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UFSM

Projeto Experimental

SISTEMAS PUBLICADORES DE NOTÍCIAS NA WEB:


A APLICAÇÃO DA HIPERTEXTUALIDADE NA NARRATIVA
JORNALÍSTICA

Iuri Lammel Marques

Santa Maria, RS, Brasil


2005
SISTEMAS PUBLICADORES DE NOTÍCIAS NA WEB:
A APLICAÇÃO DA HIPERTEXTUALIDADE NA NARRATIVA
JORNALÍSTICA

por

Iuri Lammel Marques

Projeto Experimental apresentado ao Curso de Comunicação Social da Universidade


Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do grau de
Bacharel em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo

Santa Maria, RS, Brasil


2005
Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências Sociais e Humanas
Curso de Comunicação Social

A Comissão Examinadora, abaixo assinada,


aprova o Projeto Experimental

SISTEMAS PUBLICADORES DE NOTÍCIAS NA WEB: A APLICAÇÃO DA


HIPERTEXTUALIDADE NA NARRATIVA JORNALÍSTICA

elaborado por
Iuri Lammel Marques

como requisito parcial para obtenção do grau de


Bacharel em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo

COMISSÃO EXAMINADORA:

___________________________________________
Profª. Luciana Mielniczuk

___________________________________________
Prof. Rondon de Castro

__________________________________________
Sr. Nilson Vargas

Avaliação: ________________

Santa Maria, 2005

ii
RESUMO

Atualmente, os sites jornalísticos utilizam a hipertextualidade na organização d


conteúdo em seções e editorias, porém é pouco aproveitado da narrativa jornalística.
Este projeto experimental desenvolve uma ferramenta de publicação de notícias para
sites jornalísticos da web, buscando inserir a hipertextualidade na narrativa jornalística.
Para desenvolver o produto, o trabalho apresenta algumas delimitações sobre
webjornalismo e hipertexto, além de conceitos básicos sobre bancos de dados, sites
dinâmicos e sistemas de publicação.

Palavras-chave: ferramentas de publicação, jornalismo digital, hipertexto

iii
SUMÁRIO

LISTA DE IMAGENS .........................................................................................................vi


INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 1
1. O WEBJORNALISMO DE TERCEIRA GERAÇÃO ................................................ 4
1.1. O termo webjornalismo .............................................................................................. 4
1.2. As fases do webjornalismo ......................................................................................... 5
1.3. Características do webjornalismo ............................................................................... 7
1.4. As bases para o webjornalismo de terceira geração ................................................... 8
2. HIPERTEXTO .............................................................................................................. 11
2.1. Breve histórico do hipertexto .................................................................................... 11
2.2. Definições de hipertexto ........................................................................................... 12
2.3. Narrativa hipertextual ............................................................................................... 15
3. BANCO DE DADOS .................................................................................................... 23
3.1. Conceitos básicos...................................................................................................... 23
3.1.1. Arquitetura cliente/servidor ................................................................................ 24
3.1.2. Banco de dados relacionais ................................................................................ 27
3.2. Linguagens de programação ..................................................................................... 33
3.3. Banco de dados no webjornalismo de terceira geração ............................................ 39
3.3.1. Banco de dados como memória dos conteúdos publicados ................................ 39
3.3.2. Banco de dados como formato para a estruturação da informação .................. 42
4. SISTEMAS DE PUBLICAÇÃO .................................................................................. 46
4.1. Definições de sistema de publicação ........................................................................ 46
4.2. Sistemas publicadores no jornalismo ........................................................................ 49
5. O PROTÓTIPO MAPALINK ..................................................................................... 54
5.1. Apresentação do sistema publicador......................................................................... 54
5.2. A notícia como um micro-site .................................................................................. 55
5.3. Representação gráfica da narrativa hipertextual ....................................................... 62
5.4. Tipologia dos links .................................................................................................... 74

iv
5.5. Manual do software .................................................................................................. 80
5.5.1. Criação da notícia hipertextual .......................................................................... 80
5.5.2. Visualização das notícias.................................................................................... 87
CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 91
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 94

