Resumo
A Atlântida Cinematográfica foi um estúdio de Cinema brasileiro fundado nos anos 40 e permaneceu em atividade até o início dos anos 60. Seu principal produto eram as chanchadas, filmes populares com números musicais estrelados por astros provenientes do rádio. O sucesso desses filmes perante o público não se refletia na crítica ou no meio intelectual, que o subjugavam como filmes desimportantes, vergonhosos e mal feitos. Com os olhos de hoje percebe-se a inestimável importância desses filmes para a formação de um público de Cinema, além da alta relevância artística ao se apresentar a cultura brasileira para os brasileiros. Estavam impregnados nesses filmes elementos culturais em forma de caricatura ou alegoria, nosso samba, nossos melhores comediantes. A elite cultura não percebia isso, pois sua visão de qualidade artística estava viciada no que vinha do estrangeiro, sendo assim, era incapaz de assimilar a própria cultura cinematográfica.
Título original
A Incompreensão do Cinema Popular da Atlântida pelo classe média intelectual
Resumo
A Atlântida Cinematográfica foi um estúdio de Cinema brasileiro fundado nos anos 40 e permaneceu em atividade até o início dos anos 60. Seu principal produto eram as chanchadas, filmes populares com números musicais estrelados por astros provenientes do rádio. O sucesso desses filmes perante o público não se refletia na crítica ou no meio intelectual, que o subjugavam como filmes desimportantes, vergonhosos e mal feitos. Com os olhos de hoje percebe-se a inestimável importância desses filmes para a formação de um público de Cinema, além da alta relevância artística ao se apresentar a cultura brasileira para os brasileiros. Estavam impregnados nesses filmes elementos culturais em forma de caricatura ou alegoria, nosso samba, nossos melhores comediantes. A elite cultura não percebia isso, pois sua visão de qualidade artística estava viciada no que vinha do estrangeiro, sendo assim, era incapaz de assimilar a própria cultura cinematográfica.
Resumo
A Atlântida Cinematográfica foi um estúdio de Cinema brasileiro fundado nos anos 40 e permaneceu em atividade até o início dos anos 60. Seu principal produto eram as chanchadas, filmes populares com números musicais estrelados por astros provenientes do rádio. O sucesso desses filmes perante o público não se refletia na crítica ou no meio intelectual, que o subjugavam como filmes desimportantes, vergonhosos e mal feitos. Com os olhos de hoje percebe-se a inestimável importância desses filmes para a formação de um público de Cinema, além da alta relevância artística ao se apresentar a cultura brasileira para os brasileiros. Estavam impregnados nesses filmes elementos culturais em forma de caricatura ou alegoria, nosso samba, nossos melhores comediantes. A elite cultura não percebia isso, pois sua visão de qualidade artística estava viciada no que vinha do estrangeiro, sendo assim, era incapaz de assimilar a própria cultura cinematográfica.
Artigo para disciplina de Cinema Brasileiro do curso de graduao em Cinema e Vdeo da Fap/Cinetvpr Professora: Solange Stecz
CURITIBA 2012 Resumo A Atlntida Cinematogrfica foi um estdio de Cinema brasileiro fundado nos anos 40 e permaneceu em atividade at o incio dos anos 60. Seu principal produto eram as chanchadas, filmes populares com nmeros musicais estrelados por astros provenientes do rdio. O sucesso desses filmes perante o pblico no se refletia na crtica ou no meio intelectual, que o subjugavam como filmes desimportantes, vergonhosos e mal feitos. Com os olhos de hoje percebe-se a inestimvel importncia desses filmes para a formao de um pblico de Cinema, alm da alta relevncia artstica ao se apresentar a cultura brasileira para os brasileiros. Estavam impregnados nesses filmes elementos culturais em forma de caricatura ou alegoria, nosso samba, nossos melhores comediantes. A elite cultura no percebia isso, pois sua viso de qualidade artstica estava viciada no que vinha do estrangeiro, sendo assim, era incapaz de assimilar a prpria cultura cinematogrfica.
