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Módulo (2) Controle judicial de constitucionalidade das leis nos

sistemas difuso e concentrado.

Daniel Caceres

2.1 O CASO MARBURY V. MADISON (1803).1

John Adams e federalistas foram derrotados


pelos republicanos, Thomas Jefferson seria o
novo Presidente (eleições no final de 1800).

The Circuit Court Act (13 de fevereiro de


1801): reorganização do Judiciário federal
(redução de Ministros da Suprema Corte e
criação de 16 novos cargos de juiz federal).

The Organic Act of the District of Columbia (27


William Marbury de fevereiro de 1801): autorizou Adams a
nomear 42 juízes de paz, tendo os nomes sido confirmados pelo Senado em 3
de março, véspera da posse de Jefferson. (Midnight judges2).

Marbury foi indicado para juiz de paz, mas não houve tempo para Adams
concluísse o ato de investidura dele. Quando Jefferson tomou posse, ordenou
a seu Secretário de Estado, James Madison, que não entregasse o ato de
investidura àqueles que não o haviam recebedido.

William Marbury teve de propor writ of mandamus, em dezembro de 1801,


visando ver reconhecido seu direito ao cargo.

“O pedido foi formulado com base em uma lei de 1789 (the Judiciary Act), que
havia atribuído à Suprema Corte competência originária para processar e julgar
ações daquela natureza.” (BARROSO, 2006, p. 4)
1 Nesta parte utilizei-me, também, de alguns dados coletados no Wikipedia, no seguinte link:
http://en.wikipedia.org/wiki/Marbury_v._Madison

2http://en.wikipedia.org/wiki/Midnight_Judges
John Marshall era o quarto Chief Justice dos Estados Unidos e um
Congressista do Estado da Virgínia, lugar
de onde era nativo. Na Guerra
Revolucionária, Marshall subiu ao grau
de Capitão, e quando o conflito terminou,
ele advogou em Richmond e tornou-se
delegado do Estado da Virgínia, eleito em
uma Assembléia Geral. Em 1799, ele foi
ao Congresso, e posteriormente
foi nomeado Secretário de
Estado por John Adams então
Presidente dos Estados Unidos pelo
Partido Federalista. Em seguida foi
indicado para ser Presidente da
John Marshall
Suprema Corte dos Estados Unidos
em 1801 onde permaneceu no
cargo até a sua morte em 1835 com oitenta (80) anos de idade.
(ALMEIDA NETO, Manoel Carlos de. Antecedentes históricos do controle difuso de
constitucionalidade das leis (the lead case Marbury v. Madison). Jus Navigandi,
Teresina, ano 8, n. 474, 24 out. 2004. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5838>. Acesso em: 26 mar. 2009.)

“Marbury v. Madison foi a primeira decisão na qual a Suprema Corte afirmou


seu poder de exercer o controle de constitucionalidade, negando aplicação de
leis que, de acordo com sua interpretação, fossem inconstitucionais. Assinale-
se, por relevante, que a Constituição não conferia a ela ou a qualquer outro
órgão, de modo explícito, competência dessa natureza.” (BARROSO, 2006, p.
5)

O caso não foi pioneiro nem original, já haviam precedentes, não só nos
Estados Unidos. Alexander Hamilton, no Federalista n. 78, havia exposto a tese
em 1788. “Nada obstante, foi com Marbury v. Madison que ela ganhou o mundo
e enfrentou com êxito resistências políticas e doutrinárias de matizes diversos.”
(BARROSO, 2006, p. 6)

Perguntas levantadas no voto de Marshall:


1. teria Marbury direito à investidura no cargo? (Did Marbury have a right to
the commission?)
2. o seu direito correspondia a algum remédio jurídico? (Do the laws of the
country give Marbury a legal remedy?)
3. o remédio jurídico (writ of mandamus) foi utilizado adequadamente (via
própria, adequada) e, em caso positivo, a Suprema Corte poderia
legitimamente concedê-lo (era competente)? (Is asking the Supreme
Court for a writ of mandamus the correct legal remedy?)

