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Análise crítica ao Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares

O Modelo enquanto instrumento pedagógico e de melhoria. Conceitos implicados

Tendo sido iniciado em 1996 com a publicação do relatório “Lançar a Rede”, o projecto
de Rede de Bibliotecas Escolares tem vindo a ser desenvolvido com vista à prossecução
de um conceito central: o de que a biblioteca escolar constitui um contributo essencial
para o sucesso educativo, para o ensino e para a aprendizagem. Torna-se então,
pertinente conhecer qual o impacto que a BE vai tendo nesse processo, qual o grau de
eficiência dos serviços prestados e qual a satisfação dos utilizadores, o que se pode
traduzir na análise de que até que ponto a missão e os objectivos da BE estão ou não a
ser alcançados.

As BE´s deveriam funcionar como recursos básicos do processo educativo, com um


papel central nos domínios da “aprendizagem da leitura e desenvolvimento das
literacias, da criação e desenvolvimento do prazer de ler e a aquisição de hábitos de
leitura, da capacidade de seleccionar informação de diferentes suportes, do
desenvolvimento de métodos de estudo e de investigação autónoma e do
aprofundamento da cultura cívica, científica, tecnológica e artística”.

Este modelo implica os seguintes conceitos: auto – avaliação « …que deve ser
entendida como um processo pedagógico e regulador, inerente à gestão e procura de
melhoria contínua da Biblioteca Escolar » e ao qual está associado o conceito de valor,
uma vez que a experiência evita a repetição de erros e permite a introdução de novos
comportamentos/práticas. A Auto - Avaliação é assim, um processo de crescimento;
eficácia « effectiveness » que tem a finalidade de avaliar a acção da Biblioteca Escolar,
através do impacto que tem no funcionamento global da escola e nas aprendizagens dos
alunos e da identificação das áreas de sucesso e das menos conseguidas, bem como de
permitir emitir pareceres sobre os resultados da sua acção, para, a partir deles, traçar
estratégias que conduzam à mudança; aprendizagem - em que o aluno é ele próprio
construtor do seu conhecimento baseada no questionamento e na inquirição contínuas;
ao longo da vida; pelo e conducente ao desenvolvimento de literacias; mudança a partir
de evidências; evidence-based practice que se traduz no desenvolvimento de práticas
sistemáticas de recolha de evidências associadas ao trabalho do dia-a-dia. Todd, ( 2008);
pesquisa-acção que estabelece a relação entre os processos e o impacto ou valor que
originam; impacto qualitativo que tem a ver com a aferição das modificações positivas
que o seu funcionamento tem nas atitudes, valores e conhecimento dos utilizadores.

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Trata-se de aferir os resultados que os serviços produziram. “ a systematic measurement
of the extent to which a system (for example a library) has achieved its objectives in a
certain period of time. It is also described as a systematic process of determining value,
in terms of benefit gained, and quality, as reflected in customers satisfaction of a system
(Mckee, 1989).

Pertinência da existência de um Modelo de Avaliação para as bibliotecas escolares

Depois da implementação de BE, a nível de quase todas as escolas do país, torna-se


agora necessário proceder à avaliação desse mesmo trabalho.
O modelo de auto-avaliação baseou-se no modelo de auto-avaliação das bibliotecas
escolares Inglesas e reportou-se às especificidades da escola portuguesa. Assentou sobre
algumas ideias-chave:
- a noção de valor – a utilização da BE capaz de produzir resultados que contribuam de
forma efectiva para os objectivos da escola em que se insere.

- encarar a auto-avaliação como um processo pedagógico e regulador, inerente à gestão


e procura de uma melhoria contínua da BE.

- uma utilização flexível do modelo, adaptando-o à realidade de cada escola e de cada


BE.

- o modelo deve ser exequível e visar a identificação mais clara dos pontos fracos e
fortes, o que orientará o estabelecimento de objectivos e prioridades, de acordo com
uma perspectiva realista face à BE e ao contexto em que se insere.

Organização estrutural e funcional. Adequação e constrangimentos

Num contexto de mudança, e integrando os princípios definidos nos documentos


fundadores (IFLA/UNESCO E IASL) o modelo apresenta caminhos e possibilidades
para a evolução das bibliotecas.

Divide-se em 4 domínios e respectivos subdomínios:

A – Apoio ao Desenvolvimento Curricular

A.1. Articulação curricular da BE com as estruturas pedagógicas e os docentes

A.2. Desenvolvimento da literacia da informação

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B – Leitura e Literacias

C – Projectos, Parcerias e Actividades Livres e de Abertura à Comunidade

C.1. Apoio a actividades livres, extra-curiculares e de enriquecimento curricular

C.2. Projectos e Parcerias

D – Gestão da Biblioteca Escolar

D.1. Articulação da BE com a Escola/Agrupamento. Acesso e serviços prestados


pela BE

D.2. Condições humanas e materiais para a prestação dos serviços

D.3. Gestão da colecção

Para cada um destes domínios são apresentados Indicadores (permitem uma apreciação
sobre a qualidade da BE, nas zonas nucleares de intervenção) Factores Críticos de
Sucesso (exemplos de situações com valor informativo/formativo constituindo um guia
orientador para a recolha de evidências) Recolha de Evidências (instrumentos, registos
que permitirão efectuar a avaliação) e Acções para melhoria/Exemplos (sugestões de
acções a implementar para promover a melhoria do desempenho da BE).