Cinema popular e msica Desde os seus primrdios o cinema nacional esteve relacionado com a msica popular presente em filmes cantantes do comeo do sculo XX. Muitos msicos e compositores populares brasileiros como Pixinguinha e Ari Barroso tocaram nas salas escuras de projeo. Essa unio no foi por menos, o pblico gostava e comparecia com mais frequncia nas fitas onde havia msica numa poca em que o cinema nacional vivia a sua belle poque. Um perodo em que o cinema estrangeiro ainda no tinha invadido o mercado por completo. Sabe-se que j naquele perodo a crtica no estava interessada pelo produto nacional, que o considerava de menor qualidade em comparao ao estrangeiro. Nosso primeiro filme falado foi uma espcie de musical posado no melhor estilo Broadway Melody, guardada suas propores, claro. Coisas Nossas dirigido pelo americano Wallace Downey em 1930 foi um sucesso de bilheteria e execrado pela crtica, que se via cheia de razes ao apontar a utilizao do som como algo desnecessrio que feria a essncia do cinema que era a imagem. "Embora como via de sada frente competio estrangeira, ou enquanto proposta esttica, esse rumo tenha sido combatido durante muitos e muitos anos, no resta dvidas que, nas dcadas de 1930, 40 e 50, a unio entre o cinema e a msica brasileira, identificada para sempre com o cinema que se fez no Rio de Janeiro, possibilitou a sobrevivncia e garantiu a permanncia do cinema brasileiro nas telas do pas. (VIEIRA, 1987, p.141). Percebe-se que a camada crtica intelectual brasileira estava perfeitamente antenada com os pensamentos da crtica internacional e esse um caso que se repete at os dias de hoje. Se olha o filme nacional com um olhar estrangeiro. E dessa maneira faz-se demandas pelcula brasileira que no lhe servem, como por exemplo, no se percebeu na poca que em Coisas Nossas est registrado a nica apario audiovisual de Noel Rosa, inegavelmente um de nossos maiores artistas. No se deu a devida importncia ao fato, preferiu-se diminuir a fita em comparao fita estrangeira, apontar falhas tcnicas e amaldioar a chegada do som. Hoje esse filme se encontra perdido e o nico trecho que ainda existe justamente o trecho onde Noel Rosa est registrado.
A crtica especializada As chanchadas da Atlntica, impregnadas com nossa msica, dana e humor se salvavam na bilheteria justamente pelo encontro desses elementos. Talvez mais msica e dana do que cinema, visto que os filmes sentiam a falta de apuro da linguagem visual e tratamento narrativo, mas talvez essa ainda no fosse a questo. A questo aqui era muito mais formar um pblico pagante e se relacionar com essa plateia, independente do que a crtica escrevia. "O discurso flmico das chanchadas, na qual cabem as ideologias das elites e das massas populares, reflete a ciso existente entre elite e povo no Brasil da dc de 50. A ideia de cultura popular enquanto cultura baixa, em oposio a cultura alta, uma produo ideolgica do sculo XVIII, ainda encontra-se arraigada nas classes hegemnicas do pas nos anos 50"(MACHADO, 2007,p.101) O trabalho de cinema popular com vis econmico/artstico nunca foi bem assimilado pelo brasileiro intelectual. Esse no era o cinema que interessava aos intelectuais que viam arte no cinema estrangeiro, principalmente nos cinema europeu mais srio. O humor e o riso sempre foram elementos preteridos pelos intelectuais em comparao ao drama e justamente um dos principais elementos da chanchada. O que importa ressaltar, neste instante, que estes crticos, na verdade, estavam informados por uma concepo esttica fortemente ancorada na tradio ocidental. Com efeito, suas opinies refletem o modo como diversos pensadores ocidentais perpetuaram a herana esttica vinda da Grcia clssica. Para entender melhor isso, veja-se a maneira como Aristteles construiu uma hierarquia que privilegia a tragdia em detrimento da comdia. Para ele, a tragdia pode ser entendida como imitao de uma ao de carter elevado, completa e de certa extenso, em linguagem ornamentada e com as vrias espcies de ornamentos distribudas pelas diversas partes (do drama), (imitao que se efetua) no por narrativa, mas mediante atores, e que, suscitando o terror e a piedade, tem por efeito a purificao dessas emoes (catarse). A comdia, por outro lado, imitao de homens inferiores; no, todavia, quanto a toda a espcie de vcios, mas s quanto quela parte do torpe que o ridculo.