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BARRAGEM SUBTERRÂNEA:

A EXPERIÊNCIA DO ESTADO
DO CEARÁ

Junho/2004
INTRODUÇÃO
Os recursos hídricos disponíveis
Rios, riachos e lagos, na subsuperfície
Armazenados nos poros dos sedimentos arenosos ou fraturas de
rochas cristalinas

A captação dos mananciais


Barramentos superficiais
Poços para captação da água subterrânea

No semi-árido
Cursos d´água são em sua maioria intermitentes
A perda de água por evaporação é significativa
Deficiências
ê existentes no atendimento das demandas dos
diversos usos
Questões
õ fundamentais para o planejamento e utilização
ã
dos recursos hídricos disponíveis

Irregularidade do regime pluviométrico

Condições físicas do semi-árido nordestino em especial as


geológicas - elevados coeficientes de escoamento superficial

Reduzida acumulação subterrânea

Máxima retenção de água no interior das bacias hidrográficas


As Barragens Subterrâneas
â

Interceptam o fluxo
fl d água
de á na subsuperfície
b fí

Armazenamento de volumes e condições favoráveis de captação e


controle

Seu uso no aproveitamento dos recursos hídricos do semi-árido


ainda é uma questão bastante polemica.

Eficiência da implantação dessas obras


Quantidade e qualidade da água disponível.
OBJETIVO

É objetivo deste trabalho sintetizar os dados


e informações
ç sobre a experiência
p de
barragens subterrâneas no estado do Ceará
e contribuir na disseminação da técnica,
como política pública, para o
desenvolvimento sustentável do semi-árido
Nordestino.
HISTÓRICO

O primeiro estudo visando abastecimento hídrico e que


indicou a alternativa de uma barragem subterrânea

UNESCO, para o 1.º Batalhão de Engenharia do Exército, em


1959 - Carnaúba dos Dantas, Estado do Rio Grande do Norte.

O Eng. Pierre Taltasse


elaborou um estudo hidrogeológico específico e projetou o
que seria a primeira barragem subterrânea do Brasil, que
não chegou a ser construída
A primeira Barragem Subterrânea no Brasil
Construída pelo DNOCS, em 1965

Cidade de Tauá, estado do Ceará

no depósito
ó aluvial do Rio Trici

Abastecimento d’água
SANTOS e FRANGIPANI (1978)

A implantação
p ç de barragens
g submersas nos depósitos
p
aluvionares como uma alternativa para o Nordeste Brasileiro

C i ã de
Criação d melhores
lh condições
di õ ded aproveitamento
it t

Barragens subterrâneas podem ser tratadas como:


reguladoras das reservas de água subterrânea
renovação mais rápida através do bombeamento contínuo
evitando ou minimizando os efeitos da salinização.
No início da década 80
o IPT-Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo elaborou
estudos e construiu barragens subterrâneas

Ceará - Rio Palhano (Bacia do Rio Jaguaribe)

Ri Grande
Rio G d dod Norte
N t - Rios
Ri das
d Cobras
C b e dos
d Quintos
Q i t (Bacia
(B i dod Rio
Ri
Seridó)

A montante de cada uma dessas barragens construiu um poço para


monitorar a qualidade da água

Falta de explotação

contínuo aumento da salinidade


1986
Minérios de Pernambuco S/A
03 (três) pequenas barragens subterrâneas no alto sertão de
Pernambuco
Localizadas nas cabeceiras de pequenos riachos
Possuíam reduzidas áreas de captação
Jamais chegaram a armazenar água
O septo dessas barragens foi construído em alvenaria, com
extensões da ordem de 10 a 15m.

Na mesma década,
é a EMBRAPA/CPTASA em Petrolina-PE
Efetuou experiências com barramentos subterrâneos, porém
não se tem notícia dos resultados obtidos.
UMA VISÃO PANORÂMICA DO ESTADO
DO CEARÁ

Uma das nove unidades da federação da região


Nordeste do Brasil.

Á
Área d 146.817
de 146 817 km²
k ²

Corresponde 9,4
9 4 % da área do Nordeste

Tem 93% do seu território inserido na zona semi-árida


do Nordeste.

