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Artigo de Revisão Rev Bras Nutr Clin 2007;22(1):72-6

Etiologia da obesidade em crianças e adolescentes


Obesity etiology in children and teenagers
Etiología de la obesidad en niños y adolescentes

Dionísio Pereira de Souza1 Resumo


Gisely Sabino Silva 2
A obesidade é uma doença não-transmissível, caracterizada por um distúrbio no estado nu-
Amanda de Morais Oliveira3 tricional provocado por um desequilíbrio prolongado e permanente entre a ingestão e o gasto
calórico. A prevalência mundial da obesidade vem apresentando rápido aumento nas últimas
Neide Kazue Sakugawa Shinohara4
décadas, sendo caracterizada como uma verdadeira epidemia mundial. O objetivo desse es-
tudo foi promover uma revisão quanto à etiologia e epidemiologia da obesidade em crianças
e adolescentes. Os dados obtidos nessa revisão demonstraram que os principais fatores
responsáveis pelo aumento da incidência de obesidade na população mais jovem foram: a pre-
disposição genética para a obesidade; estilo de vida moderna, ocasionando o sedentarismo;
hábitos alimentares inadequados e influência da mídia no consumo de alimentos hipercalóri-
cos. Como prevenção para a obesidade, recomenda-se adoção de prática esportiva regular,
alimentação equilibrada em quantidade e qualidade de macro e micronutrientes e monitora-
mento familiar desses fatores desde o início da vida.

Abstract
Obesity is a non-transmitting disease, characterized by a disturbance in the nutritional condition
provoked by a long and permanent unbalance between the intake and the calorie consuming.
The world prevalence of infant obesity has become high in the last decades, and it has been
Unitermos considered a world epidemic. The aim of this study was to promote a revision of etiology and
Obesidade; alimentação; epidemiology of obesity in children and teenagers. The data gathered from this revision have
atividade motora; predisposição genética shown that the main factors responsible for the increase of obesity among the teenager popu-
lation were the genetic predisposition, life style related to sedentarism, inappropriate eating
Keywords
Obesity ; feeding; motor activity;
habits and media influence in the consume of hypercaloric food. As prevention to obesity, we
genetic predisposition recommend the adoption of regular sports practice, balanced food intake of macro and micro-
nutrients regarding to quantity and quality as well as monitoring of these factors since the very
Unitérminos beginning of childhood.
Obesidad; alimentación;
actividad motora; predisposición genética Resumen
La obesidad es una enfermedad no transmisible, caracterizada por un disturbio en el estado
Endereço para correspondência: nutricional provocado por un desequilibrio largo y permanente entre la ingestión y el gasto
Dionísio P Souza calórico. Los casos de obesidad en el mundo han aumentado muy rápidamente en las últimas
Rua Nova Descoberta, 2081 décadas, siendo este hecho caracterizado como una verdadera epidemia mundial. El objeti-
Nova Descoberta – CEP 52090-000
vo de este estudio fue promover una revisión cuanto a la etiología y la epidemiología de la
Recife/PE
obesidad en niños y adolescentes. Los datos obtenidos en esa revisión demuestran que los
E-mail: dps31@bol.com.br
principales factores responsables por el aumento de la incidencia de la obesidad en la pobla-
ción más joven fueron la predisposición genética para la obesidad, el estilo de vida moderna,
Submissão ocasionando el sedentarismo, hábitos alimentarios inadecuados y la influencia de los medios
7 de julho de 2006 publicitarios en el consumo de alimentos súper calóricos. Como medida preventiva para la
Aceito para publicação obesidad, se recomienda la adopción de práctica deportiva regular, alimentación equilibrada
6 de fevereiro de 2007 en cantidad y calidad de macro y micro nutrientes familiar de estos factores desde el inicio
de la vida.
Aluno do curso de especialização da Avaliação
1

da Performance Humana da Escola Superior de


Educação Física da Universidade de Pernambuco
(ESEF/UPE)
Graduada em Licenciatura Plena em Educação
2

