poder qualquer trabalho e é através deles que você percebe o que
mudar facilmente de uma para outra”. o profissional realmente sabe fazer”.
Para participar desta seção, cadastre seu portfólio no site da revista: www.revistawebdesign.com.br.
20 :: portfólio ilustração - Glauco Diogenes
Glauco Diogenes
www.glaucodiogenes.com.br
Wd :: Como define seu estilo e onde você busca as referências para o seu trabalho?
Glauco :: Acredito que a diferença do meu estilo de ilustração está exatamente em utilizar o computador ou o software como
instrumento de trabalho e não como linguagem ou razão do trabalho em si. Com isso, consegui desenvolver um trabalho que,
embora tenha uma estrutura relativamente simples, possui uma essência forte, possibilitando a atuação nos mais diversos tipos
de veículos e mercados, seja nas artes, design, editorial, televisão entre outros. A minha preocupação sempre foi a de desenvolver
um trabalho consistente e não um estilo de verão com prazo de validade determinado.
L a r D o c e L a r - P ro g r a m a C a l d e i r ã o d o H u c k ( 2 0 0 6 )
Padrões web,
uma barreira ou um caminho?
Ao longo dos últimos quatro anos, certamente você leu os mais diversos conteúdos falando
sobre as vantagens e os porquês para a adoção dos padrões web dentro dos processos de criação
e desenvolvimento de sites.
Passado este tempo, a Revista Webdesign pretende analisar como o mercado reagiu a tamanho
tsunami de informações. Os padrões se tornaram uma barreira ou um caminho no design para web?
Ninguém melhor para responder tal provocação do que o professor Everaldo Bechara, pós-graduado
Wd :: Na edição de abril de 2005, abordamos as van- padrões, você recomendava que os profissionais não
tagens no uso dos padrões web. Neste ínterim, é possível se prendessem a programas e aprendessem a gerar
apontar um aumento na utilização desta metodologia? os códigos através de digitação e “não somente aper-
Bechara :: Com certeza, mas bem menos expressivo tando botões ou arrastando elementos”. De lá para cá,
do que deveria ser, dado que é inevitável que passemos a essa realidade mudou?
utilizar os padrões pelas inúmeras vantagens que sua uti- Bechara :: Não e acho difícil que mude em um curto
lização oferece. É um trabalho diário de esclarecimento, espaço de tempo. Os produtos WYSIWYG (“What You See
pois, apesar de termos vários profissionais utilizando e di- Is What You Get”), que geravam códigos automaticamente
vulgando os padrões, a grande maioria ainda permanece através de uma interface interativa, sem o conhecimento
com total ignorância sobre o assunto, resistindo a sua uti- específico do (X)HTML e CSS, ainda não têm espaço neste
lização por total desconhecimento, utilizando argumentos mercado, embora os esforços de produtos como Adobe
fracos e sem fundamento. Dreamweaver ou Adobe GoLive e Microsoft Expression
Para o mercado governamental, o aumento natural Web Designer tenham avançado neste sentido, mas longe
foi impulsionado pelo decreto 5.296, de acessibilidade, o do ideal. Fazer códigos “na mão” ainda é a forma mais in-
que obriga, por força de lei, que sítios municipais, esta- teligente de criarmos código com os padrões web.
duais e federais se tornem acessíveis. Em análise feita em Um bom profissional é aquele que conhece o con-
sítios governamentais, encontramos incongruências com ceito, a teoria, os fundamentos. A ferramenta, como o
relação aos padrões do W3C (www.w3c.org). Na verdade, próprio nome diz, deve ser utilizada como ferramenta.
o equívoco é pensar que um projeto web acessível pode Uma ferramenta pode mudar, evoluir ou mesmo ser ul-
começar pela própria acessibilidade, quando o correto é trapassada por outras ferramentas. Podemos até decidir
começar um projeto acessível pela sua estrutura (X)HTML, usar outra ferramenta. Os fundamentos não, servem
depois pelo CSS, seguido do Javascript Cross-Browser e para qualquer ferramenta de hoje ou amanhã. Para um
finalmente com questões específicas de acessibilidade, produto A ou produto B. É como fazer uma faculdade ba-
atendendo assim as 65 recomendações do W3C e mais seada em produtos e outra em fundamentos. É óbvio que
questões de usabilidade referentes à acessibilidade. os fundamentos são mais importantes. Você não precisa
Hoje, o grande problema com relação aos sítios do fazer uma faculdade para aprender ferramentas. É jogar
governo é a falta de um órgão fiscalizador independente tempo e dinheiro fora.
e com experiência para avaliar se eles estão realmente Wd :: Em entrevista recente falando sobre os de-
acessíveis, o que implica necessariamente em adoção safios na disseminação dos padrões, o especialista
dos padrões web. Recente estudo divulgado pela ONU Maurício Samy (www.maujor.com) alertava que “...en-
revela que apenas 3% dos sites são acessíveis. Segundo quanto um excelente designer estiver sendo solicitado
a pesquisa, a maioria dos sites não cumpre as normas a codificar sua criação, um especialista em XHTML +
internacionais. O estudo detalha informações sobre 20 CSS tiver que criar o visual, um gênio do PHP tiver
países, inclusive o Brasil. a obrigação de escrever XHTML Strict, o processo
Wd :: Nesta mesma edição, sobre o uso de sof- de aceitação e implementação dos ‘padrões web’ no
tware para o desenvolvimento de sites dentro dos Brasil estará a passos de tartaruga”. Como você ana-
24 :: entrevista - padrões web
lisa a utilização dos padrões entre os profissionais e pois é muito difícil ter um bom conhecimento de tudo.
agências digitais no país? Cabe lembrar, entretanto, que um profissional de desen-
Bechara :: Concordo com o Maurício quando ele diz volvimento web tem que conhecer os padrões.
que o potencial de cada um deve ser aproveitado da melhor Recentemente, fui júri de um evento corporativo na
forma - isto é o ideal. Entretanto, são poucas as empresas web, onde agências digitais eram a maioria das empresas
hoje em dia que podem ter um excelente designer que faça inscritas no concurso. Fiquei impressionado como os pa-
só a criação do site, pois, de acordo com o porte da em- drões web estão muito tímidos neste segmento. Analisei
presa, muitas vezes não existe uma demanda de projetos sites que poderiam ter sido desenvolvidos com padrões
que justifique. Dessa forma, o web designer deve traçar seu web sendo feitos em Flash. Acho que será muito difícil
plano de carreira observando seus objetivos e seu potencial, um web designer que desenvolva dentro dos padrões con-
mas sem ignorar esta demanda do mercado. vencer um diretor de criação a não usar o Flash em um
Entendo que um web designer que hoje crie e de- hotsite, por exemplo, mas temos que ter, no mínimo, uma
senvolva seus projetos adotando os padrões de forma alternativa acessível. É possível criar belas campanhas na
correta e que seja preocupado com usabilidade é um web também com o apoio dos padrões e dando um dife-
profissional bem requisitado pelo mercado. O de- rencial positivo ao projeto.
senvolvedor PHP, ASP.net etc. é outro profissional, o Wd :: Na edição de agosto de 2005, promo-
especialista em Flash é outro, 3D e assim por diante. vemos um debate sobre a existência ou não de limites
Apesar de ainda ser comum no mercado, entendo que para a criação de sites seguindo os padrões. Você
exigir que um mesmo profissional crie e programe em acredita que um dos grandes obstáculos para a sua
uma linguagem de desenvolvimento não é recomendável, disseminação seja o mito dos limites criativos que ele
supostamente traria para os designers?
Bechara :: Essa é uma pergunta que há anos me
fazem, mas como os padrões web ainda não estão po-
pularizados, esta pergunta ainda é muito pertinente.
