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Síndrome da Alienação Parental


A Síndrome da Alienação Parental, ou Implantação de Falsas
Memórias, é um processo pelo qual um dos genitores, em regra o
que detém a guarda do filho nos casos de separação litigiosa,
manobra, conscientemente ou não, a mente da criança para que esta
passe a ignorar e mesmo a odiar o outro genitor, excluindo-o da vida
da família.

A Síndrome da Alienação Parental é um quadro perverso que causa


danos devastadores no psiquismo das crianças, com reflexos
permanentes, e é raiz de fracassos futuros em todos os campos da
vida, não se pode furtar o Judiciário de apreciar as questões ligadas
à Alienação Parental com os olhos voltados para o Futuro, apesar de
ter que lidar com questões sutis, muitas vezes, tendo mesmo que
interferir nas relações pessoais do casal, já que os filhos não são
como os bens a serem partilhados quando de uma separação: São
pessoas, com direitos que devem ser protegidos e respeitados. Além
de fazer valer a diretriz constitucional de que o poder parental não se
extingue com a separação do casal.

DESENVOLVIMENTO

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS VIOLADOS QUANDO DA SÍNDROME


DA ALIENAÇÃO PARENTAL

1 – Visão Principiológica

Os princípios constitucionais, antes vistos como orientadores das


normas infraconstitucionais, hodiernamente são o âmago das
próprias leis, imprescindíveis que são para a aplicação dos ideais de
Justiça.

A Síndrome da Alienação Parental é um fenômeno observado quando


da dissolução litigiosa de uma união com filhos, na qual passa a
haver uma disputa pela guarda dos mesmos. Em tempos idos, nos
quais o pai era o simples provedor do lar, a Síndrome da Alienação
Parental era algo impensável. Com a intensificação do trabalho da
mulher, passou a haver uma divisão de tarefas familiares e, como
conseqüência, maior aproximação dos pais com os filhos, gerando a
competitividade pelos filhos quando da separação.

Trata-se de fato social tão importante que motivou alteração no


próprio texto da Carta Constitucional de 1988 que, no § 5º do Art.
226, igualou em direitos e deveres homens e mulheres, gerando
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alteração no Código Civil de 2002, que passou a chamar de Poder


Familiar o que antes denominava de Pátrio Poder.

A Constituição Brasileira garante, em seu Art. 227, que “ é dever da


Família, da Sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de
colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão”. Portanto, por
obediência ao comando constitucional citado, não pode deixar o
Judiciário de apreciar as questões ligadas à Alienação Parental,
capazes que são seus resultados de causar danos irreparáveis à
Família Brasileira

2 – Princípio da Dignidade Humana

O princípio da dignidade humana é o mais abrangente de todos os


princípios constitucionais posto que dele emergem todos os direitos.
E, se a Constituição da República Federativa do Brasil estampou em
seu Artigo 1º, III a Dignidade Humana como fundamento
constitucional, elegeu, obviamente, a pessoa humana como ponto
central de seu texto, preocupando-se, portanto, o constituinte mais
com o “Ser” do que com o “Ter".

O princípio da dignidade humana não trata apenas de um limite à


atuação do Estado Juiz, mas sim de um objetivo a ser atingido. Não
tem apenas dever de abster-se de praticar atos atentatórios à
dignidade humana, mas antes tem dever de promovê-la, garantindo
a essência humana do próprio direito brasileiro.

A dignidade do ser humano encontra na família a base para a sua


existência e a ordem constitucional lhe garante a proteção, seja qual
for sua origem, ou seja, não importa se a família é produto de
casamento, união estável, convivência ou da dissolução de qualquer
desses institutos. As pessoas que constituem as famílias têm
assegurado, constitucionalmente, o direito à dignidade humana.

Na Síndrome da Alienação Parental, que ocorre quando da dissolução


litigiosa de uma unidade familiar, um dos genitores busca destruir na
mente do filho a imagem do outro, “assassinando“ as boas
lembranças, levando a criança a desatar, gradativamente, laços de
amor e a destruir o vínculo afetivo, base de uma existência
equilibrada e saudável. A criança vítima da Síndrome da Alienação
Parental se vê, de repente, órfã de genitor vivo, se sentindo
desprezada e desamparada durante a infância e crescendo com a
possibilidade de tornar-se, no futuro, igualmente um alienador. Por
outro lado, o genitor alienado do convívio com seu filho, se sente
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fracassado, rejeitado, injustiçado e, muitas vezes, devido ao


envolvimento emocional com o fato, torna o problema o cerne, foco
central de sua vida, transformando-se numa pessoa frustrada e
infeliz.

Portanto, se é direito da pessoa humana constituir um núcleo


familiar, também o é não manter esse vínculo, que passou a
constituir foco de infelicidade. E, sendo um direito legalmente
garantido a busca da separação e do divórcio, amparado está este
direito pelo princípio da dignidade humana, não havendo, desta
forma, qualquer justificativa para que o desfazimento da união seja
motivo para a infelicidade de todos os envolvidos, justamente o que
se pretendeu evitar com a separação.

3 – Princípio da Solidariedade Familiar

A solidariedade social é um dos objetivos fundamentais da República


Federativa do Brasil, disposto no art. 3º, inc. I, da Constituição
Federal de 1988. Buscou o constituinte a construção de uma
sociedade livre, justa e solidária. E, por razões óbvias, esse princípio
repercute e se intensifica nas relações familiares, já que a
solidariedade deve existir primordialmente nesses relacionamentos
pessoais.

