Você está na página 1de 4

CM entrevista o Dr Heitor de Paola

“O Comunismo não é a fraternidade: é a invasão do ódio entre as classes. Não é a


reconciliação dos homens: é a sua exterminação mútua. Não arvora a bandeira do Evangelho:
bane Deus das almas e das reivindicações populares. Não dá tréguas à ordem. Não conhece a
liberdade cristã. Dissolveria a sociedade. Extinguiria a religião. Desumanaria a humanidade.
Everteria, subverteria, inverteria a obra do Criador” (Rui Barbosa, 8 de março de 1919)

Entrevista à Revista do Clube Militar

- Dr Heitor De Paola

O Dr Heitor De Paola, 64, é médico psiquiatra e psicanalista, membro da International Psycho-


Analytical Association e do Board of Directors da Drug Watch International e Diretor Cultural da
BRAHA, Brasileiros Humanitários em Ação, articulista e escritor, com diversos artigos
publicados no Brasil e no exterior, e um livro. No passado, pertenceu a organização Ação
Popular (AP) da esquerda revolucionária. Em entrevista à Revista do Clube Militar, o Dr De
Paola falou sobre sua experiência passada, sobre seu desencanto com a esquerda, e sobre
sua visão atual dos acontecimentos políticos no Brasil, na América Latina e no mundo.
Articulista do jornal eletrônico Mídia Sem Máscara, dos Jornais Inconfidência e Visão Judaica,
e do site Ternuma.

CM: Dr De Paola, inicialmente pediríamos que o senhor nos relatasse algo sobre sua
experiência como militante de organização de esquerda.

De Paola: Minha participação começou já em 1959 quando a esquerda da JEC (Juventude


Estudantil Católica, versão secundarista da JUC) conquistou pela primeira vez a UGES (União
Gaúcha de Estudantes Secundários), com uma campanha ardilosa.. Inicialmente fiquei limitado
ao mundo estudantil até a renúncia de Jânio. A partir de então engajei na campanha da
“legalidade” de Leonel Brizola, então Governador do RS, posteriormente na campanha pelo
plebiscito para a volta do presidencialismo (janeiro de 1963). Neste mesmo ano, já
universitário, mantive minha participação estudantil, participei do Congresso da UNE que
elegeu José Serra Presidente e neste ano começaram meus contatos com a Ação Popular
(AP) e com a Juventude Trabalhista.

Senti que eu precisava entender melhor no que estava me metendo e me inscrevi num curso
de marxismo do PCB e facilmente fui fisgado por aquela cantilena mágica que fornecia meia
dúzia de regrinhas para explicar tudo o que se quisesse. Entrei para a AP pouco depois do
comício da Central (13/03/64) e no dia 1º de abril liderei uma greve que atingiu quase todas as
faculdades de Pelotas, RS, com exceção da agronomia, onde predominavam filhos de
fazendeiros que nos expulsaram a pauladas! Esta greve era coordenada com a Casa do
Trabalhador, reduto do PCB.

Em 65 fui eleito Vice-Presidente da UNE num Congresso cercado pelo DOPS e pela Força
Pública, no Centro Politécnico de SP. Na campanha da UNE Volante, em outubro, fui preso em
Fortaleza, CE, ficando até dezembro no 23º BC. A Diretoria foi desbaratada, sobrando apenas
um dos Vices. Em janeiro 66 haveria um Congresso na União Internacional de Estudantes
(UIE) na Mongólia ao qual não consegui comparecer.

Nos dois anos seguintes levei uma vida dupla: como já estava visado, abandonei a política
estudantil e integrei o Comando Zonal Sul da AP, encarregado principalmente de Rio Grande,
RS. Lá, organizei duas células operárias e uma camponesa e ainda ajudei a montar o esquema
de passagem Brasil-Uruguai via Jaguarão-Rio Branco. Em janeiro de 68 saí. Os estudos
teóricos, geralmente com estrangeiros clandestinos, versavam sobre Mao, Ho Chi Minh, Giap,
Régis Debray.

CM: E como se deu o desencanto com a esquerda?

De Paola: Desde que entrei para a AP rebelei-me contra o extremo autoritarismo que reinava
entre seus membros, disfarçado de livre discussão – a “luta interna”. Eu já havia estudado Marx
e Lenin e conhecia teoricamente o conceito de “centralismo democrático”, mas jamais o havia
experimentado ao vivo. No entanto logo ocorreu a contra-revolução de 64 e me convenci que,
num movimento clandestino, ele é fundamental, pelo menos por razões de segurança.

Outro fator foi quando, em 65, sendo Vice-Presidente da UNE, percebi a enorme hipocrisia de
reuniões para promover a revolução proletária em mansões de altíssimo luxo com farta
distribuição de bebidas importadas e carros idem. Numa delas encontramos com altos
dirigentes da AP, inclusive o Coordenador Nacional, Herbert José de Souza, o Betinho e eles
me pareceram plenamente satisfeitos e adaptados ao local.