Infelizmente, somente pensa desta forma quem nunca
teve o menor contato com os padrões web. Quem já
visitou o famoso e popular “css ZenGarden” (www.csszen-
garden.com), ou mesmo já tenha navegado por galerias
de sites em CSS como, por exemplo, o “CSS Mania” (www.
cssmania.com) ou o “CSS Beauty” (www.cssbeauty.com),
já teve a oportunidade e a certeza de que a adoção dos
entrevista - padrões web :: 25
GRUPO DB4
“Assim que começamos a usar o Easy Mailing conseguimos despertar nos
clientes do grupo DB4 a importância do e-mail marketing e o resultado que
ele pode gerar se feito de maneira profissional, com documentação, relatórios
e ética. Encontramos nos softwares da Dinamize ferramentas de e-mail
marketing robustas, profissionais e com ótimo custo benefício.” Diogo Boni.
nossos olhos e ouvidos de maneira realmente impactante. de um usuário. Experimente olhar para a sua mão e para
Projetos impressos podem também ser comidos, cheira- a parede atrás dela e o mundo real se torna muito menos
dos e manipulados. O chocolate ‘SURPRESA’, da Nestlé, é estático do que parece”, diz Luli Radfahrer.
um exemplo clássico. Como a percepção visual está dire- Sobre esta questão, José Ricardo Cereja, coorde-
tamente ligada à vivência de cada um de nós, todas as nador pedagógico da graduação em Design Gráfico do
nossas experiências sensoriais (táteis, olfativas, visuais, Instituto Infnet e professor de Computação Gráfica da
auditivas e gustativas) modificam a maneira como vemos PUC-Rio, ressalta que, em ambientes interativos, a dinâ-
e interpretamos as imagens. Para os nossos olhos, as dife- mica visual estabelece uma relação “tempo versus per-
renças dos sistemas de cores provocam percepções dife- cepção” que influencia na apreensão das imagens. “Isto
rentes nos dois universos. No mundo digital, as cores são é, o tempo de observação que o usuário dedica a uma
luzes emanadas de dispositivos eletrônicos. Em impres- interface pode ser controlado tanto pelo designer que a
sos, as cores são resultados das diversas luzes refletidas projetou, através da composição de elementos e arqui-
no ambiente onde o produto se encontra”, analisa. tetura de navegação, quanto pela velocidade com que a
O que se vê não é o que se percebe? ação do usuário é realizada. Temos ainda as ações moto-
No livro “Gestalt do Objeto”, o professor João ras controlando o tempo de ação e fazendo mudar todo
Gomes Filho aponta que um dos princípios básicos da o aparato visual em segundos. Isto vai influenciar dire-
Gestalt diz que o fenômeno da percepção que acontece tamente a disposição das imagens, fundos, animações,
no cérebro não é idêntico ao que ocorre na retina. Dessa inclusive, no ambiente interativo”.
forma, nossa primeira sensação seria global e unificada, Diante disso, um dos principais desafios é trabalhar
ou seja, não vemos partes isoladas, mas sensações. “A o princípio “figura-fundo” na internet, que se caracteriza
definição é precisa e corretíssima: o que se vê não é o pelo dinamismo e pela interatividade. “O designer deve
que se percebe. Da mesma forma que no exemplo do se preocupar com a relevância das partes e como a com-
restaurante ‘vagabundo’ não é um elemento isolado que posição irá afetar o cérebro do receptor que ele almeja
traz o conceito, mas seu conjunto. É por isso que certas atingir. O importante é ter o bom senso para distinguir
combinações de cores ou roupas que caem muito bem em o que será figura e o que será fundo para cada receptor.
certas pessoas são um horror em outras. A velha história Cores e formas, por exemplo, podem ter significados dife-
do ‘estilo’ contra a pura e simples falta de noção. No pri- rentes para as pessoas. Cabe ao designer construir uma
meiro caso, se acerta sempre. No último, cedo ou tarde linguagem visual capaz de comunicar objetiva e precisa-
a festa acaba. A figura e o fundo se alternam na mente mente seu conteúdo”, explica Lucas Hirata.
gestalt :: 33
mos estes conhecimentos no mundo físico. “Em um super- texto, barras de rolagem intermináveis, mistura de cores,
mercado, os sacos de arroz ficam juntos. Em uma festa, áreas claras em contraste direto com áreas escuras, cores
namorados ficam juntos. Coisas de categorias próximas pastéis em excesso, animações piscantes e frenéticas cau-
devem se agrupar ou darão ao usuário um desconforto, que sam uma verdadeira esquizofrenia visual, expulsando o
tende a crescer quanto maior for à distância”, exemplifica. usuário daquele lugar virtual”.
Na busca pela fluidez visual Além disso, traçar previamente o perfil do público-
Atingir uma fluidez visual é considerado um dos prin- alvo pode ser um bom atalho para garantir a continui-
cipais desafios na criação de uma interface digital. Para dade da leitura visual dentro de um site. “A continuidade
isso, vamos recorrer a mais uma das leis da Gestalt, que depende muito da experiência de vida do usuário. Pode-
fala sobre continuidade. No livro “Gestalt do Objeto”, mos dizer que a interpretação de imagens está tão ligada
ficamos sabendo que uma boa continuidade “é a impres- ao histórico de vida do mesmo, quanto às suas habilida-
são visual de como as partes se sucedem através da orga- des visuais. O conhecimento prévio do perfil do usuário
nização perceptiva da forma de modo coerente, sem quebras predominante é um caminho para o desenvolvimento coe-
ou interrupções na sua trajetória ou na sua fluidez visual”. rente de um site. Lógico que é humanamente impossível
Então, a pergunta que fica é: como trabalhar este uma definição 100% precisa. Mas testes de usabilidade e
conceito na web? “A fluidez se consegue com a transmis- grupos focais são caminhos seguros para nortear grandes
são simples e direta da informação. O que implica tam- projetos”, ressalta Lucas.
bém na simplicidade e objetividade na composição dos Evitando os erros mais comuns
elementos visuais, sejam imagens, desenhos, fotos ou ani- Nada melhor do que aprender com os erros para
mações. A continuidade em um site se dá a partir da pri- aperfeiçoar a prática. Levando em consideração as leis da
meira apresentação ao usuário de padrões que atendam Gestalt, a primeira falha observada na criação e no desen-
confortavelmente a sua percepção visual”, orienta Cereja. volvimento de um site envolve o descaso pelas experiên-
Ou seja, o professor recomenda que sejam evitados cias passadas. “Elas auxiliam a navegação em sites. Nor-
vários elementos em uma mesma interface. “Excesso de malmente, os usuários reproduzem padrões de comporta-
gestalt :: 35
Biblioteca da Gestalt
- Gestalt do Objeto
Autor: João Gomes Filho
Editora: Escrituras
- Modos de ver
Autor: John Berger
Editora: Rocco
- O instinto da Linguagem
Autor: Steve Pinker
Editora: Martins Fontes
- O poder do centro
Autor: Rudolf Arnheim
Editora: Edições 70
ULTRAPASSE OS LIMITES,
DANDO ASAS À IMAGINAÇÃO
Baixa capacidade de acesso à internet no país, clientes sem conhecimento prévio sobre o
meio, prazos apertados. Se você for fazer uma enquete entre os profissionais sobre os limites que
envolvem os processos criativos na web, estas serão algumas das alegações mais comuns.
O tema sempre foi polêmico. Em 2001, na última edição do Design de Bolso (http://
tinyurl.com/yltjmc), finado e histórico fanzine criado pela dupla Elesbão e Haroldinho, existiam
Tempos depois, a Revista Webdesign decidiu retomar este debate para descobrir quais
:: Marcelo Mariano
Diretor de Arte da AgênciaClick
www.marcelomariano.com
:: Thadeu Morgado
Designer do 8P.com.br no Núcleo de Aplicativos da Globo.com
www.thadeumorgado.com
“ A s b a r re i r a s n o p ro c e s s o c r i a t i v o d i m i n u e m à m e d i d a q u e o
“Estamos deixando para trás aquela fase em que, para nos
envolvimento no projeto aumenta. O trabalho deve começar antes e
intitularmos designers de internet (e suas muitas variáveis), bastava
ir muito além do momento em que o Photoshop é iniciado. O designer
fazer um curso de Dreamweaver, saber um pouco de Flash e sair
deve se envolver em todas as etapas do projeto: é essencial ter um
fazendo páginas por aí.
conhecimento profundo do briefing e dos requerimentos de produto, e,
Hoje, o mercado está acordando para a importância da mídia
a partir daí, estar totalmente envolvido na concepção do site.
internet e o próprio público está exigindo cada vez mais, seja na
As inovações muitas vezes começam ainda na arquitetura, refletindo
facilidade de navegação, objetividade, tecnologia, conteúdo dife-
claramente na hora de criar as interfaces e as soluções gráficas. Deve-
renciado e, sobretudo, emoção, arte e design.