(RAMOS, 2003, p.3) Percebe-se que esse cinema estrangeiro e elogiado pelo brasileiro estava totalmente ligado ao seu povo. Existia nesses pases uma forte cultura do cinema popular. O italiano se reconhecia no cinema italiano, o francs idem e por isso era to forte e se desenvolviam to bem. O mesmo no acontece com a pelcula nacional pois o brasileiro tinha medo de olhar o prprio cinema, medo de olhar para si e se encontrar nesse olhar. Medo de descobrir quem se de verdade, ou seja pertencente a uma cultura num pas precrio, atrasado e subdesenvolvido. A produo nacional pode muito bem ter como finalidade e efeito afastar o pblico de sua realidade. Alis, o que amide se verifica. Mas, inclusive nesse ltimo caso, o filme nacional refere-se, direta ou indiretamente, realidade em que vive o pblico. Entretanto, devemos reconhecer que o pblico desconhece tais experincias. Se omitirmos alguns raros casos isolados, s a chanchada possibilitou, de modo prolongado, esse tipo de experincia. (...) Assim, o pblico no tem o hbito de ver-se na tela, e as identificaes que pode fazer com o personagem e situaes nunca so baseadas em elementos de sua realidade, de seu comportamento, de sua vida, de sua sociedade, etc. tarefa do cinema brasileiro, e das mais urgentes, conquistar o pblico. Essa experincia, esse dilogo do pblico com um cinema que o expresse, fundamental para a constituio de qualquer cinematografia, pois um filme no to-somente o trabalho do autor e sua equipe: tambm aquilo que dele vai assimilar o pblico, e como vai assimilar.(BERNADET, 1967,p.32) Famoso o caso do filme Aruanda de Linduarte Noronha, que no era um filme musical e sim um novo olhar sobre o Brasil e devido a insuficincias no quesito tcnico foi apontado como filme um primitivo, mas essa no era a questo nem de longe. O primitivismo se caracteriza mais pela ingenuidade de viso e do modo de reproduo da realidade e no implica uma tcnica deficiente e simples. (...) No caso, a insuficincia tcnica tornou-se poderoso fator dramtico e dotou a fita de grande agressividade. (BERNADET, 1967, p.33) Estavam em Aruanda uma nova forma de olhar o Brasil e do fazer cinematogrfico, que no foi percebido por uma grande maioria das cabeas de sua poca. Estava ali a semente de um novo cinema, que viria a se chamar Cinema novo. E essa incapacidade da massa crtica para assimilar com clareza o que se entendia por cultura brasileira at ento um fato notrio que de certa forma ressoa at os dias de hoje. Para os intelectuais da poca a cultura que importava era a cultura da Europa, rica e evoluda em muitas questes. Esse fato a marca de um colonialismo que dominava as mentes cultas de ento. Se no mbito econmico preferia-se o produto estrangeiro, a moda estrangeira, a comida estrangeira, pois importava-se de tudo de palito de dentes a manteiga (BERNADET, 2007, p.30). Esse mesmo fenmeno se repetia nas classes altas intelectualizadas consumidoras de cultura. Cultura de verdade era a estrangeira. Ou seja, fica evidente que boa parte da massa pensante do pas no tinha condies de avaliar as chanchadas e os filmes populares da Atlntida, por exemplo. No tinha como avaliar a cultura brasileira da sua poca pois seu olhar era viciado pelo estrangeiro. Vejamos um caso clssico em que Otvio de Faria, membro da Academia Brasileira de Letras, fala sobre as chachadas: em s conscincia possvel chamar de cinema brasileiro a essas pelculas? Por que em caso afirmativo, se chanchada for cinema brasileiro, ento eu confesso que sou contra o cinema brasileiro. Para Salvyano Cavalcanti Paiva, um dos crticos mais importantes e respeitados do pas o que se chama no Brasil comdia cinematogrfica a pura chanchada, o disparate vulgar combinado a um pouco de sexo e frases de duplo sentido. Influncia do baixo teatro, da burleta e do pior radiologismo. No se