2/3 da área do Estado assenta-se em rocha cristalina

1/3 restante se enquadram as áreas sedimentares


Relevo
Planícies litorâneas
Zonas intermediárias do sertão
Serras

Vegetação
Predominantemente
P d i t t constituída
tit íd de
d plantas
l t xerófilas
ófil
A caatinga é o principal complexo vegetacional do
Estado
Solos
Podzólicos Eutróficos; Brunos não-cálcicos; Litólicos eutróficos e
Planossolos

Férteis
em termos de suas características químicas

Limitações
Escassez de recursos hídricos
Profundidade
Pedregosidade
Relevo

Em áreas específicas, as condições são muito favoráveis e se


racionalmente aproveitados podem assegurar explorações
econômicas bastante promissoras.
Principais rios
Jaguaribe, Acaraú, Curu, Poti, Coreaú, Pirangi,
Choró e Pacoti

11 regiões
g hidrográficas
g
Coreaú, Acaraú, Aracatiaçu, Curu, Metropolitana,
Poti, Banabuiú, Baixo Jaguaribe, Médio Jaguaribe,
Alto Jaguaribe e Salgado

O Estado não apresenta grandes mananciais hídricos


subterrâneos.
Regime pluviométrico do tipo tropical semi
semi-árido
árido
irregularidade das chuvas no tempo e no espaço

Os totais anuais de precipitação estão compreendidos


pelas isoietas de 500 a 1800 mm
p

Estação
ç chuvosa relativamente curta ((três a cinco
meses)

Período seco prolongado, o que acarreta a


predominância do clima semi-árido
Elevadas taxas de evaporação

Evaporação acumulada anual é de 2467 mm (Tanque


Classe A)
equivalente
q a uma altura de 1850 mm sobre o
espelho de água

Evapotranspiração potencial (ETP) de 1934 mm

A comparação entre a ETP e a pluviometria anual


mostra a situação de permanente déficit hídrico.
BARRAGEM SUBTERRÂNEA

O que é ?

É uma obra simples que faz o barramento da água acumulada no


subsolo de um aluvião.
aluvião

Aluvião B
Barramento
t

BARRAGEM SUBTERRÂNEA

Água Cristalino
Onde construir?

Nos vales dos rios ou riachos, onde exista um aluvião com


espessura mínima de 2 2,0
0 metros

Deve-se observar a espessura


p e constituição
ç do depósito
p aluvial

Largura do depósito aluvial e trechos de estreitamentos

Extensão a montante do local do barramento

Relevo
Onde construir?
Estudos preliminares
Levantamento topográfico detalhado

Mapas planimétricos e fotos aéreas

Sondagens

Granulometria do material

Di
Dimensionamento
i t da
d largura
l d trincheira
da ti h i

Ângulo de inclinação do talude

Detectar a existência da zona saturada

Profundidade da rocha
Fonte: Barragem subterrânea tipo COSTA & MELO (CIRILO et al, 1998).
O ppoço
ç amazonas a montante da barragem
g possui as
p
seguintes funções

Permite a captação da água armazenada e sua utilização para


os diversos fins

Instrumento de monitoramento quantitativo e qualitativo


acompanhar o rebaixamento de nível da água com o
tempo, na medida que se vai explotando o manancial
verificação do aumento da salinidade da água à medida
que o reservatório vai diminuindo de volume

Permite um efetivo controle da qualidade da água, próximo do


período de chuvas, poderá ser efetuado um bombeamento
intensivo no poço para exaurir o aqüífero e permitir a
renovação da água.
As chuvas nas regiões semi
semi-áridas
áridas
Regime torrencial
Curta duração
Escoamento muito rápido
Difícil processo de infiltração na recarga dos aluviões

Função do enrocamento de pedras


Aumentar o tempo de retenção do escoamento
superficial e conseqüentemente obter uma maior
recarga do aluvião.
Enrocamento de pedra colocado a jusante da barragem

Poço amazonas
Septo ou Barramento

Disponibilidade do material a ser utilizado


critério
i é i básico
bá i à economia i

Problema de estanqueidade
q é desprezível
p
aconselhável que a base do septo não seja totalmente
impermeável

Os materiais de construção do septo utilizados


Argila ou mistura de argila-silte
Lona plástica
Muro de pedra-argamassa
Estacas justapostas em madeira,
madeira ferro ou cimento pré-
pré
moldado.
Construção manual

Escavação mecanizada
Utili ã de
Utilização d lona
l plástica
lá ti como barramento
b t
Condições Restritivas

Existir um depósito
p aluvial arenoso,, com espessura
p de p
pelo
menos 2m

Predominância
P d i â i de d material
t i l síltico-argiloso
ílti il i li
implica em elevada
l d
retenção de água e baixa condutividade hidráulica
reduzida vazão nos poços
p ç
riscos de salinização com o tempo

Água existente no depósito


Á ó aluvial não
ã deve possuir um elevado
teor salino
Um exemplo:
Riacho com um aluvião de 2,0 metros de espessura

50 metros de largura x 300 metros de comprimento

Volume = 30.000 m3
P
Porosidade
id d de
d 12 %

Metade desse volume não permita acumulação

Capacidade de acumulação = 1.800 m3 de água

Consumo de 250 litros/dia

1.800 m3 de água = 20 famílias, durante 1 ano

1.800
1 800 m3 de água = irrigação por gotejamento de ½ hectare de
fruteiras, durante 6 meses.
Condições Restritivas