se pensar não na página estática, mas sim no fluxo de navegação do
Com o aperfeiçoamento dos softwares e a disponibilização
usuário pelo site. Entender como o usuário vai utilizar o que está sendo
de bandas cada vez mais largas, estão se tornando mais comuns
proposto é o mais importante ponto no processo de criação.
sites com grandes imagens e filmes interativos que tomam todo o
Outro fator imprescindível é ter um diálogo muito próximo com os
fundo de uma tela. Isso traz um impacto e uma identidade com a
desenvolvedores. Esse canal aberto com a tecnologia abre espaço para
marca muito grandes, lembrando que a pessoa só está lá porque
soluções que, muitas vezes, não são visualizadas. Deve-se não ter medo
ela desejou assim.
de experimentar ao máximo, desenvolver protótipos e testá-los desde o
A interatividade com o público é outro fator que traz a simpli-
início do projeto. Apenas dessa forma é possível interagir com a solução
cidade como ponto chave na navegação. Em tempos onde é comum
criada e ter a idéia da viabilidade (ou não) do design.
se ter uma câmera no bolso, todos querem ter seus 15 minutos de
Limitações sempre irão existir. Por essa razão, manter-se atualizado
fama, disponibilizando fotos e vídeos on-line. Assim, o papel da
com as inovações que surgem a todo o momento e entender o que
internet é tornar isso realidade e da forma mais fácil possível. Sim-
tangencia o nosso trabalho dentro do processo de criação faz com
plicidade é a palavra. Sem deixar a emoção de lado.”
que essas barreiras diminuam consideravelmente. Dessa forma,
soluções simples ou meramente visuais devem ser evitadas,
pois é necessário ter sempre em mente que o usuário
interage com o site, e não apenas olha para ele.”
par
gan tici
he pe
prê e
mio
s!
Miriam Paula -
comercial@tecsite.com.br
Os principais desafios para a criação são: manter qualidade e oferecer soluções de nível alto a baixo custo, prazos de entrega
apertadíssimos, desenvolver nos padrões para os diferentes browsers, sem falar na dificuldade de ter seu trabalho reconhecido
e valorizado pelos clientes.
VENC EDORA
Acredito que seja elaborar websites visualmente agradáveis aliado às diversas novas tecnologias de forma que resulte em um
produto bonito, funcional e eficiente.
Cláudia Mucenecki
depcom@adsantamaria.org.br
Creio que os maiores desafios sejam o de identificar o que os usuários de internet buscam em uma navegação. Atingir o
ponto ideal de um layout agradável e usabilidade são questões desafiadoras para um design de interfaces.
Gláucia Roberta
glauciaroberta@gmail.com
O maior desafio é permanecer com um trabalho simples, objetivo, leve, respeitando os princípios de design e mesmo
assim com uma boa dose de criatividade...
Sergio Montes
sergio_montes@ig.com.br
Como em qualquer processo criativo, 1% é inspiração e 99% é transpiração. A conceituação, o briefing, os prazos e as obrigato-
riedades e limitações colocadas por muitos clientes, na maioria das vezes, atrapalham o processo. Assim como o dedo criativo
deles. Muitas das vezes nos obrigam a misturar idéias e conceitos diferentes com cores e tipos que não se relacionam bem e no
final temos que domar aquele “monstro incontrolável” que vira o projeto.
Se você é assinante, participe desta seção pelo site www.arteccom.com.br/webdesign/clube O autor da melhor resposta ganha prêmios.
46 :: e-mais - desbravadores
Desbravadores dos
territórios www ponto com
A máquina do tempo da História do Brasil retorna ao tecer em vários outros setores, inclusive na propaganda
século XVI, mais precisamente na época de expedições on-line. O que é bom! São novas visões, novas cabeças
organizadas pelo governo e por particulares, conhecidas pensando”, afirma André Matarazzo, sócio da Gringo.nu.
como Entradas e Bandeiras, respectivamente. Resumida- “As agências interativas são um tipo de negócio que já
mente, a função dos bandeirantes era capturar escravos fu- nasceu sob o processo de globalização da economia. Nes-
gitivos, buscar povos indígenas para realização de trabalho se novo cenário, é natural que tenhamos programadores
escravo e procurar riquezas minerais. Apesar de cumprirem indianos atuando no mundo todo, designers mexicanos,
uma tarefa cruel, esses homens também colocaram seus diretores de arte brasileiros, gerentes de projetos ingleses,
nomes na história do país como desbravadores de um ter- e por aí vai... Hoje, o conhecimento está aberto a todos, o
ritório até então desconhecido pelos nossos colonizadores, que torna a concorrência global”, complementa Santana
o que possibilitou a abertura de novos negócios. Dardot, diretor de produção da Sapien.
Voltando a Era Digital, o mercado de internet no Brasil O que eles buscam nas agências brasileiras?
presencia uma nova realidade, no qual as agências digitais Certamente, alguns fatores têm contribuído para a
começam a desbravar um segmento ainda pouco explorado abertura do mercado internacional para as agências digitais
comercialmente. Estamos falando do crescimento de pro- do país. Segundo os especialistas, o preço de nossos servi-
jetos interativos internacionais realizados com a marca do ços é extremamente competitivo. “Nós podemos entregar
conhecimento de profissionais brasileiros. ao cliente um serviço de nível internacional com um preço
“Esse boom de outsourcing que existe há anos no abaixo das grandes agências localizadas na Europa e Améri-
setor de TI para a Índia, por exemplo, vai começar a acon- ca do Norte”, diz Tiago Ritter, sócio-diretor da W3Haus.
e-mais - desbravadores :: 47
Além disso, vivemos uma fase de valorização de nos- Oriente Médio pode ser um mercado mais ou menos pro-
sa capacidade criativa. “Somos criativos, nem sempre da missor que a Europa Setentrional, por exemplo, depen-
forma mais óbvia: programadores brasileiros têm passe dendo do serviço a ser oferecido. É importante, nessa fase
valorizado no exterior por buscarem saídas pouco usuais de prospecção de mercados, que abandonemos as noções
para os problemas, não desanimando ante as dificulda- pré-concebidas de que somente determinados mercados
des. É o lado bom do jeitinho brasileiro: o jogo de cintura é que são bons. Às vezes, ótimas oportunidades vêm de
e o gosto pela resolução de problemas”, afirma Gladi- onde menos se espera”, lembra Gladimir.
mir Dutra, gestor executivo da Aldeia - Agência Internet. Para quem duvida da eficácia desta ação, a experi-
“Brasileiro é criativo, faz perguntas, se mete, mobiliza as ência vivida pela W3Haus serve como prova viva. “É bom
pessoas, dá risada, usa bem o humor, faz as coisas com conhecer o terreno em que vai se pisar. Antes de viajar, o
muita paixão. Isso causa uma boa entropia para processos Rodrigo (um dos sócios da agência) fez muita pesquisa e
criativos”, acrescenta André Matarazzo. vários contatos para se inteirar do mercado que iria encon-
Ou seja, adaptação e flexibilidade são diferenciais pro- trar. Nesse aspecto, entendo que não se difere muito de
curados pelo mercado externo. “A nossa maneira em lidar uma iniciativa que se faça no Brasil. A diferença é estar pre-
com diferentes cenários, a forma como nos envolvemos com parado para enfrentar as diferenças culturais desse novo
o que fazemos, a nossa capacidade criativa, a facilidade que mercado”, ressalta Tiago.
temos no contato interpessoal e a mistura cultural (que é Assim, a sugestão é desenvolver um planejamento
uma marca forte da nossa sociedade) nos credencia para com metas a serem atingidas. “Num universo macro, a
interagir com esse ambiente global com uma certa vantagem agência deve buscar o autoconhecimento. Qual é o seu
em relação a outros povos”, analisa Santana Dardot. modelo de negócios? Quais os objetivos e a visão? O plano
Etapas para a expansão de mercado de negócios, o estabelecimento de métricas para o acom-
Deseja expandir seu mercado de atuação para o ex- panhamento dos fatores essenciais do negócio e processos
terior? Então, nada melhor do que ouvir as dicas de quem alinhados aos objetivos da empresa são ferramentas que
já passou por este processo. “A primeira etapa é a seleção podem ser úteis nesse cenário. Depois disso, cabe à agên-
dos mercados de atuação, com base no retorno potencial cia buscar as possíveis oportunidades que melhor aderem
e nas características econômicas e culturais do mesmo. O ao seu modelo de negócios”, afirma Santana.
