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III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO

Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009

Hipermídia e processos editoriais de produção da reportagem: o caso da “Crônica de


uma catástrofe ambiental”1

Jorge ROCHA2
Centro Universitário UNA

Ana Elisa RIBEIRO3


CEFET-MG

Resumo
Este artigo trata das novas possibilidades da edição para ambientes digitais, em suas relações com a
edição de impressos, tendo como base a produção e a publicação de uma reportagem jornalística em
formato hipermidiático. Trata-se da matéria intitulada “Crônica de uma catástrofe ambiental”, de
autoria de dois jornalistas brasileiros, publicada na revista Fórum. Toda a concepção e realização da
reportagem têm as possibilidades das tecnologias digitais como base, o que torna seu processo de
produção também diferente de processos mais ligados ao impresso. Conclui-se que o campo da edição
passa por um momento de rearticulação entre suas possibilidades, sendo possível observar mudanças
importantes na forma de tratar o material a ser editado, assim como nos modos de recepção da matéria
“pronta”.
.

Palavras-chave: Jornalismo impresso; Jornalismo digital; Produção hipermídia; Edição


jornalística.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Muito embora o campo da produção editorial pareça bem-delimitado em seus temas e
interesses, os objetos de estudo e pesquisa a ele pertinentes estão sempre se reconfigurando,
dado que respondem a mudanças sociais, econômicas e tecnológicas, para dizer o mínimo.
Se há algumas décadas só era possível tratar de livros e objetos impressos, atualmente,
pode-se tratar da edição em diversos tipos de ambientes digitais, para bem além do e-book,
que seria a primeira aproximação entre livros e alguma produção eletrônica “metafórica”. Os
processos de confecção desses produtos, no entanto, não raro em muito se parece com
processos editoriais conhecidos e tradicionais. Sobre a produção de livros digitais, Giassetti e
Corci, em Ribeiro (2009), explicam que, para publicar MojoBooks, utilizam “os mesmos
mecanismos que norteiam uma publicação em papel”, embora tudo tenha sido pensado para o

1
Trabalho apresentado ao Grupo de Discussão Edição e Novas Tecnologias, no III Encontro Nacional sobre
Hipertexto, Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009.
2
Mestre em Cognição e Linguagem pela Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF). Coordenador da pós-
graduação Produção em Mídias Digitais do IEC – PUC Minas. Professor do Centros Universitário UNA.
jorgerochaneto@gmail.com
3
Doutora em Linguística Aplicada pela Universidade Federal de Minas Gerais. Professora do mestrado em Estudos de
Linguagens do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG). Ex-coordenadora dos cursos de
especialização em Revisão de Textos (PUC-Minas) e Projetos Editoriais Impressos e Multimídia (UNA).
anadigital@gmail.com

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ambiente digital. Em relação aos jornais, Moherdaui (2005) mostra o aparato que envolve a
produção de dois periódicos digitais, A Tarde e Último Segundo, admitindo que, entre muitas
outras coisas, “a estrutura hierárquica é a mesma da mídia tradicional - com redatores, chefe de
reportagem, repórteres, tradutores, editores, redator-chefe e diretor de jornalismo, além de
colaboradores, colunistas, freelancers” (p. 17). Em alguns casos, há a deliberada intenção de
fazer com que os sistemas se pareçam com objetos impressos, como é o caso de jornais e
revistas que optam pela programação de flips (ver RIBEIRO et al., 2009, no prelo), ou seja,
simulações de páginas impressas que se podem “folhear”.
O que se depreende disso é que não é fácil produzir objetos de leitura em meio digital
sem algum nível de ancoragem nas técnicas e nos modos impressos de produção. Neste
trabalho, apresentaremos a produção editorial de uma reportagem hipermidiática que, por suas
características de produção e disponibilização (outro apelido para “publicação”), nos parece
bastante diferenciada dos modos impressos de produção, muito embora ainda traga aspectos
ligados a eles. Iniciaremos nosso trajeto pelo produto e, então, abordaremos o processo.
Infelizmente, dadas as limitações do propósito comunicativo deste trabalho, não poderemos
nos aprofundar. É, no entanto, importante que a discussão que porventura se levante possa
existir para além destas páginas.

