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O ano de 1864 viu crescer o movimento no âmago das classes operárias de ambos os
países. Enquanto na Alemanha a propaganda socialista nacional, iniciada em 1862 por
Ferdinand Lasalle, fica bruscamente interrompida por sua morte em um duelo (agosto
de 1864), a França e a Inglaterra irão constituir uma organização internacional do
proletariado. Na Inglaterra (no mês de abril), os representantes das trade-unions
recebem com grande entusiasmo Garibaldi e igualmente manifestam sua simpatia pelos
federais da América do Norte em guerra com os escravistas do sul. Na França (mês de
maio), por iniciativa do próprio imperador, inquieto pela atitude dos trabalhadores, o
Corpo Legislativo suprime o Código Civil, a proibição absoluta das “coligações”. Em
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“Trabalhadores de todos os países que desejam ser livres! Chegou a hora que vocês
podem realizar congressos. O povo aparece em cena tendo consciência de suas forças e
levantando-se perante a tirania na ordem política, contra o monopólio e o privilégio na
ordem econômica... É preciso que nos unamos para opor uma barreira intransponível a
um sistema funesto que dividirá a humanidade em duas classes.”
A resolução foi adotada pela unanimidade e o comitê, que deveria ficar em Londres, foi
nomeado nesse ato. Era composto em sua maioria por ingleses, entre os quais estavam
os membros das trade-unions, Odger, Cremer, Wheeler e o discípulo de Owen, Weston.
A França foi representada por Le Lubez e outros dois ou três franceses residentes na
Inglaterra; a Itália pelos mazzinianos Fontana e o polonês Wolff, e a Alemanha pelo
operário Eccarius e o doutor Karl Marx. O comitê recebeu a ordem de preparar um
projeto de estatutos e de convocar um congresso operário para 1865.
Em uma carta com data de 4 de novembro de 1864, Karl Marx relatou para seu amigo
Friedrich Engels, que então residia em Manchester, como havia acontecido sua ida ao
encontro no Saint Martin‟s Hall. Diz ele:
“Faz um tempo alguns operários de Londres tinham enviado para outros operários de
Paris um manifesto relativo à Polônia e os tinham convidado para uma ação comum
sobre o assunto. Os parisienses, por sua vez, enviaram uma delegação encabeçada por
Tolain, o candidato operário de uma recente eleição em Paris. Um comício público foi
convocado para 28 de setembro, em Saint Martin‟s Hall, por Odger (sapateiro,
presidente do London Trades Union Council e também da Trades Unions Suffrage
Agitation Society, que está em relação com John Bright) e Cremer (pedreiro, secretário
da Mason‟s Union). Estes dois homens foram aqueles que organizaram, sob a direção de
Bright, o grande comício das Trade-Unions em Saint James Hall, em favor da América
do Norte, como também a manifestação em homenagem a Garibaldi. Enviaram um tal
de Le Lubez para perguntar-me se eu queria fazer parte da reunião representando os
operários alemães e, sobretudo, se eu podia enviar um orador alemão para o comício. Eu
mandei o Eccarius, que fez muito bem o seu papel e eu mesmo estive na reunião do
tablado, como personagem mudo. Eu sabia que tanto do lado londrino quanto do
parisiense, desta vez, eram „potências‟ reais as que estavam em cena; por isso decidi
aceitar o convite, afastando-me de minha regra habitual de recusar todos eles.”
Europa. Fiz algumas observações, e depois de uma longa discussão, Eccarius fez decidir
que a comissão examinasse novamente os projetos „para redação‟; contudo, os
sentimentos contidos na declaração de Le Lubez, foram votados”.
Como fazer para recusar os projetos de Wolff e de Le Lubez? “Eu estava firmemente
decidido”, escreve o futuro autor de O Capital, “a não permitir que ficasse uma só linha
de todo aquele palavrório”. Para atingir os seus fins, e tendo reunido em sua casa em 20
de outubro Cremer, Fontana e Le Lubez, Marx propôs “para poupar tempo” que
começassem a discutir os estatutos.