Definidos estes pontos, lembre-se que a capacitação nanceiros. Embora saibamos que o componente emocional
das equipes vai garantir uma boa realização do processo. sempre fala alto, a decisão deve ser baseada em critérios
“Vale a recomendação de se ter o domínio do inglês e das racionais”, argumenta Gladimir.
terminologias específicas da nossa área. Mais que conhe-
“Vale a recomendação de se ter o domínio
cimento, uma habilidade muito necessária é a percepção
e empatia para percebermos padrões culturais diferentes
do inglês e das terminologias específicas da
dos nossos e nos adaptarmos a eles. Ingleses reagem de nossa área” (Gladimir Dutra)
forma diferente dos portugueses, que reagem diferente Além disso, Tiago, da W3Haus, lembra que é preciso
dos suecos, e por aí vai. Isso vai muito além da linguagem convencer o cliente da seriedade do serviço a ser disponi-
empregada: está nas entrelinhas dos e-mails, nas pausas e bilizado. “É necessário vencer a desconfiança dele, que vai
entonações em uma teleconferência”, alerta Gladimir. ter o seu trabalho realizado por pessoas do outro lado do
Vencendo os obstáculos Atlântico. Em nosso caso, pelo fato de termos uma presença
Como já dizia o poeta mineiro Carlos Drummond de física com dois profissionais dando suporte e atendimento,
Andrade, “no meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma o cliente se sente mais amparado. Quando apresentamos
pedra no meio do caminho”. Assim, na trajetória em busca da o resultado final e ele atende às expectativas do cliente, o
ampliação de mercado, alguns desafios precisam ser supera- obstáculo está definitivamente ultrapassado”.
dos. O primeiro deles envolve as diferenças entre o cliente e Cliente: diferenças e vantagens
o fornecedor do serviço. Certamente, a longa caminhada já percorrida
“A língua, a cultura e a comunicação são pontos que, se pelas agências digitais brasileiras com atuação interna-
não são bem trabalhados, podem se apresentar como gran- cional foi suficiente para traçar as características que
des obstáculos. Uma equipe com formação multicultural diferenciam os clientes daqui com os de fora. “Acho
pode surgir como um facilitador nesses quesitos”, que a diferença é, sobretudo, de expectativa
diz Santana. e organização. Por exemplo, marcas estran-
Outra dificuldade está no estabeleci- geiras têm uma estratégia de marketing
mento de canais de prospecção e aten- definida com muita antecedência por seu
dimento. “A falta de flexibilidade p e s s o a l o u a g ê n c i a d e p ro p a g a n d a .
e empatia com um cliente di- Raramente alguém vai te contactar
ferente do usual podem dizendo que precisa de um projeto
gerar ruídos de comu- substancial para ontem. Processo
n i c a ç ã o n o p ro c e s s o de feedback, de coleta de mate-
de trabalho. Antes de rial - na nossa experiência tudo
tudo, a decisão entre corre muito mais seriamente
levar a prospecção e estruturadamente”,diz
ou a produção para André Matarazzo.
o exterior deve ser Como conseqüên-
analisada em termos fi- cia desta organiza-
ção, surge uma maior cobrança. “O cliente que contrata No caso das gaúchas Aldeia e W3Haus, houve uma
um fornecedor offshore (e não estamos falando de países transformação na forma como elas se posicionam no merca-
específi cos, isso se aplica até mesmo ao Brasil) tende a ser do. “Além do aumento do número de projetos, um retorno
mais escolado nas práticas de TI e é, portanto, mais exigente bastante sensível foi o número de contatos comerciais. Pas-
em termos de gestão de processos. Não gostamos de fa- samos a ser percebidos como fornecedores potenciais, o
zer generalizações em relação a países específi cos: há, por que é sempre importante em um processo de posicionamen-
exemplo, ingleses extremamente abertos à inovação, outros to de marca para um determinado mercado”, cita Gladimir.
são mais conservadores. O relacionamento com os clientes “Brincamos que a W3Haus, ao contrário das empresas aéreas,
no exterior, na experiência da Aldeia, tem sido formal, com vai de Porto Alegre à Europa sem escala em São Paulo. Fa-
tendência a suavização do meio para o fi nal do processo”, lando sério, existe uma admiração dos concorrentes e um
relata Gladimir. respeito maior por parte dos clientes. O fato de nos estabele-
Não podemos esquecer também a exigência pelo cermos em um outro país é uma prova de nossa competência
cumprimento rigoroso dos prazos. “Os cronogramas são e qualidade nos serviços prestados”, conta Tiago.
mais respeitados tanto pelo cliente como pela agência Além desses aspectos, podemos citar o crescimento
digital. Além disso, existe uma autonomia maior para a da receita financeira e a possibilidade de participação em
agência. No Brasil, não é raro termos que lidar com algu- projetos inovadores. “Sem contar com o lógico aumento do
mas empresas em que o cliente sente a necessidade de ter orçamento, sentimos também que a organização é melhor, a
o ‘seu dedo’ no trabalho”, cita Tiago. comunicação é mais eficiente, entre outros. Temos também
Vale a pena? a chance de criar conceitos para públicos diferenciados,
Mais do que receber um simples “sim” ou “não” como mais abertos para experimentação, que navegam em banda
resposta a tal pergunta, é preciso saber que tipo de retorno mais larga etc. É importante frisar que clientes ‘interna-
uma agência digital poderá obter ao decidir expandir seu cionais’ variam imensamente. Temos clientes institucionais
mercado de atuação para o exterior. “A Sapien tem obtido americanos que se comunicam com um público geriátrico
elevadas taxas de crescimento a cada ano (13,60% em 2003, - até clientes de pura atitude que se comunicam com os jo-
34,98% em 2004 e 68,02% em 2005). Hoje, atendemos clien- vens de Helsinque, por exemplo. Nem tudo são flores, nem
tes na Europa, Ásia e América. Esse foi um dos fatores que sempre existe uma oportunidade grande de fazer um traba-
contribuiu para o nosso crescimento”, revela Santana. lho extremamente diferenciado”, finaliza Matarazzo.
- Gringo.nu - W3Haus
“Não diria que a Gringo é focada em clientes no exterior, “A partir da iniciativa de um dos sócios (Rodrigo Caudu-
mas gostamos de poder trabalhar com gente de fora. ro). Por motivos pessoais, ele tinha interesse de morar
Acreditamos em um modelo global de atendimento” na Inglaterra e aliou essa vontade ao lado profissional
(André Matarazzo) levando a W3Haus ‘na bagagem” (Tiago Ritter)
50 :: estudo de caso - Brastemp
Brastemp
na era do comércio
eletrônico
personalizado
Você vai comprar um novo refrigera- pela internet uma nova maneira de co-
dor e gostaria de encontrar um lugar onde mercializar seus produtos: é o chamado
pudesse escolher as cores das portas e do comércio eletrônico personalizado, no
gabinete, definir o tipo de voltagem e o qual o usuário vai determinando as ca-
lado de abertura, além de incluir algumas racterísticas de sua compra.
novas funcionalidades, como porta-latas, Os detalhes sobre a criação e o de-
compartimento para laticínios e gavetas e senvolvimento deste novo tipo de am-
prateleiras extras. biente, você confere nesta entrevista rea-
Pois bem, de olho nas transformações lizada com dois especialistas da Agência-
ocorridas nos desejos dos consumidores Click (www.agenciaclick.com.br): Ricardo
nos últimos tempos, a Brastemp (www. Figueira, diretor de criação, e Abel Reis,
brastemp.com.br) vem desenvolvendo VP de Tecnologia e Projetos.
estudo de caso - Brastemp :: 51
midor “físico” e o consumidor “virtual” da marca? Mas o importante é que a decisão do projeto partiu do
Ricardo :: Hoje em dia, os consumidores visitam o site pressuposto de atender a todas as necessidades dos usu-
da Brastemp por uma infinidade de motivos. Inclusive, pelos ários. O site projetado não poderia ter uma configuração
mesmos que naturalmente os levariam ao ponto-de-venda. que fosse excludente, ao contrário, que atendesse com boa
As visitas são motivadas por iniciativas ativas da pró- ergonomia a todas as pessoas.