dava importncia e no se respeitava a nossa prpria cultura, muito pelo contrrio; atacavam-na, queriam destru-la, esquece-la. Marca disso o descaso que hoje se reflete de outra forma. Na morte do filme como um todo ou seja no seu desaparecimento. muito comum, ao pesquisarmos filmes nacionais de dcadas passadas, principalmente at os anos 60 e descobrir que esse filmes no existem mais. Simplesmente foram esquecidas, abandonadas, no valorizadas, jogadas no lixo da existncia. Isso pode ser muito comum com fitas obscuras mas tambm acontece com obras de importncia inquestionveis como Moleque Tio de 1943. O primeiro longa da Atlntida por si s uma obra a ser referenciada, mas no s por isso, tambm o primeiro trabalho para cinema de Grande Otello, que na poca j era uma estrela dos rdios. E se no fosse s por isso, o filme em si de grande importncia, pois a narrativa conta a cinebiografia do prprio Grande Otello. O filme foi um sucesso de bilheteria e caso raro, foi bem recebido pela crtica, principalmente ao se referenciarem ao timo trabalho de Grande Otello, mesmo assim no teve jeito, e o filme se tornou mais uma obra esquecida por todos, hoje, perdida. Hoje o que resta preservado do nosso cinema fica a baixo dos 40%, o toda uma histria da nossa construo cinematogrfica est perdida para sempre. Esse cinema de vis popular que gera uma importante ligao do pblico com seu cinema, to vital para os mercados internos dos EUA e da Frana, que o Brasil simplesmente jogou fora, achou feio. Mas naquela tosquice tcnica estava um caminho mais nosso para o desenvolvimento de uma linguagem prpria. S era necessrio tempo para que a linguagem evolusse. Agora, imagine se os americanos tivessem execrado Charlie Chaplin em suas primeiras fitas. notrio que um dos grandes gnios do cinema comeou suas atividades no cinema fazendo fitas de curta durao e de qualidade intelectual discutvel. O mesmo pode-se dizer de D. W. Griffith, homem que fez mais de 400 filmes nos mais diversos formatos, inclusive disseminou todo uma tcnica do fazer cinematogrfico que no pode em hiptese alguma ser negada pelo fato de ser clssico. Hoje considerado um das maiores influncias do cinema. Nos Estados Unidos deu-se o tempo para amadurecer o artista, e o que importava era o dinheiro e se valoriza isso, j com o cinema brasileiro popular houve um aborto forado. A chanchada foi um gnero de cinema renegado pela classe mdia intelectualizada porque eles no tinham a maturidade para perceber uma cultura autenticamente brasileira pois seu olhos estavam completamente voltados para o estrangeiro. E at hoje o cinema brasileiro tem problemas com esse fazer de vis popular dentro de uma linguagem clssica. Nossa viso no aceita isso. E o cinema precisa de um mercado e da cultura popular para se desenvolver. . O domnio da tcnica da linguagem visual do cinema algo que se leva tempo para se desenvolver. O cinema brasileiro no tinha fora e nem podia desenvolver a linguagem clssica de cinema, que no nada simples ou barata. Hoje a tecnologia dos meios cinematogrfica est de certa forma democratizada, mas na poca o mesmo no acontecia. Os americanos detinham muito tecnologia cara e um desenvolvimento da linguagem clssica muito bem resolvida. No Brasil no tnhamos esse desenvolvimento ao nosso dispor para fazer os filmes, era realmente muito mais caro e muito mais difcil de se fazer pois estvamos no comeo, ramos principiantes. E foi a que o cinema novo apareceu, em resposta justamente e essa aparato tcnico pesado e caro para a realidade precria no Brasil. Mas da sem o apelo popular. E de fato, vendo esses filmes hoje nota-se que no eram to ruins ou atrasados como falavam os crticos, eles tinham problemas sim e eram evidentes, mas havia outras questes a serem percebidas. Em Aviso aos navegantes vemos uma sequencia musical de chanchado nas estrelas, por uns instantes nos abstramos de tudo e vivemos uma verdadeira experincia abstracional cinematogrfica. Em movimentos de entradas e sadas e mudanas espaciais numa visvel utilizao de linguagem estritamente visual para criar uma atmosfera. Em outros