Diz Marx:
“Assim foi feito. Era uma hora da manhã quando o primeiro dos quarenta artigos foi
concluído. Cremer disse (e era isso que eu queria): „O comitê deve reunir-se em 20 de
outubro e nada temos para lhe apresentar. Devemos deixar a sessão do comitê para o dia
1º de novembro, reunir de novo a comissão em 27 de outubro e procurar a maneira de se
obter um resultado definitivo‟. Isso foi feito, e os documentos ficaram comigo para
serem examinados.”
Vi que era impossível tirar algo daquela confusão. Para justificar a singular maneira
com que eu me propunha „redigir‟ os sentimentos já votados, escrevi um manifesto às
classes operárias, espécie de exame dos fatos e das expressões dos trabalhadores desde
1845.[2] Depois, sob pretexto de que todos os fatos históricos já estavam contidos neste
manifesto, e que não podíamos repetir três vezes as mesmas coisas, mudei todo o
preâmbulo, acabei com a declaração de princípios e finalmente, reduzi para dez, os
quarenta artigos dos estatutos. Todas as minhas proposições foram aceitas pela
comissão; somente me impuseram, no preâmbulo dos estatutos, a introdução de duas
frases sobre os deveres e direitos, sobre a verdade, a moral e a justiça; porém eu
coloquei essas frases de tal modo que não tenham como prejudicar o conjunto.
Na sessão do comitê (1º de novembro) meu manifesto e todo o resto foi adotado com
grande entusiasmo e unanimemente [...]. Era muito trabalhoso poder apresentar meu
ponto de vista sob uma forma aceitável dentro do contexto em que atualmente se
encontra o movimento operário. Imagine que esse pessoal daqui a quinze dias vai
realizar comícios em favor do sufrágio universal com Bright e Cobden! É necessário
tempo para que o desenvolvimento do movimento permita a antiga franqueza de
linguagem. Por enquanto, devemos agir fortiter in re, suaviter in modo.”[3]
Devemos ficar felizes pelo fato de a Internacional ter achado, em seu começo, um
homem de tão alta capacidade como Marx para formular em seu nome “uma série de
princípios simples”, podendo servir de “base comum”[4]. Apenas deve-se lamentar que
a relação feita pelo autor dos estatutos e de seu admirável preâmbulo, fique apagada
pelos detalhes das habilidades às quais recorreu para deixar de lado o fatras [incoerentes
idéias] de Le Lubez e de Wolff.
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“Bakunin manda lembranças. Ele saiu hoje para a Itália, onde reside. Ontem o vi
novamente depois de dezesseis anos. Devo te dizer que isso me agradou muito. Acerca
dos acontecimentos na Polônia, diz que o governo russo tinha necessidade daquele
movimento para manter a tranqüilidade na Rússia, porém o governo não pensou que a
luta pudesse durar dezoito meses. O governo, portanto, foi quem provocou a
insurreição. São duas as causas que fizeram fracassar o movimento: a influência de
Bonaparte e a vacilação da aristocracia polonesa, que não quis proclamar, no início da
insurreição, clara e francamente, o socialismo rural. Bakunin diz que com o fracasso
polonês, quer apenas se ocupar do movimento socialista. Em poucas palavras, ele é um
dos poucos homens que nestes últimos tempos andou para frente.”
Para evitar as perseguições ficou combinado que os filiados deviam figurar como
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Além dos três secretários correspondentes Tolain, Fribourg e Limousin, somou-se certo
número de filiados do Bureau de Paris, formando-se uma subcomissão, a qual não
poderia ser superior a vinte membros, número que não podia ser superado porque o
código penal, caso fosse ultrapassada essa cifra, exigiria uma autorização
governamental. Naturalmente houve, algumas vezes, mudanças no pessoal; Fribourg
cita de cor os nomes de dezoito operários que fizeram parte desta subcomissão: Debock,
tipógrafo; Bourdon, gravador; Heligon; Culetin; Perrachon; Camélinat; Guiard;
Fournaise, ótico; André Murat, mecânico; Eugène Varlin, encadernador; Bellamy;
Delorme, sapateiro; Mollin, dourador; G. Laplanche, cocheiro; Delahaye, chaveiro;
Chemalé; Gauthier, joalheiro; e Benoit Malon, diarista.
