Ocf 19

1 O Captião Fracasso | Capítulo 19
WEBTV Destino apresenta
O Capitão Fracasso
Novela de
Evana Ribeiro
Livremente baseada em
Le Capitaine Fracasse, The Fortunes and Misfortunes of the Famous Moll Flanders
e Arlequim, il servitore di due patroni
Capítulo 18
CENA 01. SOLAR WHITFORD. QUARTO DE HÓSPEDES. INT. NOITE
SIMONE ESTÁ QUASE DORMINDO, ENQUANTO SARAH E LEONARDO

CONTINUAM ACORDADOS E INQUIETOS; APARENTEMENTE MUITO
INSATISFEITOS.
SIMONE - [sonolenta] Fiquem quietos!

SARAH - Esquece que estamos aqui e pronto.
SIMONE VIRA DE LADO E VOLTA A FECHAR OS OLHOS. OUVE-SE O SOM DOS

RISOS DE ISABELLE E ARTHUR E LEONARDO SENTA NA CAMA, CHATEADO.
LEONARDO - E eles se divertindo.
SARAH LEVANTA DE SUA CAMA, INDO ATÉ ELE.
SARAH - [baixinho] Ela vai embora amanhã e essa festinha vai

acabar.
LEONARDO - E o resto do plano?
SARAH - Sim, a sua parte. Pode ficar tranquilo que eu vou
conseguir dinheiro pra você ir e resgatar a princesinha. Até lá, todo mundo,
inclusive Arthur, vai estar curvado aos meus pés!
CORTA PARA
CENA 02. SOLAR. QUARTO DE ARTHUR. INT. NOITE
CONTINUAÇÃO DA CENA 21 DO CAPÍTULO ANTERIOR. ARTHUR ABRAÇA

ISABELLE, EMOCIONADO.
ARTHUR - Agora tudo faz sentido, o meu esquecimento, o delírio

da febre, tudo. Você não imagina o quanto eu sonhei com aquele dia; o
quanto esperei pra te ver de novo, saber o seu nome... E agora você tá aqui,
bem na minha frente!
ELA O ABRAÇA MAIS FORTE E COMEÇA A CHORAR EM SILÊNCIO. ELE SE

SOLTA DO ABRAÇO, ENXUGA AS LÁGRIMAS DELA E COMEÇA A CHORAR
TAMBÉM. SONOPLASTIA: A moça do sonho – Edu Lobo.
ARTHUR - Eu sabia que isso ia acontecer um dia. Mesmo sem

acreditar em mais nada nesse mundo, em você eu nunca deixei de pensar
por um dia sequer. [T] Eu te amo desde antes de saber que amava.
ISABELLE E ARTHUR SE BEIJAM LONGAMENTE; DEPOIS VÃO SE DEITANDO

NA CAMA.
CORTA PARA
CENA 03. CASA DO DR. LOMBARDI. QUARTO DO DR. INT. NOITE
O QUARTO ESTÁ COM AS LUZES APAGADAS E A JANELA ABERTA; A CORTINA

BALANÇA COM O VENTO E O MÉDICO DORME PROFUNDAMENTE, MAS ESTÁ
UM POUCO INQUIETO, COMO QUEM ESTÁ TENDO UM SONHO. BALBUCIA
COISAS INCOMPREENSÍVEIS. INSTANTES. OUVE-SE O BARULHO DE UM TIRO
DE PISTOLA E DR. LOMBARDI DÁ UM GRITO DE TERROR, ABRE OS OLHOS
REPENTINAMENTE E LEVA UMA MÃO AO LADO ESQUERDO DO PEITO.
DR. LOMBARDI - [como se agonizasse]Ai, não! Desgraçado, vai levar o

meu sangue nas... [percebe que não está ferido] Que sangue?
ELE LEVANTA, RESPIRANDO OFEGANTE DEVIDO AO SUSTO, E SAI DO

QUARTO.
[1º intervalo comercial]
CENA 03. CASA DO DR. LOMBARDI. INT. NOITE
NÃO HÁ NINGUÉM NO CORREDOR. DR. LOMBARDI SAI, ABRE A PORTA DO

QUARTO EM FRENTE AO DELE [QUARTO DE SÍLVIO] E LOGO FECHA.
CONTINUA ANDANDO PELOS CÔMODOS DA CASA E OLHANDO EM TORNO,
PROCURANDO QUALQUER COISA. CHEGA AO TERRAÇO E VÊ SÍLVIO DE
PISTOLA EM PUNHO, AINDA FUMAÇANDO. VÊ-SE O BURACO DA BALA NO
CHÃO.
DR. LOMBARDI - O que deu em você a essa hora da noite?