Física pela Universidade Federal de Pernambuco


(UFPE)
Nutricionista e mestranda do Departamento de
3

Nutrição da UFPE
Professora do Departamento de Tecnologia Rural
4

da Universidade Federal Rural de Pernambuco


(UFRPE)
Etiologia da obesidade em crianças e adolescentes

Introdução pode olhar e afirmar que o sujeito é obeso; no entanto, existem


casos nos quais afirmar que um indivíduo é obeso é extrema-
A obesidade é uma condição de acúmulo anormal ou mente duvidoso. Nesses casos, pode-se lançar mão da avaliação
excessivo de gordura no organismo, caracterizando-se como da composição corporal para definir a porcentagem de tecido
uma das doenças não transmissíveis que mais cresce em todo adiposo e, assim, delimitar o diagnóstico da obesidade.
o mundo, pois, nas últimas décadas, tem se apresentado nas Desta forma, para a determinação do estado nutricional,
diversas faixas etárias, sendo apontada como uma verdadeira podem-se utilizar vários métodos e equipamentos tecnológi-
epidemia mundial1,2. Pode ser decorrente de causas endóge- cos capazes de diagnosticar obesidade, dentre os quais podem
nas (provocada por síndromes somáticas dismórficas, lesões ser citados o ultrassom, a tomografia computadorizada, a res-
do sistema nervoso central e endocrinopatias) ou exógenas sonância magnética, o infravermelho, a impedância bioelétri-
(resultantes da ingestão excessiva, quando comparada ao ca e a desintometria óssea. Porém, métodos antropométricos
consumo energético do indivíduo). A distinção entre as duas como o índice de massa corporal (IMC), circunferências cor-
é de grande importância, visto que as provocadas por causas porais e pregas cutâneas são largamente utilizados no diag-
endógenas devem ser tratadas no sentido de corrigir o distúr- nóstico clínico-nutricional10-12.
bio de base com normalização dos índices ponderais3. Na prática clínica, o IMC é o método antropométrico
As causas exógenas são responsáveis pela maior par- ainda mais utilizado, pois se trata de um cálculo simples utili-
te dos casos de obesidade, sendo que o excesso de gordura cor- zando peso/altura2 que apresenta boa correlação com a adipo-
poral ocorre quando o total de consumo de energia, na forma sidade corporal13. Nas avaliações nutricionais de crianças e ado-
de alimentos, excede o seu dispêndio, na forma de metabolis- lescentes, Cole et al.14 propõem pontos de corte relacionados
mo em repouso e atividades físicas adicionais. Tanto a inges- com a idade, utilizando como referência os percentis baseados
tão excessiva quanto o baixo dispêndio energético podem ser no ponto de corte para adultos com sobrepeso (IMC de 25 a
o fator causador, porém, em muitos casos, parece que ambos 30 kg/m2) e obesidade (IMC acima de 30 kg/m2). Parâmetros
atuam conjuntamente3. americanos e ingleses recomendam os percentis 85 e 95 de
Sabe-se que a obesidade é resultante da ação de fatores IMC, relacionados ao peso e altura, para cada faixa etária como
ambientais sobre indivíduos geneticamente predispostos a pontos de corte para sobrepeso e obesidade, respectivamente.
apresentar excesso de tecido adiposo4, contudo, a alimentação Pesquisas recentes apontam o uso da razão entre a cir-
desequilibrada e o sedentarismo são os fatores mais freqüen- cunferência da cintura e do quadril (RCCQ), como indicador
temente apontados como determinantes do súbito aumento preciso na discriminação da obesidade e do risco coronaria-
dos casos de obesidade entre as populações, pois é impossível no, uma vez que a gordura abdominal é apontada como um
que a genética sozinha seja suficiente para explicar o aumen- potente fator de risco em estudos atuais15. No entanto, para
to maciço da obesidade, como tem ocorrido mundialmente o diagnóstico da obesidade infantil, foi verificada uma bai-
nos últimos 20 anos5. xa correlação entre o IMC e RCCQ em crianças holandesas.
Segundo Abreu & Spinelli6, a proporção de pré-escolares, Em estudo com crianças alemãs também se verificou baixa
escolares e adolescentes classificados como sobrepeso sofreu correlação de RCCQ com obesidade, aconselhando os autores
grande aumento nos anos 90, após relativa estabilidade entre as a não-utilização de RCCQ em associação ao diagnóstico de
décadas de 60 e 70. Esse ganho de peso se deve, basicamente, obesidade infantil16.
à fase de constantes transformações pela qual passam as crian- As pregas cutâneas também são rotineiramente utili-
ças e os adolescentes quanto aos componentes do peso corporal zadas na prática clínica; no entanto, estas medidas não são
(gordura, músculos e ossos) até alcançarem o estágio adulto7. consistentes em situações de obesidade mórbida e edema,
Assim, considerando publicações que abordam a porém é possível a avaliação e o acompanhamento de reser-
obesidade e o seu crescente aumento anual, esta revisão teve va de gordura corporal dos indivíduos em diversas condições
o objetivo de obter referências sobre a incidência da obesidade clínicas17. Marshall et al.18 compararam a validade de vários
na infância e na adolescência e os métodos antropométricos indicadores antropométricos de obesidade em função de va-
mais utilizados para a avaliação dessa morbidade nestes gru- lores de composição corporal em crianças de sete a 14 anos de
pos populacionais. idade e concluiu que o somatório de quatro dobras cutâneas
mostrou ser mais sensível que o IMC na identificação de obe-
Obesidade e diagnóstico nutricional sidade, principalmente em crianças do sexo feminino.