momentos as explicaes e apontamentos atravs do dilogo explicativo se notam por demais. O que era habitual para a poca e uma das marcas desse cinema, resolvia-se boa parte da narrativa com dilogos explicativos, como as produes radiofnicas. Ainda em Aviso aos navegantes, numa cena o prncipe deixa cair seu passaporte e a amiga da mocinha encontra o passaporte, pega na mo e fala Olha ele esqueceu o passaporte, e um passaporte de prncipe no vemos o passaport, apenas imaginamos como ele pode ser, pois a cmera est afastada por demais para nos apresentar algum indicio visual do passaporte. Como numa rdio-novela. Alis, essa ligao entre rdio e cinema tambm foi muito atacada, mas era uma questo de dar ao pblico o que ele conhecia, e aos poucos evoluir na forma. Essa questo da radializao das chanchadas e do filme popular com certeza era algo passageiro, de transio. Assim como boa parte dos primeiros cinemas da Europa ou Estados Unidos, com suas forma de encenao teatral e articial. Esse desenvolvimento de uma tcnica clssica de apelo popular no foi bem compreendido na poca e j no final da dcada de 50 as fitas apresentavam uma decupagem melhor elaborada. A chanchada no copiava o ultra requintado e caro cinema americano. Ele o fazia da sua maneira, e buscava antes de tudo o encontro com o grande pblico e nisso tambm buscava uma linguagem prpria. O cinema moderno nunca foi bem assimilado pelas massas em nenhum pas do mundo. Mas o cinema clssico sim, e era esse o cinema pelo qual a Atlntida estava se desenvolvendo. Percebe-se que os profissionais da Atlntida estavam em constante evoluo no tratamento de uma linguagem para cinema. E o Homem do Sputnick uma prova disso. O ltimo suspiro da Atlntida tambm a marca de uma decupagem melhor trabalhada, de numa narrativa melhor estruturada e tambm um certo nvel de impacto crtico-social ao satirizar americanos, russo e franceses. Carlos Manga deixou de ganhar uma bolsa de estudos nos Estados Unidos por causa de uma cena nesse filme, onde J Soares, interpretando um americano cartunesco, brinda com coca-cola poltica de boa vizinhana, aps fazer uma encomenda de bugigangas para enganar alguns ndios. Existe algo de verdadeiro e profundo nesse filme. Por mais rasa que se expresse essa crtica, chegou ao ponto em que incomodou os americanos. Percebe-se a o alto potencial do cinema brasileiro para a comunicao direta com os brasileiro. Se a Atlntida no tivesse acabado, obviamente hoje teramos uma indstria de cinema nacional fortalecida, industrial e altamente profissional. Pois estaramos verdadeiramente ligados ao mercado e ao pblico consumidor. Novamente, a alienao, a cultura internacional que coloniza a mente das pessoas no as fez ver e se reconhecer e acreditar na cultura nacional. Essa classe mdia, intelectualizada e crtica no soube respeitar e nem acreditaram na prpria cultura. Asceno e queda dos negcios Em 1947 a cadeia de salas de projeo de Severiano Ribeiro se associou a incipiente indstria de cultura popular cinematogrfica. Como no modelo que fez o cinema americano evoluir; produo, distribuio e exibio andavam de mos dadas. No cinema americano, que desenvolveu junto de si um sistema que vendia na mdia os prprios filmes, os jornais e revistas de fofoca e reviews. E que se espalhou pelo mundo, sempre vendendo o cinema americano. No Brasil so notrias as publicaes que visavam cinema apenas como o cinema americano, onde o prprio cinema lhe estrangeiro, lhe dedicado um espao diferencial, alternativo, menor, deslocado. Num exemplo mais recente com a Revista Set, que serve apenas para vender o sonho do cinema americano, nas capas o blockbuster estrangeiro com fotos lindas de estrelas e entrevistas exclusivas. Os incrveis meios de produo cheias de tecnologia do cinema americano. E para o cinema brasileiro, bem esse no est no mesmo nvel. Mesmo assim a Atlntida tinha os seus blockbusters e por causa da associao com a rede de Severiano Ribeiro os filmes rendiam um bom dinheiro. Tal sucesso se percebe no depoimento de Jos Henrique Fialho para um site da internet: "Os cinemas brasileiros sempre tiveram