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Discurso DEISE BENEDITO - Fórum de Entidades Nacionais de Direitos

Humanos – Lançamento PNDH III

Brasília, 21/12/2009
Ao cumprimentar o excelentíssimo senhor Presidente da República, Luiz Inácio
Lula da Silva, estendo o meu bom dia a todos e a todas.
Represento aqui a sociedade civil, por meio do Fórum de Entidades Nacionais
de Direitos Humanos, que, em conjunto com a Secretaria Especial dos Direitos
Humanos, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos
Deputados e outros órgãos e organizações, participou de todo o processo de
construção do Programa Nacional de Direitos Humanos, desde antes da
realização da 11ª Conferência Nacional dos Direitos Humanos. Esse trabalho
foi um grande mutirão, que contou com a presença de 14.000 pessoas em todo
o país.
Gostaríamos, de início, de reconhecer o trabalho de articulação do Ministro
Paulo Vannuchi e de toda a equipe da Secretaria Especial de Direitos
Humanos, que trabalhou incansavelmente para construir uma política de
Estado, que articule os demais ministérios e também os demais poderes e
órgãos da federação.
Presidente Lula, seu compromisso com os direitos humanos ficou evidenciado
em sua luta incansável para acabar com a fome no Brasil e no mundo,
garantindo o direito humano à alimentação a todos/as.

Contudo, sabemos que o Brasil ainda vive um contexto de grandes violações


de direitos. Não somos um país pobre, mas a violência e as desigualdades de
renda, regionais, de raça, de etnia e gênero nos envergonham.
Metade da nossa população é negra e tem maiores dificuldades de acessar
direitos em razão da cor da sua pele. O racismo ainda persiste e políticas de
ação afirmativas são essenciais para universalizar os direitos. Acabar com as
desigualdades raciais é um compromisso de todos, mas uma dívida histórica
do Estado Brasileiro.
Assistimos também, durante a construção do PNDH, a um processo de
criminalização dos movimentos sociais e dos defensores e defensoras de
direitos humanos. Infelizmente esse processo conta com o apoio dos grandes
meios de comunicação, setores do Ministério Público, poder Judiciário e do
Congresso Nacional. Não há democracia em uma sociedade onde os
movimentos sociais são perseguidos e criminalizados.
Para nós, Direitos Humanos, significam não apenas os direitos civis e políticos,
mas também os direitos econômicos, sociais, culturais, sexuais e ambientais.
Cabe ressaltar duas dimensões que foram consideradas estruturantes na
construção do PNDH III: a universalização dos direitos em um contexto de
desigualdades e o impacto de um modelo de desenvolvimento insustentável e
concentrador de renda na promoção dos direitos humanos.
Enfrentar as desigualdades sociais passa pela necessidade de compreender
que a opção pelo atual modelo de “desenvolvimento” hegemônico transformou
a terra, urbana e rural, e os territórios tradicionais em mercadorias. Esse
“desenvolvimento” tem tido um impacto negativo sobre os direitos humanos e
também tem ameaçado a vida no planeta, como vimos na semana passada em
Copenhague.

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Nesse sentido, o PNDH III avançou ao incorporar os impactos do modelo de
desenvolvimento em curso no país sobre os direitos humanos. O direito ao
meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável foram, portanto, incorporados
pelo programa.
O principal desafio para a implementação do PNDH é transformá-lo em uma
política de Estado, não de um governo, ou mesmo da Secretaria Especial de
Direitos Humanos. Isso significa que ele deve ser um instrumento de referência
para a formulação de programas e ações tanto para o poder executivo, mas
também para o poder legislativo e judiciário.
Uma das principais dificuldades de todo o processo foi o de envolver
representantes do Poder Judiciário na discussão e também no compromisso de
implementação do Programa. O Poder Judiciário não tem mostrado um
compromisso efetivo com os direitos humanos nas suas decisões. Temos que
chamar o judiciário a responsabilidade pela efetivação dos Direitos Humanos
no Brasil.

É notório que dentro do próprio governo federal há contradições que emergiram


neste processo, como a recusa do Ministério da Defesa, Sr. Nelson Jobim, em
subscrever o PNDH, retardando ainda mais seu lançamento público, por opor-
se à criação da Comissão de Memória e Justiça, aprovada durante a
Conferência e subscrita pela Secretaria Especial de Direitos Humanos e a
quase totalidade dos Ministérios. A criação da Comissão é um elemento
essencial para democratização da sociedade brasileira.
Para que o PNDH se efetive é necessário fortalecer a institucionalidade dos
Direitos Humanos no país. Nesse sentido, a aprovação do Conselho Nacional
de Direitos Humanos, em tramitação no Congresso Nacional, é de fundamental
importância. Infelizmente, a posição conservadora e minoritária do Deputado
José Carlos Aleluia, dos Democratas da Bahia, tem impedido que o Conselho
seja aprovado.
Nosso desejo é que o PNDH se efetive em políticas públicas, orçamento e que
possa garantir dignidade das pessoas desse país. Para isso, o papel do
governo federal é essencial, assim como o papel da sociedade civil, que vai
continuar cobrando e lutando para que os direitos humanos sejam uma
realidade na vida de todos e todas.

Muito obrigada!

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