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MANUAIS DE MASSAGEM
RESUMO
ABSTRACT
The vision is one of the primary ways in social relationship, settling through
psychophysiological mechanisms that determine the sensory impression. Blindness is
in a serious deficiency affecting parts of the visual apparatus, resulting from
either inherited or acquired. With the loss of visual people go through a process
of reconstruction of the cognitive system involving the tactile perception. The
movement of the hands as contact activity (massage) stimulates the tactile
attention allowing the reconstruction of the cognitive process. The objective of
this study to investigate differences in the cognitive process of visually
impaired congenital and acquired through manual massage techniques in a relevant
approach about the redirection of attention to the touch and possible socio-
cultural influences.
KEYWORDS: Visual impairment. Cognitive process. Massage Manual.
INTRODUÇÂO
A visão é tida como um dos cinco sentidos que permitem aos seres humanos, dentre
outros seres vivos a capacidade de percepção do mundo a sua volta. A percepção
visual ocorre pela compreensão de um conjunto de mecanismos fisiológicos e
psicológicos pelos quais se determinam a impressão sensorial (cores, formas,
movimento e relevo), através das radiações luminosas. Para tanto, faz-se
necessário a intervenção de zonas especializadas do cérebro (córtex visual) que
irão analisar e sintetizar a informação que ali chega (KASTRUP, 2007).
Graziano & Leone (2005), descrevem que a anatomia do aparelho visual compõem-se
de quatro partes: a retina, vias ópticas, centro visual cortical e o centro
psíquico. O processo de perda da visão pode iniciar-se em qualquer uma das partes
do aparelho visual, acarretando diferentes anomalias com consequentes danos a
acuidade visual.
A clareza visual pode variar entre visão completa e a falta dela. A cegueira
congênita, é aquela à qual pertencem os cegos que nunca viram, e por isso não
possuem base de referência de elementos visuais ou a memória visual. Esta pode
ser decorrente desde malformações oculares ou cerebrais até mesmo de certas
doenças intra-uterinas (HATWELL, 2003 apud KASTRUP, 2007).
Segundo Hatwell, 2003 apud Kastrup, 2007, os considerados cegos adquiridos
constituem principalmente de casos de deficiência visual adquirida, os quais
possuiriam por um período da vida (em média até os três anos de idade),
referências visuais e coordenações neurais entre as modalidades sensoriais. Esta
cegueira adquirida pode ser proveniente de processos traumáticos, acidentes ou
explosões, medicamentos ou por doenças infecciosas e não infecciosas como o
diabetes mellitus, doenças sistêmicas que comprometem a acuidade visual.
Deficientes visuais fazem o reconhecimento do mundo à sua volta através do tato,
entretanto, existem significativas diferenças entre o tato e a visão no que diz
respeito à percepção e ao processamento da informação. O tato capta a informação
de forma mais lenta e em caráter sequencial, consequentemente gera uma maior carga
na memória de trabalho, além disso, o tato limita-se a exploração de objetos
dentro do alcance dos braços. Sendo assim o tato é considerado um sistema
sensorial de curta distância que possibilita determinar diferentes características
de um objeto (OCHAITA E ROSA, 1995 apud BATISTA, 2005).
Diferentemente, a exploração visual consiste em uma captação da informação de
forma mais rápida, com uma menor carga na memória de trabalho, além de
possibilitar a observação de objetos à distância e sua posição espacial (OCHAITA E
ROSA, 1995 apud BATISTA, 2005).
As pessoas que vivenciam a perda da visão passam por um processo de reconstrução
do sistema cognitivo, e consequentemente dos seus meios de exploração afirma
(KASTRUP, 2007).
No que diz respeito ao processo cognitivo, Hall, 1981 apud Cunha e Fiorim, 2003,
afirmam que o mesmo ocorre a partir de modos de representações, pois deficientes
visuais congênitos não possuem a percepção visual que as pessoas videntes possuem
e por isso detém a capacidade de organizar e integrar as informações do ambiente.
Ainda segundo Kastrup, 2007, a perda da visão (na cegueira adquirida) promove
profunda alteração no funcionamento cognitivo, pois reações que até então eram
tidas como automáticas, passam a dispor de maior participação da atenção para sua
realização. Sendo assim, utilizando movimentos de exploração que envolva dedos e
mãos intensifica-se a capacidade cognitiva, ocorrendo à junção entre percepções
cinestésicas e cutâneas o que resulta na percepção tátil-cinestésica e permitindo
o reconhecimento das sensações ambientais para posterior representação cerebral.
