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RESUMO
1
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação na Universidade de Caxias
do Sul. E- mail: roselibergozza@yahoo.com.br
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Doutora em Educação e docente no Programa de Pós-Graduação na Universidade de
Caxias do Sul. E- mail: terci@terra.com.br
Introdução
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Relatório apresentado pelo Intendente Thomaz Beltrão de Queiroz, referente ao
período administrativo de 1928 e 1929. Acervo do Arquivo Histórico Municipal .
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Correspondência expedida por Alfredo Aveline ao Diretor Geral da Instrução Pública
em 16/06/1930. Livro de correspondências expedidas número: 01 p. 01. Acervo no
Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendoza.
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Cultura instituída é a cultura criada em instâncias oficiais, através de normas,
regulamentos e orientações que visam contemplar políticas públicas sobre variados
assuntos relacionados à educação, todos oriundos das instâncias burocrático-legais do
sistema educacional. Já a cultura instituinte, está relacionada à efetivação das políticas
públicas, bem como a apropriação por parte dos sujeitos envolvidos no processo
escolar.
em julho de 1943, por Decreto-Lei6, denominou-se Escola Normal Duque
de Caxias. É o objetivo inicial, no entanto, além de analisar as culturas
escolares, objetiva-se (re) construir o processo histórico dessa instituição,
e produzir através de análise interpretativa dos documentos, um novo olhar
sobre as histórias da Escola. Para viabilizar esses objetivos, será
necessário levar em consideração que :
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O Decreto-Lei nº 7.750, de 15 de maio de 1943, através do Artigo 248, preconizou que
as escolas oficiais adotassem a estrutura e funcionamento estabelecidos neste
regulamento, denominando-se escolas normais.
escola deve ser analisado para compor as culturas escolares, para ele a
escola é constituída por múltiplas culturas, e não uma cultura apenas.
Outro conceito a ser considerado, é proposto por Dominique Julia,
quando diz que a cultura escolar é o “[...] conjunto de normas que definem
conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto de práticas
que permitem a transmissão desses conhecimentos [...]”7 . Porém, para
analisar a cultura escolar tenho que: ” [...] levar em conta o corpo
profissional dos agentes que são chamados a obedecer a essas ordens e,
portanto, a utilizar dispositivos pedagógicos encarregados de facilitar sua
aplicação[...].”8
E finalmente as proposições de Escolano Benito, ao tratar dos três
âmbitos ou dimensões que a cultura da escola adquire com relação à
memória da educação. Uma das dimensões propostas por ele, a cultura
empírico-prática, construída pelos ensinantes no exercício da profissão, ou
seja no ofício de ser professor, e que se consolidam no cotidiano da
escola, contribui sobremaneira para análise das culturas produzidas e
produtoras pela Escola Complementar Duque de Caxias.
7
Dominique JULIA, A Cultura Escolar como Objeto Histórico, p.10 e 11.
8
Ibid., p.10 e11.
razão, são sempre determinadas pelos interesses de grupo que
as forjam. Daí para cada caso, o necessário relacionamento dos
discursos proferidos com a posição de quem os utiliza.
(CHARTIER, 2002, p.16 e17).
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Também conhecido como Paradigma de Início foi proposto pelo historiador italiano
Carlo Ginzburg. Segundo ele, tem raízes distantes, ligadas a evolução da espécie
humana, de tal forma, que o homem caçador teria sido o primeiro a narrar histórias,
baseado em indícios , “[...] aprendeu a reconstruir as formas e movimentos das presas
invisíveis pelas pegadas na lama, ramos quebrados, bolotas de esterco, tufo de pelos,
plumas emaranhadas”. ( GINZBURG,1989, p. 151). Este homem caçador era capaz de
ler os indícios. No entanto ler indícios são metáforas que caracterizam a capacidade de
a partir de dados irrelevantes, descrever uma realidade complicada e específica, que não
teria comprovação científica.
identificação, reconhecimento, classificação, legitimação e exclusão”.
(PESAVENTO, 2003, p. 40).
Existe a possibilidade de construir o entendimento sobre a
realidade, analisando e interpretando os indícios, para que um novo olhar,
seja possível sobre as histórias que transversalizaram a constituição das
culturas escolares na “Duque”10, e as possíveis representações que a
sociedade construiu acerca da primeira instituição pública oficial, para
formação de professores primários em Caxias do Sul.
A primeira escola normal brasileira foi criada, na Província do Rio de
Janeiro em 1835, pela Lei nº 10 e conforme Tanuri, “teve uma duração
efêmera, sendo suprimida em 1849” (2000, p. 64). Na verdade, em
praticamente todas as províncias, as escolas normais tiveram uma
trajetória conturbada.
A primeira Escola Normal da Província de São Pedro do Rio
Grande do Sul entrou em funcionamento no dia primeiro de maio de 1869,
após inúmeras tentativas de acordo com Schneider (1993, p.229) a
Assembléia Legislativa Provincial autorizava já em 1860, a Presidência da
Província a estabelecer na capital uma escola normal de instrução
primária. Após a autorização para a criação em 1860, a lei não foi
executada, a referida escola só foi criada em cinco de abril de 1869.
Entretanto, muitos foram os descaminhos até a sua implantação, como
podemos observar no relatório apresentado à Assembléia Provincial de
São Pedro do Rio Grande do Sul pelo então conselheiro Joaquim Antão
Fernandes Leão:
10
A comunidade referia-se e ainda refere-se à Escola Normal Duque de Caxias, como
sendo “a Duque”. Expressão que será utilizada no decorrer do texto.
