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13/01/2009
Central Destino de Produção Cap. 07
Inspirada no original de
Janete Clair
Colaboração de
Eduardo Secco
Direção
Claudio Boeckel e Marco Rodrigo
Direção Geral
Luiz Fernando Carvalho
Núcleo
Luiz Fernando Carvalho
Personagens deste capítulo
Atenção
“ Este texto é de propriedade intelectual exclusiva da TV DESTINO LTDA e por conter informações confidenciais, não
poderá ser copiado, cedido, vendido ou divulgado de qualquer forma e por qualquer meio, sem o prévio e expresso
consentimento da mesma.No caso de violação do sigilo, a parte infratora estará sujeita às penalidades previstas em
lei e/ou contrato.”
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 07 Pag.: 2
NILO SORRI.
NILO — Esse Pedro é muito metido a besta pro meu gosto. Se acha muita
coisa, mas é um peão que nem outro qualquer!
LUCENA — É um nada, mas ele é inteligente. Se nóis dexá, ele transforma aquele
nada em arguma coisa.
LUCENA SORRI.
NILO — Com aquele lá eu não preciso nem me preocupá. Dou cabo dele de
olho fechado.
LUCENA — Olha lá o que ocê vai fazê, Nilo. Num quero sabê de morte. É só pra
pega os boi.
LUCENA — Só em último caso. (p) Ocê num vai tá sozinho. Contratei uns hóme de
fora pra ajudá ocê.
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 07 Pag.: 3
NILO — De confiança?
LUCENA — É claro. Gente de ofício. Tão acostumado a fazê isso. (p) Vô passá
procê exatamente como eu quero que a coisa seja feita.
CORTA PARA;
JULIANO — Tá aí pra quem quisé vê. O cão tá andano pelo mundo. Tá semeando
as coisa ruim. Irmão tá matando irmão. Nóis tem que luta contra ele!
Contra ele e contra os cavalêro do apocalipse que ele sortô sobre a Terra.
(p) Ocês deve de tá pensano que num têm nada com isso, que num póde
fazê nada, mas ocês tão enganado! Se cada um aceitá Deus no coração e
se entregá pra luta por ele, as coisa vai muda! O diabo num é mais forte!
(p) Muita gente vai morrê na batalha. Mas Ele vai sabê reconhecê aqueles
que lutaram pra defende a criação. Vão morre aqui, mas vão levanta no
dia do juízo e vão tá de cabeça erguida, pronto pra entrá no reino de Deus
Nosso Senhor.
JULIANO — Ocês pensa nisso. Olha pro coração docês e vê de que lado ocês
querem ficá. Do lado do nosso salvador, ou do lado do cão? (p) Ocês vai
com Deus.
JULIANO — Brisa, minha filha! Que bom que ocê veio mi vê.
CORTA PARA:
JULIANO — Brisa, nessa vida que eu levo, acabo perdendo essa idéia de tempo. E
faz é ano que eu num apareço lá em Divinéia. Fico sossegado aqui no meu
canto.
BRISA — Num sei. (p) O senhor podia ajudá na quermesse! O senhor num é
beato? Então. A quermesse é pra igreja.
BRISA — Tão falano por aí que, seu Heitor vai passá uns tempo aqui em
Divinéia.
JULIANO — Nara têm motivo pra num gostá dele. (p) E eu também. A diferença é
que eu carrego uma curpa nas costa e ela não.
BRISA — Curpa? Que curpa o senhor carrega? E quais são esses motivo que o
senhor falô?
BRISA — Num gosto quando começam a me falá uma coisa e num terminam.
Fico me coçando de curiosa.
JULIANO — Gosto muito docê Brisa, como se fosse uma filha minha.
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 07 Pag.: 5
JULIANO — Zé Martins é um velho bobo. (p) Ele têm sorte das filha que têm.
BRISA SE LEVANTA.
BRISA — Tá na minha hora. Ainda preciso arrumá as minhas coisa pra i passá a
noite na fazenda. Pedro vai viaja e pediu pra eu mais Chica passá a noite
lá com Nara. Só passei aqui mêmo pra vê como o senhor tava.
JULIANO — Que bom que ocê veio. Manda lembrança minha pro seu pai e pra sua
irmã.
CORTA PARA:
CORTA PARA:
ARTHUR — Só saio quando tenho assunto importante pra tratar, o que é o caso
agora.
BRENO PARECE FICAR NERVOSO. ELE TIRA UM LENÇO DO BOLSO E PASSA SOBRE A
TESTA.