Mediante a ausência da visão ocorre o que alguns estudiosos classificam como
compensação, ou melhor, desempenho de outros sentidos. Entretanto, diversas
análises realizadas mostram que a mesma não ocorre através de reorganizações
fisiológicas imediatas, mas sim por meio de um lento processo de construção sob
influência de fatores sócio-culturais (Vygotski, 1997 apud Kastrup, 2007). Ou
seja, defende-se a tese de redirecionamento da atenção.
Desta forma, os estudos psicológicos preconizam que a atenção é um processo que se
acopla aos outros processos cognitivos, como a percepção, a memória e o pensamento
podendo atenuá-los, amplificá-los ou inibí-los, tornando o processo de
conhecimento do ambiente algo mais rápido e com maior riqueza de detalhes (CAMUS,
1996 apud KASTRUP, 2007).
O movimento das mãos como atividade de contato permite a capturação de informações
acerca dos tecidos. A essa movimentação damos o nome de massagem (DE DOMENICO e
WOOD, 1998 p.18).
A questão é que com a perda da visão são necessários novos domínios cognitivos,
maior atenção direcionada para o tato como ocorre durante a massagem permitindo a
estimulação de ações cognitivas eficazes com conseqüente reconstrução do processo
cognitivo (MONTEIRO; MANHÃES, 2005 apud KASTRUP, 2007).
Tendo como abordagem a alta capacidade cognitiva em deficientes visuais este
trabalho foi realizado com o intuito de detectar através de técnicas de massagem a
atenção direcionada ao uso do tato e seus reflexos na reconstrução cognitiva.
METODOLOGIA
Participantes
Instrumentação e Procedimentos
Análise de dados
Para análise de dados foi realizada a análise percentual, para investigar se houve
possíveis diferenças significantes nas variáveis em questão entre o grupo de
deficientes visuais congênitos e adquiridos, bem como para análise de comparação
dos grupos de deficientes congênitos e adquiridos entre si.
A avaliação do questionário foi realizada através da análise de conteúdo,
utilizando de metodologia qualitativa.
RESULTADOS
Caracterização da amostra
Características demográficas
Características da deficiência
Características sócio-culturais
Processo cognitivo
Reconstrução cognitiva
Sexo, idade, escolaridade, ocupação.
Os dois grupos foram unânimes (100%) em dizer que acreditam ter uma melhor
percepção do ambiente em sua volta quando comparados a um vidente. Sendo os mesmos
enfáticos (100%) em considerar fundamental a participação familiar e da sociedade
na forma de encarar sua deficiência, bem como o papel que a sociedade possui na
formação de seu desenvolvimento social. Ou seja, 100% declararam que o acesso aos
métodos de ensino possibilitou sua percepção psico-social.
DISCUSSÃO
Com a perda da visão, as pessoas assim destituídas procuram suprir este sentido,
principalmente através do tato e da audição. Estudos realizados como de Spence &
Driver, 1997 apud Kastrup, 2007 e Ochaita & Rosa, 1995 apud Batista, 2005, denotam
a importância do tato como sentido capaz de promover alternativas sócio-
adaptativas, mas não com a mesma eficiência que a visão. Estes não são capazes de
proporcionar a exploração do ambiente a longas distâncias, limitando a exploração
ao alcance dos braços. Ao questionar os participantes, estes relataram o quanto o
tato tornou-se sentido primordial no seu deslocamento, entretanto de forma
limitada, pois é necessário a verificação de todo o ambiente antes e durante o
deslocamento através da palpação.
Desta forma, com a perda da acuidade visual as pessoas vivenciam a reconstrução do
processo cognitivo. Entretanto, estudos recentes têm apontado uma nova tese, a de
que não seria a potencialização de outros sentidos decorrente da perda da visão,
mas sim o redirecionamento da atenção para eles no caso do deficiente visual para
o tato e para audição. Neste âmbito o redirecionamento tátil ocorre por
reorganizações fisiológicas não imediatas sob influência de fatores sócio-
culturais (Vygotski, 1997apud Kastrup, 2007). Neste contexto, o presente estudo
teve como intuito utilizar técnicas de massagem manual, como forma de contato
através das mãos que preconiza a percepção tátil (percepções cutâneas e
cinestésicas), como método investigativo de reconstrução do processo cognitivo.