À primeira e segunda perguntas, Marshall respondeu afirmativamente.

Ao tratar do questionamento acerca da competência da Suprema Corte para


conceder o remédio pleiteado por Marbury “Marshall desenvolveu o argumento
que o projetou na história do direito constitucional. Sustentou, assim, que o §
13 da Lei Judiciária de 1789, ao criar uma hipótese de competência originária
da Suprema Corte fora das que estavam previstas no art. 3º da Constituição,
incorria em uma inconstitucionalidade. É que, afirmou, uma lei ordinária não
poderia outorgar uma nova competência originária à Corte, que não constasse
do elenco constitucional.” (BARROSO, 2006, p. 8)

Marbury never became a Justice of the Peace in the District of Columbia (Henretta,
James A.; David Brody, and Lynn Dumenil. America's History: Volume 1: To 1877. 6. ed. Boston: Bedford/St.
Martin's, 2007. p. 218–219.)

Críticas à decisão proferia pela Suprema Corte:


a) impedimento de Marshall;
b) sequencia ilógica da sentença (preliminares, prejudiciais, mérito: o
acórdão deveria encerrar na incompetência da Corte);
c) mesmo superando as preliminares, no mérito poderia argumentar-se
pelo indeferimento, em razão da investidura só se completar com a
posse;
d) falta de legitimidade democrática no desempenho desse papel pelo
Judiciário.

“Marbury v. Madison, portanto, foi a decisão que inaugurou o controle de


constitucionalidade no constitucionalismo moderno, deixando assentado o
princípio da supremacia da Constituição, da subordinação a ela de todos os
Poderes estatais e da competência do Judiciário como seu intérprete final,
podendo invalidar os atos que lhe contravenham.” (BARROSO, 2006, p. 10)
2.2 INCONSTITUCIONALIDADES.

Planos: existência (agente, objeto, forma); validade (requisitos competência,


forma adequada e licitude-possibilidade); eficácia (aplicabilidade, exigibilidade
ou executoriedade).

“A inconstitucionalidade, portanto, constitui vício aferido no plano da validade.


Reconhecida a invalidade, tal fato se projeta para o plano seguinte, que é o da
eficácia: norma inconstitucional não deve ser aplicada.” (BARROSO, 2006, p.
14)

Inconstitucionalidade:
a. formal ou material;
b. por ação ou por omissão;
c. total (absoluta) ou parcial;
d. originária e superveniente.

“Ocorrerá inconstitucionalidade formal quando um ato legislativo tenha sido


produzido em desconformidade com as normas de competência ou com o
procedimento estabelecido para seu ingresso no mundo jurídico. A
inconstitucionalidade será material quando o conteúdo do ato
infraconstitucional estiver em contrariedade com alguma norma substantiva
prevista na Constituição, seja uma regra ou um princípio.” (BARROSO, 2006, p.
26)

Inconstitucionalidade superveniente. “Considera-se, igualmente, que lei


editada em compatibilidade com a ordem constitucional pode vir a tornar-se
com ela incompatível em virtude de mudanças ocorridas nas relações fáticas
ou na interpretação constitucional.” (MENDES, COELHO E BRANCO, 2009,
p. 1066)

“A inconstitucionalidade por ação é aquela que resulta da incompatibilidade


de um ato normativo com a Constituição. A garantia jurisdicional da
Constituição constitui elemento do sistema de medidas técnicas cujo objetivo é
assegurar o exercício regular das funções estatais, as quais possuem caráter
jurídico inerente: consistem em atos jurídicos. São eles atos de criação de
normas jurídicas ou atos de execução de Direito já criado, ou seja, de normas
jurídicas já estatuídas.” (MENDES, COELHO E BRANCO, 2009, p. 1075)

“A omissão legislativa inconstitucional pressupõe a inobservância de um


dever constitucional de legislar, que resulta tanto de comandos explícitos da Lei
Magna como de decisões fundamentais da Constituição identificadas no
processo de interpretação.” (MENDES, COELHO E BRANCO, 2009, p. 1076)