BRENO — A hidrelétrica, claro. Coronel, eu vou lhe ser sincero. Esse assunto
anda me tirando o sono.
ARTHUR — O senhor sabe que pra sua carreira política isso é uma faca de dois
gumes.
BRENO — Sei. Sei sim. (p) O que o senhor acha dessa história toda?
ARTHUR — Prefeito, eu vou lhe dizer uma coisa. Todas as decisões importantes
que eu tomei na minha vida foram muito bem pensadas. (p) Eu ainda não
sei se concordo com essa idéia do Heitor. Quero que ele venha aqui
pessoalmente pra me explicar tudo. Antes disso eu não posso tomar
nenhum partido. (p) Só sei que, por enquanto, essa história não me agrada
nem um pouco.
BRENO SE LEVANTA E VAI CONFERIR SE NÃO TEM NINGUÉM OUVINDO ATRÁS DAS
PORTAS, DEPOIS VOLTA A SE SENTAR.
ARTHUR — Sobre Divinéia e sobre a sua cabeça, porque o senhor, como prefeito,
vai ter que tomar partido.
ARTHUR — Eu vim aqui porque acho que nós temos que pedir pro Heitor vir a
Divinéia. Um assunto desses não pode ser tratado por telefone.
BRENO — Eu ouvi dizer que ele vai passar uns tempos aqui.
ARTHUR — Eu também ouvi dizer que o mundo ia acabar no ano 2000 e não
acabou. O senhor trata de ligar pra ele e confirmar isso.
BRENO — Agora?
ARTHUR — Já!
CORTA PARA:
CORTA PARA:
HEITOR — Eu vou sim, Breno. Você e o Arthur podem ficar tranqüilos que no
máximo em uma ou duas semanas eu apareço por aí. (p) Claro. Eu
entendo a preocupação de vocês. Só que eu não iria propor uma coisa
que não fosse vantajosa pra todo mundo. (p) Nos próximos dias eu devo
receber o relatório de impacto ambiental.
HEITOR — Enquanto ele não sair, nada pode ser feito. (p) Tá bem. Nós nos
falamos em breve então. Um abraço.
HEITOR — Porque não vai ser fácil o rojão que eles vão ter de segurar.
Principalmente o prefeito.
HEITOR — Claro que não. Nem obra existe ainda. (p) Mas que surpresa é essa de
você aparecer por aqui?
CELESTE — Achei melhor vir lhe buscar pra jantar. Se eu ficar dependendo de você,
sempre vou jantar sozinha.
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 07 Pag.: 8
HEITOR — Mesmo assim. Eu estou em falta com você. Quando nós formos passar
essa temporada em Divinéia, vamos ter mais tempo pra nós dois.
HEITOR — Claro, Celeste. Eu vou ter de ir pra Divinéia. Vou ficar uns tempos por
lá. Quero que você venha comigo.
CELESTE — É. Nasceu e foi embora. Não agüentou ficar lá. Não me peça isso,
Heitor. Você sabe como é difícil pra mim ficar metida no meio do mato.
Eu sou urbana. Eu gosto de poluição.
CELESTE — Era isso que eu ia lhe perguntar. Ele vem sozinho ou não?
OS DOIS SAEM.
CORTA PARA:
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 07 Pag.: 9
HEITOR — Vem sozinho. Pega o avião agora à noite em Vancouver. (p) Até logo
dona Vera.
HEITOR — Parece que ele e a Christiane brigaram. Uma coisa meio chata.
CELESTE — Não era de se esperar outra coisa. Mulher chatinha que ele arranjou.
HEITOR — Celeste.
CELESTE — Bem.
O ELEVADOR CHEGA.
HEITOR — Amanhã nós conversamos, dona Eduarda. A senhora veja com a Vera
como está a minha agenda. Até logo.
EDUARDA — Até.
VERA — Eu acho que sim. (p) Quer que eu veja se têm algum horário vago pra
ele lhe atender amanhã?
CORTA PARA:
CORTA PARA:
DIOGO ESTÁ COM AS MALAS PRONTAS PARA SAIR E SEGURANDO VIVI NO COLO.
CHRISTIANE OBSERVA.
DIOGO — Não, meu amor. Eu vou ficar só uns dias fora e depois volto.
DIOGO — Eu também.
DIOGO — Por que vocês duas não vêm comigo até o aeroporto?
DIOGO — Eu ia embora mais tranqüilo se você fosse até lá. Iria saber que está
tudo bem entre a gente.
CORTA PARA:
CORTA PARA:
CORTA PARA:
CELESTE — Você pode me dizer o que quiser, Heitor. Eu não vou mudar de idéia.
