É um curso básico, elementar, de como se tornar salafrário. Esta é uma aula promocional. As demais vão custar os olhos da cara. Não os da sua cara, é claro: dos otários que pagam impostos e dão duro para sobreviver. Agora, caros alunos, vocês irão aprender como se dar bem na vida às custas dos trouxas que trabalham. Primeiro, você precisa ter a deliberada intenção de enriquecer sem fazer força. Segundo, ter claro que se o seu golpe de esperteza fracassar, você não irá para a cadeia. Muitos irão, é claro, pois no desespero de perder os empregos vão sair protestando e aí a gente manda nossa polícia descer o cacete no lombo deles. Não se preocupe com as consequências, pois você terá os mesmos trouxas que trabalharam para nos enriquecer trabalhando ainda mais desesperadamente para pagar o custo da besteira toda. E pagarão a conta com redobrado empenho, pois estarão escravizados pelas necessidades decorrentes da omissão do Estado, a incompetência dos governantes que nós financiamos e totalmente escravizados pelo crediário. Falso dinheiro Os golpes sempre fracassam, como já denunciou aquele chato do Marx. Ele descobriu nossa manobra de gerar crises para acumular ainda mais riqueza e poder, promovendo guerras e ajustes no volume de capital, queimando o falso dinheiro que criamos. Queimando inclusive gente, fired (demitida) sem contemplação. Quando o golpe fracassa – e um dia vai fracassar, pois outros chatos tipo Marx já disseram que a sociedade não é estática e, portanto, “não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe” −, a receita é simples, vem sendo usada há séculos e foi aperfeiçoada no crack da Bolsa de 1929, quando os trouxas de hoje ainda nem haviam nascido. Logo de saída, alegaremos que foi um acidente natural, como um furacão que pegou a todos de surpresa e que vai prejudicar inclusive a nós. Desse modo, fingimos que não criamos de caso pensado o pandemônio todo. Diremos que os muito ricos foram os mais prejudicados, quando é óbvio que só foram prejudicados os que trabalham e os que produzem coisas reais, como comida, roupas, calçados, ou prestam serviços, distribuindo esses bens, educando, tratando doentes. “Vontade de Deus” Se você rouba um bilhão e a crise faz você queimar meio bilhão − dinheiro artificial e inexistente −, você faz um instituto dizer que perdeu a metade de tudo o que tinha. Desinformados e iludidos pela ideologia não percebem que na verdade o trabalhador demitido é quem perdeu tudo o que tinha, pois ele só tem, dele mesmo, a força de trabalho. Se algum pobre mais esperto sacar o lance e apertar muito, basta dizer que foi a “vontade de Deus”. Pobre algum resiste a esse argumento. Eles são muito crentes: acreditam que a máquina geradora de crises é “liberdade” e “democracia”, veja só... Até em nós eles acreditam! Mas ainda não expliquei como armar o golpe. Antes de arquitetá- lo, é preciso se certificar de que os ditadores que instrumentalizamos para destruir a intelectualidade mais crítica e quebrar o ímpeto rebelde da juventude já cumpriram seu papel. Aí a gente impõe uma Constituinte, constrói uma democracia e uma liberdade à nossa imagem e semelhança... Bem, a aula promocional acaba aqui. As demais serão pagas com os olhos da cara... deles, os trouxas que acreditam na gente! *Alceu A. Sperança – escritor paranaense