O PRODUTO: REPORTAGEM HIPERMÍDIA


Em março de 2009, a Revista Fórum colocava no ar, em seção especial de seu site4,
“Crônica de uma catástrofe ambiental”, a primeira reportagem planejada para e executada em
hipermídia no Brasil, de autoria dos jornalistas André Deak e Paulo Fehlauer5. É certo que
outras experiências com reportagens em ambiente digital foram levadas a cabo no país, mas
consideramos esta um marco por ter sido desenvolvida – do começo ao fim – tendo em vista
as possibilidades que a web pode oferecer.
Antes de entrarmos na análise da produção dessa matéria, cabe um esclarecimento:
embora os autores da reportagem – e demais textos, jornalísticos ou não, que noticiaram essa
realização – considerem tal produção como sendo de caráter multimidiático, optamos por
considerá-la como hipermidiática, tendo em vista as possibilidades de interação e
recombinação oferecidas em áreas distintas do site, conforme veremos em detalhes mais
adiante. Para nós, juntamente com Silva Júnior (2001), hipermídia é

4
Disponível em http://www.revistaforum.com.br/casoservatis/site
5
Os autores escreveram um making of da reportagem em seus respectivos blogs. Ver
http://www.andredeak.com.br/2009/03/21/making-of-cronica-de-uma-catastrofe-ambiental e
http://narua.org/new/2009/03/27/cronica-de-uma-catastrofe-ambiental-making-of-2

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(...) a modalidade surgida da convergência entre as características do hipertexto e da


multimídia. Porém com navegação aberta e capacidade, graças à digitalização, de ser
disseminada em suportes e plataformas os mais distintos. Criando o que denominamos de
estado de disseminação e disponibilização hipermidiática. (SILVA JUNIOR, 2001, p. 132)

A reportagem de que tratamos é narrada com a utilização de textos escritos, áudio,


vídeo e fotos, em ambiente digital, sendo que esse material pode ser recombinado e mesmo
editado pelo leitor. Sustentados por essa definição de hipermídia, passamos agora a explicitar
a produção e a edição deste objeto.

O PRODUTO: REPORTAGEM HIPERMÍDIA


Conforme André Deak explica em seu blog, para obter material para a edição de
“Crônica...”, ele e Paulo Fehlauer ficaram uma semana no estado do Rio de Janeiro (Barra
Mansa, Resende, Volta Redonda, Niterói e na capital), realizando entrevistas – em áudio e
vídeo – e colhendo informações. A equipe jornalística responsável pela apuração, pela
preparação de material e pela produção – até a confecção e a publicação do site – era
composta pelos dois jornalistas, munidos de gravador e câmera digitais, além de uma câmera
de vídeo mini-DV e dois notebooks com internet 3G. Segundo Kress e Van Leuween (2001),
esse “embaçamento” das fronteiras entre as atividades especializadas de diversos profissionais
é uma das características da “agregação” sofrida por certas profissões, em decorrência do
impacto trazido pelas novas tecnologias. Munidos desse equipamento, Deak e Fehlauer
assumiram as figuras de repórteres e editores, em uma “fusão” de papéis em relação à
produção da reportagem, no que Kunczik (2002) chama de “compunicação”:

(...) a disponibilidade de sistemas completos de processamento de dados, dá lugar à criação de


“sistemas de sala de redação”. Elimina-se a separação entre o trabalho de edição e o de
produção, isto é, a redação e a guarda dos manuscritos. A sala de redação dirige todo o
processo de produção, especialmente quando também se executa todo o arranjo de forma
eletrônica, a partir das mesas da sala de redação. (KUNCZIK, 2002, p. 208)

Ao assumirem os papéis de produtores multimídia, os jornalistas alteraram suas


funções primordiais de “coletores de informação”; munidos de equipamento digital e com
uma definição editorial voltada para o aproveitamento de recursos em hipermídia, ambos
amalgamaram funções que se encontram separadas nos meios de comunicação de massa.
No entanto, cabe ressaltar que os recursos ligados às novas mídias são definidos como
um conjunto tecnológico que permite “entrada, elaboração, transmissão e armazenagem de novas

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formas de conteúdos da comunicação” (KUNCZIK, 2002, p. 208), embora a expressão “novas mídias”
possa ter outra conotação neste trabalho. Desse modo, adotamos a definição de Kunczik (2002, p. 208)
segundo a qual os novos meios de comunicação configuram-se como “extensões técnicas e
jornalísticas dos meios e formas de comunicação comprovados”.
A despeito de um planejamento que apagava, em grande medida, a concepção da
produção editorial em “cadeia”, transformando-a em uma rede de ações (MARTINS, 2005),
após a coleta do material para a reportagem em hipermídia, os jornalistas tomaram a decisão
de formatar a página inicial do site da “Crônica...” seguindo parâmetros de uma publicação
impressa (FIG. 1). Segundo eles,

Fizemos algumas conversas sobre como seria o layout do site da reportagem, e decidimos que
seria mais parecido com a paginação de uma revista (o abre em página dupla, e a reportagem
apresentada depois). O abre cumpre a função de introdução, e poderia ser em flash, se
tivéssemos tempo e recursos pra isso. (DEAK, 2009).