pria marca, como campanhas promocionais de varejo on- Wd :: Em termos de arquitetura da informação, o site
line, comunicação de novos lançamentos, ações de rela- foi dividido em quatro seções principais: Catálogo de Pro-
cionamento, ou pelas próprias necessidades específicas dutos, Loja Virtual, Atendimento ao Consumidor e Dicas da
do consumidor, que variam desde registro de um produto Brastemp. De que forma vocês decidiram quais seriam os
até a configuração de novos eletrodomésticos com gostos, blocos de informação a serem trabalhados na interface?
cores e design personalizados. Ricardo :: Apesar de o site hoje contar com muito
Enfim, a internet acabou integrando todas as relações conteúdo e outras ações e assuntos, essas eram as temá-
já existentes com o consumidor e criou ainda um cenário ticas que refletiam as principais necessidades do usuário
sua relação com a marca - que é uma só - independente do Procuramos, praticamente em todos projetos, desen-
ambiente ser real ou virtual. volver a arquitetura de informação do site de forma a refle-
Na cabeça dele, não existe distinção, não existe a tir os hábitos e o entendimento do consumidor, mesmo que
marca virtualmente e a marca fisicamente. Existem, sim, a estrutura interna da empresa seja diferente. Entendemos
experiências proporcionadas por uma marca para atender que o importante é adequar-se a espontaneidade cognitiva
a influenciar diretamente os seus hábitos de escolha e fre- Wd :: A combinação cromática do site prioriza tona-
qüência aos diversos meios e canais. lidades leves e neutras, como o branco e o cinza, além do
É claro que, por outro lado, os consumidores passam uso do laranja para destacar determinadas informações.
a ter expectativas cada vez mais sofisticadas e que só a fle- Quais fatores influenciaram nesta escolha?
xibilidade, a agilidade e as características de um ambiente Ricardo :: A Brastemp é uma marca tradicional no mer-
Wd :: A diversidade de resoluções de tela usada Esse foi um dos principais pontos que determinaram na
pelos usuários ainda é uma questão que merece atenção concepção do design do site.
por parte de quem trabalha com a criação e o desenvol- Essas atitudes ou características da marca acabaram
vimento de sites. No caso do site da Brastemp, vocês influenciando a estratégia criativa, passando por três pon-
Ricardo :: Atualmente, no Brasil, a diversidade de reso- usuário, a organização da informação. Em seguida, era pre-
luções utilizadas em computadores é muito variada e o fato é ciso permitir que as imagens dos próprios produtos falas-
influenciado por inúmeros motivos, que vão desde questões sem com o consumidor, transmitindo o espírito da marca
“Pop-up: apesar do resse das pessoas que realmente clicam nele é altíssima, caracterizando uma
índice de rejeição ao tipo efetivação da comunicação proposta.
de comportamento, a Então, uma vez que o site da Brastemp possui uma audiência já qualificada,
afinidade e interesse das dentro de um interesse específico, há grandes chances dessa linha de comu-
nicação trazer pertinência e interesse ao visitante. Podemos interpretar como
pessoas que realmente
uma sugestão de oportunidade e não uma comunicação invasiva.
clicam nele é altíssima”
Wd :: A acessibilidade é um tema que vem transformando a maneira
(Ricardo Figueira)
como as empresas desenvolvem seus produtos e serviços. Pensando nis-
so, a Brastemp lançou recentemente uma linha de produtos acessíveis aos
consumidores com necessidades diferenciadas (www.brastemp.com.br/in-
dependente). Assim, dentro do site, existe também um espaço dedicado a
exposição desses produtos. Como as normas de acessibilidade on-line foram
aplicadas nesta seção?
Ricardo :: Lembro que, quando criávamos esse site, passamos algumas
vezes pela discussão de aproveitar a oportunidade para entrar nesse assunto
no próprio site.
Entretanto, concluímos que o nosso objetivo deveria ser simplesmente
fazer o site mais acessível, não fazendo disso um assunto para discussão, mas
sendo realmente um site adequado ao público focal.
Para isso, criamos um site tecnologicamente simples, adequado e compa-
tível com todos os mecanismos viabilizadores e de suporte às diversas necessi-
dades especiais, previstas nas normas regentes do HTML para acessibilidade.
Acessibilidade na web X
É criar ou tornar as ferramentas e páginas web acessíveis a um maior número de
usuários, inclusive pessoas com deficiências. A acessibilidade na web beneficia
também pessoas idosas, usuários de navegadores alternativos, usuários de tecnologia
assistiva e de acesso móvel.
Fonte: Serpro (http://tinyurl.com/wsple)
Tecnologia na web
ActionScript: expandindo os limites do desenvolvimento web
Extraordinários efeitos visuais e transições dinâmi- Janota, desenvolvedor especialista em Flash e sócio-di-
cas entre os elementos que compõem a interface do site. retor da DES16N (www.des16n.com.br), o início coincide
Se você entrar em algum fórum ou lista de discussão com o lançamento da versão 3 do Flash. “Nesta época, já
voltada para a criação e o desenvolvimento web, certa- brincava com Flash e Javascript. Em 2000, passei a usar
mente vai se deparar com o endereço www.2advanced. a versão 4, que já trabalhava com variáveis e streaming
com. O site desta agência americana é um bom exemplo de MP3. No Flash 5, veio a interação com XML e assim
no uso de Flash, através da utilização da linguagem de evoluindo aos dias de hoje”.
programação ActionScript. Já a história de Zé Fernando está intimamente ligada
“No início, o Flash era só uma plataforma para dese- com a evolução do Flash. “Comecei a trabalhar com Flash,
nho vetorial e animação. Com o ActionScript, se transfor- na versão 2, em 1997 ou 1998. No começo, o Flash não
mou numa plataforma que permite a execução de código. tinha o ActionScript como é conhecido hoje - ele só supor-
Em termos visuais, permitiu o controle dinâmico de obje- tava meia dúzia de comandos simples, chamados de ‘ac-
tos. Assim, programadores e designers não precisam mais tions’. Ele foi mudando bastante conforme os anos foram
compor animações e outros efeitos na timeline, como feito passando e ainda tem mudado constantemente, com as
originalmente. Além disso, tornou possível todo o tipo de novas versões de ActionScript (2, 3 etc.) e recursos novos
processamento existente em uma linguagem real de pro- que são criados. Assim, posso dizer que comecei a traba-
gramação, como interpretação e manipulação de dados, lhar com ActionScript quando ele nasceu”.
geração de conteúdo em tempo real, interação com scripts Erros mais comuns
no lado servidor etc”, explica o designer de interfaces Zé Nada melhor do que perguntar para quem já vem de-
Fernando (www.zeh.com.br). senvolvendo há um bom tempo quais seriam os erros mais
Sobre as suas vantagens, o especialista afirma que comuns no uso do ActionScript. Com a palavra, os especia-
hoje é mais fácil perguntar se é possível criar algo sem o listas. “Os principais são os erros de tipagem. Os scripts in-
uso de ActionScript. “A resposta é não: sem uma lingua- ternos do Flash exigem sua escrita corretamente. Por exem-
gem para script, qualquer tecnologia de interfaces não é plo: escrever var meu_som:sound = new sound() em vez de
nada além de uma casca sem propósito. Em sites em Flash, var meu_som:Sound = new Sound()”, aponta Dauton.