v
LISTA DE IMAGENS
Figura 1 - Estrutura arborescente proposta por Leão. ...................................................... 16
Figura 2 - Estrutura em rede proposta por Leão. ............................................................. 16
Figura 3 - Estrutura axial unilinear. ................................................................................. 17
Figura 4 - Estrutura axial multilinear. .............................................................................. 18
Figura 5 - Estrutura axial multilinear arbórea. ................................................................. 18
Figura 6 - Estrutura axial multilinear paralela. ................................................................ 19
Figura 7 - estrutura reticular. ........................................................................................... 19
Figura 8 - Estrutura linear e estrutura linear com alternativas, propostas por Diaz Noci e
Salaverría. ................................................................................................................ 20
Figura 9 - Estrutura de links paralelos, um dos modelos de estrutura paralela propostos
por Diaz Noci e Salaverría. ...................................................................................... 21
Figura 10 - Estruturas arbóreas propostas por Diaz Noci e Salaverría. ........................... 22
Figura 11 - Modelo de mainframe. .................................................................................. 25
Figura 12 - Modelo de cliente/servidor............................................................................ 26
Figura 13 - Exemplo de uma tabela de banco de dados................................................... 28
Figura 14 - Tabela denominada CLIENTE para registrar os clientes da locadora de
vídeos. ...................................................................................................................... 29
Figura 15 - Tabela denominada GÊNERO para registrar os gêneros de filmes que a
locadora de vídeo dispõe.......................................................................................... 29
Figura 16 - Tabela de relacionamento denominada CLIENTE_GÊNERO. Esta tabela
associa a chave-primária da tabela CLIENTE com a chave-primária da tabela
GÊNERO. ................................................................................................................ 30
Figura 17 - Tabela CLIENTE_GÊNERO determina a relação entre as tabelas de dados.
................................................................................................................................. 31
Figura 18 - Tabela CLIENTE. Nos campos destacados, estão as idades que satisfazem a
condição determinada; em negrito estão os nomes que serão escritos no site. ........ 32

vi
Figura 19 - Exemplo de códigos HTML. A tag <br> representa quebra de linha, as tags
<b> e </b> formatam para negrito o texto que está entre elas, e as tags <i> e </i>
formatam para itálico. .............................................................................................. 34
Figura 20 - Exemplo de como o leitor visualiza a página HTML em um navegador,
formatada de acordo com os códigos mostrados na figura anterior. ....................... 34
Figura 21 - Fluxo de dados na solicitação de documentos estáticos. .............................. 37
Figura 22 - Fluxo de dados nas solicitações de dados usando páginas dinâmicas. ......... 37
Figura 23 - Exemplo simplificado de uma tabela de banco de dados para armazenar
notícias sobre política. ............................................................................................. 41
Figura 24 - Exemplo de site em HTML, onde ao clicar no link, a tela será remetida
sempre ao mesmo site já programado. ..................................................................... 43
Figura 25 - Exemplo de site estruturado sobre banco de dados, onde o destino do link
será determinado pela pesquisa feita no banco de dados pelo site. ......................... 44
Figura 26 - Exemplo simplificado de formulário empregado em um sistema publicador.
................................................................................................................................. 47
Figura 27 - Esquema simplificado onde a) na parte superior demonstra o envio de dados
pelo sistema publicador ao servidor e b) na parte inferior demonstra o envio de
dados pelo servidor para ser disponibilizado em um site no cliente. ....................... 49
Figura 28 - Parte do sistema publicador da FACOS. ....................................................... 50
Figura 29 - Página do Panopticon de uma matéria com estrutura de micro-site,
disponível em www.panopticon.ufba.br. ................................................................. 56
Figura 30 - No segmento da narrativa o menu da continuidade da matéria, antes
localizado na parte direita da tela, não é mantido. ................................................... 57
Figura 31 - Modelo de estrutura arbórea, apresentada por Slaverría e Diaz Noci. .......... 58
Figura 32 - Estrutura arbórea fechada com saltos de níveis e retornos opcionais,
apresentado por Salaverría e Diaz Noci e adotado no protótipo MapaLink. ........... 59
Figura 33 - À esquerda, o menu da narrativa em uma notícia fictícia. À direita, a
estrutura linear de Salaverría e Diaz Noci, que melhor representa o menu. ............ 60