FIG. 1. Página inicial da reportagem (à semelhança da página dupla).

Apesar da inspiração em um layout de publicação impressa, essa página adapta-se à estrutura


do site e à tela de computador, sem causar estranhamento ao leitor de telas. Os autores da reportagem
optaram também por não programar as páginas em flip. Caso o recurso em Flash tivesse sido utilizado,
provavelmente a emulação de uma página impressa – sendo virada/folheada – seria mais vívida. De
outro lado, talvez o projeto tivesse mais proximidade com a mídia tradicional e nos parecesse menos
“inovador”.
A página seguinte se abre quando se clica o botão “Entrar”, na página inicial, levando o leitor
a uma “área índice”, na qual se apresentam as divisões da reportagem (FIG. 2 e 3). Cada página
subsequente possui links que levam para arquivos de áudio, vídeo ou fotos, juntamente com o texto

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escrito referente àquela subdivisão. Há ainda uma galeria de fotos (FIG. 3), um mapa que expõe o
percurso do veneno que poluíra o Rio Paraíba do Sul (a tal “catástrofe ambienal”), um vídeo (que leva
para a área onde toda a produção audiovisual foi disponibilizada) e caixa de comentários aberta aos
leitores (FIG. 4).

FIGURA 2. Página 2 da reportagem.

FIGURA 3. Página com links para outros segmentos da reportagem.

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FIGURA 4. Página com mapa da “catástrofe”.

Tal configuração foi adotada depois de discussões sobre se a divisão do contéudo deveria ser
feita por mídia ou por assunto. A segunda opção foi a escolhida pelos jornalistas, uma vez que
consideraram que “o formato é secundário em relação à história” (DEAK, 2009). Desse modo,
as únicas divisões acabaram sendo os links “A História” e “Os Envolvidos”, colocados no
canto superior esquerdo da “área índice” (FIG. 2).
Deak (2009), relata ainda, em seu blog, que os boxes da revista impressa foram
transformados em posts no site, fazendo com que toda a reportagem acabasse assumindo essa
forma. Outro ponto a ressaltar nessa organização editorial em hipermídia é que “cada
personagem ganhou uma página específica, com fotos, transcrição da entrevista, áudio e vídeo na
íntegra” (DEAK, 2009).
A tomada de decisões na construção da matéria foi tão necessária quanto é em um
veículo impresso, no entanto, apropriou-se de maneira vantajosa de pelo menos três elementos
permitidos e possíveis em ambientes digitais: o espaço “infinito” (muito embora os jornalistas
não tenham criado links “para fora” do texto), a convergência multimodal (áudio, vídeo, texto
escrito, etc.) e a interação ágil (ainda que assíncrona) com o leitor.

PENSANDO A INTERAÇÃO E FAZENDO REPORTAGEM HIPERMÍDIA


Passamos então a tratar e a pormenorizar os aspectos que fazem de “Crônica...” uma
produção jornalística em hipermídia, em suas relações com processos editoriais tradicionais.
Já conceituamos hipermídia como um ambiente digital de caráter aberto, no qual mídias

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podem ser recombinadas. Nesse mesmo ambiente, a possibilidade de interação da audiência é


estimulada.
Em relação ao primeiro ponto, cabe destacar que o conteúdo dessa reportagem foi
tratado e publicado em ferramentas disponibilizadas gratuitamente na web, como o
Wordpress6 (template e gerenciamento de publicação do site anexado à versão on-line da
revista Fórum), Blip.tv7 (arquivos de vídeo) e Umapper8 (mapa), para citar apenas alguns. O
segundo ponto trata da interação, estimulada nas caixas de comentários ou na possibilidade de
outros produtos serem derivados desta reportagem, uma vez que todo o material produzido foi
disponibilizado para download na seção “Open Source”.
Quando mencionamos a “interação”, referimo-nos aos processos sociais cujos padrões
tradicionais são alterados com a inclusão de uma Nova Tecnologia de Informação e
Comunicação (NTIC) no jogo comunicacional. Com esse cenário midiático, podemos
considerar que