ActionScript acaba sendo usado principalmente para transi- Outra questão complicada envolve, dentro do Flash, o
ções entre estados dos elementos da interface (eventos de trabalho com um mesmo código dividido em muitos objetos
rollover, fades de conteúdo e outras animações, por exem- diferentes. “Um dos grandes problemas do ActionScript e
plo), criação de conteúdo dinâmico (quando carregado de do Flash, em geral, é que você pode fazer uma mesma coi-
algum sistema externo, como uma consulta num banco de sa de diversas formas diferentes - da mais confusa a mais
dados), diálogo com scripts do lado servidor para executar simples, da mais poderosa a mais limitada. Por exemplo,
tarefas mais avançadas num website (como mandar e-mails alguns programadores podem conseguir terminar uma ta-
ou adicionar registros num banco de dados) etc.” refa, mas de uma forma que o código esteja tão confuso
O começo que qualquer mudança ou manutenção seja impossível. Em-
Para entendermos um pouco mais sobre esta tec- bora isso não seja um ‘erro’ pela definição mais técnica da
nologia, uma boa pedida é descobrir como alguns pro- palavra, acaba sendo um erro prático porque impede que
fissionais começaram a manipulá-la. No caso de Dauton outras pessoas trabalhem no código”, afirma Fernando.
tecnologia na web :: 57
nível médio
O especialista lembra ainda da confusão entre os es- usando ActionScript de cabo a rabo”, diz Fernando.
copos da linguagem. “Ou seja, ao se usar objetos, variáveis Além disso, ele indica exemplos envolvendo as ques-
e funções em muitos lugares diferentes. Quando o progra- tões técnicas. “Bons exemplos de uso de ActionScript são
mador não possui um conhecimento maior da linguagem scripts que redimensionam a interface com muito mais
e de programação orientada a objetos em geral, é comum controle dependendo do tamanho da janela do browser.
criar um código cheio de buracos, que pode até funcionar, Temos ainda os scripts que te permitem fazer algo muito
mas vai estar funcionando na corda bamba, podendo entrar mais visualmente (por exemplo: procurar um livro da Ama-
em parafuso a qualquer momento.” zon e estabelecer relações entre outras publicações sob a
Bons exemplos no uso do ActionScript forma de gráficos interligados), interfaces de usuário mais
Então, onde encontrar bons exemplos da aplicação do amigáveis (as chamadas interfaces ricas), carregamento de
ActionScript, que sirvam de referências para futuros proje- dados dinamicamente (que podem ser interpretados no
tos? “Geralmente, sites que indexam websites (www.the- lado cliente), jogos singleplayer e multiplayer etc.”
fwa.com, por exemplo) são bons índices para isso, já que Dificuldades no aprendizado
90% dos sites listados lá são feitos em Flash e, obviamente, Segundo os especialistas, um dos principais desafios
58 :: tecnologia na web
“Com o ActionScript, o Flash se transfor mou numa platafor ma que per mite a execução
de código” (Zé Fer nando)
ao lidar com a linguagem: não a sintaxe (que sempre está “Chamado de SPLASH (FutureSplash Animator). Era um
programa para animações vetoriais”
disponível em referências ou na ajuda), mas sim a lógica de
programação, objetiva, fria e racional. Depurar um algo- - 1997
ritmo é algo que demora um tempo para se aprender, mas “A versão 2 ainda possuía poucos recursos de programação”
Assim, não há outra alternativa: torne a prática como Utilizávamos prototypes, que foram substituídos, apesar de
ainda serem permitidos no uso pelas classes do ActionScript
a principal ferramenta de aprendizado. “Toda e qualquer
2.0, que tem como principal característica à programação
linguagem de programação é como uma linguagem pro-
orientada a objetos (OOP). Já a versão atual, ActionScript 3.0,
priamente dita. Se você estuda inglês e não pratica, cer- está voltada completamente à OOP, onde toda programação
tamente não se desenvolverá e provavelmente nem terá escrita deve pertencer a uma classe”
condições de efetuar uma conversação neste idioma. Na
Fonte: Dauton Janota
programação, examino o fato similarmente. Tudo depende
do interesse em aprender a programar. E, esteja certo, er-
rar é o mais comum na programação. Este fato é o que leva
Dicas de leitura
à experiência. O grande lance é tentar e errar, até chegar
no que se quer. No caminho, você encontrará inúmeras
- “ActionScript for Flash MX: The Definitive Guide”
outras soluções”, orienta Dauton. Autor: Colin Moock
Editora: O’Reilly Media
JavaScript e o ActionScript são baseados na mesma sintaxe do - “Flash Actionscript MX - Documentado e Não Documentado”
ECMAScript, ambos são traduzidos de um para outro facilmente. Autor: Dauton Janota
Editora: Axcel Books
Contudo, o modelo de cliente é diferente: enquanto o JavaScript
- “Flash Animado: Técnicas Avançadas em design e animações”
trabalha com janelas, documentos e formulários, o ActionScript
Autores: Dauton Janota, Rodrigo Piologo e Ricardo Piologo
trabalha com movie-clips, campos de texto e som.”
Editora: Axcel Books
Trac
Mês passado, conhecemos o Subversion, um sistema <Location “/tracvalidar/”>
livre de controle de versão. Esse mês, vamos falar do Trac,
SetHandler mod_python
um sistema minimalista de gerenciamento de projetos inte-
PythonHandler trac.web.modpython_fron-
grado ao Subversion. Não se preocupe, você vai entender
tend
o que ele faz assim que vir as telas. Como fizemos com o
PythonOption TracUriRoot “/tracvali-
Subversion, vamos mostrar a você como instalar o Trac no
dar”
Ubuntu, para que você tenha uma idéia do processo todo.
PythonOption TracEnv /home/dev/trac/
Vamos começar com o comando:
validar
Agora, vamos ao diretório onde você vai manter seus E, claro, reiniciar o Apache:
arquivos do Trac. Eu escolhi /home/dev/trac:
$ sudo invoke-rc.d apache2 restart
cd /home/dev/trac
Fazendo isso, você poderá acessar o Trac em seudo-
Em seguida crie o pacote de arquivos para o seu pro- minio.com/tracvalidar e verá uma tela assim:
jeto do Subversion:
Dicas
O Trac é mais do que um visualizador do seu repositório do Subversion. Ele contém um Wiki, que você pode
usar para documentação de seu projeto, ou como uma maneira fácil de ter um site do projeto durante o desen-
volvimento, e um sistema de controle de tickets muito bom. Tudo integrado ao controle de versão.
A homepage do Trac está em http://trac.edgewall.org e é feita com o próprio Trac. Há outros excelentes
exemplos do que o Trac é capaz de fazer, como a página de desenvolvimento do Projeto Django: http://code.
djangoproject.org.
Se você também quiser personalizar sua versão do Trac, os arquivos de template estão em /usr/share/trac/
templates e você tem duas alternativas. Pode alterar os templates ali, se quiser que todos os seus sites Trac
nesse servidor sejam alterados. Ou, se quiser personalizar apenas um site, pode criar uma cópia desse diretório
e apontar seu projeto para essa cópia quando usar o comando trac-admin initenv.
Links
- Track Hacks
http://www.trac-hacks.org
- Trac
http://en.wikipedia.org/wiki/Trac
64 :: tecnologia
Abel Reis
Guilhermo Reis
VP de Tecnologia e Projetos da AgênciaClick. Doutorando em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.
Especialista em Arquitetura de Informação e Usabilidade. É autor do Kit de Conhecimento sobre AI
M.Sc. em Engenharia de Sistemas pela UFRJ. Bacharel em Informática e Filosofia. Há 15 anos trabalha
(http://tinyurl.com/p4j6w). Atualmente, é responsável por coordenar projetos e manutenções nos
com projetos de mídia interativa. É um dos top creatives do mundo, segundo o livro “How to catch the
websites do Banco Real.
big idea”, do consultor Ralf Langwost.
reis@guilhermo.com
abel.reis@agenciaclick.com.br
"“ÉOpreciso
que secriar
destaca, nesta
as casas, terceiraas
os prédios, onda, é ae difusão,
praças a pulverização
principalmente as placas
de
de microcentros
sinalização.” de audiência, ou seja, conteúdos em profusão que
interessam a poucos por vez, mas interessam muito"
ferências (playlists). Desse modo, nichos específicos de gosto musical acabam formando, naturalmente, pequenas
audiências segmentadas.
Qual a novidade nesses dois exemplos? A novidade é a força criadora intrínseca (os chamados “efeitos de
rede”) que emerge da web, a partir da atividade rotineira e natural de seus milhões de usuários. E o caso da Wiki-
pédia? Enciclopédia na web criada e atualizada pelos próprios internautas, num modelo colaborativo de produção
de conteúdo, no qual, por “seleção natural”, os verbetes vão sendo melhorados e atualizados.
Creio, assim, que a esperança na web como um espaço criativo, livre e global, onde a rede produz seu pró-
prio conteúdo relevante - de enciclopédias a blogs até simples playlists -, ganha novo alento.