As sugestões apresentadas no modelo podem ser facilitadoras de um processo de auto-


avaliação das BE, não devendo, no entanto, de deixar de ter em linha de conta os
diferentes contextos educativos, socioeconómicos e culturais em que se inserem as
bibliotecas escolares.
A construção de um modelo único, uniformizador da avaliação é vantajoso, mas não se
deve sobrepor à natureza das escolas. Alguns indicadores e factores críticos podem não
aplicáveis de igual forma em todas as escolas. Mas, aí, parece-me há que saber adequá-
los à realidade com que deparamos e tentar atingir a meta da melhoria dos serviços
prestados. Surgirão constrangimentos de vária índole que teremos que saber ultrapassar.
Mas o que verdadeiramente interessa e justifica a existência de uma biblioteca escolar
não são os processos, as acções e intenções que colocamos no seu funcionamento ou os
processos implicados, mas sim o resultado, o valor que eles acrescentam nas atitudes e
nas competências dos utilizadores.

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“ … libraries have no inherent objective value…. They manage processes and activities
and they make decisions that might lead to production to the users of library and to the
parent organization” (Cram, 1999).

Integração/Aplicação à realidade da escola

Este modelo de auto-avaliação indica o caminho, a metodologia e a operacionalização


mas implica que a organização escolar esteja pronta para acompanhar todo este
processo.

A integração poderá ser efectuada em três áreas chave:

. Integração na escola e no processo de ensino aprendizagem (institucional e


programática de acordo com os objectivos educacionais e programáticos da escola;
desenvolvimento de leituras e literacias; articulação e planificação de actividades
educativas);

. Acesso/ Qualidade da colecção (organização e condições de acesso e de trabalho;


recursos em diferentes ambientes e suportes actualizados correspondendo ás
necessidades dos utilizadores);

. Gestão da BE (liderança de um professor bibliotecário qualificado mais equipa que


integre a BE na escola e no desenvolvimento curricular).

Esta operacionalização poderia ser efectiva se todos tivéssemos as condições ideais para
as aplicar, mas numa escola onde a assistente operacional está com horário reduzido e
ainda acumula outras funções, isto é difícil de concretizar. A equipa que comigo
trabalha é multidisciplinar mas não há um elemento Tic presente. Durante as tardes
estou praticamente sozinha e a fazer atendimento, enfim, sempre uma corrida para
planificar e articular actividades.

Com a recolha de evidências e as propostas de exemplos de melhorias, a respeito da


observação, das estatísticas de utilização da BE, da avaliação da colecção, do plano de
actividades da BE, dos registos de contactos e reuniões, dos questionários a alunos,
docentes e pais, poder-se-á fazer um balanço da produtividade/desempenho positivo, ou
não, da BE na vida da escola e da comunidade. É sempre bom e facilitador do trabalho
do professor bibliotecário ter instrumentos de recolha e materiais de apoio para fazer a

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avaliação da BE, não podendo nunca esquecer que as realidades variam de escola para
escola.

Competências do professor bibliotecário e estratégias implicadas na sua aplicação

Há que ter em linha de conta a liderança do professor bibliotecário, a adequação da


equipa em número e qualificações às necessidades de funcionamento da BE e às
solicitações da comunidade educativa, a adequação da BE em termos de espaço e de
equipamentos às necessidades da escola/agrupamento e a resposta dos computadores e
equipamentos tecnológicos ao trabalho e aos novos desafios. O sucesso no desempenho
do cargo de professor bibliotecário, para além do perfil e competências (académicas e
informáticas e de gestão da informação), está condicionado a múltiplos factores, entre
eles o de natureza pessoal, as relações interpessoais com a equipa e o bom ambiente de
trabalho que consegue implementar entre os parceiros. A sua participação nos órgãos de
decisão pedagógica, assim como a planificação de projectos, actividades em parceria
com os demais docentes é fundamental para um bom cumprimento dos domínios
implicados no funcionamento e melhoria eficaz dos serviços prestados pela BE.
A equipa deverá ser multidisciplinar, incluindo a assistente operacional, com formação
e competências técnicas e organizacionais compatíveis com as funções que
desempenha.
E para terminar utilizaria as frases de N. Hill (1883-1970) que diz:” First comes
thought; then comes organization of that thought into ideas and plans; then
transformation of those plans into reality. The beginning, as you will observe, is in your
imagination”.

• Leituras Obrigatórias

• TEXTO DA SESSÃO Documento Word

• This Man Wants to Change Your Job Ficheiro

• School librarian as teachers: learning outcomes and evidence-based practice


Documento Documento PDF

• Modelo de Auto-Avaliação Documento PDF


Trabalho realizado por : Amélia da Conceição Neves Santos

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