“Tem-se omissão absoluta ou total quando o legislador não empreende a


providência legislativa reclamada. Já a omissão parcial ocorre quando um ato
normativo atende apenas parcialmente ou de modo insuficiente a vontade
constitucional.” (MENDES, COELHO E BRANCO, 2009, p. 1076)

A classificação de inconstitucionalidade direta ou indireta é questionável, por


essa razão muitos autores simplesmente a ignoram. Seria direta quando há
entre o ato impugnado e a CF uma antinomia frontal, imediata, direta; e seria
indireta quando o ato, antes de contrastar com a CF, conflita com outra lei;
como no caso de regulamento de execução que transborde os limites da lei.
“Por tal razão, a jurisprudência não admite o controle de
constitucionalidade de atos normativos secundários (inaptos a criar direito
novo), de que são espécies, além do regulamento, as resoluções, instruções
normativas e portarias, dentro outros.” (p. 40)

2.3 JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL E CONTROLE DE


CONSTITUCIONALIDADE.

Relembrando: Jurisdição constitucional, em sentido amplo, é um epíteto que


designa aplicação direta ou indireta da Constituição pelos juízes.

Modalidades de controle de constitucionalidade:


1. Quanto à natureza do órgão de controle
a. controle político;
b. controle judicial;
2. Quanto ao momento de exercício do controle
a) controle preventivo;
b) controle repressivo;
3. Quanto ao órgão judicial que exerce o controle
a. controle difuso;
b. controle concentrado;
4. Quanto à forma ou modo de controle judicial
a) controle por via incidental;
b) controle por via principal ou ação direta.

“A expressão controle político sugere o exercício da fiscalização de


constitucionalidade por órgão que tenha essa natureza, normalmente ligado de
modo direto ao Parlamento.” (BARROSO, 2006, p. 42) No controle judicial, o
controle de constitucionalidade será de incumbência de órgãos do Poder
Judiciário.

“Controle prévio ou preventivo é aquele que se realiza anteriormente à


conversão de um projeto de lei em lei e visa a impedir que um ato
inconstitucional entre em vigor.” (BARROSO, 2006, p. 45)

Modelo difuso é também chamado de sistema americano; modelo concentrado


pode ser chamado de sistema austríaco ou europeu de controle. “Diz-se que o
controle é difuso quando se permite a todo e qualquer juiz ou tribunal o
reconhecimento da inconstitucionalidade de uma norma e, consequentemente,
sua não-aplicação ao caso concreto levado ao conhecimento da corte.”
(BARROSO, 2006, p. 46-47) “No sistema concentrado, o controle de
constitucionalidade é exercido por um único órgão ou por um número limitado
de órgãos criados especificamente para esse fim ou tendo nessa atividade sua
função principal.” (BARROSO, 2006, p. 47)

Controle incidental: neste “a inconstitucionalidade é arguida no contexto de


um processo ou ação judicial, em que a questão da inconstitucionalidade
configura um incidente, uma questão prejudicial que deve ser decidida pelo
Judiciário. Cogita-se também de inconstitucionalidade pela via de exceção,
uma vez que o objeto da ação não é o exame de inconstitucionalidade da lei.”
(MENDES, COELHO E BRANCO, 2009, p. 1055) O controle incidental associa-
se ao modelo difuso.

Controle principal: “permite que a questão constitucional seja suscitada


autonomamente em um processo ou ação principal, cujo objeto é a própria
inconstitucionalidade da lei. Em geral, admite-se a utilização de ações direitas
de inconstitucionalidade ou mecanismos de impugnação in abstracto da lei ou
ato normativo.” (MENDES, COELHO E BRANCO, 2009, p. 1055)

Art. 26, parágrafo único da lei 9.868/99: “a declaração de constitucionalidade ou de


inconstitucionalidade, inclusive a interpretação conforme a Constituição e a
declaração parcial de inconstitucionalidade sem redução de texto, têm eficácia
contra todos e efeito vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário e a
Administração Pública federal, estadual e municipal.”