O que se destaca nesta terceira onda é a difusão, a pulverização de microcentros de audiência, ou seja,
conteúdos em profusão que interessam a poucos por vez, mas interessam muito. E mais: repentinamente, tais
conteúdos podem alcançar enorme sucesso de audiência, sem nenhuma ação de marketing espetacular. Falo
do seu blog, dos blogs e fotologs dos seus amigos, das tags no delicious, das wish lists e plogs na Amazon, dos
comentários no digg, das recomendações profissionais no linkedin, e de tantos outros conteúdos cuja autoria
emerge e se organiza de modo inteligente, naturalmente, a partir da vida digital de milhões de pessoas. Isso é
web 2.0.
Resta uma pergunta: a web 2.0 já tem sucessor? Sim. Hoje já se fala numa web 3.0, onde a idéia principal é a
de software oferecido como serviço, pela própria rede, por grandes, médios, pequenos ou micro fornecedores,
sob demanda e pago por uso transacional. Parece que uma nova onda está em formação...
66 :: arquitetura da informação
Luiz Agner
Guilhermo Reis
Ilustrador e designer. Doutorando em Design pela PUC-Rio, é professor da Escola de Comunicação e
Especialista em Arquitetura de Informação e Usabilidade. É autor do Kit de Conhecimento sobre AI
Artes da UniverCidade e da pós em usabilidade de interfaces da PUC-Rio. Além de dar aulas, trabalha
(http://tinyurl.com/p4j6w). Atualmente, é responsável por coordenar projetos e manutenções nos
atualmente no IBGE. É autor do livro “Ergodesign e arquitetura de informação: trabalhando com o
websites do Banco Real.
usuário” (Quartet, 2006).
reis@guilhermo.com
luizagner@gmail.com
"A confusão
“É preciso entre
criar transmitir
as casas, dadosase praças
os prédios, criar mensagens com signifi
e principalmente cado
as placas
teve a sua origem na atenção demasiada dada aos computadores e na
de sinalização.”
pouca atenção dada aos seres humanos"
A primeira mega-máquina
Títulos enganam. Esse, por exemplo, é um desses. Se você o viu no índice ou na capa e veio
correndo ler a íntegra, é porque imaginou que eu ia falar sobre:
· playstation 4 de pulso.
· o novo X-XBox implantável no cérebro.
· alguma câmera nova da Sony em que todos saem lindos. Todos.
· um novo supercomputador da IBM que entende, enfim, o ugá-gá dos bebês.
· um celular que conversa sozinho com quem não tem amigos.
· uma Ferrari movida a uísque e Viagra para milionários idem.
· um novo satélite militar americano capaz de depilar 100 mil terroristas ao mesmo tempo.
De cabo a rabo. Com dor, claro.
Deixe-me dar, então, uma boa e uma má notícia. Primeiro a má: não é nada disso. Agora
a boa: estou falando de você.
Na verdade, estou falando de todos nós. Na verdade, estou falando de um xerox velho que
devo ter perdido no porta-malas de algum carro meu (destino fatal de todo xerox grampeado),
e cujo autor só uma boa busca vai ser capaz de resgatar. (Acho que vou perguntar no Yahoo!
Respostas para prestigiar meus nobres colegas :) )
Faz quanto tempo isso? Uns 20 anos? O que me consola é, se um dia encontrar o tal xerox
amarelado, o assunto não vai ter envelhecido nem um pouco, e por duas razões:
1. o tema do “A Primeira Mega-Máquina” eram os faraós construtores de pirâmides, e 20
anos a mais ou a menos não fazem um grão de areia egípcia de diferença.
2. nós, sem nenhum faraó para nos azucrinar, estamos criando coisas faraônicas a cada dia.
A tal da mega-máquina egípcia não era de aço, era de carne. Ou melhor: as engrenagens
eram de carne e osso, o combustível era entusiasmo e fé (e alguma cerveja egípcia, imagino).
Nada disso, porém, teria levantado uma palha sem algo inédito: organização.
Gente aos montes nunca faltou no mundo, mas a grande sacada do faraó é que, com um
pouco de coordenação e um propósito comum, essa gente toda vira uma mega-máquina e faz
coisas antes inimagináveis. Não acredita? Pergunta pra Esfinge :)
Foi tudo uma questão de tecnologia... humana: uma boa equipe de escribas, uns bons
geômetras, outros tantos capatazes e proto-engenheiros e arqueo-arquitetos e voilá, gente
iletrada vira... uma potência construtiva e pedras brutas viram... o Vale dos Reis.
Seis mil anos depois estamos de novo construindo algo monumental, desta vez sem
chibata, sem faraó nem areia entrando no chinelo. Eu, você e mais 1 bilhão (isso mesmo,
somos 1 bilhão de internautas) construímos com nossas próprias mãos comunidades,
produzimos conteúdo, publicamos o que bem entendemos e levantamos bit a bit esse
work-in-progress que é a Web 2.0.
Web 2.0, para mim, é gente. Ponto. Ajax? Antrax? Botox? XML? Sandra e Miele? Na boa,
isso para mim é o de menos. O que conta, para mim, é gente. E gente pode fazer milagres... ou
marketing :: 69
não. Uma ferramenta mágica na mão de pessoas pode operar maravilhas... ou não.
Se uma novidade não conquistar corações e mentes vira badulaque, traquitana, quinquilharia no museu
dos grandes micos.
Gente é o corpo e alma da Web 2.0. E gente não funciona sempre igual. Aliás, gente não funciona sempre.
Ao menos, não da maneira que você espera.
Qual o segredo, enfim, para trazer à tona o melhor das pessoas? Como transformar interesses pessoais em
interesse pelo bem coletivo? (Chicotada não vale, ok? Nem poções mágicas.)
Eu arrisco: existe uma “arquitetura da generosidade”, uma “mecânica da participação”, uma “química do
relacionamento”, “elementos catalíticos de colaboração”. Well, eu acho que existe :)
Criar um ambiente colaborativo é mais do que pendurar numa página uma série de ferramentas e truques.
Criar um ambiente colaborativo significa cativar a confiança de pessoas, deixá-las à vontade e sem medo,
reconhecer cada gesto “colaborativo” e deixar claro sempre o benefício ímpar de se ter um espaço onde o
melhor de cada um pode vir à tona.
Sob condições favoráveis, pessoas fazem maravilhas. Mas... como criar e garantir as tais condições
favoráveis? Well, é uma arte. E ciência também ajuda.
Quem vai mover e se mover nesse espaço social? Adolescentes? Então, pesquise sobre as motivações e
dilemas e barreiras e receios e deleites dos adolescentes. Como eles se organizam? Como eles defi nem seu
território? Com gírias e modinhas? Com uma mecânica complexa de reputação e identidade e diferença? Com
SMS e instant messengers? Scrapbooks?
Seja como for, vai ser bem diferente de um espaço para neurocirurgiões. Ou para calouros de faculdade.
Ou para veteranos de faculdade. Ou recém-formados. Ou formandos. Erre a fórmula e o energético de uns
vira o purgante de outros.
Cada grupo e cada fase da vida têm seus códigos próprios, seus espaços e dinâmicas. Respeite isso,
alavanque isso, identifique o que é imperdoável e o que é venerado e desenhe o ambiente como quem
desenha cidades: com praças, ruas, espaços privados e públicos, anonimato e reconhecimento, áreas de
lazer e locais de trabalho.
Nós estamos descobrindo a cada dia do que somos capazes, e isso é bárbaro. E você, meu caro, assim
como eu e todos os que estão com a mão na massa, temos um papel nessa história. Quem cruzar os braços
é uma múmia.
70 :: bula da Catunda
Marcela Catunda
Trabalhou na TV Globo, TV Bandeirantes, TV Gazeta, Manchete e SBT. Foi redatora da DM9DDB
e Supervisora de Criação de Mídia Interativa da Publicis Salles Norton. É sócia do site Banheiro
Feminino, está no Orkut e trabalha como autônoma.
blog - http://pirei.catunda.org
marcelacatunda@terra.com.br
É coisa nossa!
E o estacionamento? É por conta nossa.
E a gasolina? É por conta nossa.
E o almoço perto do cliente? É por conta nossa.
É assim que me sinto muitas vezes indo e voltando das reuniões de freela, num show
de calouros com o som dos anos oitenta pra depois não ganhar nem 10 mangos (que nos
anos oitenta era uma grana). Isso se não tiver pegadinha do “Mallandro”: “Háááááá! Você
pode pegar seu pagamento mês que vem? Glu-gluuu, iê-iééééééééé!!!” Em 2007, gostaria
que as coisas fossem diferentes.