Em setembro de 1865 o Bureau de Paris era composto por não mais de quinhentos
filiados, tão grandes eram as travas legais que se opunham à propaganda.
Em uma das sessões da conferência houve uma acalorada discussão entre Vésinier e os
delegados de Paris, acerca da “questão polonesa”. Vésinier declarou que aqueles que
queriam separar esse assunto da ordem do dia do futuro congresso, não eram outra coisa
senão agentes bonapartistas. Esse conflito deu lugar, mais tarde, em setembro de 1866, à
separação de Vésinier e Le Lubez do Conselho Geral e à expulsão, em outubro de 1868,
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“Devo te dizer com franqueza que a Internacional não vai bem, aumentando esse mal-
estar a impaciência dos franceses que querem realizar o congresso em finais de maio.
Além disso, as lideranças inglesas mostram-se frias e acho que pouco se importam com
o fracasso do congresso. Ficaremos como ridículos perante a Europa? O que faremos?”
No seu retorno a Londres, Marx conseguiu que o congresso não se realizasse até
setembro, porém não acreditava em seu êxito, a tal extremo que em 23 de abril escreveu
para Engels:
“Daqui farei todo o possível para que o congresso seja bem sucedido, porém não
participarei dele. Dessa forma, evito toda responsabilidade pessoal.”
Em julho de 1866 estourou a guerra entre a Prússia e a Áustria que iria acabar com o
triunfo da última em Sadowa, o que ocasionaria a anexação de Hannover, Hesse-Nassau
e Frankfurt à Prússia, e também a criação da Confederação da Alemanha do Norte com
um parlamento (Reichstag) eleito pelo sufrágio universal. Assim que foi vista a
possibilidade de que estourasse o conflito, os estudantes socialistas franceses assinaram
manifesto direcionado aos estudantes da Alemanha, Áustria e Itália, denunciando o
absurdo “de se matarem uns aos outros sob o estúpido pretexto do interesse nacional e
da diferença de raças”. Em 10 de junho, Vermorel publicava em seu jornal o célebre
artigo “A Greve dos Povos Contra a Guerra”. No dia 17, a Internacional de Paris redigiu
seu manifesto, em que expressava a esperança de que os povos não permitissem que a
fumaça dos canhões os cegasse, e que ouvissem a voz da solidariedade e da justiça. O
manifesto anunciava a próxima abertura do congresso operário, “este congresso em que
os trabalhadores abordarão essas graves questões, que a guerra, com suas horríveis
práticas, não consegue resolver”. Enfim, em 1º de julho, Paul Lafargue na Rive Gauche
acusava a guerra de contra-revolução e atacava o nacionalismo.
Neste momento, a atitude de Karl Marx foi estranha e deve ser conhecida. Em 7 de
junho, ele escrevia para Engels:
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“Eis a guerra. Será um milagre ela não começar. Os prussianos vão sofrer as
conseqüências de suas fanfarronices. A escória proudhoniana prega, para os estudantes
de Paris, a paz, avalia a guerra um anacronismo, considera as nacionalidades como vãs
palavras e ataca Bismarck e Garibaldi. Como polêmica contra a patriotada, sua ação é
útil e explicável, porém como discípulos de Proudhon [...] são simplesmente grotescos.”
“Os ingleses riram muito quando ao tomar a palavra eu lhes disse que o nosso amigo
Lafargue, que suprimiu as nacionalidades, tinha nos falado em francês, idioma que não
é entendido por nove de cada dez ouvintes, e eu lhes demonstrei que para ele, a negação
das nacionalidades não é outra coisa senão a absorção de todas por parte da nação-
modelo: a França.”
A Internacional parisiense tinha feito grandes progressos; já contava com mil e duzentos
filiados, entre os quais figuravam alguns notáveis da burguesia republicana, como o
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Durante esse tempo, Karl Marx, em Londres, redigia, em nome do Conselho Geral, um
informe que foi traduzido para o francês pelo operário Eugenio Dupont, que tinha sido
nomeado delegado da França, substituindo Le Lubez.
parisienses voltaram a atacar: o que deveria ser entendido pela palavra trabalhador? Os
trabalhadores intelectuais deveriam ser admitidos? A segunda pergunta foi respondida
afirmativamente pelos delegados do Conselho Geral, mas os delegados parisienses
opuseram-se, afirmando que essa medida deixaria exposta a Associação ao perigo de
que fosse invadida pelos ambiciosos. Os delegados suíços e alemães protestaram
firmemente e o artigo foi votado.