Solidariedade é o cada um deve ao outro. Trata-se de princípio com


origem nos relacionamentos afetivos, com conteúdo ético e moral,
que guarda em seu íntimo valores humanos como fraternidade,
responsabilidade e reciprocidade.

O texto constitucional, em seu Art. 229, ao impor aos pais o dever de


assistir, criar e educar os filhos e aos filhos maiores o dever de
amparar e ajudar os pais na velhice, instituiu a solidariedade familiar
como norma e objetivo a ser perseguido. Entretanto, entende-se
igualmente, em recentes discussões, como solidariedade não só o
contexto patrimonial, mas também, em alguns casos, o campo
afetivo, devendo os familiares um ao outro, de forma recíproca,
respeito e consideração, não se extinguindo a solidariedade familiar
pela dissolução do casamento já que o vínculo entre pais e filhos é
indissolúvel.

4 – Princípio da Proteção Integral

O princípio da proteção integral à criança e ao adolescente, norma


constitucional insculpida no Art. 227 do texto em comento, é de tal
importância que gerou o microsistema jurídico do Estatuto da Criança
e do Adolescente – Lei 8069/90 – com suas normas de conteúdo
material e processual, nos campos do Direito Civil e do Direito Penal,
que abriga toda a legislação protetiva e reconhecedora da criança e
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do adolescente como sujeitos de direito, reproduzindo e


aprofundando, em seus Arts. 3º, 4º e 5º os ditames do texto
supremo.

O príncípio da proteção integral não trata de uma simples


recomendação ética. É de fato um conjunto de normas voltados a
proteger os indivíduos com menos de 18 anos, teoricamente mais
vulneráveis, como pessoas em desenvolvimento que são. Portanto,
esses indivíduos mereceram dos legisladores, tanto constituinte
quanto infraconstitucional, tratamento diferenciado, sendo dever da
Família, Sociedade e Estado, nesta ordem, garantir-lhes direitos
assecuratórios de existência digna, bem como mantê-los no convívio
familiar independentemente da situação fática ou civil da vida comum
dos pais.

Fica clara, portanto, a idéia de que a simples existência da Síndrome


da Alienação Parental em qualquer de seus níveis, da mais simples
negativa de uma criança visitar o genitor afastado aos enormes
danos psicológicos que podem advir das modalidades mais graves da
patologia, viola frontalmente o Princípio da Proteção Integral, já que
a Constituição da República Federativa do Brasil tem seus
fundamentos calcados no Homem e, portanto, na proteção dos
direitos humanos, dos quais a criança também é titular.

Ao retirar-se da criança o direito ao convívio com um dos genitores,


nega-se a ela a possibilidade de existência em ambiente saudável e
da estabilidade emocional que advém da inenarrável sensação de
segurança que representa para uma pessoa em formação o fato de
poder contar com a presença e o afeto de Pai e Mãe, ainda que
ambos não residam na mesma casa.

MEIOS DE PREVENÇÃO DA SÍNDROME DA ALIENAÇÃO


PARENTAL DISPONÍVEIS HOJE NO JUDICIÁRIO BRASILEIRO

A implantação de Falsas Memórias, em muitos casos, é previsível,


bastando uma visão atenta ao comportamento do casal em litígio.
Portanto, detectando-se a possibilidade da ocorrência, com fulcro nos
princípios constitucionais já elencados e em nome da proteção
integral à família, pode o Magistrado adotar qualquer medida que
entender adequada ao caso concreto, dentre as quais destacamos as
que, em recentes decisões, têm ocorrido com mais freqüência:
determinar o acompanhamento da vida parental por Assistente
Social; determinar o encaminhamento da criança a tratamento
psicológico; ordenar ao colégio onde a criança estuda que mantenha
ambos os genitores informados de todas as ocorrências relativas à
vida escolar dos filhos; instituir a guarda alternada; instituir a
guarda compartilhada.
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O papel do Advogado nas Separações Litigiosas

O advogado, como profissional que tem o primeiro contato com uma


das partes da relação conjugal em litígio, possui uma enorme
responsabilidade “extra-causa” que é a de detectar nas palavras de
seu Cliente os sentimentos de frustração, raiva e vingança e, com
tato e empatia, não carregar suas petições com esses sentimentos,
ou seja: Cabe ao advogado entender que a aplicação da Justiça, em
sua plenitude, inicia-se já no primeiro atendimento, no conteúdo de
suas argumentações. Deve este profissional do Direito ter formação
humana e consciência de que nas separações litigiosas não haverá
vencedores e perdedores: Todos serão perdedores, já que todos
trazem consigo desejos não concretizados. É mister que, ao
causídico, igualmente não lhe falte a sensibilidade para compreender
que, acirrando os ódios, as perdas de todos, principalmente as das
crianças envolvidas serão imensamente maiores já que elas poderão
perder, com o desfazimento da relação conjugal, o convívio com um
dos seus pais e, quiçá com alguns tios, primos, avós, amigos...

O advogado que milita nas áreas de Direito das Famílias precisa ter
conhecimento específico da Síndrome da Alienação Parental e estar
atento aos primeiros sintomas desta terrível doença, ainda
desconhecida por muitos dos profissionais responsáveis pelas varas
de família, já que os termos e argumentações que forem utilizados
nas peças processuais poderão influir na existência ou exacerbação
do problema.

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