SÍLVIO - Nada pai; eu só estava treinando a pontaria.
DR. LOMBARDI - No meio da madrugada e no assoalho? Meu filho,
você andou fumando ópio? Quase me matou do coração.
SÍLVIO - Desculpe.
DR. LOMBARDI - E estava treinando a pontaria para?
SÍLVIO - Seu Pantaleão me desafiou para um duelo.
DR. LOMBARDI - [rindo] Vai treinar pra que então, se ele não enxerga
um palmo adiante do nariz?
SÍLVIO - Pra acertar o noivo dela.
DR. LOMBARDI - Aí complicou.
SÍLVIO - Eu não queria fazer isso porque sei que Clarice vai se
magoar, mas agora só um de nós vai sair... Inteiro.
DR. LOMBARDI - Vivo.
SÍLVIO - Não vou matar ninguém.
DR. LOMBARDI - Mas ele pode matar você e eu não tenho outro filho
pra me dar netos e uma casa maior.
SÍLVIO - Pai! É só pra isso que eu sirvo?
DR. LOMBARDI - Servia também pra gastar meu dinheiro em Londres
com mulheres, bebidas e jogos. Tinha que ser meu filho mesmo!
SÍLVIO - Acho que vou dormir, foi emoção demais por
hoje. Boa noite.
DR. LOMBARDI - Boa noite.
SÍLVIO SAI, LEVANDO A PISTOLA CONSIGO. DR. LOMBARDI O SEGUE

INSTANTES DEPOIS.
CORTA PARA
CENA 04. SOLAR. QUARTO DE ARTHUR. INT. NOITE
CONTINUAÇÃO DA CENA 02. ARTHUR E ISABELLE ESTÃO ABRAÇADOS SOB O

LENÇOL E SE BEIJAM. ELA FICA O OLHANDO, COM UM SORRISO; FAZ UM
CARINHO NOS CABELOS DELE.
ISABELLE - Acho que eu nunca me senti tão feliz em toda a minha

vida.
ARTHUR - Vamos ficar assim sempre, aqui ou onde você quiser.
ISABELLE - Onde eu quiser mesmo?
ARTHUR - Estou nos seus braços, faça o que quiser comigo!
ELA O BEIJA.
ISABELLE - Então me espera, bem aqui. A nossa vida vai ser

muito, mas muito feliz.
ARTHUR - Ela já é.
O CASAL COMEÇA A RIR E SE BEIJAM. ROLAM NA CAMA.

CORTA PARA
CENA 05. MILLSHIRE/TURIM. EXT. NOITE/DIA
TAKES DA CIDADE INGLESA À NOITE E DO AMANHECER NA CIDADE

ITALIANA. SONOPLASTIA: A moça do sonho – Edu Lobo.
CORTA PARA
CENA 06. CASA DE FERNANDO. QUARTO. INT. DIA
FERNANDO SENTA NA CAMA, JUNTO DE DANIELA QUE AINDA DORME. A

OBSERVA, COM TERNURA. INSTANTES. ELA ACORDA E ESTRANHA VÊ-LO ALI.
DANIELA - Não vai trabalhar?

FERNANDO - Hoje não. Estou de férias.
DANIELA COMEÇA A RIR.
DANIELA - É piada?
FERNANDO - Não, minha querida. Nós vamos viajar!
ELE PEGA OS BILHETES SOBRE O CRIADO-MUDO E MOSTRA A ELA, QUE PEGA

UM DOS BILHETES E OS LÊ.
DANIELA - América?
FERNANDO - Sim, senhora.
DANIELA - Por que você comprou isso?
FERNANDO - Porque imaginei que isso fosse fazer uma pessoa
sorrir.
ELA SORRI.
FERNANDO - E quando eu quero ver o sorriso de alguém, quer dizer

que eu comecei a gostar demais dessa pessoa.
DANIELA O BEIJA NO ROSTO.
DANIELA - Quando vamos?

FERNANDO - Arrume as suas malas que essa tarde estamos
embarcando.
DANIELA SORRI, OLHANDO ALTERNADAMENTE PARA FERNANDO E O

BILHETE QUE ELE TEM NAS MÃOS.
CORTA PARA
CENA 07. MILLSHIRE. ESTRADA. INT. DIA
TODO O GRUPO DE TEATRO, MAIS ARTHUR, ESTÁ VOLTANDO PARA O SOLAR.

SEGUEM DIVIDIDOS DA SEGUINTE FORMA: ARTHUR E MATAMOUROS NA
FRENTE, ALICE E SIMONE LOGO ATRÁS DELES; LEONARDO E SARAH POR
ÚLTIMO E MAIS AFASTADOS DO RESTO DO PESSOAL. TODOS CONVERSANDO
EM TOM BAIXO.
MATAMOUROS - Você parece mais animado.