Porém, quando foi discutido o regulamento (artigos adicionais aos estatutos) que
acabava de ser elaborado por uma comissão, originou-se um novo debate sobre o
mesmo assunto, em relação a um artigo que determinava que todo membro da
Associação podia ser eleito um delegado nos congressos. Tolain declara que se era
indiferente admitir como simples membro da Associação toda classe de cidadãos, não
era igual quando se tratava de escolher um delegado, pois a classe operária mantinha
uma luta sem trégua contra a classe burguesa e era indispensável que todos os homens,
encarregados de representar grupos de trabalhadores, fossem também operários.
Perrachón chegou a dizer que para a Associação seria funesto admitir como delegado
um cidadão que não fosse um trabalhador. Cremer ficou surpreso de novamente ser
apresentado para discussão esse assunto, e manifestou que entre os membros do
Conselho Central havia vários cidadãos que, sem exercer nenhum trabalho manual,
tinham dedicado todas suas energias à Associação, até o extremo, e que sem eles não
teria sido possível o estabelecimento da Internacional na Inglaterra, e citou como
exemplo Karl Marx, manifestando que ele tinha consagrado sua vida para a vitória da
classe operária. Fribourg disse que poderia chegar o dia em que o Congresso “operário”
fosse formado em sua maioria por economistas, patrões, jornalistas, advogados, uma
coisa ridícula, que aniquilaria a Associação. Carter, apoiando Cremer, acrescentou,
respondendo a Fribourg, que o cidadão Karl Marx, compreendendo a importância deste
primeiro Congresso, em que de fato, apenas deveria haver operários, tinha recusado ser
delegado quando lhe foi oferecido a oportunidade pelo Conselho Central, porém os
homens partidários da causa do proletariado eram tão escassos, que não deveriam ser
recusados. Também expôs que a pretendida ciência econômica burguesa, dando
prestígio à burguesia, mantém esta classe no poder e, portanto, os homens que se
ocuparam da questão econômica e que reconheceram a justiça da nossa causa, devem
ser admitidos em nossos congressos, para que ajudem a derrubar a falsa ciência
econômica. Tolain, voltando a tomar a palavra, disse: “Como operário, agradeço ao
cidadão Karl Marx por não ter aceitado a delegação que lhe foi oferecida. Fazendo isto,
o cidadão Marx quis demonstrar que os congressos operários não devem ser compostos
senão por trabalhadores manuais. Se admitirmos aqui homens que pertencem a outras
classes, não deixarão de dizer que o congresso não representa as aspirações das classes
operárias, que não é formado por trabalhadores e acho que é útil mostrar para o mundo
que estamos adiantados o suficiente para poder agir por nós mesmos”. A emenda de
Tolain, sobre o requisito de que ser operário manual era preciso para poder ser eleito
delegado, foi rejeitada por vinte e cinco votos contra vinte.
A opinião íntima de Marx sobre o Congresso de Genebra, pode ser vista na seguinte
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carta que ele escreveu em 9 de outubro para o seu amigo Dr. Kugelmann, jovem médico
judeu residente em Hamburgo:
“Eu tinha grandes inquietudes sobre o primeiro congresso, em Genebra, porém ele teve
mais sucesso do que eu imaginava. A impressão na França, Inglaterra e América foi
inesperada. Eu não consegui ir, e também não quis, porém fui eu que redigi o programa
dos delegados de Londres. Eu o delimitei expressamente aos extremos que permitissem
um acordo imediato e uma ação comum dos operários, e que pudessem dar força e
impulsão às necessidades da luta de classes e à organização dos operários. Os senhores
parisienses tinham a cabeça cheia da mais vazia fraseologia proudhoniana. Eles falam
em ciência e não sabem uma palavra de nada. Sob o pretexto de liberdade e de
antigovernamentalismo ou de individualismo anti-autoritário, esses senhores, que
durante 16 anos estão sob o mais abominável despotismo, predicam, na realidade, o
vulgar regime burguês, idealizado ao modo proudhoniano. Não há dúvidas de que
Proudhon fez muito mal. Sua aparente crítica e oposição aos utópicos seduziram
primeiro a „juventude brilhante‟ e depois os operários, sobretudo os de Paris. Estes
delegados parisienses, ignorantes, vaidosos, cheios de pretensões, charlatões e enfáticos,
por pouco não fazem fracassar tudo, tendo eles participado do Congresso em número
muito elevado.”