De acordo com Cataneo et al.8, a obesidade é um distúr- Predisposição genética e história familiar
bio no estado nutricional provocado por um desequilíbrio pro-
longado e permanente entre ingestão e gasto calórico. Porém, Existem certos distúrbios genéticos que predispõem
segundo Williams9, existem situações em que qualquer pessoa pais e filhos à obesidade19. Porém, não se têm comprovações

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Souza DP, Silva GS, Oliveira AM, Shinohara NKS

científicas se o estímulo para o aumento de células adiposas hábitos pelos produtos anunciados, desfavorecendo a escolha por
é nutricional, endócrino, genético, comportamental ou a as- uma alimentação balanceada e variada, e induzindo a ingestão
sociação de todas essas combinações. Sabe-se apenas que este de alimentos com alta quantidade de carboidratos, levando, por
aumento celular é maior quando a obesidade ocorre preco- exemplo, a carências de micronutrientes como ferro, iodo, cálcio,
cemente do que quando é iniciada na fase adulta e que uma vitamina A e C e as do complexo B. Essas carências podem vir a
vez alcançado este número de células, ele sempre se manterá desenvolver um estado patológico chamado de fome oculta, que
elevado, ocorrendo só uma diminuição de tamanho pela per- acomete pessoas em todas as faixas etárias e classes sociais25,26.
da de peso20. Em estudo realizado por Halpern & Rodrigues Health et al.27 verificaram, em uma pesquisa com estu-
envolvendo fatores genéticos e obesidade, ficou demonstrado dantes do ensino médio, que a participação dos alunos nas
que o aparecimento desta patologia em filhos de pais obesos aulas de educação física, bem como a prática de esporte extra-
apresentava-se com um valor de 80%, reduzindo para 50% curricular e a participação em programas de recreação, dimi-
quando apenas um dos pais era obeso e a 10% quando ne- nuíram no período de 1984 a 1990. Além disso, as mudanças
nhum dos pais apresentava obesidade21. nos horário de trabalho, assistir à televisão e o uso de jogos
Nos relatos de Stunkard et al.22, foram confirmadas as con- eletrônicos e computadores por longos períodos de tempo, e
tribuições de fatores genéticos e do ambiente familiar na obesida- outros aspectos culturais ligado a influências ambientais e so-
de de uma população de 3580 indivíduos adultos que passaram ciais nos grandes centros urbanos, diminuem as oportunida-
pelo processo de adoção e foram recolocados em novos lares e di- des para a prática de atividade física regular28.
vididos em quatro classes de peso: baixo peso, eutrofia, sobrepeso
e obesidade. Em 540 indivíduos foi observada a forte relação entre Hábitos alimentares
a classe de peso dos adotados e o IMC dos seus pais biológicos,
concluindo que os fatores genéticos prevaleceram na determina- Segundo Carvalho et al.26, o crescimento acelerado du-
ção do peso corporal do indivíduo, e isto foi observado em todas as rante a infância e adolescência, torna as necessidades de ener-
classes de peso não somente nos casos de obesidade. gia e nutrientes elevadas e, na maioria das vezes, estas são
Ramos & Barros Filho23 em pesquisa realizada na cidade inadequadamente atendidas, pois o hábito alimentar tende