Eu acho aquela tal de Eduarda muito abusada. Mais do que isso. Eu acho
ela muito esperta. Sempre com aquele jeito simpático, oferecido.
Principalmente pra cima dos homens.
CELESTE — Ela está louca mesmo. Imagina que você vai mandar uma mulher, lá
pra onde Judas perdeu as botas, pra ficar tratando com um monte de
peões. Louca.
HEITOR — Estou falando seríssimo. Eduarda vai pra Divinéia sim. Eu preciso dela
lá.
CELESTE — Pois é. Passei no escritório e convidei o Heitor para jantar. Sente aqui
conosco.
GUSTAVO — Eu agradeço, mas não vai ser possível. Eu marquei com um amigo.
Fica pra uma próxima vez.
HEITOR — Se é assim.
CELESTE — Você precisa aparecer lá em casa. Faz tempo que não nos visita.
GUSTAVO — É. Eu sei.
HEITOR — Mas por que você não telefone pra ela? Tenho certeza de que a
Bárbara vai adorar.
HEITOR — Não?
CELESTE — Vai ver ela... Anda ocupada demais. Nem mesmo ao pai ela atende.
HEITOR — Até.
GUSTAVO SE AFASTA.
CELESTE — Foi você quem criou o monstro. Ela faz esse menino de gato e sapato.
CELESTE — Até parece que você não conhece a sua filha. Ela faz de propósito.
Parece que têm prazer em fazer o Gustavo se arrastar aos pés dela.
HEITOR — Quando ela voltar eu vou ter uma conversa muito séria com essa
menina.
CELESTE — Vai nada. Você sempre fala isso e na hora “H” deixa tudo do mesmo
jeito. É por isso que ela é assim.
HEITOR — Celeste, vamos deixar a Bárbara pra outra hora. Eu não quero me
aborrecer.
CORTA PARA:
EDUARDA — Eu sei. Fiz besteira. É que eu não resisti. O poderoso ali na minha
frente. Você sabe que eu não gosto de ficar nessa incerteza.
ANDRÉ — Mas o Bruno já não disse que o Heitor quer você no projeto?
EDUARDA — Disse. Acontece que eu não sei se posso acreditar muito no Bruno.
EDUARDA — Porque nós dois sabemos o que ele quer comigo. O que me garante
que ele não disse tudo aquilo só pra eu ficar mais... próxima à ele?
ANDRÉ SORRI.
EDUARDA — Vou ter que agüentar mesmo. Ainda mais agora que o chefão ficou de
pé atrás comigo. Falando nisso, é melhor você ir pra sua casa que daqui a
pouco o Bruno chega.
ANDRÉ SE LEVANTA.
EDUARDA — É dona Eduarda. Tá na hora de tentar arrumar a besteira que você fez.
CORTA PARA:
EDUARDA — Claro.
BRUNO ABRE A PORTA PARA EDUARDA ENTRAR NO CARRO, DEPOIS ENTRA NO LADO
DO MOTORISTA E VÃO EMBORA.
CORTA PARA:
CELESTE — Já.
HEITOR — Boa-noite.
CORTA PARA:
OS DOIS SE SENTAM.
HEITOR — Eduarda não precisa disso, Celeste. Ela é uma das melhores
funcionárias que eu tenho. Uma engenheira de mão cheia.
HEITOR — Alguma coisa me diz que, caso esse projeto vá pra frente, o Pedro
Azulão vai me criar problemas.
CELESTE — Problemas? Heitor, ele é um peão de fazenda. O que ele pode fazer?
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 07 Pag.: 17
CELESTE — Acho que você tá dando importância demais pro Pedro. (p) Mas, do
jeito que você tá falando, parece até que essa hidrelétrica não vai ser boa
pra cidade. Isso vai trazer melhorias pra região, criar empregos. Não vai?
HEITOR — Claro. Claro que vai. Aquela região toda tá enfrentando uma sêca
brava, não é de hoje. A construção de uma barragem vai ajudar. Vai ter
irrigação pras plantações, água pro gado, pras pessoas.
CELESTE — Então. Você não tem com o que se preocupar. É capaz até do Pedro
lhe apoiar. Mesmo vocês dois não se dando bem. Se for pro bem do
lugarejo, ele apóia.
CORTA PARA:
BRUNO — Você não devia ter ido falar com o Heitor. Ele odeia esse tipo de coisa.
EDUARDA — Mas eu nem cheguei a falar. Só que a forma que eu disse não foi legal.