Alguns incidentes aconteceram no começo do ano 1867. Primeiro a greve dos operários
do bronze em Paris (fevereiro) que ocasionou a viagem até Londres de Tolain e
Fribourg com três delegados dos grevistas, para solicitar o apoio das trade-unions: o
apoio foi concedido. A luta acabou com a vitória dos operários, o que teve grande
repercussão. Em 26 de março aconteceram grandes rebeliões em Roubaix; milhares de
operários tecelões, furiosos, quebraram as máquinas e incendiaram as oficinas. A
comissão de Paris lançou um manifesto em que depois de falar do problema que origina
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Esse congresso, animado por um espírito mais revolucionário do que o realizado no ano
anterior, produziu, sobre a maioria dos que participaram, uma impressão profunda; eles
sentiram despertar dentro de si, em contato com os delegados do proletariado dos
diversos países da Europa, uma vida nova e “vislumbraram pela primeira vez, em sua
realidade humana e científica, as grandiosas perspectivas da revolução social
universal.”[6]
A principal questão que foi discutida em Lausane foi a da propriedade. De Paepe expôs
a teoria da propriedade coletiva e foi combatido por Longuet, Chemalé e Coullery,
ficando suspendida a discussão do assunto até o próximo congresso, que seria realizado
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Este elogio aos franceses irritou Marx; este havia passado a metade do verão corrigindo
as provas do primeiro volume do seu Capital, que estava sendo impresso na Alemanha.
Absorto com o seu livro, não tinha feito quaisquer intervenções nos assuntos da
Internacional durante o ano todo. Porém, ele já tinha sua revanche; os franceses que
aguardassem. É isso que ele anuncia numa carta para Engels de 11 de setembro:
“Irei pessoalmente ao próximo congresso de Bruxelas para dar o golpe fatal naqueles
burros proudhonianos. Acertei tudo diplomaticamente; eu não queria aparecer
pessoalmente antes de meu livro ter sido publicado e da Internacional ter se enraizado.
Além disso, no relatório oficial do Conselho Geral darei um jeito neles. Enquanto isso, a
Associação tem feito grandes progressos. O miserável Star, que queria nos ignorar por
completo, declarou ontem em sua matéria principal, que nós temos mais importância do
que o Congresso da Paz. Schulze-Delitzch não conseguiu impedir que sua
Arbeiterverein se juntasse a nós. Alguns cachorros sarnentos (Schweinsshunde) entre as
trade-unions inglesas, que declaravam que íamos longe demais, também se uniram a
nós. Além do Courrier Français, deram conta do Congresso, La Liberté, de Girardin, Le
Siecle, Le Monde, La Gazette de France, etc. Les choses marchent. E quando a
revolução chegar, pois está mais próxima do que parece, teremos em nossas mãos esse
poderoso instrumento. Compare esse resultado com o pouco que durante trinta anos
conseguiu adiantar Mazzini. E nós fizemos tudo isso sem dinheiro e tendo contra as
intrigas dos proudhonianos de Paris, as de Mazzini na Itália e Odger, Cremer e Potter
em Londres, que estão com inveja. Acrescente a isso que na Alemanha a Schuze-
Delitzsch e os lassalianos são contra nós. Podemos nos sentir satisfeitos!”
No mesmo dia, Engels escrevia para Marx acerca das correspondências direcionadas por
Eccarius ao Times, sobre o Congresso, correspondências nas quais o discípulo de Marx
tinha tentado ridicularizar os delegados de Paris:
isso viesse à tona poderia causar um enorme dano para Eccarius. Além disso, antes de
escrever deveria se perguntar até que ponto a redação poderia explorar suas zombarias
para colocar o congresso no ridículo, e não alguns dos franceses.”