Os resultados apontados no presente estudo, quanto à pontuação geral do teste
prático corraboram com a literatura em que deficientes congênitos teriam um
processo de assimilação dos objetos e espaço melhor, portanto uma reconstrução
cognitiva mais rápida em relação aos deficientes adquiridos. Segundo Kastrup,
2007, isto se deve ao fato de que deficientes visuais congênitos nunca tiveram
representações visuais ou referência de elementos visuais, ou seja, tudo que estes
aprendem pelo tato ocorre por processos de aprendizagem constantes, sendo que a
memória consciente está frequentemente em trabalho. Diferentemente de deficientes
visuais adquiridos em que ocorrem sérias mudanças cognitivas, pois há relevantes
reduções de suas habilidades e hábitos anteriormente aprendidos, ou seja,
comprometimento de comportamentos caracterizados pelo automatismo e desta forma
tudo que estava na memória pré-consciente precisa ser resgatado à memória
consciente e assim proporcionando significativos aumentos na carga de ativação da
memória de trabalho.
O processo cognitivo possui como componentes a percepção, a memória, o pensamento
e acoplados a estes existe a atenção como descreve Camus, 1996 apud Kastrup, 2007
em seus estudos. No estudo realizado foi possível verificar que variáveis como
atenção e memória de curto prazo tiveram maior relevância em relação aos outros
domínios presentes no questionário prático, bem como nos momentos de observação.
Estudos como de Sternberg, 2000, caracterizam a atenção como um fenômeno que nos
permite o processamento ativo de uma quantidade limitada de informações. De forma
que o processamento de informações sensoriais e informações cognitivas
aconteceriam sem que tenhamos consciência dele, entretanto este processamento deve
acontecer de forma contínua, sendo assim ocorre que deficientes adquiridos perdem
esta condição o que torna necessário que estes processamentos sejam requisitados
sempre como informação consciente.
Porém, quando criamos situações que proporcionem alta ativação da atenção ocorre à
ampliação do pensamento e da memória, (figura 1). No entanto, devemos levar em
consideração que a percepção decorre do conjunto de processos em que reconhecemos,
organizamos e entendemos as sensações recebidas. O que vem ao encontro dos
questionamentos deste trabalho, pois uma percepção deficitária proporciona sérios
agravos na reconstrução do processo cognitivo, condição esta deficiente por parte
de alguns participantes adquiridos. Sendo que trabalhos abordados por Sternberg,
2000 realizados por alguns pesquisadores como Margaret Livingstone e David Hubel,
1998 defendem a idéia que existiriam diferentes rotas neurais para detectar forma
(tato) e cor (visão) dificultando este processo para ambos os tipos de deficientes
visuais. Merabet et al., 2007 e Sathian et al., 2002 apud Imbiriba, 2007, afirmam
em seus estudos apresentados no III Congresso de Conhecimento Científico da UFRJ,
que em tarefas de processamento da informação tátil áreas, visuais são recrutadas
e portanto, haveriam conexões ativas entre as áreas primárias somestésica e
visual.
CONCLUSÃO
Os achados deste estudo revelaram que embora a literatura considere que congênitos
possuem maior facilidade na reconstrução do processo cognitivo, fatores sócio-
culturais são determinantes para esta reconstrução, promovendo o redirecionamento
da atenção ao tato, com influência direta na formação cognitiva do indivíduo.
Desta forma, o conhecimento que estes possuem forma-se a partir da representação
cortical e semântica dos objetos, mediante a utilização de modalidades sensoriais
cinestésicas acompanhadas não só de reorganizações cerebrais, mas também de
aspectos da atenção que ao comparar deficientes visuais congênitos e adquiridos
por meio de estudos cerebrais fica evidente que existe maior atividade do córtex
visual de deficientes congênitos em tarefas discriminativas táteis na condição de
que estes nunca tiveram representações visuais, mas que, no entanto sejam
favorecidos pela acessibilidade sócio-cultural precoce. Entretanto, faz-se
necessário a realização de novas pesquisas com um número amostral relevante, e
impreterivelmente maior, disponibilidade de material científico para que não se
sejam abordadas somente condições limitantes deste grupo, mas também a
possibilidade de se oferecer uma melhor qualidade de vida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BATISTA, Cecília Guarnieri. Formação de Conceitos em Crianças Cegas:
Questões Teóricas e Implicações Educacionais. Psicologia: Teoria e Pesquisa. São
Paulo, v. 21, n.1, p.7-15, 2005.