Eu fui meio... Entrona. Na verdade eu fui é mal interpretada. Não falei
nada demais, mas não caiu bem. Parecia que eu tava acostumada a tratar
de assuntos que não são de trabalho com ele. Ficou péssimo porque a
mulher dele estava do lado.
BRUNO — E a Celeste faz marcação cerrada. Ela tem um jeitinho meio cordato,
às vezes finge que não percebe nada, mas tá sempre de olho aberto.
EDUARDA — Percebi. E percebi também que ela não vai com a minha cara.
BRUNO — Nenhuma mulher vai com a cara de outra. Principalmente se ela for
bonita como você.
EDUARDA SORRI.
BRUNO — Qual.
BRUNO SORRI, OLHANDO EDUARDA COM COBIÇA. ELA PISCA PARA ELE E
CONTINUA SEU JANTAR.
CORTA PARA:
ANDRÉ — André, você é um completo idiota. (p) Quando é que vai ter coragem
de dizer pra Eduarda que tá apaixonado por ela? Vai esperar o Bruno
passar a sua frente? (p) Ele ou qualquer outro?
CORTA PARA:
CHRISTIANE SEGURA VIVI PELA MÃO E PUXA A MENINA PELO AEROPORTO AO SOM
DA MÚSICA “NEVER SURRENDER” DE COREY HART. A MENINA VAI ACENANDO
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 07 Pag.: 19
PARA O PAI, QUE ASSISTE TRISTE À CENA. DIOGO APANHA SUA MALA E SEGUE ATÉ O
SETOR DE EMBARQUE.
CORTA PARA:
CORTA PARA:
CORTA PARA:
O SALÃO ESTÁ CHEIO. OS HOMENS DANÇAM COM AS MOÇAS, ENTRE ELAS, TIANA.
NILO E ZORAIDE ESTÃO EM UMA MESA E BALBINA ATENDE NO BAR.
ZORAIDE — Ocê tá me dizeno que num vai podê ficá comigo, Nilo?
NILO — É.
NILO — Eu sei que prometi, mas não posso. Apareceu serviço e eu tenho que
fazê.
NILO RI.
NILO — Ocê para com essas história, Zoraide, que não é rabo de saia nenhum.
Lucena me passou um serviço e eu tenho que fazer.
NILO SE LEVANTA.
NILO APANHA SEU CHAPÉU E SAI, DEIXANDO ZORAIDE COM A CARA EMBURRADA. A
MOÇA SE LEVANTA, INDO EM DIREÇÃO AOS QUARTOS, MAS ZULMIRA APARECE,
BARRANDO SEU CAMINHO.
ZULMIRA — Com a casa cheia desse jeito? Mas não vai mesmo!
ZULMIRA — Você tem razão. Eu não posso lhe obrigar. Se você não quiser atender
os homens, é um direito seu.
ZULMIRA — Mas você não esqueça de uma coisa, menina. Você está aqui na minha
casa por causa do seu trabalho. Se você não trabalha, não me tem
nenhuma serventia. Essa casa não é pensionato e nem muito menos
abrigo. Se você não trabalha, não fica. Você pode ir pro seu quarto, mas
aproveita pra arrumar as suas tralhas. Sem trabalho, sem moradia. Você é
quem sabe.
ZORAIDE FICA PARADA, SEM DIZER NADA. APÓS ALGUNS SEGUNDOS ELE SE VIRA.
ESTÁ NITIDAMENTE COM RAIVA.
ZULMIRA — A escolha é sua, Zoraide. Como você mesma disse, eu não posso lhe
obrigar.
ZORAIDE — Eu vô.
ZULMIRA — A Zoraide. Eu não sei se ela é menina pra trabalhar aqui comigo.
ZULMIRA — O problema não é esse não, Balbina. O problema é o jeito que ela olha
pra mim, que olha pra Madalena. Até mesmo pra você. É um olhar de
raiva. De ódio.
BALBINA — Mas com ocê ela não se mete. Já percebeu a inveja que ela tem da
Madalena?
ZULMIRA — Claro que já. Ela queria estar no lugar da menina. Ficar de amante fixa
de Coronel. Fazer o que se foi a outra que conseguiu?
BALBINA — Acho que ocê precisa de tê uma conversa com a Zoraide pra colocá os
pingo nos i.
CORTA PARA:
ARTHUR — Ótimo. Assim ele não fica me enchendo a paciência. Aquele padre não
pode ver alguém com uma situação melhorzinha que já estende a mão.
CORTA PARA:
IVONE — Tão.