Eu percebia, também, um absoluto desprezo pelos outros, os quais só serviam enquanto


fossem úteis à causa ou a propósitos mais sórdidos dos dirigentes.. Um dos operários que eu
“ampliara” foi despedido, ninguém – nem eu – o ajudou, passou a beber, foi abandonado pela
família. Outro, um camponês, foi mandado para um encontro no Nordeste e jamais voltou e
passou a ser proibido perguntar por ele. Mas não quero passar por inocente: só saí em função
da luta armada, que não aceitei. Não fosse isto eu teria permanecido mais tempo, não sei
quanto.

CM: Pode-se afirmar que há sinceridade nas afirmações de ex-terroristas, quando alegam que
pegaram em armas para salvar a democracia no Brasil?

De Paola: Absolutamente nenhuma sinceridade! A “luta armada” começara ainda durante o


governo democrático de João Goulart, em 1961 e, se teve que ver com alguma ditadura, foi
com a cubana. No dia 1º de maio daquele ano a revolução cubana abraçou oficialmente o
comunismo e tornou-se uma cabeça de ponte soviética na América Latina. Note-se também
que neste ano houve uma radicalização da guerra fria e a construção do Muro de Berlim. A
exportação da revolução para o resto do continente começou imediatamente visando,
primariamente, a Venezuela – por causa do petróleo – e o Brasil – por seu imenso território e
importância estratégica em função da industrialização que avançava lentamente, mas de forma
segura. E também por possuírem as Forças Armadas mais capacitadas do continente e era
necessário vingar-se de 35. A esquerda brasileira, que tinha um pé firme no governo federal,
imediatamente aliou-se a Cuba com a finalidade de implantar um regime idêntico aqui.

Três mentiras precisam ser desfeitas:

a. De que a “resistência democrática” começara após o “golpe” de 64. Na verdade, este


movimento cívico-militar só ocorreu em conseqüência do grau que já alcançara o avanço
revolucionário sobre o poder.

b De que a luta armada foi desencadeada após o AI-5. Agitações, atos terroristas, focos
guerrilheiros precederam a promulgação do mesmo e foram a sua causa.

c De que a esquerda revolucionária lutava para restaurar a democracia.. Não conheci – e


continuo quarenta anos depois sem conhecer – nenhum esquerdista democrata. A esquerda
visa, ao contrário, implantar o comunismo. Só. O resto é balela.

CM: O senhor ao passar a defender princípios contrários aos que esposava no passado sofreu
algum tipo de reação traumática em seu relacionamento pessoal?

De Paola: Logo no início sim. Quando me recusei a prosseguir no caminho revolucionário,


exatamente em função da aprovação da luta armada pela AP em janeiro de 68, sofri ameaças
de meus antigos “companheiros”, que incluíam pessoas a mim chegadas. Mas eu ainda não
defendia princípios contrários. Permaneci alguns anos numa espécie de limbo ideológico, a
convalescença veio bem mais tarde, como já expliquei em artigos, conferências e livro. Durante
alguns anos eu ainda era procurado por antigos companheiros, inclusive após minha mudança
para o Rio.. É impressionante como me localizaram rapidamente. Mas não houve mais
ameaças, apenas tentativas de arregimentar-me outra vez e contribuições para o sustento do
pessoal clandestino.

CM: Que considerações o senhor faz sobre o Foro de São Paulo?


De Paola: A principal consideração não é minha, mas dos próprios fundadores do FSP: é uma
organização que reúne as esquerdas da América Latina na tentativa de recuperar neste
continente o que fora perdido do Leste Europeu. Ora, o que se perdeu lá – se é que se pode
dizer que tenha havido alguma perda? O comunismo. Portanto é uma falácia dizer que o FSP é
um clube de amigos, apenas um fórum de debates, cujas decisões não são mandatórias.
Segundo seu próprio idealizador, fundador e por anos Secretário-Geral, Marco Aurélio Garcia,
trata-se da refundação do comunismo, não mais como uma “revolução proletária”, mas
seguindo os ensinamentos de Antonio Gramsci, privilegiando a revolução cultural. Pode dar a
impressão de não haver unidade já que o grau de evolução é distinto nos diversos países, mas
Hugo Chávez já explicou claramente que, enquanto ele vai de Ferrari, outros são obrigados a ir
mais devagar: “O gradualismo é uma estratégia necessária dos governantes esquerdistas para
se fazerem aceitar aos poucos”. É ainda MAG quem disse: “Primeiramente temos que dar a
impressão de que somos democratas. No início teremos que aceitar certas coisas. Mas isto
não durará muito tempo”.

O regime que virá a se estabelecer é a ditadura de terceira geração: a repressão não mais
generalizada, como o paredón de Fidel, mas seletiva. São atacadas algumas pessoas ou
organizações cuidadosamente selecionadas e o resto se intimida. Veja-se o que ocorre na
Venezuela e mais recentemente no Equador, na Nicarágua e na Bolívia.