vii
Figura 34 - À esquerda, menu indica que a narrativa é dividida em duas seqüências
diferentes, e logo é convergida para uma só seqüência principal. À direita, uma
adaptação dos diagramas de Salaverría e Diaz Noci para representar o menu. ....... 61
Figura 35 - À esquerda, menu da notícia fictícia com seqüências diferentes. À direita:
representação da estrutura em uma adaptação os modelos de Salaverría e Diaz
Noci.......................................................................................................................... 62
Figura 36 - Matéria do portal CNET News. .................................................................... 65
Figura 37 - Ferramenta “The Big Picture”. Na opção “Display” foram marcadas para
serem apresentadas as matérias, os tópicos e as empresas. ..................................... 66
Figura 38 - O tópico “Web browsers” foi selecionado, e foi escolhida a opção para
mostrar apenas as matérias, ocultando assim os tópicos e as empresas. ................. 67
Figura 39 - À esquerda, estrutura em rede de Leão (2001). À direita, modelo reticular de
Salaverría e Diaz Noci (2003). ................................................................................ 68
Figura 40 - Menu da narrativa hipertextual apresentado ao lado da notícia. ................... 69
Figura 41 - Mapa criado pelo protótipo MapaLink. ........................................................ 71
Figura 42 - Mapa da notícia fictícia, gerada dinamicamente pelo protótipo MapaLink. 73
Figura 43 - Tipologia dos links proposta por Mielniczuk. ............................................... 75
Figura 44 - Diagrama do link acontecimento................................................................... 76
Figura 45 - Diagrama dos links de detalhamento, exemplificação ou particularização e
complementação ou ilustração. ................................................................................ 77
Figura 46 - Diagrama do link de oposição. ...................................................................... 77
Figura 47 - Diagrama do link memória. Cada círculo representa um outro micro-site. .. 78
Figura 48 - O mapa apresenta os diagramas dos links citados, com exceção da memória.
Os pequenos quadrados verdes são representações do link de complementação. ... 79
Figura 49 - Primeira etapa do processo de redação de um segmento. ............................. 81
Figura 50 - Segunda etapa do processo de redação de um segmento. ............................. 83
Figura 51 - Janela pop-up para inserção de complementos. ............................................ 84

viii
Figura 52 - Construção dinâmica do mapa. À esquerda, quadrado indica que o segmento
atual é de acontecimento. À direita, após o segundo segmento ser concluído, ambos
são interligados. ....................................................................................................... 85
Figura 53 - À esquerda, representação das lexias após clicar no botão "Versões". À
direita, mapa indica que a lexia esquerda foi incluída no banco de dados. ............. 85
Figura 54 - Logo após concluir a lexia esquerda, o usuário pode escolher entre editar a
outra lexia ou inserir um acontecimento. ................................................................. 86
Figura 55 – Evolução do processo na convergência da narrativa. ................................... 87
Figura 56 - Site para visualizar as notícias do MapaLink ................................................ 89