Existir uma considerável extensão de depósito


p aluvial a
montante da seção

Não devem
Nã d existir
i ti soleiras
l i d embasamento
do b t cristalino
i t li cortando
t d
transversalmente os cursos d’água

A calha menor ou leito ativo do curso d’água deve guardar


relações de largura e desnível para com a calha maior ou terraço
aluvial que viabilize a construção
A EXPERIÊNCIA DO ESTADO DO CEARÁ

Concentra em seu território 276 barragens subterrâneas

Construídas em planos emergenciais durante os períodos


de grandes secas

Dados - Coordenadoria Estadual de Defesa Civil – CEDEC


Fazem parte do Programa Emergencial de Frentes Produtivas
Localização e distribuição das
Barragens Subterrâneas
existentes no Ceará

Entre 10 e 20
Aiuaba (17)
Assaré (14)
Maranguape (10)
Monsenhor Tabosa (15)

Entre 20 e 30
Itapiúna
ú (21)
( )
Salitre (25)

Acima de 30
Boa Viagem (35)
Lavras da Mangabeira(31)
Tamboril (33)
Levantamento de utilização
Uso da água (% )

50
44
45

40

3
35

30
26
25

20
14
15
10 7
6
5 3

0
Consumo Dessedentação Uso doméstico Pequena Pequena Outros usos
humano de animais irrigação sem irrigação com
bombeamento bombeamento
Barragens Subterrânea
â x Barragens Superficiais

Não há perdas de áreas superficiais por inundação

Utilização
ç da calha umidificada p
para p
plantio ((sub-irrigação)
g ç )

Maior proteção da água contra a poluição bacteriana superficial

Apresenta menor perda por evaporação


As perdas por infiltração
ã em fraturas do embasamento cristalino
são muito reduzidas

Dispensa onerosos esquemas de:


Tratamento
Manutenção
Operação
Consumo de energia elétrica
outros gastos comuns nos barramentos superficiais

Como fator principal - baixo custo


Dados de qualidade

Não foram encontrados dados de monitoramento

Falta de avaliação quanto ao risco de salinização e utilização da


á
água para irrigação
i i ã

Recomendações
Análise físico-química periódica
caracterizar hidroquimicamente a água do depósito
aluvial quanto a potabilidade e uso para irrigação.
ã
É importante salientar que:

Não se tem nenhuma informação ç se esses barramentos


subterrâneos estão sendo controlados quanto à qualidade da
água armazenada

Não se tem dados dos poços

Não se sabe se os poços estão em funcionamento

Provavelmente os solos das áreas


á adjacentes as barragens
subterrâneas encontram-se com um alto nível de salinização
MONTEIRO, L.C.C (1988)
Implantação de uma barragem subterrânea experimental

GOMES, C.C (1990)


Análise do comportamento quantitativo do aqüífero aluvial do
Ri Palhano
Rio P lh e a barragem
b d superfície
de fí i Chile
Chil através
t é de d
modelagem matemática

PUERARI, E.M (1999)


Caracterização física, química e microbiológica da água do
reservatório superficial Chile e da Barragem Subterrânea
experimental do Rio Palhano
CONCLUSÕES

As barragens
g subterrâneas se constituem como uma
alternativa viável para o semi-árido nordestino,
principalmente no que diz respeito ao abastecimento de
água para a população.
população

A falta de monitoramento quanto a qualidade da água,


água e
a falta de uso dos poços acarretam um grande risco de
salinização dos solos da área.

A construção de uma barragem subterrânea, apesar de


sua simplicidade,
simplicidade deve ser precedida de um estudo das
condições do depósito aluvial e outros aspectos
circundantes, sob pena de se obter um insucesso da
mesma.
Embora os números e a distribuição das barragens
subterrâneas no estado do Ceará sejam representativos,
observa-se a pouca importância que o governo do
estado, responsável
á direto pelo monitoramento destas
barragens, tem dado as obras que foram realizadas.

Em virtude deste descaso é impossível quantificar e


qualificar as barragens subterrâneas construídas no
Ceará, tanto quanto ao volume acumulado como a
qualidade da água e riscos de salinização.
OUTRAS EXPERIÊNCIA

Três situações
ç merecem ser aqui
q mencionadas como experiências
p
desenvolvidas nesse campo, todas bem sucedidas:

A Barragem subterrânea da Faz enda Pernambuco (PE),


(PE) construída em
1987.

Na região denominada Mutuca,


Mutuca Agreste de Pernambuco,
Pernambuco onde
barragens subterrâneas de porte mais significativo foram construídas.
Durante os anos de 2000/2001 ocorreram casos de plantio
praticamente ininterrupto de produtos como cenoura e beterraba.
beterraba

As barragens subterrâneas construídas pela ONG Caatinga em


pequenas propriedades
i d d rurais
i (PE).
(PE)

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