casas cheias, o pblico comparecia em massa para assistir as chanchadas da Atlntida at meados dos anos 50. Porm, com o aparecimento da TV, o surgimento do cinema novo mais politizado e o desgaste natural do gnero, fizeram com que as chanchadas fossem perdendo espao. Entretanto, elas as Chanchadas entraram para histria marcando um dos perodos mais produtivos do cinema nacional." Com o tempo a frmula da chanchada foi envelhecendo e o pblico no queria mais a mesma coisa e essas comdias musicais produzidas pela Atlntida e similares comearam entraram em decadncia pelo gosto popular. Artistas e linguagem que no mais estavam ligados aos espectadores nesses novos tempos desenvolvimentistas. O filme Rio 40 Graus, de Nelson Pereira dos Santos inaugurara no pas uma maneira nova de se fazer cinema, colocando pela primeira vez o povo como protagonista em seu mundo, com seus problemas familiares e econmicos, seus anseios e lutas contra um cotidiano opressor. Um filme que alm de modernos e realista tambm foi um grande sucesso de bilheteria. Uma nova gerao estava chegando para o cinema brasileiro. E a Atlntida via o seu fim por no se adaptar aos novos tempos. Mas no s por isso, a crescente demanda por artistas na televiso tirou os maiores astros das chanchadas e os levaram diretamente para dentro de nossas casas. No foi a crtica que acabou com a Atlntida, foi a prpria Atlntida que acabou com ela. notrio os problemas de administrao financeira da empresa, a baguna generalizada nos seus estdios, aparelhagem tcnica sucateada, estrelas e diretores mal pagos. Ao mesmo tempo em que Severiano Ribeiro dizia que o cinema brasileiro nunca tinha estado to bem, Grande Otello confessava nunca ter ganho dinheiro fazendo filmes. Uma empresa de cinema precisa mais do que qualquer outra coisa uma gesto rgida e enxuta para se desenvolver. Logo aps esse perodo a TV Tupi (que depois viria a ser a Rede Globo) fundada, absorvendo a maior parte desses profissionais que trabalhavam na Atlntida e na Vera Cruz, empresa tambm desse mesmo perodo. Hollywood cresceu desenvolvendo tecnologia, e a TV Tupi/Rede Globo fez o mesmo, no atoa hoje existe o Padro Globo como referncia de alta qualidade. Esse padro que comeou a ser desenvolvido pelos tcnicos que comearam na Atlntida e foram se desenvolvendo na Globo. Documentrio musical e o cinema contemporneo Hoje me dia a msica no cinema brasileiro faz uma nova aliana, agora bem vista e bem vinda nos documentrios musicais. Nesse formato a elite culta se v livre para gostar da msica e da cultura no cinema, algo para se ter orgulho. Os filmes nem sempre so primores estticos, so na maioria das vezes documentrios jornalsticos participativos estruturalmente simples, mas isso no incomoda, pois o que importa ver a nossa cultura e nossa lngua nas telas. Exemplos so muitos no cinema documentrio atual; Raul o incio, o fim e o meio de Walter Carvalho sobre a vida do nosso grande roqueiro, Vou rifar meu corao de Ana Rieper sobre msica brega, Tits a vida at parece uma festa de Branco Mello e Oscar Rodrigues Alves mostra no cinema um apanhando imenso de imagens televisas, Wilson Simonal - Ningum sabe o duro que dei de Micael Langer Fabricando Tom Z de Dcio Matus Jr., Loki de Paulo Henrique Fontinelle sobre Arnaldo Batista, O homem que engarrafava nuvens de Lrio Ferreira sobre Humberto Teixeira o mestre do baio, Brega S/A de Vladimir Cunha e Gustavo Godinho sobre o fenmeno cultural de massa que tomou conta do Par. Independente das qualidades formais, se se tivesse realizado uma fico utilizando o tecno-brega como elemento musical ou o brega e suas dores de cotovelo, ser que teramos o mesmo entusiasmo da crtica? Ou ser que novamente a viso deturpada sobre o que ou no cultura viria a tona e teramos julgamentos infelizes com relao a esse filmes? S saberemos quando os fizermos. At hoje o cinema clssico, ou com vis comercial, renegado pelas escolas de cinema no Brasil. No nos debruamos sobre mestres clssicos ou tentamos criar algo de gnero. Quase que a maioria dos estudantes opta por caminhos que vo junto da moda do momento no