“Posto que você vem mantendo relações com Vermorel, daria para você conseguir que
ele não falasse tantas bobagens da Alemanha? É peculiar pedir que Napoleão III torne-
se liberal, burguesamente liberal, e que declare a guerra contra a Alemanha para libertá-
la da tirania de Bismarck! Esses crapauds que, mesmo no caso de fomentarem uma
revolução seriam obrigados a contar com a Alemanha, imaginam que bastaria expor um
pouco de liberalismo para que a França conseguisse desempenhar seu antigo papel.
Considero muito importante, justamente para o caso de acontecer uma revolução, que
esses senhores acostumem-se a nos tratar de uma outra maneira.”
“Sou completamente da sua opinião, acerca daquilo que você me diz de Eccarius. Para
um operário de espírito crítico como ele, está faltando a destreza diplomática... Porém,
isso não vai prejudica-lo, pois as zombarias de Eccarius serão tomadas como do Times.”
“Nota bene – O pior é que não temos ninguém em Paris que possa colocar-se em relação
com as seções francesas que são hostis aos proudhonianos. Se Dupont pudesse passar
algumas semanas em Paris, tudo se acertaria.”
A partir deste momento Marx quer tornar-se um ditador. Ele já considera a Internacional
como uma coisa própria e tem o cinismo de dizer para Engels: “Na próxima revolução
teremos (ou seja, eu e você) este poderoso instrumento em nossas mãos”.
uma federação ilusória. Queremos a república nos fatos, e sobretudo, nos fatos
econômicos...; queremos o federalismo não somente na política, mas também na
economia social”. O proudhoniano Chaudey, que teria preferido uma aproximação entre
a democracia burguesa e os trabalhadores socialistas, tentou num hábil discurso indicar
as condições de uma transação, e o organizador do congresso, Emilio Acollas, homem
sincero, distinto jurisconsulto, acreditou que a harmonia desejada já tinha sido
concretizada, pois escreveu o seguinte no Temps: “A política e a economia
reconciliaram-se na justiça”. Isto não era mais do que uma ilusão. No ano seguinte foi
necessário comprovar que entre o socialismo e a democracia burguesa havia um abismo
que nunca desapareceria.
O governo francês, que tinha tolerado a Internacional desde 1865, começou a inquietar-
se devido às tendências revolucionárias da associação, manifestadas publicamente pela
maioria dos seus delegados em Lausane e Genebra, e resolveu intervir. Em 30 de
dezembro foram realizadas visitas domiciliares nas casas de Tolain, Murat, Heligon e
Chemalé e foi aberta instrução. Ameaçados como representantes de uma sociedade não
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Dois dias antes da nomeação desta nova comissão, os quinze membros da antiga
compareceram (em 6 de março) perante o Tribunal Correcional sob a acusação de
pertencerem a uma sociedade não autorizada pela lei. Em 20 de março foram
condenados a pagar uma multa de cem francos cada um e, além disso, foi declarada
dissolvida a “Associação Internacional dos Trabalhadores estabelecida em Paris com o
nome de Bureau Parisién”. Tendo sido apelada a sentença, a audiência imperial
confirmou, em 29 de abril, o julgamento do tribunal correcional.
Enquanto isso, a comissão eleita em 8 de março entendia que devia ser continuada a
obra de seus predecessores e encarregou-se, em primeiro lugar, de tentar restabelecer a
lista dos filiados, listas que tinham ficado em poder da polícia. Em 27 de março, a
comissão recebia de Genebra uma carta destinada a Varlin, solicitando apoio para a
greve de operários que tinha acabado de estourar nessa cidade. A comissão não vacilou
um instante: através da imprensa fez um chamado à solidariedade dos trabalhadores da
França, e logo recebeu importantes quantias para os grevistas. Um delegado de Genebra
chegou a Paris, de onde se dirigiu para Londres e lá solicitou o apoio das trade-unions,
sem poder conseguir um auxílio efetivo. Os tribunais imperiais continuavam
funcionando, pois se realizaram registros na Rua Chapon e na casa de Varlin, e tentou-
se processar os audazes que não se deixaram intimidar pela condenação anterior de seus
companheiros.