ARTHUR - Pronto para trabalhar com vocês.
MATAMOUROS - Como? Que milagre foi esse?
ARTHUR - O milagre foi eu entender que o milagre tinha
acontecido! Isabelle e eu conversamos muito ontem à noite e fizemos um
monte de planos para depois que ela voltar. Agora fiquei animado de
verdade.
A CONVERSA DELES CONTINUA, FORA DE ÁUDIO. O FOCO MUDA PARA

SIMONE E ALICE.
SIMONE - Fiquei boba com a estrela que ela tem na testa. Achar
a família e reencontrar o homem da vida dela de uma vez só... É muita
bênção!
ALICE - E agora você vai ficar tentando se lembrar de todos os
mocinhos que encontrou quando era criança e torcer pra trombar com um,
certo?
SIMONE - Não seria má ideia. [T] Mas o meu coração já está
ocupado.
ALICE - Quem é o moço?
SIMONE - Levi Bronkhart, joalheiro. E é tudo o que sei dele.
ALICE - O homem que nos contratou?
SIMONE CONFIRMA COM UM SORRISO E ALICE RESPONDE COM UM OLHAR

PREOCUPADO.
SIMONE - E por que essa cara?

ALICE - Tenho a ligeira impressão de que isso não vai dar
muito certo.
SIMONE - Só porque ele é rico e eu sou isso que a gente já sabe?
ALICE - Não, meu amor. Você é linda e muito especial, mas ele
é casado, não?
SIMONE - Isso eu já não sei...
AGORA O FOCO DA CENA PASSA A SER LEONARDO E SARAH. OS DOIS AINDA

GUARDANDO DISTÂNCIA DO RESTO DO PESSOAL.
LEONARDO - Quando eu vou atrás dela?

SARAH - Deixa passar alguns dias pra ela chegar lá e se perder,
entrar em pânico, cair em desgraça e você chega lá, lindo e heroico! Duvido
que ela não te ame depois dessa.
LEONARDO - Sim, e o Homem Bancarrota?
SARAH - Vou fazer uma outra carta, assinada por ela e
acabando com as ilusões dele. Mas vou acabar tão bem acabado que num
piscar de olhos quem vai estar na cama dele sou eu.
LEONARDO PARECE FICAR AINDA MAIS IRRITADO.
SARAH - E agora?
LEONARDO - E agora que você me fez lembrar que Isabelle se
entregou a ele. Me dá um ódio, um ódio tão grande de saber que eu não fui
o primeiro! Eu não consegui dormir direito imaginando o que acontecia
naquele quarto.
SARAH - Calma, homem, foi só uma noite!
LEONARDO - A primeira noite dela! Eu ainda não engoli a história
do beijo, e essa menos ainda.
A CONVERSA CONTINUA, FORA DE ÁUDIO.
CORTA PARA
CENA 08. MILLSHIRE. EXT. DIA
TAKES DA RUA ONDE SE SITUA O ALBERGUE. SONOPLASTIA: Ascendente em

câncer – Filipe Catto.
CORTA PARA
CENA 09. ALBERGUE. QUARTO DE BEATRIZ. INT. DIA

BEATRIZ ESTÁ SENTADA À ESCRIVANINHA; TERMINA DE ESCREVER UMA

CARTA. PANTALEÃO ENTRA SEM SE ANUNCIAR.
PANTALEÃO - Bom dia, meu genro!

BEATRIZ - Ah... Bom dia.
PANTALEÃO - Que bom que não o acordei; vim participá-lo de um
compromisso.
BEATRIZ - Qual?
PANTALEÃO - Você desafiou Sílvio Lombardi para um duelo.
BEATRIZ - Eu o quê?
PANTALEÃO - Na verdade, tomei a liberdade de desafiá-lo em seu
nome.
BEATRIZ - Ai, meu Pai!
PANTALEÃO - Mas foi por uma boa causa. Tudo para lavar a honra
de Clarice.
BEATRIZ - Não havia um meio mais água e sabão de lavar a
honra dela? Algo que não arriscasse a minha pele?
PANTALEÃO- Vai se fazer de frouxo agora, homem?
BEATRIZ - Não, claro que não... Mas você não devia fazer isso
sem me consultar.
PANTALEÃO - Claro que não vou fazer isso de novo. Você vai
defenestrar aquele sujeitinho em um tempo só!
BEATRIZ - É... Vamos tentar.
CORTA PARA
CENA 10. ALBERGUE. ESCRITÓRIO. INT. DIA
ESMERALDA ESTÁ SOZINHA, LIMPANDO ALGUMAS ARMAS. NÃO VÊ BEATRIZ

ENTRAR E SEM QUERER, DISPARA CONTRA A PAREDE. BEATRIZ DÁ UM GRITO
DE PÂNICO E ESMERALDA GRITA LOGO DEPOIS. OLHA PARA TRÁS E FICA
BOQUIABERTA AO VER QUE É BEATRIZ QUEM ESTÁ LÁ.
ESMERALDA - Juro que pensei que era outra pessoa.
BEATRIZ, SEM SABER O QUE DIZER, SAI DO ESCRITÓRIO. ESMERALDA

COLOCA A ARMA NO LUGAR E SAI CORRENDO LOGO DEPOIS.
CENA 11. ALBERGUE. CORREDOR. INT. DIA
ESMERALDA ESTÁ QUASE CHEGANDO À ESCADA QUANDO ESBARRA EM

PASCOAL, QUE ACABA DE SUBIR.
PASCOAL - Que é isso, moça? Vai pegar o trem?