ix
INTRODUÇÃO

A forma de escrita hipertextual, onde o texto é segmentado em várias partes


interconectadas através links, é uma prática crescente, porém ainda pequena no
webjornalismo. Assim como as formas de escrever e ler são modificadas com a
hipertextualidade, a prática jornalística também passa por algumas mudanças no
processo de redação das notícias hipertextuais elaboradas para um produto jornalístico
para a Web.
O suporte digital proporciona recursos que podem enriquecer o texto jornalístico.
Entretanto, a falta de conhecimento técnico do profissional jornalista e a mentalidade
atrelada aos formatos de jornalismo tradicional acabam impondo limitações à prática do
webjornalismo. Sem aproveitar os recursos do mundo digital, o jornalismo deixa de
acompanhar o progresso tecnológico acelerado pela informática, e fica restrito aos
modelos de narrativas das notícias já consolidados; mesmo completando uma década de
implementação da internet comercial no país. É como se na década de 1960, dez anos
depois da implementação da televisão no Brasil, os jornalistas apresentassem nas
televisões programas de rádio, utilizando a possibilidade da imagem apenas para
oferecer poucos recursos como o nome do programa e do locutor, devido à falta de
conhecimento técnico sobre o funcionamento das câmeras de vídeo. Neste caso, o
mundo à parte das imagens deixaria e ser explorado devido ao desconhecimento ou até
da resistência dos profissionais jornalistas.
Os sites jornalísticos da atual fase do webjornalismo utilizam a hipertextualidade
para organizar as informações em editorias, seções, edições etc. Desta forma, as
informações podem ser categorizadas e organizadas de acordo com os assuntos de que
tratam, e o acesso a essas informações torna-se mais rápido e objetivo: basta um clique
no assunto interessado para que uma lista de referências sobre o tema apareça na tela do
computador. Porém, a hipertextualidade não é bem aproveitada na narrativa jornalística,
caracterizando o não-aproveitamento de inúmeras possibilidades oferecidas pela
narrativa hipertextual. As narrativas dos jornais digitais continuam apresentando, em sua
maioria, a mesma estrutura utilizada nos jornais impressos, onde a hipertextualidade não
pode ser bem utilizada devido às limitações técnicas do suporte papel.
O presente projeto experimental desenvolve o protótipo de um sistema
publicador de notícia para Web que busca inserir a hipertextualidade na narrativa
jornalística, auxiliando assim o profissional da área a criar, de forma fácil e prática,
produtos jornalísticos específicos para a atual fase do webjornalismo. Tentamos neste
projeto desenvolver uma ferramenta que possibilita criar narrativas jornalísticas
hipertextuais, sem exigir do jornalista os conhecimentos técnicos necessários para a
programação de sites para a Web. O produto aqui desenvolvido é um protótipo, pois
busca apresentar soluções experimentais para a prática do webjornalismo.
Um sistema publicador possibilita inserir variados recursos em um produto
jornalístico para a Web, como imagens, sons, vídeos, fóruns de discussão, enquetes etc.
É importante esclarecer que o presente projeto experimental foca apenas uma das seis
características do webjornalismo que apresentamos no primeiro capítulo; ou seja, apenas
a característica da hipertextualidade. Por essa razão, denominamos o produto
experimental aqui desenvolvido de um sistema ‘publicador parcial’, pois não oferece
muitos dos recursos anteriormente citados, que não são os objetivos do presente
trabalho. Em contrapartida, o protótipo do sistema publicador oferece recursos no campo
da hipertextualidade, objeto de estudo deste trabalho. O nome deste publicador é
“MapaLink”, em alusão ao mapa da narrativa hipertextual gerado dinamicamente e,
funcionando como um link, possibilita acessar os blocos de texto da noticia com um
clique do mouse.
Antes de descrevermos o produto desenvolvido, apresentamos algumas
definições importantes para o entendimento do projeto experimental. No primeiro
capítulo, apresentamos algumas delimitações sobre o webjornalismo, bem como
algumas definições do termo “webjornalismo” e de suas características. Ainda neste
capítulo, apresentamos a idéia de que o hipertexto, o banco de dados e os sistemas
publicadores necessitam serem estudados de forma conjunta, para avançar em estudos de
pesquisa aplicada sobre o webjornalismo de terceira geração. Logo após o primeiro

2
capítulo, apresentamos cada um destes três elementos que devem ser estudados: o
hipertexto, o banco de dados e os sistemas publicadores, em capítulos dedicados a cada
um dos elementos.
No segundo capítulo, apresentamos algumas delimitações sobre a característica
alvo do presente trabalho: a hipertextualidade. Para isso, resgatamos um breve histórico
do hipertexto e apresentamos algumas definições do termo apresentadas por estudiosos
da área. Depois de introduzirmos o leitor no tema hipertexto, abordamos a questão das
narrativas hipertextuais, primordial para o desenvolvimento deste protótipo de sistema
publicador.
No terceiro capítulo, o assunto em questão é o banco de dados. Resgatamos
conceitos técnicos básicos sobre este recurso, para que o leitor tenha noção do
funcionamento da tecnologia banco de dados. Em seguida, abordarmos a importância
dos bancos de dados no webjornalismo, e a função desse de auxiliar o jornalista a criar
narrativas hipertextuais.
No quarto capítulo, trazemos algumas definições sobre sistemas de publicação,
softwares utilizados para publicar conteúdos informativos na Web, como notícias.
No quinto e último capítulo, apresentamos algumas idéias que influenciaram no
desenvolvimento do protótipo MapaLink, como a concepção de micro-sites, a tipologia
de links e a necessidade de se criar representações visuais das narrativas hipertextuais.
Ao discorrermos sobre essas idéias, aproveitamos para apresentar os principais recursos
do protótipo, que são a possibilidade de estruturar uma notícia no formato de um micro-
site, a disponibilização de um menu da narrativa e de um mapa interativo da narrativa
hipertextual. Em seguida, apresentamos uma espécie de manual do software, onde
indicamos como criar e publicar uma notícia no protótipo MapaLink.
Esperamos com este projeto experimental subsidiar os debates acerca da
narrativa hipertextual no webjornalismo a partir de um trabalho aplicado. Não
esperamos solucionar problemas, mas colaborar nas discussões sobre as possibilidades
de se praticar o webjornalismo de terceira geração.