A Internacional, portanto, tinha cessado de ter existência legal em Paris; contudo, seus
filiados, individualmente, puderam continuar sendo membros da Associação como
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Bakunin, após a sua aparição em setembro de 1867 no Congresso da Paz, não tinha
regressado para a Itália. Ele tinha se estabelecido perto de Vevey, na Suíça, era membro
do Comitê Central da Liga da Paz e da Liberdade, e vangloriava-se com a esperança de
levar essa liga para o socialismo. No começo de julho de 1868 tinha conseguido que,
por meio do comitê, fosse votada uma declaração de princípios que, entre outras coisas,
enunciava a necessidade de “mudar radicalmente o sistema econômico atual”, para
atingir “a emancipação das classes operárias e a abolição do proletariado”. Em julho ele
conseguiu ser recebido como membro da seção central da Internacional de Genebra, e
chegando a um acordo com internacionalistas desta cidade, em particular com o alemão
Becker e o genebrino Perron, formou o projeto de uma aproximação entre a Liga da Paz
e a Associação Internacional dos Trabalhadores. Para tanto, fez decidir, no Comitê
Central da Liga que, através de seu presidente, seria encaminhado um convite ao
congresso geral da Internacional, que iria reunir-se em Bruxelas, no domingo 6 de
setembro, para enviar delegados ao segundo Congresso da Paz, de Berna. A Marx não
agradaram essas resoluções, pensou que fosse uma intriga de Bakunin para apoderar-se
da direção da Internacional e, desde esse momento, colocou-se em campanha contra o
revolucionário russo, como se verá mais à frente.
Paris enviou treze delegados para Bruxelas: Tolain, Murat, Theisz, Roussel, Durand,
Pindy, Ansel, Delacour, Dauthier, Dosbourg, Flahaut, Tartaret e Henry. Além deles,
havia 5 delegados de outras partes da França: Alejandro Lemonnier, por Marselha;
Aimé Grinand, por Lyon; Albert Richard, por Neuville-sur-Saóne; Emilio Aubry, por
Rouen e Longuet, por Caen.
Acerca das máquinas, todos os delegados foram unânimes em declarar que deveriam
pertencer aos trabalhadores. Sobre a questão da guerra, o congresso, após ouvir um
relatório de Longuet, votou uma resolução que, entre outras coisas, dizia: “O Congresso
recomenda para os trabalhadores, sobretudo, que entrem em greve assim que a guerra
começar em seus respectivos países”. Em sua carta a Engels de 16 de setembro, Marx
caçoa desta resolução, qualificando-a de “bobagem belga”.
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“Os clericais falam de nós: „Vão nesse congresso; declaram que não querem governos,
nem exércitos, nem religião‟. E eles dizem a verdade: nós não queremos governos,
porque os governos nos oprimem com impostos; nós não queremos exércitos, porque os
exércitos nos exterminam, e nós não queremos religião, porque as religiões afogam a
inteligência.”
“Cidadãos: vista a resolução tomada pelo Congresso de Bruxelas relativa à Liga da Paz
e da Liberdade, os que assinam, membros da Associação Internacional, acreditam:
1º - Que do ponto de vista dos princípios que servem de base para a Associação
Internacional, os delegados enviados ao congresso para deliberarem sobre determinada
ordem do dia, não tinham autorização para tomar uma resolução desta importância sem
consultarem seus grupos.
aprovamos o convite dirigido à Liga pelos membros do Conselho de Bruxelas, para que
esta seja dissolvida; esta determinação não pode obrigar ninguém além de seus autores.
Em Berna, após um debate sobre o socialismo, em que a maioria tinha recusado uma
proposta apresentada por Bakunin, a minoria dos delegados, composta de 18 membros,
separou-se da liga e fundou, em 25 de setembro, a Aliança Internacional da Democracia
Socialista, declarando que se constituía como ramo da Associação Internacional dos
Trabalhadores, cujos estatutos aceitava. Essa minoria acreditava estar respondendo,
desse modo, ao convite feito pelo Congresso de Bruxelas.
ele citava o fato de que, tendo iniciado uma greve na Basiléia em novembro de 1868, foi
suficiente que um membro da Internacional, Heligon, tivesse falado da greve em uma
reunião pública, para que todos os oradores tivessem a honra de narrar os sucessos da
Basiléia em todas as reuniões, o que originava contribuições e assinaturas em favor dos
grevistas.