ESMERALDA - Seu patrão. Já o viu hoje?
PASCOAL - Não, por quê?
ESMERALDA - [baixinho] Fica de olho nele. [T] Eu dei um tiro sem
querer e ele gritou de um jeito que não é lá muito normal.
PASCOAL - Sim, e?
ESMERALDA - E parecia uma mulher gritando! [T] Me diz, ele é
normal?
PASCOAL - Aparentemente, sim.
ESMERALDA - Entra em pânico com tiros?
PASCOAL - Nunca vi seu Guilherme pegar em armas pra nada.
ESMERALDA - Nem para caçar?
PASCOAL - Não caçamos.
ESMERALDA - Hmm... Enfim, Pascoal, não conte a ninguém, mas
estou muito desconfiada.
PASCOAL - Desconfiada de que, criatura? Que seu Guilherme é
uma mulher disfarçada?
ESMERALDA - Justo. E na melhor das hipóteses... Que ele não seja lá
muito homem pra casar com Clarice; se é que você me entende. [T] E se for
isso mesmo que eu tô pensando, Sílvio está feito!
PASCOAL - Você está doida, minha filha. Lá em Turim seu
Guilherme era cheio de amantes!
ESMERALDA - Doida, eu?
PASCOAL - Um pouco.
ESMERALDA SAI, IRRITADA. PASCOAL VAI ANDANDO DEVAGAR RUMO AO

QUARTO.
PASCOAL - Ô, menina nervosinha! [T] Mas ela precisa tomar

mais cuidado mesmo.
PASCOAL ENTRA EM SEU QUARTO.
CORTA PARA
CENA 12. SOLAR BRONKHART. SALA. INT. DIA
CHIQUITA ESTÁ SOZINHA, LENDO UM LIVRO QUALQUER E APARENTEMENTE

NÃO MUITO ANIMADA. UM CRIADO ENTRA, VINDO DA ANTESALA.
CRIADO - Dona Chiquita, tem visita para a senhorita.

CHIQUITA - Hã?
CRIADO - Visita...
CHIQUITA - Sim, mas esse negócio de 'dona' foi estranho. [sorri]
Quem é?
CRIADO - Seu tio, Julius. Mando entrar?
CHIQUITA - Pode mandar, obrigada.
O CRIADO SE RETIRA E LOGO VOLTA COM AGUSTIN, QUE SENTA AO LADO

DELA.
AGUSTIN - Como vai, mocinha?

CHIQUITA - Bem, e você?
AGUSTIN - Vou indo. [T] Escute, vim saber como vão suas
relações com a família nova.
CHIQUITA - Seu Levi gosta de mim, a mulher dele já não gosta
muito...
AGUSTIN - Sua mãezinha é o de menos, o importante é que ele te
ame e faça qualquer coisa por você.
CHIQUITA - Que tipo de coisa?
AGUSTIN - Me receber aqui para viver com você. Que acha?
CORTA PARA
CENA 13. SOLAR BRONKHART. ESCRITÓRIO. INT. TARDE
AGORA CHIQUITA CONVERSA COM LEVI. ELE ESTÁ QUIETO, PENSATIVO.
CHIQUITA - Não vai deixar?

LEVI - Filha, eu não sei se seria bom. Ele não me passou
muita confiança.
CHIQUITA - Mas ele é meu tio; não vai ficar muito tempo... Por
favor!
LEVI - [sorrindo] Se é só por um tempo, tudo bem.
CHIQUITA SORRI, AGRADECIDA.
LEVI -Agora vá se arrumar para sair com Leopoldina. Ela vai

ajudar você a escolher uma roupa para as boas vindas ao sobrinho dela.
CHIQUITA - Está certo. [sai]
CORTA PARA
CENA 14. MILLSHIRE. EXT. TARDE
TOMADA EM PLANO ABERTO DA ÁREA DO SOLAR WHITFORD E

CIRCUNVINZINHANÇA. SONOPLASTIA: Jogo 1 – Edu Lobo.
CORTA PARA
CENA 15. CAMPO. EXT. TARDE
BEATRIZ E PASCOAL ESTÃO SOZINHOS NO MEIO DO CAMPO. SILÊNCIO QUASE

ABSOLUTO POR ALGUNS INSTANTES, NÃO FOSSE O CANTO DE ALGUNS
PÁSSAROS. BEATRIZ ANDA UM POUCO EM VOLTA E PASCOAL FICA APENAS
OBSERVANDO, COM CERTA DESCONFIANÇA.
PASCOAL - O que vamos fazer aqui mesmo?