Passei o ano de 2006 como Diretora de Criação, mas resolvi voltar para a vida de ser
freela no ano que tá aí. Tô ficando especialista em pedir demissão. Acho que eu entro na
sala dos caras e eles pensam:
- Lá vem a Catunda se demitir... (risos) E eu me demito mesmo. Seria cômico se não
fosse trágico.
A verdade é que estou ficando mais velha e cada dia com menos paciência para o lado
negro da força dos ambientes coorporativos. Até o mais forte dos Jedis teria problemas
em lidar com uma dedada no olho. Nem Obi Wan Kenobi está preparado para uma briga
de puxão de cabelo e beliscão. Já pensou o Darth Vader brigando igual a uma menininha?
Picuinhas, sacanagens e afins: Tô fora!
D u r a n t e m u i t o t e m p o a c re d i t e i s e r p o s s í v e l m u d a r o m u n d o , a g o r a j á t ô m e
conformando em mudar apenas a minha vida. De repente se cada um de nós fizer uma
mudança pro bem, o mundo muda pra melhor. Eu mudei bem, pra bem longe do endereço
da minha ex-mesa. Agora estou em casa de novo, reaprendendo a ser freela, me adaptando
a escrever sem fumar (larguei o cigarro), longe dos amigos que ficaram lá e pensando
bem antes de sair por aí oferecendo trabalho. Que trabalho? Aquele que te comeu atrás
do “armalho” (que piadinha péssima), mas é sério. A gente precisa tomar cuidado pra na
hora do desespero não pegar a primeira oportunidade e jogar fora nossa liberdade. É
impressionantemente mais fácil encontrar um emprego fixo do que achar empresas que
queiram um relacionamento “freela” com a gente. É sempre aquela coisa: te quero, mas te
quero só pra mim. Te quero muito. Te quero agora, pela manhã, a tarde, a noite. Fala sério!
Que relacionamento mais obsessivo é esse? Me deixa. EU SOU FREE.
O tempo de 2006 passou e agora que eu voltei a ser free já me deparei com a dura
realidade da minha escolha: gastei uns 100 mangos só de estacionamento e queimei uns
bons quilômetros de gasolina. Fora aquele almoço com o cliente, aquele que o cara te leva
num lugar legal achando que você tem grana e na hora da conta divide pelo número de
pessoas presentes na mesa, sem sacar que você comeu tão somente uma salada de alface
bula da Catunda :: 71
com rúcula e rabanetes de 18 mangos (o que já é um assalto). Tenha dó de mim, o senhor comeu um filé
ao molho madeira.
Não é simples ser freela, a gente precisa de fluxo de caixa e aquele pensamento positivo quando
lembra que “não tem nada pra entrar nesse mês”. Auummmm! Mas a vida continua e esse ano vai ser lindo.
Pensamentos positivos nunca são demais, criemos então uma realidade linda e quente onde, caminhando
pela minha marina particular entre iates luxuosos que brilham escandalosamente com o reflexo dourado
do sol de Miami... (me deixa ser cafona que esse peptídeo é meu) passo a mão num daqueles celulares
platinados, cravejados de diamantes e digo “Manda comprar tudo, agora!”. Não sei que “tudo” é esse,
mas os mega milionários do cinema sempre pegam o celular para mandar comprar “tudo”, então eu quero
“tudo” também ora, bolas. O Octopus, do Paul Allen, ia parecer um caiaque perto dos meus iates. O tal
do Airbus 380 ia ser o meu AeroCatunda, ou Catunda Force One.
E essa coisa de criar realidade funciona. Tenho uma amiga que olha o saldo dela negativo de 3 paus
no banco e enxerga um sinal de positivo no lugar do menos e um 8 no lugar do 3. Pô! Em menos de
um minuto, ela sai da miséria e pula pra classe dos bem sucedidos. Tem investimento melhor do que
pensar no positivo?
E pensar pra lá de positivo é uma das minhas promessas para 2007, bem como comprar um bloquinho
de Zona Azul, criar coisas legais, escrever muitos livros* e chegar sempre com o estômago relativamente
forrado em reuniões perto da hora do almoço. Nham! Nham.
* Você já leu “Eu Sento, Rebolo e Ainda Bato um Bolo”? Então, leia! É meu último livro e está à venda nas melhores lojas do ramo. E fique de olho que
virão mais em 2007.
72 :: webdesign
Luli Radfahrer
PhD em Comunicação Digital, já dirigiu a divisão de internet de algumas das maiores agências de
propaganda e de alguns dos maiores portais do Brasil. Hoje, é Professor-Doutor da ECA-USP, Diretor
Associado do Museu de Arte Contemporânea e consultor independente. Autor do livro ‘design/web/
design:2’, administra uma comunidade de difusão do conhecimento digital pelo País.
luli@luli.com.br
a gigantesca falta de noção que só os vinte e pouquíssimos anos são capazes de providenciar. Meses
depois, foi a vez do Xbox.
Dessa vez, a estratégia precisava ser refinada. Não bastava chegar na loja e quebrar o brinquedo. Para que
a pancada fosse realmente grande, o website foi usado durante meses para gerar uma espécie de expectativa ao
contrário. Antes do tão esperado lançamento do console, o dinheiro já estava lá. Na véspera do lançamento, eles
acamparam na porta da loja, como muitos outros fãs da tecnologia. Depois de muita espera, chegou a sua vez:
compraram algo que quase ninguém no mundo tinha, só para marretá-lo com vontade. A Microsoft arregalou os
olhos. Seus inimigos espalhados pelo mundo exultaram.
No final de novembro, eles repetiram a dose com o PS3 e com o Nintendo Wii. Cientes que o espetáculo
é muito mais importante que o aparelho, sua vestimenta fica mais e mais arrojada a cada atividade. Os
depoimentos e gestos de fé, paciência e fascínio fazem a alegria dos repórteres e câmeras de TV, todos
crentes que ali está um fiel exemplar dessa “nova geração”. Flashes pipocam. Pouco depois, a marreta desce,
para o desespero de consumidores, funcionários, segurança e público geral completamente perplexo. Em
desprezo, alguns se referem ao ato como coisa de nerd, quando é justamente o contrário.
Para minha enorme alegria, a única coisa que não muda em suas atividades cada vez mais populares e
arrojadas é seu discurso. Nada de político, nada de humanitário, nenhum protesto zangado contra esta ou
aquela corporação, apenas o enorme desprezo e desapego de alguém que comprou um objeto - e, exercendo
seu pátrio poder de direito legítimo, o destrói. Que alívio, meus heróis não se renderam ao “sistema”.
Uma atitude dessas pode não parecer resistência, mas é. E como. Porque faz pensar, leva a rever,
questiona o que aceitamos como “certo” e “errado”. Há menos de um século, Marcel Duchamp expôs como
arte uma coleção de objetos como uma roda de bicicleta e um ferro de passar roupa. Pintou um quadro de
um cachimbo e escreveu embaixo que aquilo não era um cachimbo. Também não foi levado a sério.
Os vídeos foram parar no site deles. Os aparelhos destruídos são negociados no eBay. Cada aparelho
quebrado (iPod, PS3, XBox, Wii) ganhou um novo site. Neles, nenhuma explicação. As críticas e ofensas estão
lá, abertas e explícitas. Algumas têm fúria taleban.
Antes que você pergunte obviedades do gênero “mas o que isso tem a ver com design” ou “não seria
melhor dar esse dinheiro para os pobres”, pense duas vezes: aquilo que se chama por aí no mundo de web 2.0
nada mais é que a real possibilidade de dar ao indivíduo comum uma voz para que ele possa se expressar. Se
o que ele tem a dizer é relevante, não faltarão ouvidos no mundo. Se ele puder ajudar as pessoas a tomarem
consciência do vazio existencial de uma sociedade de consumo, sua contribuição será inestimável. E isso
certamente poderá ajudar muito mais as populações necessitadas que um punhado de notas verdinhas.
A propósito, por uma divertida coincidência, o link de sua última destruição chegou para mim uma semana depois do
ato, exatamente no dia em que ONGs barbudas, cabeludas e furiosas pregavam o “buy nothing day” - dia internacional
de resistência ao consumo de massa, instigando as pessoas ao redor do mundo a não comprarem nada. Irônico, não?
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