Interpretação conforme a Constituição Declaração parcial de nulidade sem redução de texto


é oportuna no caso em que a lei, ao ser aplicada quando a inconstitucionalidade deriva de específicas
segundo várias, mas não todas, as suas interpretações decorrentes do texto da lei, sem pôr em
possibilidades significativas, conduz a um juízo de causa o próprio texto.
nulidade.
afirma-se qual das possíveis interpretações do texto declara-se a inconstitucionalidade de algumas
da lei se revela compatível com a Constituição. interpretações da lei, deixando-se outras a salvo.

“De qualquer forma, o que importa deixar claro é que o juiz pode e deve
controlar a constitucionalidade da lei:
I. declarando a sua inconstitucionalidade;
II. realizando uma interpretação conforme a Constituição - quando a lei,
aplicada literalmente, conduz a um juízo de nulidade, mas oferece uma
interpretação que é compatível com a Constituição; e
III. entendendo que certas interpretações são inconstitucionais e, a partir da
lei constitucional, fazendo uma interpretação adequada ao caso
concreto.” (MARINONI, 2008, p. 64)

Controle de constitucionalidade pelo Legislativo:


1) Pronunciamento da Comissão de Constituição e Justiça;
2) Rejeição do veto do Chefe do Executivo;
3) Sustação de ato normativo do Executivo;
4) Juízo prévio acerca das medidas provisórias;
5) Aprovação de emenda constitucional que supere interpretação fixada
pelo STF;
6) Possibilidade de revogação da lei inconstitucional, mas não da
declaração de inconstitucionalidade por ato legislativo.

Possibilidade de descumprimento de lei inconstitucional por determinação


do Chefe do Executivo (seria uma espécie de controle de constitucionalidade
pelo Executivo): “No Brasil, anteriormente à Constituição de 1988, a doutrina e
a jurisprudência haviam se consolidado no sentido de ser legítimo o Chefe do
Executivo deixar de aplicar uma lei que considerasse inconstitucional, bem
como expedir determinação àqueles submetidos a seu poder hierárquico para
que procedessem da mesma forma.” (BARROSO, 2006, p. 69) Ainda
permanece o entendimento de que é possível o descumprimento de lei pelo
Executivo quando determinado pelo seu Chefe. “A tese é reforçada por um
outro elemento: é que até mesmo o particular pode recusar cumprimento à lei
que considere inconstitucional, sujeitando-se a defender sua convicção caso
venha a ser demando. Com mais razão deverá poder fazê-lo o chefe de um
Poder.” (BARROSO, 2006, p. 71)

2.4 SISTEMA DIFUSO.

“Nos modelos concentrados, a diferenciação entre controle concreto e abstrato


assenta-se, basicamente, nos pressupostos de admissibilidade
(Zulässigkeitsvoraussetzungen). O controle concreto de normas tem origem em
uma relação processual concreta, constituindo a relevância da decisão
(Entscheidungserheblichkeit) pressuposto de admissibilidade. O chamado
controle abstrato, por seu turno, não está vinculado a uma situação subjetiva
ou a qualquer outro evento do cotidiano (Lebensvorgang). [...] Em outros
termos, o controle e o julgamento levados a efeito pelo tribunal estão
plenamente desvinculados do processo originário, tendo, por isso,
consequências jurídicas idênticas.” (MENDES, COELHO E BRANCO, 2009, p.
1115)
Repercussão geral e controle incidental: “Tem-se mudança radical do
modelo de controle incidental, uma vez que os recursos extraordinários terão
de passar pelo crivo da admissibilidade referente à repercussão geral. A
adoção desse novo instituto deverá maximizar a feição objetiva do recurso
extraordinário.” (p. 1126)

CF/88, art. 102, § 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá


demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais discutidas
no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do
recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços
de seus membros. (Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