de Bragança Paulista, São Paulo, para determinar a prevalência a sofrer relativas mudanças, entre as quais se observa o au-
da obesidade entre 1334 crianças e adolescentes de 11 a 18 anos mento do consumo de lanches gordurosos, ricos em açúcares
e relacioná-la com o estado nutricional dos pais, encontrou e proteínas, sendo pobres em cálcio, ferro e fibras pelo baixo
prevalência de 7,3% de sobrepeso e 3,5% de obesidade entre consumo de frutas, vegetais, peixes, leite e cereais integrais.
os pesquisados. Do perfil nutricional de sobrepeso e obesidade, Sampei29 afirma que, em dez anos, o arroz, o feijão e a
foram encontrados 26,09% de crianças e adolescentes que pos- salada praticamente desapareceram do prato das crianças e
suíam pais e mães obesos. Os autores concluíram que a obesi- adolescentes brasileiros, sendo substituídos muitas vezes pelos
dade não é um problema de saúde pública nesta população e hambúrgueres e batata frita. Tornou-se mais usual o consumo
que, quando encontrada, há correlação entre a obesidade dos de alimentos processados, com alto teor de gordura saturada e
participantes com o estado nutricional de seus pais. colesterol, geralmente com elevado conteúdo energético30.
A relação entre a composição da dieta e o volume ali-
Estilo de vida mentar ingerido podem exercer influência significativa no
desenvolvimento da obesidade, na qual a forma de preparar
Taylor et al.24 afirmam que a criança obesa tende a ser me- os alimentos e a quantidade ingerida permite que algumas
nos ativa e, à medida que se torna mais velha, a porcentagem crianças consumam mais comida do que precisam e por isso
energética diária usada para o seu crescimento diminui e, con- ganham peso31,32. A associação entre o excesso de peso e a in-
seqüentemente, o seu gasto energético diário é reduzido. Além gestão alimentar deve ser monitorada pelos pais desde o pri-
disso, poucas pré-escolas (local onde a maioria das crianças pas- meiro ano de vida33.
sa parte do dia) incluem em seu currículo educação física com Um outro aspecto que tem se discutido sobre os fatores
atividades recreativas intensas que exijam um gasto energético relacionados à epidemia da obesidade é a contribuição do au-
significativo para a criança. Associado a isto, o sedentarismo mento das porções dos alimentos servidas em restaurantes, ba-
em casa proporciona horas despendidas em frente da televisão, res e supermercados. O artigo de Young & Nestlé34, apresenta
vídeo games ou computador, com um alto consumo de snacks a evolução dos tamanhos das porções de alimentos oferecidas
e alimentos açucarados, altamente calóricos25. em alguns estabelecimentos nos Estados Unidos. Os resulta-
Nos Estados Unidos, por exemplo, a média de horas que dos mostraram que o tamanho da porção de carnes, massas e
uma criança em idade escolar gasta em frente da televisão é de chocolates ultrapassavam em 224, 480 e 700%, respectivamen-
26 horas semanais. Os hábitos alimentares infantis são influen- te, do padronizado pelo United States Department of Agricul-
ciados pelos anúncios e comerciais, que modulam preferências e ture. Além disso, constatou-se que foi a partir da década de 70

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Etiologia da obesidade em crianças e adolescentes