(...) o desenvolvimento de novos meios de comunicação não consiste simplesmente na


instituição de novas redes de transmissão de informação entre indivíduos cujas relações sociais
básicas permanecem intactas.Mais do que isso, o desenvolvimento dos meios de comunicação
cria novas formas de ação e interação e novos tipos de relacionamentos sociais – formas que
são bastante diferentes das que tinham prevalecido durante a maior parte da história humana.
(THOMPSON, 1998, p. 77)

Para melhor compreender as transformações relativas a esses relacionamentos sociais


entre “emissores” e “receptores” – embora acreditemos que esses termos pouco se aplicam à
relação entre leitores, textos e produtores – e como elas operam na reportagem hipermidiática
aqui focalizada, utilizaremos as divisões estabelecidas por Thompson (1998). O autor
classifica a interação em três tipos: interação face a face, quase-interação mediada e
interação mediada. Segundo Thompson (1998, p. 78), na interação face a face, “os receptores
podem responder (pelo menos em princípio) aos produtores, e estes são também receptores de
mensagens que lhe são endereçadas pelos receptores de seus comentários”. No entanto, essa
interação é presencial. A quase-interação mediada refere-se “às relações sociais estabelecidas
pelos meios de comunicação de massa (livros, jornais, rádio, televisão, etc.)” (THOMPSON,
1998, p. 79). Ele considera ainda que essa interação é monológica, isto é, de sentido único. Já
a interação mediada compreende os aspectos dialógicos da interação face a face, sem a
contextualização presencial. Para o autor, as interações mediadas “implicam o uso de um

6
http://www.wordpress.com
7
http://blip.tv
8
http://umapper.com

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meio técnico (papel, fios elétricos, ondas eletromagnéticas , etc.) que possibilita a transmissão
de informação e conteúdo simbólico para indivíduos situados remotamente no espaço, no
tempo, ou em ambos” (p. 78). Desse modo, atentaremos para o conceito de interação mediada
por melhor contemplar as especificidades comunicacionais de ambientes digitais, sem deixar
de lado funções dialógicas.
Essa “ação à distância”, seja entre a audiência e os produtores de conteúdo ou entre a
audiência entre si, conforme pontua Thompson (1998, p. 92), possui características
responsivas e orientadas a “ações ou pessoas que se situam em contextos espaciais (e talvez
também temporais) remotos”. Se transpusermos essa conceituação para a elaboração e o
desenvolvimento do produto digital que é objeto deste estudo, podemos considerar também
que André Deak e Paulo Fehlauer, em seu planejamento editorial, trabalharam com a noção
de hipermídia como elemento que contempla não só a agregação de várias mídias para um
ambiente digital, como também potencializaram a participação da audiência em vários planos.

Embora os receptores não estejam fisicamente presentes na esfera de produção e não interfiram
diretamente no curso e no conteúdo da representação, os produtores orientam o próprio
comportamento para os receptores. A orientação que o receptor exerce sobre o comportamento
do produtor é parte constitutiva da ação em si mesma, embora isto possa ocorrer de várias
maneiras. (THOMPSON, 1998, p. 92)

Assim, é cabível considerar que disponibilizar no site o material apresentado na revista


impressa – com acréscimo de outros materiais hipermidiáticos – no formato de posts,
permitindo ao leitor escolher seus percursos de leitura, é uma ação responsiva característica
de um planejamento editorial em ambiente digital. Mas tal ação, por si só, não garante a
interação mediada, elemento fundamental em uma concepção de produção hipermidiática.
Esta deve ser complementada pelo que Thompson (1998, p. 100) chama de mediação
estendida: um processo que permite que “as mensagens da mídia sejam recebidas por outras
organizações e incorporadas em novas mensagens”. Tal aspecto pode ser percebido nas áreas
destinadas aos comentários da audiência, seja na “área índice” seja no fim de cada bloco de
texto, além da seção destinada a download de todo o material produzido, que permite aos
leitores comparar o material bruto à edição final ou criar outros produtos a partir dos arquivos
disponibilizados – prática comum na dinâmica do Jornalismo Colaborativo.
Consideramos, então, que tal ação responsiva orientou o planejamento, a execução e a
publicação de “Crônica de uma catástrofe ambiental”, ampliando o conceito de elaboração
discursiva. Para Thompson (1998, p. 100), tal elaboração orienta o modo como as mensagens
midiáticas são “elaboradas, comentadas, clarificadas, criticadas e elogiadas pelos receptores

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que tornam as mensagens recebidas como matéria para alimentar a discussão ou o debate
entre eles e com os outros”.