“As perseguições multiplicam-se, as condenações são cada vez maiores; três e seis
meses de prisão é a pena ordinária que se aplica aos oradores. Nosso amigo Briosne, um
dos oradores mais capaz e mais estimado, acaba de ser condenado a um ano.”
“Os oito meses seguidos de discussões nas reuniões públicas fizeram ver que a maioria
dos operários reformadores é comunista. A palavra comunismo levanta tanto ódio no
campo dos conservadores como nas vésperas das jornadas de junho. Bonapartistas,
orleanistas, clericais e liberais unem-se para protestar com indignação... A grande
maioria dos oradores das reuniões públicas está ameaçada de prisão, sobretudo os que
proclamam o comunismo.”
“O partido socialista não apresentou candidato para as eleições gerais, mas os oradores
socialistas comprometeram os candidatos radicais para que defendessem os interesses
do povo.”
“Viver sob esta tutela é indigno de nós. Não podemos sofrer por mais tempo esta
situação, e portanto, convencidos de que ninguém pode limitar o círculo de nossos
estudos e de nossa ação, nós, delegados das sociedades operárias de Paris pedimos,
como um direito primordial, inalienável, o direito de reunião e de associação sem
restrição alguma, e nos declaramos resolvidos a prosseguir, por todos os meios a nosso
alcance, a discussão do projeto dos estatutos de nossa federação.”
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comitê federal de Genebra, e Marx tinha visto nisso o resultado de uma intriga de
Bakunin. Em 27 de julho de 1869 Marx disse a Engels: “Esse russo, é claro, quer se
tornar ditador do movimento europeu. É melhor ele ter cuidado, se não será
excomungado oficialmente”. E Engels respondeu: “O gordo Bakunin está por trás disso
tudo, é evidente. Se esse maldito russo pensa realmente, com suas intrigas, colocar-se ao
mando do movimento operário, devemos evitar que ele possa fazer dano”. Na
Comunication Confidentielle (Confidentielle Mittheilung) de 29 de março de 1870,
Marx diz que se o Conselho Geral consentiu em incluir a questão da herança na ordem
do dia do congresso “foi para poder acertar um golpe decisivo em Bakunin”. Tendo
recaído o golpe contra Marx (pois sua contra-proposição não conseguiu mais do que
dezenove votos), compreende-se sua fúria. Depois do voto, Eccarius, que sabia do
segredo, deixou escapar esta exclamação: “Marx ficará muito descontente”. Essa frase
foi guardada por Bakunin, que a ouviu pessoalmente.
O Congresso da Basiléia fez compreender para a Europa que a Internacional não era
uma simples sociedade de estudos, limitada a discutir academicamente questões de
imprecisa filantropia, mas a organização de combate pela qual o proletariado iria
marchar para sua emancipação. Fribourg, no livro que escreveu em 1871 em que tentou
justificar sua deserção e a de uma parte de seus amigos, sugeriu que depois do
Congresso da Basiléia “era evidente para todos que Marx, o comunista alemão,
Bakunin, o bárbaro russo e Blanqui, o autoritário, formavam o triunvirato onipotente,
fazendo com que a Internacional dos fundadores franceses estivesse morta, bem morta”.
Mas isso não era assim: a Internacional parisiense tivera outros fundadores que não
foram homens como Tolain e Fribourg, os quais eram estranhos para o verdadeiro
socialismo; ela podia citar outros militantes como Varlin, Pindy, Langevin, Avrial,
Landrin, Theisz, Delacour, e os operários de Paris iriam demonstrar para o mundo no
ano seguinte, sua completa capacidade.
Arquivo Bakunin arquivobakunin.blogspot.com
NOTAS:
2. Este documento é aquele que foi chamado de Inaugural Address e foi traduzido e
publicado em francês em 1866 com o título de Manifeste de l’Association Internationale
des Travailleurs.
5. De Stirner (Max), filósofo alemão, autor da célebre obra O Único e sua Propriedade.
FONTE: www.anarkismo.net