3
1. O WEBJORNALISMO DE TERCEIRA GERAÇÃO

O webjornalismo é uma prática relativamente nova. Surgiu em meados da década


de 1990, e desde então vem passando por transformações, o que o torna uma prática não
totalmente definida, mas algo em constante e rápida transformação. Isso acontece por
algumas razões, como o pouco tempo de existência e pelas constantes transformações e
inovações dos suportes digitais. A cada ano, novas tecnologias e soluções são
descobertas e agregadas à Web, o suporte que o webjornalismo utiliza. Junto com o
aparecimento dessas tecnologias, surgem também novas possibilidades de se praticar o
webjornalismo. Por isto, não há muitos padrões definidos no webjornalismo; nem
mesmo a nomenclatura desta prática é uma unanimidade. Em seguida, vamos debater
sobre tal questão.

1.1. O termo webjornalismo

Atualmente, não existe um consenso sobre qual é o termo que melhor define a
prática do jornalismo na internet. Dependendo do país, alguns termos predominam no
meio acadêmico e profissional.
Salaverría (2005) discorre sobre esta questão ao defender o termo
ciberjornalismo como o mais correto para designar a prática jornalística na internet. Para
adotar o termo ciberjornalismo, Salaverría faz um estudo sobre os termos mais utilizados
em vários países, porém seus argumentos se restringem a avaliações de melhores opções
para a língua espanhola.
Mielniczuk (2004) traz um levantamento sobre os diferentes termos utilizados
para designar a prática do jornalismo na internet. Nesse estudo, a autora apresenta os
termos mais utilizados. Por exemplo, no Brasil, os termos mais utilizados são
“jornalismo digital” e “jornalismo online”; já na Espanha é comum chamar de
“jornalismo eletrônico”. Há ainda outros termos, como “ciberjornalismo” e “jornalismo
multimídia”. Ao debater cada termo, a autora apresenta argumentos comprovando que

4
nenhum deles corresponde exatamente ao jornalismo praticado na Web. Num exemplo,
podemos citar que o “jornalismo eletrônico” pode abranger a televisão; o “jornalismo
digital” ou “jornalismo multimídia” podem abranger um produto jornalístico gravado e
distribuído em um CD; “ciberjornalismo” e “jornalismo online” podem abranger a
distribuição de notícias pela internet sem a Web, ou por outros tipos de redes, como a
intranet.
Para Canavilhas (apud Mielniczuk, 2004, p. 24) o termo webjornalismo é
apropriado, pois está relacionado com o suporte técnico Web, assim como o jornalismo
praticado para a televisão é denominado telejornalismo; o jornalismo praticado para o
rádio é denominado radiojornalismo, e por fim o jornalismo desenvolvido para o papel
impresso, denominado jornalismo impresso. Considerando que o suporte técnico não é
exatamente a internet, e sim a Web, adotamos no presente trabalho o termo
webjornalismo como o mais adequado.

1.2. As fases do webjornalismo

Alguns autores já classificaram o webjornalismo em fases históricas. Palácios


(2002a) identifica três fases distintas: um primeiro momento caracterizado pelo modelo
transpositivo, ou seja, os sites jornalísticos são reproduções de partes dos jornais
impressos; um segundo momento, a da metáfora, não há grandes transformações pois a
estrutura continua parecida, porém há tentativas de explorar alguns recursos; e
finalmente um terceiro e atual momento do jornalismo, quando já existem sites
específicos de jornalismo para a web, e não uma versão digital do jornal impresso.
Mielniczuk (2004) propõe uma classificação que, segundo a autora, pode ser
vista como uma adaptação das já apresentadas. Para fins de convenção, vamos adotar
este modelo no presente trabalho. Nesta classificação, a autora dividiu a evolução dos
produtos jornalísticos para a Web em três momentos: o webjornalismo de primeira
geração ou fase da transposição, o webjornalismo de segunda geração ou fase da
metáfora e o webjornalismo de terceira geração.