BEATRIZ - Preciso aprender a atirar. Você sabe, não é?
PASCOAL - Eu só posso ensinar a usar estilingue. Armas de fogo
não são comigo não.
BEATRIZ - [aflita, tenta disfarçar] Mas não é a mesma coisa?
PASCOAL - Todo mundo sabe que não.
BEATRIZ - Tem certeza?
PASCOAL - [perdendo a paciência] Tenho!
BEATRIZ - [carinhosa] Calma, não se irrite comigo. Eu só preciso
pegar pontaria antes desse duelo.
PASCOAL - Olha, eu não posso ajudar, mas acho que conheço
alguém que pode. E nem está tão longe!
PASCOAL VAI SAINDO. BEATRIZ O PERSEGUE.
BEATRIZ - Onde vai?

PASCOAL - Buscar seu professor de tiro. Não saia daí!
PASCOAL SAI CORRENDO E BEATRIZ FICA SOZINHA NO MEIO DO CAMPO.

OLHA EM VOLTA, COM MEDO.
CORTA PARA
CENA 16. SOLAR WHITFORD. SALA. INT. TARDE
O GRUPO ESTÁ ESPALHADO PELA SALA, ESTUDANDO SEUS PAPEIS.

MATAMOUROS SE AFASTA UM POUCO DELES E TOMA UMA DOSE DE
ANALGÉSICO. ALICE PERCEBE E SE APROXIMA, PREOCUPADA.
ALICE - Meu querido, não acha que está exagerando um

pouco nesses remédios?
MATAMOUROS - Que nada, mulher; só estou evitando sentir muita dor.
ALICE - Isso não é perigoso?
MATAMOUROS - É só até passar os ensaios, depois eu paro.
PASCOAL ENTRA CORRENDO.
PASCOAL - Opa, licença... Seu Arthur, posso falar com o senhor?

ARTHUR - [levanta do chão e vai até ele] Claro. O que deseja?
PASCOAL - É que Oséias me contou que o senhor era um atirador
muito habilidoso, que colecionava armas e tudo. Meu patrão está precisando
de aulas de tiro; o senhor pode nos ajudar?
ARTHUR - Acho que ele exagerou um pouco nessa parte do
'muito habilidoso', mas posso ajudar sim.
PASCOAL - Graças a Deus!
ARTHUR - Agradeça a Ele mesmo por eu estar tão disposto!
Volto num minuto.
ARTHUR VAI FALAR COM O RESTO DO GRUPO E PASCOAL ESPERA.
CORTA PARA
CENA 17. RUA. EXT. TARDE
LEOPOLDINA E CHIQUITA ESTÃO OLHANDO VITRINES. LEOPOLDINA VAI NA

FRENTE E A MENINA GUARDA UMA CERTA DISTÂNCIA. LEOPOLDINA PÁRA NA
FRENTE DE UMA LOJA, INDICA UM VESTIDO.
LEOPOLDINA - Veja se gosta desse.

CHIQUITA - Não.
LEOPOLDINA - Já é o quinto modelo que você rejeita... Olha, menina,
eu tô aqui, fazendo um esforço imenso pra aceitar a sua presença na minha
casa... Mas está difícil, hein?
CHIQUITA - Isso tudo só porque não gostei de nada?
LEOPOLDINA - Isso tudo porque não gosto de você.
CHIQUITA - Também não gosto de você e só fui morar com vocês
por que...
LEOPOLDINA - Porque vai dar um golpe?
CHIQUITA - Porque eu mereço.
CHIQUITA APRESSA O PASSO E LEOPOLDINA A PERSEGUE. SONOPLASTIA:

Transatlantique – Beirut.
CORTA PARA
CENA 18. CAMPO. EXT. TARDE
ARTHUR E PASCOAL CHEGAM AO CAMPO. BEATRIZ ESTÁ SENTADA SOBRE

UM TRONCO CAÍDO. LEVANTA AO VÊ-LOS.
BEATRIZ - Que bom que não demoraram!

PASCOAL - Eu disse que era um minuto e foi um minuto mesmo.
Este aqui é Arthur Whitford, patrão do meu amigo Oséias. Ele é quem vai
ensinar o senhor a atirar.
BEATRIZ ESBOÇA UM SORRISO, MAS LOGO FICA SÉRIA E APERTA A MÃO DE

ARTHUR.
BEATRIZ - É um prazer conhecê-lo.