CPC, Art. 543-A. O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não


conhecerá do recurso extraordinário, quando a questão constitucional nele
versada não oferecer repercussão geral, nos termos deste artigo. (Incluído pela
Lei nº 11.418, de 2006).
§ 1o Para efeito da repercussão geral, será considerada a existência, ou não,
de questões relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou
jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos da causa. (Incluído pela
Lei nº 11.418, de 2006).
§ 2o O recorrente deverá demonstrar, em preliminar do recurso, para
apreciação exclusiva do Supremo Tribunal Federal, a existência da
repercussão geral. (Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006).
§ 3o Haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar decisão
contrária a súmula ou jurisprudência dominante do Tribunal. (Incluído pela
Lei nº 11.418, de 2006).
§ 4o Se a Turma decidir pela existência da repercussão geral por, no mínimo,
4 (quatro) votos, ficará dispensada a remessa do recurso ao Plenário.
(Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006).
§ 5o Negada a existência da repercussão geral, a decisão valerá para todos os
recursos sobre matéria idêntica, que serão indeferidos liminarmente, salvo
revisão da tese, tudo nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal
Federal. (Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006).
§ 6o O Relator poderá admitir, na análise da repercussão geral, a
manifestação de terceiros, subscrita por procurador habilitado, nos termos do
Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal. (Incluído pela Lei nº 11.418,
de 2006).
§ 7o A Súmula da decisão sobre a repercussão geral constará de ata, que será
publicada no Diário Oficial e valerá como acórdão. (Incluído pela Lei nº 11.418,
de 2006).

Art. 543-B. Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento


em idêntica controvérsia, a análise da repercussão geral será processada
nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, observado o
disposto neste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006).
§ 1o Caberá ao Tribunal de origem selecionar um ou mais recursos
representativos da controvérsia e encaminhá-los ao Supremo Tribunal
Federal, sobrestando os demais até o pronunciamento definitivo da Corte.
(Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006).
§ 2o Negada a existência de repercussão geral, os recursos sobrestados
considerar-se-ão automaticamente não admitidos. (Incluído pela Lei nº 11.418,
de 2006).
§ 3o Julgado o mérito do recurso extraordinário, os recursos sobrestados
serão apreciados pelos Tribunais, Turmas de Uniformização ou Turmas
Recursais, que poderão declará-los prejudicados ou retratar-se. (Incluído pela
Lei nº 11.418, de 2006).
§ 4o Mantida a decisão e admitido o recurso, poderá o Supremo Tribunal
Federal, nos termos do Regimento Interno, cassar ou reformar, liminarmente, o
acórdão contrário à orientação firmada. (Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006).
§ 5o O Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal disporá sobre as
atribuições dos Ministros, das Turmas e de outros órgãos, na análise da
repercussão geral. (Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006).

OBJETO COMPETÊNCIA CAUTELAR QUORUM EFEITOS DA


DECISÃO
Controle Qualquer lei ou ato Qualquer juízo ou Possível Juízo Para as partes: inter
Difuso – atos de indiscutível Tribunal seguindo as monocrático: o partes e ex tunc, já
normativos caráter normativo, regras próprio juiz, de tendo o STF admitido
contrário à Const. processuais modo incidental; efeito ex nunc; Para
Juízo colegiado: terceiros: (art. 52, X):
maioria absoluta. Resolução do Senado:
erga omnes e ex nunc.
Mandado de Falta de norma Arts. 102, I, q; Impossibilida Juízo Inter partes de
injunção regulamentadora de 102, II, a; 105, I, de monocrático: o acordo com a teoria
art. da Const. de próprio juiz, de
individual ou eficácia limitada, h; 121, §4, V; e modo incidental, não concretista
coletivo prescrevendo 125, §1 (qualquer poderá verificar a adotada pelo STF.
direitos, liberdades juiz ou tribunal, inconst. por
constitucionais e observadas as omissão;
prerrogativas regras de Juízo colegiado:
inerentes à maioria absoluta,
nacionalidade organização modo incidental,
soberania e à judiciária) para apreciar a
cidadania. inconstitucionalida
de por omissão.

