ANO V Nº 21

Julho 09
Da ferrovia em
14º Depósito da Central do Brasil
Foto Luiz Francisco
nossa região,
grande parte doado
por antigos
ferroviários de
Valença, como seu
Sebastião que além
de guia é o zelador
Rodoviária Princesa da Serra daquele rico
foto Luiz francisco
D
as cidades do Vale do
Ciclo do Café, Valença,
talvez, seja a que possua o maior
acervo. Do outro
lado temos o Hotel Valenciano, imponente em seu estilo
e mais variado patrimônio normando, sendo considerado por muitos o mais belo
cultural urbano. Apesar da prédio da cidade. Construído entre 1917/19, foi durante
riqueza histórica preservada nas Anos ponto de encontro da emergente sociedade
fazendas do ciclo do café, o valenciana. Seu interior é requintado com acabamentos em
patrimônio urbano, também é de mármore de Carrara em seu hall e na barbearia além da bela
uma importância impar, pois escada em madeira que dá acesso aos andares superiores.
além dos prédios ligados ao Em seu pátio, hoje estacionamento, existiam um coreto e
período cafeeiro, há um acervo um rinque de patinação.
arquitetônico rico e Nos outros dois lados da praça temos os prédios da
diversificado, herdado da Central do Brasil. Do lado direito o das oficinas, onde hoje
expansão ferroviária e da funciona o Hotel Valenciano
indústria textil que teve início no alvorecer do século XX. Foto Luiz Francisco
m e r c a d o
O objetivo deste artigo é relembrar e mostrar um pouco Bramil, do lado
dessa riqueza histórica e patrimonial, para nunca esquerdo o
perdermos de vista a necessidade de zelar e proteger esse d é c i m o
patrimônio e manter e divulgar sua história para as gerações depósito, onde
que nos sucederão. hoje se encontra
Convido-os, agora, para um breve passeio pelo centro de o Centro de
Valença, viajemos neste universo histórico que é a nossa Referência da
Princesa da Serra. Terceira Idade.
Nosso passeio começa pela Praça Dr. Paulo de Frontin, Este conjunto, em sua totalidade, foi projetado e construído
construída em 1913, para homenagear o ilustre engenheiro pela empresa do Comendador Antonio Jannuzzi, que
que foi um dos responsáveis pela encampação das ferrovias chegou a Valença em 1908.
de nossa região e também da expansão ferroviária de nosso Saimos pela rua Dr. Figueiredo em direção a Praça
estado no período em que foi diretor da então Central do Visconde do Rio Preto, logo no início vamos encontrar, a
Brasil. No centro da praça encontra-se o busto do esquerda, um prolongamento de prédios que também
homenageado encimando um belo pedestal em cantaria de faziam parte da Central e hoje está ocupado pela
granito. Ao seu redor vamos encontrar o que talvez seja o Metarmofose, e nos fundos pela carpintaria do município.
maior e mais conservado conjunto arquitetônico da cidade, Em frente temos a Companhia de Rendas e Tiras Bordadas
de um lado a antiga estação ferroviária, hoje rodoviária, que Dr. Frontin, inaugurada em 1913 com maquinários
abriga em seu segundo pavimento o Centro de preservação importados da Alemanha, por Antonio Jannuzzi e Henrique
da Memória Ferroviária, que mantém importante acervo Leothold e que levou este nome em homenagem ao Dr.
Praça Dr. Paulo de Frontin fins dos anos 10 foto de autor ignorado Almoxarifado e Oficinas da Central do Brasil
Foto Luiz Francisco
Oficinas da Central do Brasil
Foto Luiz Francisco P a u l o d e 2ª Igreja Presbiteriana
Foto Luiz Francisco
conhecido como Rua
Frontin, do Bispo. Em frente
grande está o casarão
amigo de neoclássico,
Jannuzzi. construído em 1858,
Adiante que pertenceu ao
logo após a Visconde do Rio Preto
sede da e que até hoje ostenta
prefeitura, seu brasão na fachada,
temos a foi considerado
casa do durante muito tempo
engenheiro o mais belo prédio da
-chefe da Central. Em frente temos uma outra casa que cidade, em 1908 foi
serviu aos engenheiros da Central e também ao hotel Nova adquirido por Antonio
Aurora, era construída em pó de pedra como muitos outros Jannuzzi e sofreu uma
prédios na cidade, mas foi modificada. Na esquina da Dr. grande reforma na
Figueiredo com Benjamim Guimarães, está o belo prédio parte interna, sendo
da Igreja Presbiteriana, em estilo neogótico lombardo e preservada, porém,
assim como a casa do engenheiro, projeto e construção de toda a sua fachada, ali
Antonio Jannuzzi e Cia. Seu interior é revestido por uma durante algum tempo funcionou o Colégio Ateneu
pintura floral baseada numa mistura de argila com urucum, Valenciano e mais tarde seria fundado pelo grande
foi inaugurada em 1923, tendo sido restaurada benemérito José Fonseca o patronato que levava seu nome,
recentemente (neste ano a igreja presbiteriana comemora que ainda está incorporado a fachado do prédio que hoje
100 anos de sua instalação em Valença). abriga o Colégio Estadual Teodorico Fonseca.
Bem no início da Rua Benjamim Guimarães, No centro da praça fica o belo coreto em arte
esquina com Nilo Peçanha, onde hoje funciona uma escola nouveau, ali instalado em 1916. Na esquina da Rua do
municipal, temos o casarão Hotel de Férias da Central do Brasil - Cartão Postal - data e autor sem registro Mineiros ficava a Padaria
que pertenceu ao Visconde do Pentagna que está com a
Rio Preto, depois foi família desde 1914, também
residência do engenheiro da um prédio característico do
União Valenciana e mais tarde século XIX, na outra esquina
Hotel de Férias dos um outro casarão construído
Funcionários da Central do em meados do século XIX,
Brasil, até o início dos anos que pertenceu a família
70, quando foi extinta a Amideé, já bastante
ferrovia. modificado mas que ainda
Vamos subir a rua do mantém um pouco de sua
bispo e logo chegar à Praça característica, como a frente
Visconde do Rio Preto (jardim que dá para a praça com suas
de cima), que foi ajardinada telhas canal e a mansarda. No
em 1884, que já foi denominada Praça da Câmara porque ali lado oposto fica o nosso cinema (o único que ainda resiste
houve um prédio que abrigou a Casa de Câmara Municipal nas pequenas cidades do sul do estado), ali funcionou o
e Cadeia. Do seu traçado original pouco resta pois através grande Teatro da Glória, construído em 1868 e que recebia
dos anos várias “melhorias” foram feitas deixando-a com a apresentações de artistas que vinham da côrte (Rio de
atual conformação. Ao seu redor ainda resistem alguns Janeiro). Mais tarde, naquele local, a cidade de Valença
prédios do século XIX e início do XX. Os mais marcantes assistiu pela primeira vez a projeção de um filme em 1908.
são os que ficam na esquina da Rua Dr. Figueiredo, um é o Depois foi inaugurado o Cine Teatro Glória que nos anos
palacete construído na segunda metade do século XIX, que seguintes teve seu nome modificado até chegar ao que hoje
mais tarde pertenceu ao Coronel Cardoso, que à época da Residência do Engenheiro-Chefe
da Central do Brasil
criação da Foto Luiz Francisco
diocese de
Va l e n ç a o
doou, para
que ali fosse
instalada sua
sede, por esse
m o t i v o
a q u e l e
pedaço da Fábrica de Rendas
Foto Luiz Francisco
Rua Dr.
Figueiredo é
Palacete do Visconde do Rio Preto
lá está. No auge criação da Igreja do Rosário
Foto Luiz Francisco Foto Luiz Francisco
d e s e u FAA abrigou
funcionamento a Faculdade
era considerado de Filosofia,
um dos maiores Ciências e
e m a i s Letras, mais
confortáveis do tarde passou a
estado com r e c e b e r
capacidade para exposições de
1800 pessoas. arte e no final
No outro dos anos
lado, onde noventa foi transformado, definitivamente, em espaço
começa a Rua Comendador Silveira Varga, há um longo cultural, terminando com o trágico incêndio que levou em
correr de casas que se inicia ao lado da Igreja do Rosário e seu bojo a biblioteca de obra raras e as obras do artista
finda no Beco das Mangueiras, formando um belo e Henrique Laurindo que uma semana antes havia aberto uma
homogêneo conjunto remanescente do século XIX e XX. E exposição.
finalmente, temos a Igreja do Rosário, inaugurada em 1923, Um pouco mais acima fica o prédio do Colégio
em estilo neogótico, substituindo a antiga capela de pau a Estadual Benjamim Guimarães, erguido no local onde no
pique do século XIX construída pelos negros sob a século XIX existiu um outro belo prédio que pertenceu ao
liderança de Miguel Thomaz. Visconde do Rio Preto e que mais tarde viria a abrigar o
Descemos agora, pela Rua dos Mineiros, trecho Grupo Escolar Alonso Adjuto, este prédio foi consumido
remanescente da Estrada da Polícia que ligava o Rio de por um incêndio em junho de 1901. O atual foi erigido entre
Janeiro a Minas, vindo do Rio por Belém (Japeri), 1919/1921 para abrigar o Grupo Escolar Casemiro de
Vassouras e entrando em Minas Gerais via Rio Preto, foi Abreu, em estilo eclético, também é uma obra do
uma das maiores e mais importantes vias do Império. Era Comendador Antonio Jannuzi e foi inaugurado em abril
num canto dessa rua que os tropeiros mineiros se reuniam daquele ano junto com o prédio da delegacia.
p a r a o Sede da Diocese de Valença
No topo da
descanso nas Foto Luiz Francisco Solar Amidée colina, no
Foto Luiz Francisco exato local
idas e vindas
com destino a onde surgiu
Côrte, daí a a Cidade de
origem do seu Valença, na
nome, que é p o c a
apesar de ter denominada
s i d o Aldeia de
modificado N o s s a
para Rua Senhora da
Uruguaiana e Glória de
depois Saldanha Marinho se impôs pela tradição. Neste Valença, fica a Catedral de N. S. da Glória, que foi iniciada
trecho nada mais resta de seu casario tradicional, entre as em 1820, e que só seria completamente terminada em 1917.
duas ladeiras fica o núcleo principal da Rua dos Mineiros Em seu altar a imagem da padroeira, de 1860, em estilo
onde a vida da cidade acontece, com seu auge nas manhãs barroco doada pelo Major Silveira Vargas, possui, ainda,
de sábado onde acontecem os encontros para o papo, a quatro altares laterais como o de Santa Isabel, o da Virgem
purrinha, os boatos e a fofoca, é a nossa mais autêntica das Dores, o do Divino Espírito Santo e o de São Miguel.
“boca maldita”. Além da Capela de Nosso Senhor dos Passos, construída
Subindo a ladeira que leva a catedral, temos, logo na por volta dos anos 60 do
esquina, as ruínas do Solar dos Nogueira, ou Casarão, que a século XIX.
falta de zelo jogou ao chão na fatídica madrugada de Em uma de suas
novembro de 2001. Construído em 1855 foi residência da alas está montado o
família Nogueira, de Saldanha Marinho, depois Hotel museu sacro que contém
Central, ali foi um importante acervo da
Cine Glória - Acervo f u n d a d o o história da fé católica no
Maria Geralda Porto
Clube dos município, e no subsolo
Democráticos, a cripta, construída
em 1914, onde durante a reforma do
aconteciam início do século XXI.
grandes bailes Em frente a
carnavalescos, catedral temos a Praça da
também a Cia. Bandeira, jardim Coreto em Art Nouveau
Telefônica e inaugurado em 1924,
em 1967 com a com o nome de Jardim
Rua dos Mineiros Cartão Postal fins do século XIX d e n o m i n a d a B a d e n Catedral de N. S. da Glória
Foto de autor ignorado
Powel, em homenagem Foto Luiz Francisco
ao criador do escotismo,
sem contar os bichos
preguiça que passeiam
no galhos de suas
árvores.
Em um dos lados
da praça, fica o colégio
Sagrado Coração de
Jesus, no terreno que
pertenceu a família
da Glória. Em seu centro está instalado o chafariz Moreno Alagão,
construído por Luiz Jannuzzi, com pedras do antigo familiares de Quintino
calçamento da cidade, possui também o busto da nossa Bocaiuva. A capela ainda
Rainha Quelé, Clementina de Jesus, nascida no Bairro conserva alguma
Carambita.
característica do prédio original em estilo neoclássico.
Abaixo, na Rua Padre Luna, esquina com Mineiros,
Temos ainda o prédio da Câmara Municipal, na Rua
estão dois sobrados construídos no século XIX, o primeiro
Coronel Leite Pinto, inaugurado em 1854. Seu estilo é
com suas janelas ogivais e com balcões em ferro foi
neoclássico, em seu interior já funcionou o tribunal do júri e
propriedade do Major Laurindo Gomes Leal e ali foi
também a Biblioteca Municipal D. Pedro II, lá está uma tela
fundada, em 1864, a Loja Capitular União, da Sociedade
de D. Pedro II pintada pelo gravador oficial da família
Maçônica, o outro, ao lado, foi onde funcionou a primeira
imperial Barandie e outra do Comendador Major José da
Câmara de Valença. Um pouco mais à frente temos o prédio
Silveira
do cine Rosário, hoje transformado em igreja evangélica,
Vargas, que
ainda permanece com placa de cinema em sua fachada.
Padaria Pentagna
f o i o
Seguimos em frente
Foto Luiz Francisco primeiro
e vamos chegar a
presidente
entrada do Jardim de
da Câmara.
Baixo, antiga Praça
Ainda na
do Comércio, depois
R u a
Praça D. Pedro II e
Coronel
hoje Praça XV de Colégio Estadual Benjamim Guimarães Foto Luiz Francisco Leite Pinto,
Novembro. Seu
indo na direção do hospital, vamos encontrar o casarão
jardim tem projeto
neoclássico que pertenceu a Dom Joaquim de La Vega,
atribuído a August Glaziou, e foi realizado em 1884, em seu
arquiteto espanhol que foi arruador em Valença e construtor
interior encontra-se o chafariz em cantaria inaugurado em
do chafariz monumental que ornamenta a praça principal de
1850 e que durante anos abasteceu a cidade, ao seu lado, em
Vassouras. Desde os anos 20 este solar pertence a família
um tanque, removido na época do ajardinamento, as negras
Pentagna e a seu lado há duas casa pequenas também do
escravas lavavam as roupas de seus senhores e segundo os
século XIX, muito bem preservadas. Na ladeira que dá para
cronistas da época, ao longe se ouvia sua cantoria. Ao seu
os fundos da catedral temos um casario do século XIX/XX
lado está o divã, também em cantaria, de 1835. A praça é um
muito bem preservados, e acima da grande muralha na
verdadeiro oásis no centro de Valença. Vários monumentos
esquina da Rua do Conde temos o local onde existiu a casa
a ornamentam: O busto do Comendador Antonio Jannuzzi,
do Marquês de Valença. Seguindo em direção ao hospital
a estátua de Getúlio Vargas, o busto de Luiz Zamenhoff,
v a m o s
fundador do Ruínas do Casarão
Foto Luiz Francisco chegar ao
esperantismo,
Museu da
as efígie de
Santa Casa
Arnaldo
d e
Nunes, Luiz
Misericór-
Damasceno,
dia, que
J u a n i c o
possui um
Cosate e
importante
ainda uma Praça da Bandeira
acervo de Foto Luiz Francisco
alameda
 materiais médico- coisa ficou para trás, sem registro nesse passeio, mas é
cirúrgico do século assim mesmo, são muitas histórias, vários patrimônios, e
XIX/XX, uma alguns acabam ficando para uma outra ocasião, em um
pinacoteca dos outro passeio.
Pesquisa e Texto de Luiz Francisco Moniz Figueira, Pesquisador e Guia de
provedores da Santa Turismo, Criador do Projeto “Conhecendo Valença a Pé” e do Tributo aos
150 anos de Nascimento do Comendador Antonio Jannuzzi.
Casa, grande parte
Cadeia Pública
deles barões, Foto Luiz Francisco
viscondes e outros
Sola
r Cal titulares do Império. O
Foto mon
data
e au
e 1 ª Câm p rédio é uma
tor ig ara
nora
dos construção neoclássica
em duas alas tendo
entre elas uma capela
em louvor a Santa
Isabel, foi inaugurado
em 1857, teve utilização como hospital até os anos 60 e
depois foi ocupado pela faculdade de medicina.
Associação Balbina Fonseca
Tomando o rumo da Rua Cardeal Arcoverde Foto Luiz Francisco
chegamos a Associação Balbina Fonseca um conjunto de
prédio e capela inaugurados no início dos anos 40, projeto e
construção de Sílvio e Luiz Jannuzzi. A capela em estilo
neogótico abriga em seu interior o mausoléu de José e
Balbina Fonseca, casal que dedicou grande parte de suas
vidas a infância desamparada. No outro lado, quase em
frente, está a Cadeia Pública, antigo quartel, construído em
1854 e que mais tarde, 1870, recebeu uma grande muralha
de pedra, em 1921 foi reformado e ganhou um segundo
pavimento,
inaugurado
no mesmo Fábrica Progresso
Foto Luiz Francisco
dia que o
G r u p o
Santa Casa de Misericórdia
Escolar Foto Luiz Francisco
Casemiro de
Abreu, pelo Praça do Comércio com Câmara ao fundo
foto de 1874/6 autor ignorado
Presidente
da Província do Rio de Janeiro, Raul de Morais Veiga.
Do prédio da cadeia, olhando em direção a Serra dos
Mascates (Serra Velha), vamos visualizar, no local
conhecido como Cova da Onça, um prédio construído sobre
arcos de pedra nas cores azul e branco, é o local onde
funcionou a primeira escola de Valença, fundada em 07 de
setembro de 1832 pelo Major José da Silveira Vargas, então
Presidente da Câmara. Museu da Santa Casa de Misericórdia
Acervo Prefeitura Municipal de Valença
Dirijo o
meu olhar
para a
Fábrica
Progresso,
no outro
lado da
r u a , e
percebo
Praça XV de Novembro (jardim de Baixo) - Divã e Chafariz quanta
Foto Luiz Francisco
 Arte Luiz Francisco Moniz Figueira
(24) 2452-4746 - luizfranciscoguia@ig.com.br
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