cinema internacional. Se nos anos 40 e 50 o apogeu do cinema era o italiano e depois o francs as inteligncias da poca viravam o seu olhar justamente para esses pases. E hoje no diferente, esse mesmo fenmeno se repete. Visto que o que est em voga hoje o cinema asitico as nossas mentes novas esto com esse mesmo olhar virado para l copiando suas formas e frmulas. Mas sem conseguir encontrar aquela alma cinematogrfica e, opinio pessoal, na maioria das vezes soando completamente vazio. E isso fica ainda mais evidente no meio acadmico, nos festivais e mostras especficas da rea pululuam obras com aspecto reflexivo com tempos mortos e estendidos, desdramatizado, qualidades interessantes sim, mas que talvez no caibam corretamente a esse nosso espao e tempo latino. Essa classe mdia intelectualizada ainda produz da mesma maneira que no passado. Jovens tomados por seus anseios edipianos de querer viver no estrangeiro como estrangeiro, para no ter que encarar a realidade que a sua vida e os seus problemas, no aceita sua raiz, e vai em busca da certeza de um sucesso que no se faz na sua terra. Muitos so os que olham para fora, poucos so os que olham para dentro e buscam aqui as respostas para o seu cinema. De certa forma no houve evoluo. O clssico ainda mal visto pelo meio acadmico, o popular com vis de mercado tambm. Conhece-se pouco do nosso cinema e isso um problema grave. O preconceito existe, pois s o cinema de vis autoral aceito pela academia, o clssico quase que absolutamente negado. A ltima moda agora no meio intelectual conhecer o diretor mais obscuro, e quantos menos pessoas o conhecerem melhor. um trabalho de cavao para cada vez mais longe de si, como se, nesse sonho em busca do mais escondido, houvesse a busca de si, mas que na verdade nunca ir se encontrar, porque cada vez o caminho ficar mais longo, mais distante do nosso centro. Na verdade o que h de se fazer o inverso, aceitar o que se , aceitar essa raiz subdesenvolvida e a partir disso, olhar para dentro, para si, conhecer mais o cinema brasileiro, nossa histria, nossa trajetria e o nosso trabalho, nossos mestres. Conhecer o trabalho tanto de Mrio Peixoto como Carlos Manga. J temos uma cinematografia rica e as respostas para o cinema do futuro no est no oriente e sim aqui! Se soubermos ver o cinema que existe no Brasil, conhecer a vanguarda, o popular, o marginal, o novo, o ps-moderno, o cinema da Boca e todos os outros. J possvel visualizar uma forma prpria, brasileira, contempornea e popular de se fazer cinema. J podemos encontrar as respostas atravs da prpria cinematografia.
FILMES ANALISADOS Aviso aos Navegantes 1950 Direo: Watson Macedo Carnaval Atlntida 1952 Joo Carlos Burle Nem Sanso, nem Dalila 1954 Direo: Carlos Manga Pintando o Sete 1959 - Direo: Carlos Manga O Homem do Sputinik 1959 Direo: Carlos Manga Assim era a Atlntida 1975 - Direo: Carlos Manga
BIBLIOGRAFIA Revista Filme Cultura ano XVI maio 1983 n41/42 Brasil em tempo de cinema Jean-Claude Bernadet Companhia das letras Nossa Aventura na Tela Carlos Roberto de Souza Cultura Editores Associados A Ausncia de Crtica Objetiva na Chanchada de Pardia Estudo de Caso - O Homem do Sputnik, de Carlos Manga Nilson Assuno Alvarenga A cano popular no cinema brasileiro: os filmes cantantes, as comdias musicais e as aventuras industriais da Cindia, Atlntida e Vera Cruz Mrcia Carvalho VIEIRA, J.L. A chanchada e o cinema carioca.In: RAMOS, F. (org.) Histria do cinema brasileiro. So Paulo: Crculo do Livro, 1987. p. 129-187. A Chanchada Brasileira e a mdia Um dilogo com o rdio, a imprensa, a televiso e o cinema dos anos 50 Andr Lus Machado Lima Historiografia do cinema brasileiro diante das fronteiras entre o trgico e o cmico: redescobrindo a chanchada - Alcides Freire Ramos Cinema, memria e discurso: o gnero chanchada na perspectiva bakhtiniana Andr Janurio da Silva e Lcia Maria Alvez Ferreira
Industrializao e cinema de estdio no Brasil: a fbrica Atlntida - Joo Luiz Vieira
Jos Henrique Fialho , depoimento retirado do site http://decadade50.blogspot.com.br/2006/09/o-homem-do-sputnik-o-ltimo- suspiro-da.html