QUEBRA — Deve de tá tudo cansado. Estrada de Ferro me disse que brincô com os
irmão a tarde toda.
IVONE VAI ATÉ A JANELA E FICA OLHANDO, COMO SE ESPERASSE ALGUMA COISA.
QUEBRA-GALHO PERCEBE.
IVONE — E eu consigo?
IVONE SE SENTA.
IVONE — Se fosse a sua filha ocê ia querê que pensassem assim também?
QUEBRA-GALHO SE BENZE.
QUEBRA — Deus que me livre de vê uma filha minha numa situação dessa.
QUEBRA — Claro. (p) Mas Ivone, o que ocê qué que a gente faça? Que invada a
fazenda e tire a menina de lá à força? Coroné mata a gente.
IVONE — Eu sei. Eu sei que nóis num pode de fazê nada. Mas alguém deve
podê! (p) Quem sabe se eu falasse com o Padre?
QUEBRA — Ocê pode tentá, mas será que ele qué ouvi isso? Nem ele nem o
delegado vão acredita nocê.
IVONE — É. Ocê tá certo. (p) Diaxo de vida mardita que só os ruim se dão bem!
Que nada acontece pra eles!
QUEBRA — Um dia isso há de acaba, Ivone. (p) Eu num sei quando, mas há.
CORTA PARA:
É O QUARTO ONDE A MENINA ESTÁ DORMINDO. ELA ESTÁ SOB AS COBERTAS. A LUZ
DA LUA ENTRA PELA JANELA. O SONO DELA PARECE TRANQUILO.
CORTA PARA:
CORTA PARA:
CORTA PARA:
CORTA PARA:
BRISA — O quê?
NARA SE LEVANTA.
NARA — Tô achando esse programa chato por demais. Ocê senta aí que eu
cuido da pipoca.
CORTA PARA:
DONANA — Num tô gostano desse sentimento que tá no meu peito. Um aperto. (p)
Uma sensação de que vai acontecê arguma coisa de ruim. Tomara Deus
que seja só cisma minha.
CORTA PARA:
NILO — Um fica aqui com o caminhão e os outros vêm comigo. Nóis vai lá e
pega os boi. Num quero tiro. Só se eles atirarem primeiro. Ocês me
entenderam?
TODOS CONCORDAM.
CORTA PARA:
CORTA PARA:
NARA — Mas o que é que tá aconteceno com esses cachorro e esses boi?
NARA ABRE A JANELA E OLHA PARA O CURRAL. A ÍNDIA PARECE FORÇAR A VISTA,
COMO SE PRA ENXERGAR ALGUMA COISA. REPENTINAMENTE, PELA SUA
EXPRESSÃO, PERCEBE-SE QUE ELA DESCOBRIU.
NARA — Bicho-Brabo!
CORTA PARA:
NARA — Pior. Têm uns hóme no curral. Eles tão roubando os boi!
BICHO-BRABO — Eu também tô! Chica, liga pro delegado Amaro e fala o que tá
aconteceno. Eu vou lá.
BICHO-BRABO SAI.
CHICA — Nara, onde é que fica a caderneta dos telefone? Será que lá tem o
número da casa do delegado?
CORTA PARA:
BICHO-BRABO — Ocês larga esses boi e vão embora daqui, cambada de filho de uma
égua!
CORTA PARA:
CHICA — Vira essa boca pra lá, Nara! Continua tentando liga pro delegado.
CORTA PARA:
CORTA PARA:
CHICA — Atiraram!
NARA — O que nós vai fazê, Chica? Esses hóme vai levá todo o gado do
Pedrinho. E o Bicho tá caído se esvaindo em sangue lá na frente. Nóis
precisa fazê arguma coisa.
CHICA PARECE PROCURAR UMA SOLUÇÃO EM SUA CABEÇA. ELA OLHA PARA O
ARMÁRIO E TOMA UM DECISÃO.
CHICA VAI ATÉ O ARMÁRIO E APANHA TRÊS ESPINGARDAS. ENTREGA UMA PARA
NARA, OUTRA PARA BRISA E FICA COM UMA.
CHICA — Nóis vai botá esses ladrão pra corre porque é o único jeito de i lá fora
vê se ainda dá pra sarvá o Bicho.
ELA OLHA COM FIRMEZA PARA AS OUTRAS DUAS MULHERES. A CENA CONGELA E SE
TRANSFORMA EM UM MURO DE TERRA, QUE VIRA A BARRAGEM DE UMA
HIDRELÉTRICA.
FIM DO CAPÍTULO