Você está na página 1de 6

Boletim da

Biblioteca

Ano 1
Edição 1
2008/2009
EDITORIAL

“Sempre imaginei o paraíso como uma grande biblioteca.”


Jorge Luis Borges
i b l i o t e c a
Setembro!
Verão a acabar, Outono a chegar, as aulas a
começar.
Uma biblioteca é um local sobretudo de dis-
ponibilização de recursos e, assim sendo, a
sua existência só se justifica se ela servir Vem à B
As boas-vindas a todos neste novo ano de a função pedagógica e educativa para que
2009/2010 vos dá a equipa da Biblioteca da foi criada. Por isso, senhores professores e
Escola, desejando-vos os maiores sucessos

o
funcionários, caros alunos e demais comu-
educativos e escolares.
Se a ano novo corresponde vida nova, es-
nidade escolar e educativa, estamos ao
vosso dispor.

n o M u n d
ja
clarecemos que a coordenação da equipa

e Via
da biblioteca está a cargo do professor João
Rui Sampaio, a quem se devem dirigir caso
desejem algo. Nesta missão conta com uma
equipa constituída pelos professores Luísa
Dias, Jorge Figueiredo, Olga Carvalho, Irene
Santos, Paula Rebelo e Lurdes Figueiredo,
que estarão igualmente disponíveis para co-

s
laborar convosco na prossecução dos vossos
objectivos.

P a l a v r a
2 da s
Maria João Lopo
de Carvalho
Maria João Lopo de Carvalho nasceu em
1962 e licenciou-se em Línguas e Liter-
aturas Modernas pela Universidade Nova
Adopta-me de Lisboa. Professora de Português e de
Inglês no ensino público e privado, repre-
sentante em Portugal dos colégios ingleses
Maria João Lopo de Carvalho Pilgrims, fundou e dirigiu a Know How,
Sociedade de Ensino de Línguas. Publi-
cou o primeiro romance, o best-seller Vi-
Adopta-me fala da vida verdadeira, dos meninos sem rada do Avesso, em 2000 e Acidentes de
amor e dos amantes sem dinheiro, de pessoas embru- Percurso, em 2001.
tecidas pela miséria e de pessoas que não desistem de Divorciada, mãe de dois filhos, fala e es-
lutar pelos seus sonhos. É um livro militante e desas- creve pelos cotovelos e tem sempre tempo
sombrado, generoso e terno, cândido e cáustico. para tudo, sobretudo para os amigos

3 10
Paralelo 75
Jorge Araújo

Os livros que eu quero


Paralelo 75 ou O Segredo de um Coração Traí-
do não é um livro sobre a morte, é a história de um
homem que se reconciliou com a vida.
No ano de 1975, o mundo ficou de pernas para o ar.
Naqueles trezentos e sessenta e cinco dias aconteceu Marketing
de tudo, prelúdio do apocalipse ou o fim da História.
A Revolução apanhou o Senhor Engenheiro na sua
fazenda em África. Eram tempos conturbados, chei-
rava a independência, mas ele pensava que os ven-
Festa Redonda
tos de mudança acabariam por passar ao largo. No
fundo aquela era a sua terra. Obrigado a refugiar-se
na Metrópole, jurou que nunca mais regressaria a No Reino da Dinamarca
casa. Durante mais de trinta anos viveu num quarto
de pensão, divorciado da realidade, de costas voltadas
para o mundo. Fez tudo para enterrar o passado, até
ao dia em que lhe foi diagnosticado uma doença ter- Quadras ao Gosto Popular
minal. Decidiu regressar à sua fazenda. Queria fazer
as pazes com um filho que tinha apagado da memória,
exorcizar um amor que lhe atormentava a existência. Poesias

4 9
Nem tudo começa Cinco Balas Contra
com um beijo América
Pedro Sousa Pereira, Jorge Araújo Pedro Sousa Pereira, Jorge Araújo

História construída a partir de uma reportagem feita


por um dos autores (Jorge Araújo) em Luanda sobre
No coração de África, as revoluções também eram
as crianças que vivem nos esgotos, publicada no se-
feitas de histórias de amizade.
manário “O Independente”. O livro apresenta-nos o
O Verão de 74 foi quente na ilha de São Vicente,
mundo como sendo uma casa, que tem Cave e Sótão.
em Cabo Verde. De Lisboa apenas chegavam ru-
A Cave são os buracos do esgoto que servem de tecto
mores de golpe de Estado. Os combatentes pela
a Fio Maravilha e a todos os outros meninos que não
independência continuavam nas matas da Guiné,
têm para onde ir. Na mesma linha alegórica, o Sótão é
o poder andava pelas ruas e a Revolução era uma
a cidade (que fica por cima do chão e por debaixo do
festa sem fim. O primeiro comandante da guerrilha
céu). Tem basílicas grandiosas, mesquitas com cres-
a desembarcar na cidade chegou disfarçado de emi-
centes dourados, pontes que ligam margens e vidas.
grante. Gostava de copos e de mulheres e organi-
E prédios com vista sobre a solidão, onde as pessoas
zava sessões de vigilância contra a eventualidade
se cruzam nos elevadores, dizem “bom dia”, “boa tarde” mas não se conhecem. É num
de um ataque das forças imperialistas. Zapata, Bob,
deles que vive Nuvem Maria, a menina dos cabelos de ouro. Fio Maravilha descobriu a
Aristóteles e Frederico foram enviados para a Praia
paixão em Nuvem Maria. Mas era um amor impossível. Na Cave, Nuvem Maria não era
de São Pedro para evitar um desembarque das tro-
desejada; no Sótão, Fio Maravilha não tinha futuro. Até que um dia um brutal terramoto
pas norte-americanas. Para se defender, receberam
destrói tudo e todos mata. Excepto Fio Maravilha. Impossibilitado de regressar à Cave,
um revólver e cinco balas. Viveram então a noite
vagueia pelo Sótão e descobre, no meio dos escombros, Nuvem Maria. Partem de barco.
mais longa das suas vidas: a noite em que perderam
Felizes para sempre. A narrativa é acompanhada por duas dezenas de ilustrações que,
através de imagens, contam a história em paralelo. toda a inocência.

6 8
Vida no Campo
«Quando o presente é feio e o fu- vam pouco dinheiro com a agricultura, descoberto os jogos. Rapidamente
turo incerto, o passado vem-nos sempre mas acharam-me tão entusiasmado fiquei viciado. As minhas notas, nos
à ideia como o tempo em que fomos fe- com os estudos que, para meu bem, anos seguintes, foram baixando,
lizes.» gastaram as suas poupanças mas eu fui até que acabei por reprovar. Cansei-
Lembro-me muito bem de quando era estudar para a cidade. Uns conhecidos me dos estudos. Já só queria jogar!
jovem. Morava numa terriola no meio deles, que viviam na cidade, oferece- Quando os meus pais souberam,
da serra. Os meus pais eram ambos agri- ram-se para que eu ficasse a dormir fizeram-me regressar a casa, para tra-
cultores. Naquele sítio não havia muito em sua casa. Quando cheguei à cidade, balhar com eles. Tiraram-me o com-
para fazer. Tratava-se dos animais e da fiquei admiradíssimo! Ruas cheias de putador, “prenderam-me” no meio
horta. Havia muito pouca informação carros, prédios enormes, muitas lojas da serra, obrigaram-me a ficar lá e a
sobre grandes cidades próximas, e as com montras cheias de objectos que ajudá-los nos trabalhos.
que tínhamos chegavam através de um nunca tinha visto na vida! Agora não sei o que fazer. Não
pequeno rádio. No primeiro dia de aulas, conheci tenho estudos suficientes para ir tra-
A escola da aldeia, onde eu estudava, novos amigos. Eles não brincavam na balhar para a cidade! Estou con-
tinha poucos alunos que, como eu, não rua, como eu fazia no campo, ficavam denado a esta vida sem sentido na
tinham dinheiro para irem à cidade. Era em casa a jogar uns jogos esquisitos companhia dos meus pais que já não
um sossego. Não havia alunos destabili- dentro de uma caixa com teclas a que conseguem realizar a maior parte
zadores que não me deixassem concen- chamavam computador. das tarefas. Agora, estou obrigado
trar. Éramos todos amigos! Tudo o que Passaram meses. Consegui adaptar- a ficar no campo para os ajudar.
fazíamos era ao ar livre, no meio dos me aos meus novos camaradas. Nos
Daniel Neves, Nº9, 9ºA
montes. primeiros anos tive boas notas. Como
Cresci. Com pouco mais de 12 anos, recompensa, recebi um computador.
decidi que queria ir estudar para a ci- Eu sabia fazer trabalhos nele, apren-
dade. Falei com os meus pais. Ganha- di na escola, mas ainda não tinha

6 7

Você também pode gostar