ARTHUR - Igualmente. Bem, vamos passar logo às primeiras
lições, não?
BEATRIZ - A arma está aqui.
ELA ENTREGA UMA CAIXA, DE ONDE ARTHUR TIRA UMA ARMA. PARECE
RECONHECER O OBJETO.
ARTHUR - Engraçado, tem o brasão da minha família nela.

BEATRIZ - Ganhei de presente do meu... Sogro. Enfim, vamos
começar?
ARTHUR - Ah, sim, vamos.
ELES COMEÇAM A CONVERSAR, FORA DE ÁUDIO. PELOS GESTOS, PARECE

QUE ARTHUR ENSINA BEATRIZ A SEGURAR O REVÓLVER.

CENA 19. MILLSHIRE. EXT. DIA
TAKES DA CIDADE. LETREIRO: “ALGUNS DIAS DEPOIS...” SONOPLASTIA: Casa

Forte – Edu Lobo.
CORTA PARA
CENA 20. RUA. EXT. DIA
ARTHUR E OSÉIAS ESTÃO ANDANDO PELA RUA, CONVERSANDO E

CUMPRIMENTANDO ESPORADICAMENTE UMA PESSOA OU OUTRA QUE PASSA.
ARTHUR - Essa ausência de notícias de Isabelle já está me

deixando aflito.
OSÉIAS - Calma, homem! A viagem é longa e talvez ela não
tenha conseguido parar no correio ainda.
ARTHUR - Mesmo assim. Se dependesse de mim, ela nem ia;
mas apelo de família...
OSÉIAS - Daqui a pouco chega uma cartinha dela! Mas
mudando de assunto, e as aulas de tiro?
ARTHUR - Achei que representar fosse difícil... Mas ensinar esse
sujeito a atirar foi ainda pior! Ensinar ele a desviar das balas foi mais fácil.
A CONVERSA CONTINUA, FORA DE ÁUDIO.
CORTA PARA
CENA 21. ALBERGUE. QUARTO DE ESMERALDA. INT. DIA
ESMERALDA OLHA A MOVIMENTAÇÃO DA RUA PELA JANELA, ENQUANTO

SIMONE FICA SENTADA NA CAMA. CONVERSA INICIADA.
SIMONE - Como é que você consegue ficar aí sabendo que

alguém vai sair morto?
ESMERALDA - Bobinha, não vai morrer ninguém!
SIMONE - Ah, é? Como você sabe?
ESMERALDA - Oséias me contou tudo. Pelo resultado das aulas de
tiro que Guilherme teve, esse duelo vai ser uma piada!
SIMONE - Sai dessa janela, menina! Quero te perguntar um
negócio.
ESMERALDA - Pergunte.
SIMONE - Você conhece bem Levi Bronkhart?
ESMERALDA - Ele é bem amigo de seu Horácio.
SIMONE - Me fala dele.
ESMERALDA - O que você quer saber?
SIMONE - Tudo!
ESMERALDA - Tudo? Certo. Ele é joalheiro, casado, descobriu um
dia desses que tem uma filha.
SIMONE - [decepcionada] Casado?
ESMERALDA - Não parece, mas é. O nome da esposa dele é... É...
Acho que esqueci o nome.
SIMONE - Eu tenho uma sorte, viu? Todo homem que eu gosto é
casado, tem noiva, vai morrer num duelo...
ESMERALDA - Você gosta do Guilherme?
SIMONE - Gostei, quando estávamos em Turim e ele parecia
mais atraente.
ESMERALDA - Fica triste não, menina! Ainda existem moços
solteiros na cidade. Pascoal, por exemplo.
SIMONE - É...
ESMERALDA - Ele gosta de mim, mas já tenho namorado. Talvez se
você ficar com ele, ele largue do meu pé!
SIMONE FICA CALADA, PENSATIVA.
CORTA PARA
CENA 22. ALBERGUE. QUARTO DE BEATRIZ. INT. DIA
BEATRIZ ESTÁ SE OLHANDO NO ESPELHO, COM O REVÓLVER NA MÃO E

APONTANDO PARA O PRÓPRIO REFLEXO. HORÁCIO ENTRA E A OBSERVA,
GUARDANDO CERTA DISTÂNCIA.
BEATRIZ - Ainda dá tempo de desistir?

HORÁCIO - Se o espetáculo não fosse no meio da rua, sim. Agora
o povo quer ver sangue de todo jeito.
BEATRIZ OLHA PELA JANELA E VÊ UMA MULTIDÃO CONCENTRADA NA PORTA

DO ALBERGUE.
BEATRIZ - E vão ver... O meu! [T] Horácio, eu não quero morrer

assim... Isso já foi longe demais!
HORÁCIO - Isso passou dos limites desde que você pisou nessa
cidade dizendo ser seu irmão, minha filha! Mais um deslize seu, e a coisa
mais fácil do mundo é Esmeralda dar com a língua nos dentes.
BEATRIZ - Falta pouco para o casamento, tudo vai acabar logo.
CORTA PARA
CENA 23. CASA DO DR. LOMBARDI. SALA. INT. DIA
SILVIO COLOCA O SEU REVÓLVER NA BAINHA. DR. LOMBARDI VAI ATÉ ELE E
ANDA EM CÍRCULOS EM VOLTA DO FILHO, QUE TENTA SAIR.
SÍLVIO - O que houve?

DR. LOMBARDI - Estou só conferindo se você não está esquecendo
nada. Tem balas suficientes?
SÍLVIO - Tem.
DR. LOMBARDI - Está levando uma arma a mais?
SÍLVIO - Pra quê?
DR. LOMBARDI - Se uma não funcionar, a outra funciona. Ah, e não
esqueça de deixar ele pedir clemência.
SÍLVIO - Pai, já chega, eu não vou pra guerra!
DR. LOMBARDI - Mas não custa nada ser um pouco precavido.
SÍLVIO - Deixa eu ir embora...
DR. LOMBARDI - Vá. E volte.
SÍLVIO SAI. DR. LOMBARDI APANHA UM LIVRO NA ESTANTE, SENTA-SE À

POLTRONA E COMEÇA A LER.
CORTA PARA
CENA 24. FERROVIA. EXT. TARDE
TAKE AÉREO DE UM TREM TIPO MARIA-FUMAÇA PASSANDO. SONOPLASTIA:

Medo de amar – Joyce Moreno.
CORTA PARA
CENA 25. TREM. INT. TARDE
DANIELA ESTÁ SENTADA, OLHANDO PELA JANELA. SORRI. FERNANDO ESTÁ

SENTADO AO LADO DELA E A OBSERVA SEM FALAR NADA.
FERNANDO - E por onde esses pensamentos andam?
DANIELA - [sem olhar para ele] Eles já chegaram lá em Virgínia.
É o melhor lugar do mundo, você vai adorar.
FERNANDO - Me fala um pouco desse paraíso.
DANIELA - Faz uns anos que eu estive lá, não sei se mudou, mas
tinha campos belíssimos. Não tinha um lugar que não tivesse um pedacinho
de verde. Minha mãe trabalhou muito nos campos quando chegou lá, mas
deixou um belo patrimônio para o meu irmão.
FERNANDO - E para você.
DANIELA - Ela nem lembrava da minha existência, mas é, pra
mim também.
OUVE-SE UM ESTRONDO E O TREM PÁRA BRUSCAMENTE. DANIELA E

FERNANDO SE OLHAM, ASSUSTADOS.
FERNANDO - E isso?
DANIELA COLOCA A CABEÇA PARA FORA DA JANELA E LOGO VOLTA A OLHAR

PARA FERNANDO, EM PÂNICO.
DANIELA - Estamos sendo saqueados.
OUVE-SE OUTRO ESTRONDO E AS PESSOAS DO VAGÃO COMEÇAM A SE

SOBRESSALTAR – UNS CORREM, OUTROS GRITAM APAVORADOS.
SONOPLASTIA: Casa Forte – Edu Lobo.
CORTA PARA
CENA 26. MILLSHIRE. RUA. EXT. DIA
SONOPLASTIA: Casa Forte – Edu Lobo.

A MULTIDÃO NAS PROXIMIDADES DO ALBERGUE PARECE TER AUMENTADO,
DEIXANDO APENAS UM ESPAÇO NO CENTRO, ONDE HORÁCIO SE ENCONTRA
ISOLADO. A MAIORIA CONVERSA ENTRE SI, PROVOCANDO UM BURBURINHO
INCÔMODO.
TAKES ALTERNADOS DOS RIVAIS SE APROXIMANDO DO CENTRO. SÍLVIO
CAMINHA CONFIANTE; BEATRIZ NÃO CONSEGUE DISFARÇAR OS TREMORES.
PARAM DE CAMINHAR, TENDO APENAS HORÁCIO ENTRE ELES; E SE
ENCARAM LONGAMENTE.
[Fim do capitulo]

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1 O Captião Fracasso | Capítulo 19

WEBTV Destino apresenta

SIMONE ESTÁ QUASE DORMINDO, ENQUANTO SARAH E LEONARDO

SIMONE - [sonolenta] Fiquem quietos!

SIMONE VIRA DE LADO E VOLTA A FECHAR OS OLHOS. OUVE-SE O SOM DOS

LEONARDO - E eles se divertindo.

SARAH LEVANTA DE SUA CAMA, INDO ATÉ ELE.