Apenas secundariamente o FSP foi fundado para tirar Cuba da situação em que se encontrava
após o fim da mesada soviética, sendo a última Resolução da OEA cancelando a expulsão de
1962, um dos objetivos secundários plenamente atingidos pelo FSP.

CM: Como o senhor analisa o chamado socialismo bolivariano?

De Paola: Fiquemos com o substantivo porque o adjetivo é falso: socialismo, a fachada de


sempre para esconder o fato de que é o velho comunismo. O “bolivarianismo” é uma falácia,
uma mistura de elementos incompatíveis para enganar a população e unir comunismo com
orgulho nacionalista – ou latinista, pois se pretende implantá-lo em todo o continente –
enquanto sua pseudo-doutrina é marxista-leninista e maoísta na origem, nos meios e nos
objetivos. Em 1858, em contundente artigo denominado Simón Bolívar, Karl Marx ataca o
Libertador com sua costumeira fúria e mordacidade. O desprezo de Marx por Bolívar era tão
profundo que, no verbete biográfico que escreveu para a New American Encyclopaedia, ele
analisa em detalhes cada uma de suas campanhas, nega suas aptidões militares e, pior ainda,
nega-lhe a valentia. Segundo Marx, Bolívar sempre abandonou seus homens em batalha para
fugir covardemente. Como então juntar Marx e Bolívar na mesma mixórdia ideológica de
Chávez? É só para inglês – ou americano – ver!

CM: Como o Senhor vê a verdadeira lavagem cerebral que os estudantes brasileiros têm sido
submetidos nas escolas brasileiras, em todos os níveis de ensino?

De Paola: Como parte essencial da revolução cultural, da “longa marcha para dentro dos
aparelhos de hegemonia da burguesia”: educação, mídia, sociedades científicas, Igreja
Católica e Forças Armadas, visando modificar o senso comum (as bases tradicionais do
pensamento e dos valores ocidentais). Obviamente a educação é primordial, pois abrange
desde a mais tenra idade, como já se vê ocorrer com as crianças que, submetidas à
doutrinação marxista, já se voltam contra os pais e a família.

A obra maléfica de Paulo Freire, A Pedagogia do Oprimido, começou a ser utilizada na década
de 60, antes mesmo do livro que consolidou o pensamento freiriano, principalmente nas
escolas de monges capuchinhos, jesuítas e dominicanos. Doutrinando, ao invés de ensinar, foi
destruindo lentamente e de forma sutil, toda a educação clássica e formando robôs com
“consciência social” e não mais pessoas eruditas. A juventude de hoje sequer consegue
articular frases coerentes, mas sabe muito bem quem são os “opressores e os oprimidos” não
conhece – ou desdenha – os heróis nacionais, mas cultua Che, Mao, Fidel, etc. desconhece a
rica literatura brasileira e portuguesa, mas conhece bem a reles pseudo-literatura dos Best
Sellers. A atual geração de pais e mães já foi deformada de modo que não podem ser
“opressores” dos próprios filhos e deixam a eles decisões que não têm condições de tomar. Já
estamos perto do caos total e isto se reflete nos baixíssimos índices que a educação brasileira
vem obtendo.

CM: O senhor lançou recentemente o livro “O Eixo do Mal Latino-Americano”, um estudo


minucioso da evolução do comunismo entre o pós-guerra e o Foro de São Paulo. Que
comentários pode fazer sobre mais essa obra sua?

De Paola: Deixo a palavra com o Professor Ivanaldo Santos que, recentemente, elaborou uma
resenha do livro: “Neste livro Heitor De Paola apresenta, a partir de sólida documentação,
como milhões de pessoas estão sendo submetidas a um sistema de profunda lavagem cerebral
e, por conseguinte, de total anestesia política. Esse sistema é financiado pelos governos
esquerdista-liberais, por ONGs e fundações internacionais. Além de amplas fontes de recursos
financeiros existe a cumplicidade de setores estratégicos da sociedade como, por exemplo, a
grande mídia, parte da intelectualidade universitária e setores da Igreja que se auto proclamam
de “progressistas” e “esclarecidos”. Entre esses setores ganha destaque a Teologia da
Libertação (TL). Uma teologia de inspiração marxista e ateísta que, na prática, funciona como a
quinta coluna, a qual tem por finalidade minar e, se possível, destruir a Igreja por dentro, ou
seja, a partir de seus sólidos alicerces evangélicos e filosóficos. (...) Por fim, afirma-se que o
livro de Heitor De Paola é fundamental para a compreensão da história e das atuais estratégias
planetárias de implantação de um governo único e, com isso, acabar com a liberdade. Este
livro pode ser o primeiro passo de um processo de esclarecimento e contra-revolucionário na
América Latina e no mundo. Justamente o processo que a atual sociedade precisa para
novamente poder compreender e experimentar a liberdade e a dignidade humana”.

Você também pode gostar