11
Apud SCHNEIDER, 1993, p.229.
Após a instalação o primeiro diretor, um padre baiano, chamado
Joaquim Cacique de Barros, ou simplesmente padre Cacique. Quanto a
constituição e funcionamento, informa que “[...] tendo 12 alunos
matriculados, sendo oito do sexo masculino e quatro do feminino.[...] com
aulas pela manhã para os alunos, e à tarde para as alunas, ocupava duas
peças do prédio do Liceu”. (SCHNEIDER, 1993, p. 238).
Temos assim uma idéia incipiente sobre a implantação da primeira
escola normal na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, desta
forma comprovando que também nesta província “[...] as escolas normais
tiveram uma trajetória incerta e atribulada e submetidas a um processo
contínuo de criação e extinção”. (TANURI, 2000, p. 64).
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Livro de matrículas de 1930 a 1943 da Escola Complementar de Caxias. Acervo na
Escola Cristóvão de Mendoza
Primeiros alunos matriculados
em 1930 para a Escola
Complementar Duque de Caxias
Alba Marques Vianna
Alzerinda Almeida
Aracy Rath de Moraes
Adelina Censi
Anice Koff
Clélia Andreazza
Celuta Torres
Consuelo Sambaquy
Dinorah Badia
Dulcy Cardoso
Eugênia Fischer
Genny Nora
Gedy Salerno
Ida Adélia Tronchini
Ilka Fontana
Isaura Rossi
Yole Imerita Festugatto
Joanna Maria Dal Ponte
Lourdes Rosa Machado
Lélia Gonçalves Porto
Lucita Fonseca
Lygia Costamilan Rosa
Laura H. Cavalcanti
Lorencita Santina Chiaradia
Lola Amália Stahleker
Laio Prestes Soares
Lila H. Cavalcati
Marieta de Calazans
Norberto de Filippis
Naura da Silva
Nélson Schimitt
Rosalba Hyppolito
Suely Ernestina Bascu
Yvone Rossi
Marilia Mariot Niederauer
Jandyra Guerreiro
Genny Bertelli
Elisa Rossi
Jurema Soares Ramos
Celina Aguiar Gay
Cenyra Amorim
Maria Saraiva do Nascimento
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Miguel Muratore é o nome escolhido. Porém ressaltamos que neste período ele
exercia o cargo de prefeito, desde outubro de 1930 até o ano de 1935 , isto de certa
forma denota a aproximação entre o poder político e a escola.
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Relatório referente ao ano de 1931. Livro de correspondência expedida, pág. 20.
Acervo da Escola
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Livro de registro de diplomas e formaturas de 1932. Acervo da Escola.
quadro abaixo, eram naturais de outros municípios, ressalta-se que
Rosalba Hyppolito e Ligia Costamilan Rosa foram diretoras da escola
posteriormente. Rosalba Hyppolito permaneceu na direção de 1943 a
1953 e Ligia Costamilan Rosa de 1953 a 1960.
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Na ata nº 8 do livro de Atas de Conclusão de Curso de 1949 até 1956 consta “[...] de
acordo com o Decreto Estadual de nº 2.329 de 15 de março de 1947 no seu artigo nono,
combinado com ao Artigo 36 da Lei Orgânica do Ensino Normal nº 8.530 de 02 de
janeiro 1946, constatou-se os seguintes resultados: ( segue nomes e médias obtidas
das concluintes).
Física e Química Aracy Martins
Psicologia e Iniciação Jovila Mello dos Santos
Anatomia e Biologia Dr. Cesar Serafini
Quadro 3 – Disciplinas e professores do Curso de Professores Primários em 1949
Fonte: Ata de desempenho e notas. Acervo na Escola .
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Livro de Atas de Conclusão de Curso de 1949 até 1956, acervo da escola.
complementar, os seguintes locais: Orfanato, Hidráulica,
Curtume Caxiense, Gabinete de análise, Sociedade Vinícola,
Fábrica de produtos químicos Veronese, fabrica metalúrgica
Abramo Eberle,[...]em cinco de outubro tivemos a honrosa visita
do General Mauricio Cardoso, em companhia do Coronel Poggi
de Figueiredo e de seu ajudante de ordens: Filicissimo de
Azevedo Aveline. Assistiram ensaios de bailados e exercícios
calistenicos preparatórios para a Semana da Raça, e apreciaram
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uma pequena exposição de trabalhos manuais .
Conclusão
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Livro nº 1 para registro de correspondência expedida p .83 e 84. Acervo na Escola.
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Livro de “ Redações II ano, de 1931 a 1937. Redação elaborada por Consuelo
Sambaquy em 18 de abril de 1931. Acervo da Escola
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Redação elaborada por Hugo Daros em 05 de abril de 1933. Acervo da Escola
Pode-se afirmar que inventariar as culturas e as práticas escolares
dessa instituição que é a primeira de caráter oficial na cidade, na
formação de professores primários, não será tarefa difícil, diante da
quantidade de material disponível, Pois os indícios sinalizam que os
professores, alunos e direção sentiam-se sujeitos da história da escola,
apesar das interferências das políticas públicas, reconstruíam, interferiam
e mobilizavam ações que certas vezes rompiam com o instituído.
Referência: