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Público • Quinta-feira 21 Janeiro 2010 • 39

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Em nenhum momento afirmei que o fim do programa de Marcelo Rebelo de Sousa se devia à ERC

Uma hipocrisia intolerável

A
ENRIC VIVES-RUBIO
preocupação que o presidente da Entidade
Reguladora para a Comunicação Social de-
monstra nutrir por mim, no artigo de opinião
publicado no PÚBLICO de 17 de Janeiro (“Uma
manipulação intolerável”), é acompanhada
de uma pretensa ironia de recorte literário e adopta
um tom angelical que acaba por revelar uma hipocrisia
intolerável.
José
De resto, o nível de demagogia, instrumentalização, Alberto
falsidade e hipocrisia que se instalou nos últimos dias a Carvalho
propósito do fim dos programas de comentário de Mar-
celo Rebelo de Sousa (MRS) e António Vitorino (AV) na
RTP é ilustrativo de uma certa decadência ética e moral
que não deixa de ser perturbadora.
Azeredo Lopes voltaria a usar as mesmas vestes numa
pungente entrevista à SIC Notícias (“Jornal das 9”, 18 de
Janeiro) em que acabou por responder à pergunta que
se impunha e que, afinal, resolve o problema.
Restam no entanto diversas questões que não podem
passar em claro.
Sejamos claros: a única entidade que até agora assu-
miu o fim dos programas foi a Direcção de Informação
da RTP. É, de resto, a única que o poderia fazer. E pela
minha parte, não preciso do respaldo de ninguém.
Verifico no entanto – sem o entender – que alguns pre-
tendem retirar “o cavalinho da chuva”; e é inaceitável
que, nessa manobra, salpiquem de lama quem dá o 9) Face às posições sucessivamente assumidas pela Criticar o regulador cípio do amputado”;
peito às balas. ERC, parece óbvio que seria entendida como desobe- • Em 2007 e 2008, o
Em nenhum momento afirmei que o fim do programa diência a eventual decisão de manter no ar o programa (criado pelo Conselho Regulador dizia
de Marcelo Rebelo de Sousa se devia à ERC. O que digo “As escolhas de Marcelo Rebelo de Sousa”, porque à que dois espaços de opi-
e reafirmo é que não devo ignorar as recomendações luz das interpretações expressas pela ERC tal decisão
Parlamento) mas nião eram insuficientes;
da entidade reguladora que tutela a RTP. Discordo, con- afunilaria o espectro de opinião. Mesmo que, como rei- fazer depender a A 18 de Janeiro de 2010
testo, oponho-me às decisões ou recomendações da teradamente afirmei, “Marcelo e Vitorino não estejam (SIC Notícias), o avatar
ERC com que não concordo – como tenho feito no que na RTP em representação dos partidos políticos a que validade da sua acção diz que a ERC se limita a
respeita às quotas para avaliação do pluralismo político- pertencem”. reguladora da “recusa” “registar” as decisões da
partidário –, mas não as ignoro. Finalmente, nunca afirmei que pretendia acabar com RTP.
Esclarecido este ponto, segue-se o filme dos aconte- os comentários políticos na RTP. Pelo contrário! Sempre ou “resistência” do • Em 2007 e 2008, o
cimentos: afirmei o oposto! É falsa, portanto a afirmação de Azere- Conselho Regulador me-
1) Os comentários de António Vitorino e de Marcelo do Lopes, que pretenderia “eliminar como um castelo
director de informação diu a duração média dos
Rebelo de Sousa foram criados, na RTP, em Fevereiro de cartas todo o comentário político”. da RTP é uma programas de Marcelo e

N
e Março de 2005, numa decisão tomada pela Direcção Vitorino e criticou que um
de Informação da altura e em que particularmente me o entanto, para evitar “arrogar-me” da “qua- hipocrisia intolerável tenha “cerca de metade do
empenhei; lidade de intérprete qualificado das orien- tempo” do outro.
2) António Vitorino pretende abandonar os comentá- tações da ERC, a propósito do comentário Em 2010, o avatar apaga esta questão.
rios por razões pessoais e profissionais, como o próprio político no serviço público de televisão” – Da minha parte, só posso dizer ao avatar: seja bem
já explicou; como classificou o Professor Azeredo Lopes vindo à realidade.
3) o Director de Informação da RTP lamenta esta de- –, interrogo: qual será a posição da ERC se o Director Estes esclarecimentos são, para mim, tranquiliza-
cisão, mas tem de a aceitar – obviamente!; de Informação da RTP decidir manter no ar o programa dores pelo que acabei de propor ao Professor Marcelo
4) esta vontade já havia sido manifestada sucessiva- “As escolhas de Marcelo Rebelo de Sousa” enquanto Rebelo de Sousa a assinatura de um novo contrato. Se
mente ao longo dos últimos meses e sempre foi par- procura uma alternativa para outro(s) pensamento(s) e quando identificarmos alguém de outra área político-
tilhada pelos envolvidos. Com elevação, discrição e político-ideológicos(s)? ideológica logo decidiremos qual o formato de programa
franqueza. De resto, a primeira vez que a situação foi O presidente da ERC começou por dizer que “bastava a adoptar.
tornada pública foi por Marcelo Rebelo de Sousa du- um telefonema” do Director de Informação para tirar Ninguém precisa, portanto, de se preocupar com te-
rante o lançamento do livro da Judite de Sousa em que, a dúvida. Registo que, no futuro, na véspera de tomar lefonemas. Basta escrever direito nos relatórios e aban-
voltando-se para mim, na assistência, afirmou que am- uma decisão, é bem visto que faça um telefonema a donar a hipocrisia.
bos (Marcelo e eu) tínhamos insistentemente persuadido perguntar se é viável...
António Vitorino a prolongar os seus comentários, pelo De resto, como se ficou a perceber pelos rápidos desen- P.S.: De todos os comentários e opiniões que observei nos
menos até ao final do processo eleitoral de 2009 que volvimentos subsequentes, tal telefonema não era sequer últimos dias releva um certo tom crítico e “suspeitoso”.
incluía três eleições; necessário, porque um avatar solucionou as dúvidas: Pacheco Pereira, por exemplo, na “Quadratura do
5) Marcelo não pretende abandonar os comentários, • Em 2007, o Conselho Regulador da ERC escrevia que Círculo” na semana passada, apelou, indirectamente, à
nem a RTP pretende que isso aconteça; “... pode concluir-se, no plano da avaliação do pluralis- desobediência do Director de Informação da RTP, tal co-
6) o Director de Informação não identifica ninguém, mo, que existe, no que respeita a este género informati- mo o havia feito Maria Filomena Mónica no jornal “i”de
pelo menos por agora, que possa ser convidado para vo, um desequilíbrio na expressão das diferentes forças 13.01.2010, ridicularizando as recomendações da ERC.
assumir o lugar de “substituto de Vitorino”; ninguém e sensibilidades político-partidárias no canal generalista Profunda hipocrisia, Dr. Pacheco Pereira! A ERC subs-
que reúna as condições que, enquanto Director de In- da televisão pública”. tituiu a AACS por decisão de maioria qualificada de de-
formação da RTP, considero essenciais: perfil, estatuto, Em 2010, confrontado com a pergunta decisiva (“A ERC putados da Assembleia da República. Participaram na
disponibilidade, reconhecimento e capacidade comu- aceitará que se mantenha no ar o programa de Marcelo?” votação os deputados do PS e do PSD; exactamente os
nicacional; – SIC Notícias), o avatar afirma que “Nada se opõe a que, mesmos que aprovaram os estatutos da ERC. Se não con-
7) Uma vez que a situação já é do conhecimento dos saindo o Dr. António Vitorino daquele programa, continue corda com as atribuições da ERC ou com o tom adoptado
envolvidos há algum tempo, mantivemos os três (Vi- o programa do Professor Marcelo Rebelo de Sousa”. pela Entidade nos seus documentos oficiais, resta-lhe
torino, Marcelo e eu) uma conversa sobre os cenários • Em 2008, o Conselho Regulador “reiterava” que propor alterações, rever os estatutos! O senhor pode
possíveis em meados de Novembro; “a solução encontrada pelo operador público não con- fazê-lo; eu não. Criticar o regulador (criado pelo Par-
8) Nessa conversa ficou assumido pelos três que, não templa uma expressão plural do campo politico, antes lamento) mas fazer depender a validade da sua acção
havendo nenhuma alteração de circunstâncias, a melhor contribuindo para acentuar a expressão bipolar do sis- reguladora da “recusa” ou “resistência” do Director de
solução seria terminar os programas. Sem dramas nem tema político-partidário”. Informação da RTP é uma hipocrisia intolerável. Director
especulações. A decisão foi, portanto, partilhada; Em 2010, o avatar diz que “não se pode defender o prin- de Informação da RTP

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