Em relação ao mandado de injunção, é bom ressaltar que no pólo passivo da


ação deverá figurar o órgão que tinha o dever de regulamentar a omissão.

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da


Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
q) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for
atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional, da
Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma
dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de um
dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal;
II - julgar, em recurso ordinário:
a) o "habeas-corpus", o mandado de segurança, o "habeas-data" e o mandado de
injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a
decisão;
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
h) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for
atribuição de órgão, entidade ou autoridade federal, da administração
direta ou indireta, excetuados os casos de competência do Supremo Tribunal
Federal e dos órgãos da Justiça Militar, da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da
Justiça Federal;

2.5 SISTEMA CONCENTRADO.

“Por meio desse Controle, procura-se obter a declaração de


inconstitucionalidade da lei ou ato normativo em tese, independentemente da
existência de um caso concreto, visando-se à obtenção da invalidade da lei a
fim de garantir-se a segurança das relações jurídicas, que não podem ser
baseadas em normas inconstitucionais.” (MORAES, 2008, p. 730)

No sistema concentrado as seguintes ações podem ser propostas:


a) ADI genérica;
b) ADI por omissão;
c) ADI interventiva;
d) ADC ou ADECON;
e) ADPF.

Art. 102. I (competência STF orginiária):


a) a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) de lei ou ato normativo (note que não
incluiu atos concretos, mas somente os normativos) federal ou estadual (note que
aqui não incluiu lei ou ato norm. municipal) e a Ação Declaratória de
Constitucionalidade (ADC) de lei ou ato normativo federal (note que aqui não incluiu
o estadual e o municipal); (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993)
§ 1.º A Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), decorrente
desta Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei.
(Transformado do parágrafo único em § 1º pela Emenda Constitucional nº 3, de
17/03/93)

Lei da ADI e ADC: 9.868/99. Lei da ADPF: 9.882/99.

Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de


constitucionalidade: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
I - o Presidente da República;
II - a Mesa do Senado Federal;
III - a Mesa da Câmara dos Deputados;
IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
VI - o Procurador-Geral da República;
VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;
IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.
§ 1º - O Procurador-Geral da República deverá ser previamente ouvido nas ações de
inconstitucionalidade e em todos os processos de competência do Supremo Tribunal
Federal.
§ 2º - Declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar efetiva
norma constitucional, será dada ciência ao Poder competente para a adoção das
providências necessárias e, em se tratando de órgão administrativo, para fazê-lo em
trinta dias.
§ 3º - Quando o Supremo Tribunal Federal apreciar a inconstitucionalidade, em tese,
de norma legal ou ato normativo, citará, previamente, o Advogado-Geral da União, que
defenderá o ato ou texto impugnado.

Necessidade de advogado: somente partidos políticos e entidades de classe.

Exigência de pertinência temática: Mesa ou Assembléia Estadual ou do DF,


Governador do Estado ou DF e entidades de classe.