OS DOIS PROCESSOS E A REPORTAGEM HIPERMÍDIA


Se, de um lado, o processo de produção editorial das reportagens de veículos
impressos tradicionais se realiza com equipes profissionais especializadas, em geral divididas
por campos de ação ou por “tarefas” e responsabilidades, tornando a edição uma “cadeia”, de
outro lado, são claras as mudanças nesse modo de produção quando se observa o making of de
uma reportagem como “Crônica...”. Do ponto de vista da sequência de tarefas e profissionais
requeridos, tem-se uma “equipe” reduzida a dois jornalistas capazes de todo o processo de
produção, desde a apuração até a publicação, passando pela produção de fotos e pela captura
de softwares que gerarão elementos da página digital.
De outro ângulo, as mudanças também não são poucas: para se configurar um
hipertexto e, mais, uma reportagem hipermídia, é necessário dar a máxima abertura ao leitor,
incluindo-se aí a possibilidade de entregar a ele o material “bruto” da matéria para que,
eventualmente, o leitor faça sua proposta de edição da matéria.
Editar, em tempos de convergência e de hipermídia, pode ser uma “aventura”
jornalística menos definida em seus contornos, mais exigente em relação às competências
técnicas do profissional e um tanto mais arriscada quando se pensa que nenhum produto será
definitivo, dado que o leitor está logo ali, ao alcance do mouse, inclusive diante da
possibilidade da edição colaborativa.
A breve apresentação de “Crônica de uma catástrofe ambiental” neste artigo talvez
possa, esperamos, promover a apreciação de objetos de leitura cujas propostas tentam inovar,
em relação à edição impressa ou aos modos tradicionais de produção editorial, mas sem
perder o fio que liga todos esses processos, velhos e novos, ao campo da edição.

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REFERÊNCIAS

DEAK, André. Making of: crônica de uma catástrofe ambiental. 21.03.2009. Disponível em
<http://www.andredeak.com.br/2009/03/21/making-of-cronica-de-uma-catastrofe-ambiental/>.
Acessado em 1º de junho de 2009.

FEHLAUER, Paulo. Crônica de uma catástrofe ambiental: making of 2 twit it. 27.03.2009. Disponível
em <http://narua.org/new/2009/03/27/cronica-de-uma-catastrofe-ambiental-making-of-2/>. Acessado
em 1º de junho de 2009.

KRESS, Gunther; LEUWEEN, Theo Van. Multimodal discourse. The modes and media of
contemporary communication. London: Hodder Arnold, 2001.

KUNCZIK, Michael. Conceitos de jornalismo. São Paulo: Edusp, 2002.

MARTINS, Jorge Manuel. Profissões do livro. Editores e gráficos, críticos e livreiros. Lisboa: Verbo,
2005.

MOHERDAUI, Luciana. O usuário de notícias no jornalismo digital: Um estudo sobre a função do


sujeito no Último Segundo e no A Tarde online. Faculdade de Comunicação. Programa de pós-
graduação em Comunicação e Cultura contemporâneas. (Dissertação de mestrado). Salvador,
Universidade Federal da Bahia, 2005.

RIBEIRO, Ana Elisa. Livro eletrônico e música impressa para download. Entrevista com Ricardo
Giassetti e Danilo Corci. Letras, ano IV, n. 30, Belo Horizonte, p. 4-5, março de 2009.

RIBEIRO, Ana Elisa et al. Folheando de mentira: leituras de jornais impressos na web. (2009) No
prelo.

SILVA JÚNIOR, José Afonso da. Do hipertexto ao algo mais: usos e abusos do conceitos de
hipermídia pelo jornalismo on-line. In: LEMOS, André; PALÁCIOS, Marcos. Janelas do
ciberespaço: comunicação e cultura. Porto Alegre: Sulina, 2001.

THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. Petrópolis:


Vozes, 2008.

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