SARAH - [baixinho] Ela vai embora amanhã e essa festinha vai

CENA 02. SOLAR. QUARTO DE ARTHUR. INT. NOITE

CONTINUAÇÃO DA CENA 21 DO CAPÍTULO ANTERIOR. ARTHUR ABRAÇA

ARTHUR - Agora tudo faz sentido, o meu esquecimento, o delírio

ELA O ABRAÇA MAIS FORTE E COMEÇA A CHORAR EM SILÊNCIO. ELE SE

ARTHUR - Eu sabia que isso ia acontecer um dia. Mesmo sem

ISABELLE E ARTHUR SE BEIJAM LONGAMENTE; DEPOIS VÃO SE DEITANDO

CENA 03. CASA DO DR. LOMBARDI. QUARTO DO DR. INT. NOITE

O QUARTO ESTÁ COM AS LUZES APAGADAS E A JANELA ABERTA; A CORTINA

DR. LOMBARDI - [como se agonizasse]Ai, não! Desgraçado, vai levar o

ELE LEVANTA, RESPIRANDO OFEGANTE DEVIDO AO SUSTO, E SAI DO

[1º intervalo comercial]

CENA 03. CASA DO DR. LOMBARDI. INT. NOITE

NÃO HÁ NINGUÉM NO CORREDOR. DR. LOMBARDI SAI, ABRE A PORTA DO

DR. LOMBARDI - O que deu em você a essa hora da noite?

SÍLVIO SAI, LEVANDO A PISTOLA CONSIGO. DR. LOMBARDI O SEGUE

CENA 04. SOLAR. QUARTO DE ARTHUR. INT. NOITE

CONTINUAÇÃO DA CENA 02. ARTHUR E ISABELLE ESTÃO ABRAÇADOS SOB O

ISABELLE - Acho que eu nunca me senti tão feliz em toda a minha

ISABELLE - Então me espera, bem aqui. A nossa vida vai ser

O CASAL COMEÇA A RIR E SE BEIJAM. ROLAM NA CAMA.

CENA 05. MILLSHIRE/TURIM. EXT. NOITE/DIA

TAKES DA CIDADE INGLESA À NOITE E DO AMANHECER NA CIDADE

CENA 06. CASA DE FERNANDO. QUARTO. INT. DIA

FERNANDO SENTA NA CAMA, JUNTO DE DANIELA QUE AINDA DORME. A

DANIELA - Não vai trabalhar?

DANIELA COMEÇA A RIR.

ELE PEGA OS BILHETES SOBRE O CRIADO-MUDO E MOSTRA A ELA, QUE PEGA

FERNANDO - E quando eu quero ver o sorriso de alguém, quer dizer

DANIELA O BEIJA NO ROSTO.

DANIELA - Quando vamos?

DANIELA SORRI, OLHANDO ALTERNADAMENTE PARA FERNANDO E O

CENA 07. MILLSHIRE. ESTRADA. INT. DIA

TODO O GRUPO DE TEATRO, MAIS ARTHUR, ESTÁ VOLTANDO PARA O SOLAR.

MATAMOUROS - Você parece mais animado.

A CONVERSA DELES CONTINUA, FORA DE ÁUDIO. O FOCO MUDA PARA

SIMONE CONFIRMA COM UM SORRISO E ALICE RESPONDE COM UM OLHAR

SIMONE - E por que essa cara?

AGORA O FOCO DA CENA PASSA A SER LEONARDO E SARAH. OS DOIS AINDA

LEONARDO - Quando eu vou atrás dela?

LEONARDO PARECE FICAR AINDA MAIS IRRITADO.

A CONVERSA CONTINUA, FORA DE ÁUDIO.

CENA 08. MILLSHIRE. EXT. DIA

TAKES DA RUA ONDE SE SITUA O ALBERGUE. SONOPLASTIA: Ascendente em

CENA 09. ALBERGUE. QUARTO DE BEATRIZ. INT. DIA

BEATRIZ ESTÁ SENTADA À ESCRIVANINHA; TERMINA DE ESCREVER UMA

PANTALEÃO - Bom dia, meu genro!

CENA 10. ALBERGUE. ESCRITÓRIO. INT. DIA

ESMERALDA ESTÁ SOZINHA, LIMPANDO ALGUMAS ARMAS. NÃO VÊ BEATRIZ

ESMERALDA - Juro que pensei que era outra pessoa.

BEATRIZ, SEM SABER O QUE DIZER, SAI DO ESCRITÓRIO. ESMERALDA

[2º intervalo comercial]

CENA 11. ALBERGUE. CORREDOR. INT. DIA

ESMERALDA ESTÁ QUASE CHEGANDO À ESCADA QUANDO ESBARRA EM

PASCOAL - Que é isso, moça? Vai pegar o trem?

ESMERALDA SAI, IRRITADA. PASCOAL VAI ANDANDO DEVAGAR RUMO AO