OBJETO CAUTELAR QUORUM EFEITOS DA DECISÃO


ADIn Lei ou ato normativo Possível (CF, Cautelar: regra geral: Cautelar: erga omnes, ex
Genérica federal, estadual ou 102, I, p). maioria absoluta; no nunc e vinculante (art. 11, 1°
distrital (natureza período de recesso - da Lei 9868/99, permite
estadual), contestados Presidente do tribunal. eficácia retroativa ex tunc.
em face da CF/88 Mérito: regra geral: Mérito: erga omnes, ex tunc
(via de ação, controle maioria absoluta (6); e vinculante (regra geral)
abstrato em tese). presentes 8 ministros; Pode ser dado efeito ex nunc
para dar efeito ex nunc, (art. 27 da lei 9.868/99, 8
8 ministros. Ministros).
ADPF Evitar ou reparar lesão Possível (art. Cautelar: regra geral: Cautelar: erga omnes e
a preceito fundamental, 5° da Lei maioria absoluta (6); no vinculante, podendo o
resultante de ato do 9882/99). período de recesso, Tribunal determinar a
poder Público e quando extrema urgência, perigo suspensão dos julgamentos.
for relevante o lesão grave: relator. Obs: regra com eficácia
fundamento da
controvérsia
Mérito: regra geral: suspensa.
constitucional sobre lei maioria absoluta (6); Mérito: erga omnes, ex tunc
ou ato normativo presentes 8; para dar e vinculante (regra geral)
federal, estadual, efeito ex nunc, 8 Pode ser dado efeito ex nunc
municipal, distrital, presentes. (art. 11 da lei 9882/99, 2/3 dos
incluídos os anteriores Ministros).
a CF.
ADIn por Falta de norma Impossibilida
Mérito: maioria Órgão competente: será dada
Omissão regulamentadora de de absoluta (6), presentes 8 ciência, constituindo-o em
art. da Constituição ministros. mora.
de eficácia limitada. Órgão Administrativo:
deverá fazer a lei no prazo de
30 dias, pena de
responsabilidade.
ADECON Lei ou ato normativo Possibilidade Cautelar: regra geral: Cautelar: erga omnes e
ou ADC federal. (STF, ADC-4) maioria absoluta vinculante (suspensão dos
Mérito: regra geral: julgamentos)
maioria absoluta (6); Mérito: erga omnes, ex tunc
presentes 8 ministros e vinculante

ADI interventiva: “A inclusão de normas na Constituição Estadual em


desrespeito a esses princípios poderá provocar a representação do
Procurador-Geral da República, visando à declaração de inconstitucionalidade,
e decretação de intervenção federal, caso não tenha eficácia a simples
execução do ato impugnado, tudo nos termos e na forma estatuída no art. 36,
III, §3º.” (SILVA, 2006, p. 612)

Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
b) direitos da pessoa humana;
c) autonomia municipal;
d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais,
compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do
ensino e nas ações e serviços públicos de saúde. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 29, de 2000)
Art. 36. A decretação da intervenção dependerá:
III de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de representação do Procurador-
Geral da República, na hipótese do art. 34, VII, e no caso de recusa à execução de lei
federal. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Previsão: art. 34, VII. Legitimidade: art. 36, III. Finalidade: jurídica e política
(lembrar que o Poder Constituinte Derivado Decorrente tem limitações em
razão dos princípios sensíveis, estabelecidos e extensíveis). Objeto: Lei ou ato
normativo estadual contrário aos princípios sensíveis da CF.

Lei 9.882/99 (lei da ADPF), art. 1o A argüição prevista no § 1o do art. 102


da Constituição Federal será proposta perante o Supremo Tribunal
Federal, e terá por OBJETO evitar ou reparar lesão a preceito
fundamental, resultante de ato do Poder Público.
Parágrafo único. Caberá também argüição de descumprimento de
preceito fundamental:
I - quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional
sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos
os anteriores à Constituição;

Caráter subsidiário da ADPF: “é incabível a arguição de descumprimento de


preceito fundamental quando ainda existente medida eficaz para sanar a
lesividade” (ADPF 15-7/PA).
2.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.

O nosso ordenamento jurídico recepcionou os modelos difuso e concentrado


de controle de constitucionalidade, e com isso não se pode mais dizer que
nosso sistema é o romano-germânico. Nem podemos inferir que nosso sistema
é o de direito comum. O que nos resta é tentar compreender qual é este novo
sistema de direito que estamos vivenciando, procurando empreender uma nova
hermenêutica jurídica (superando os métodos clássicos) e compreender a nova
teoria das fontes do direito que passaremos a admitir.

REFERÊNCIAS

BARROSO, Luís Roberto. O controle de constitucionalidade no direito brasileiro: exposição


sistemática da doutrina e análise crítica da jurisprudência. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

JEVEAUX, Geovany Cardoso. Direito Constitucional: teoria da Constituição. Rio de Janeiro:


Forense, 2008.

MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; e BRANCO, Paulo Gustavo Gonet.
Curso de Direito Constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.

MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 32. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 27. ed. São Paulo: Malheiros,
2006.

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