que houve um aumento das porções servidas, coincidindo com Na adolescência, por conta do estirão puberal, os reque-
a atuação mais forte do marketing na indústria alimentícia. rimentos calóricos estão aumentados, com conseqüente au-
mento do apetite e ganho de peso. Nesta etapa, as caracterís-
Epidemiologia da obesidade ticas de comportamento peculiares, aliadas ao apelo da mídia
e influência do grupo, favorecem a dietas não balanceadas,
No mundo inteiro, a rápida ascensão dessa doença hipercalóricas, pela repetição de alimentos tipo fast food e
foi observada inclusive em regiões que tradicionalmente lanches rápidos com alto valor calórico, ricos em açúcar, car-
apresentam baixos padrões de obesidade, como no Extre- boidratos refinados e gorduras saturadas, em detrimento da
mo Oriente35. Dados mostram que, nos Estados Unidos, a alimentação habitual com a família. O perigo encontrado nes-
obesidade acomete cerca de 27% da população adulta, entre te erro alimentar é que a obesidade na infância e adolescência
20 e 74 anos36, e entre 20 a 27% das crianças e adolescen- tem como conseqüência a possibilidade de sua manutenção
tes37. Ainda nos Estados Unidos, comparando-se inquéritos na vida adulta, levando a um risco à saúde e ao aumento da
nacionais de 1985 e 1990, constata-se que a obesidade em morbimortalidade25.
crianças de seis a 11 anos aumentou em 67% nos meninos e
em 42% nas meninas38. Na Espanha, cerca de 10 a 20% dos Considerações finais
adolescentes são obesos26.
No Brasil, há uma carência de dados relacionados à No tratamento e prevenção do sobrepeso e obesida-
criança e ao adolescente, porém, em 1989, a Pesquisa Nacio- de, o aumento da atividade física terá um papel decisivo
nal de Saúde e Nutrição (PNSN) constatou que a obesidade na promoção da saúde, na qualidade de vida e na preven-
apresentava valores de 8 a 9% em crianças de dois e três anos, ção e/ou controle de diversas doenças, ou seja, a incor-
e de 5% entre as crianças de sete a 10 anos de idade39. poração do exercício como um hábito regular é uma das
Em outro estudo semelhante realizado pelo Institu- formas mais efetivas de manter a perda de peso e exercer
to Nacional de Alimentação e Nutrição40, foi observada importantes efeitos psicossociais, já que as crianças ge-
que a prevalência de obesidade entre crianças com idade ralmente sofrem reações preconceituosas dos colegas de
inferior a 10 anos era de 2,5 e 8% nas famílias de baixo escola e da vizinhança, considerando-as como preguiço-
e alto poder aquisitivo, respectivamente. Comparando- sas e glutonas.
se dados do Estudo Nacional da Despesa Familiar (Endef, É importante ressaltar que se faz necessário, além do es-
1974/1975) e da Pesquisa de Padrão de Vida (PPV), reali- tímulo à realização de tarefas de maior dispêndio calórico, a
zada em 1996 e 1997, nas regiões sudeste e nordeste do manutenção de um bom hábito alimentar em casa, relaciona-
Brasil, foram verificados aumentos de 4,1% para 13,9% do ao consumo freqüente de frutas, legumes e verduras, car-
na prevalência de sobrepeso e obesidade entre crianças e ne, leite e ovos, a fim de reforçar os preceitos alimentares e a
adolescentes de seis a 18 anos1. adequação da dieta da criança. É preciso também questionar e
Taddei41 verificou que as prevalências nacionais brasilei- pressionar mudanças escolares, juntamente com o apoio dos
ras nos menores de cinco anos, nos inquéritos de 1989 e 1996 professores, no tocante à adequação do menu a ser fornecido
foram similares (5,5 e 4,1% respectivamente), porém com di- pelas cantinas e lanchonetes para que se envolvam na batalha
ferença entre as regiões do país. Na região nordeste, houve um pela boa nutrição infantil.
aumento na prevalência de obesidade, principalmente entre os Deve-se considerar ainda que a obesidade impõe uma
lactantes, de 3,9% para 7,3%. Em relação ao sudeste, em 1989, série de riscos e perigos à saúde e, por este motivo, as inter-
residir nessa região representava um risco de obesidade para os venções para prevenir esta patologia devem ser iniciadas mais
menores de cinco anos de 2,59%, caindo para 1,16% em 1996. precocemente, começando na idade do pré-escolar ou mesmo
No estudo realizado com adolescentes residentes em Pe- no nascimento, levando-se em consideração a influência dos
lotas, Rio Grande do Sul, foi relatada a presença de 8,8% de pais na formação dos padrões de hábitos de alimentação e de
adolescentes obesos do sexo masculino e 6,6% do sexo femi- atividade física na infância, até a formação do estilo de vida
nino, definidas por meio do índice de massa corporal maior na idade adulta, com a consolidação desses hábitos que foram
ou igual ao percentil 95 da NHANES I e pregas cutâneas42. desenvolvidos desde o início da vida.

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