5
No webjornalismo de primeira geração, os conteúdos das páginas jornalísticos
são reproduções de partes de grandes jornais impressos. Ou seja, o webjornalismo era
uma transposição de algumas das matérias do jornal impresso para um formato digital. A
atualização era feita a cada 24 horas, pois dependia do fechamento da edição do jornal
impresso para realizar a substituição das matérias do webjornalismo.
O webjornalismo de segunda geração começou aproximadamente no final dos
anos 1990, com o desenvolvimento da internet no país. Nesta fase, começa a existir a
preocupação em explorar alguns dos recursos da Web, como as notícias atualizadas
durante o percorrer do dia, geralmente chamadas “últimas notícias”; também há uma
maior exploração do hipertexto e do e-mail. Mesmo assim, o modelo do jornalismo
impresso continua como uma referência para o formato dos produtos jornalísticos na
Web.
No webjornalismo de terceira geração, começa a existir a consciência de que o
webjornalismo é uma prática diferente do jornalismo impresso. Os sites jornalísticos
utilizam recursos mais específicos da Web, como os recursos multimídia (som,
imagem); chats, enquetes, fóruns de discussões, opções de configuração do site de
acordo com os interesses do usuário, o emprego do hipertexto não só na organização da
informação, mas também dentro da narrativa jornalística, etc. A autora cita como
exemplo desta geração o site jornalístico MSNBC (www.msnbc.com), que não surgiu de
um jornal impresso tradicional, e sim da fusão entre uma empresa de softwares
(Microsoft) e outra de telejornalismo (NBC).
Embora as classificações reflitam a evolução do webjornalismo, não significa
que todos os sites jornalísticos da atualidade fazem parte do webjornalismo de terceira
geração; ainda há sites da primeira geração, da segunda geração, ou que se enquadrariam
em mais que uma geração.
Com uma maior exploração dos recursos oferecidos pela Web, o webjornalismo
de terceira geração começa a apresentar certas características que o distingue cada vez
mais dos outros formatos, e o aproxima do ambiente tecnológico em que vivemos, onde
as possibilidades do mundo digital são cada vez mais diversas.

6
1.3. Características do webjornalismo

A atual fase do webjornalismo apresenta algumas características que são objetos


de estudos de pesquisadores. Navarro (2001) cita treze características do webjornalismo;
são elas: 1) é digital, 2) leitura não seqüencial, 3) mundial, 4) instantâneo, 5) atualizável,
6) profundidade, 7) interatividade, 8) personalização, 9) disponibilidade, 10) multimídia,
11) confiável, 12) serviços gratuitos e 13) nova retórica.
No presente trabalho, utilizaremos como referência as seis características
apontadas por Palacios (2002a): multimídia/convergência, interatividade,
hipertextualidade, personalização, memória, e atualização contínua. Segundo o autor, as
seis características “refletem as potencialidades oferecidas pela internet ao jornalismo
desenvolvido para a Web” (PALACIOS, 2002a). Numa breve apresentação, as seis
características constituem em:
Multimidialidade / Convergência: é a convergência das mídias tradicionais
(imagem, som, texto) na narração do fato. Isso é possível graças ao formato digital dos
dados, que permite agregá-los ao suporte. Também é possível acrescentar à narrativa
outros recursos multimídias da informática, como animações 2D e até 3D.
Interatividade: é a relação criada entre o site e o leitor; nesta relação, o leitor
sente-se parte integrante do processo jornalístico, pois influencia na narrativa com suas
ações. Esta interatividade pode ocorrer entre os usuários do site, com recursos como
chats e fóruns de discussões; ou entre o usuário e as personagens criadoras do conteúdo
do site, como os jornalistas, via e-mail. Mielniczuk (2001) apontam ainda a
interatividade entre usuário e máquina; e entre usuário e a própria publicação, através do
hipertexto.
Customização do conteúdo / Personalização: é a possibilidade de o usuário
configurar o site jornalístico de acordo com seus interesses. Estas configurações são
salvas e, quando o usuário acessa novamente a página, ela apresentará as configurações

7
personalizadas. Estas configurações podem ser visuais (cores, tamanho dos caracteres
etc), editoriais (pré-seleção dos assuntos, hierarquização de editorias etc.) entre outras.
Memória: é a capacidade de armazenar os produtos jornalísticos já produzidos
anteriormente. Segundo Palacios (2002a), o armazenamento de informações é mais
viável técnica e economicamente na Web do que em outras mídias. Esta memória pode
ser disponibilizada tanto aos produtores quanto aos usuários do conteúdo.
Instantaneidade / Atualização contínua: o suporte utilizado pelo
webjornalismo permite que se atualize o conteúdo de um site e que, de forma
instantânea, o usuário possa acessar imediatamente esta informação atualizada. A
periodicidade da publicação depende apenas da velocidade com que os jornalistas
atualizam o conteúdo do site. Isso dá ao webjornalismo uma grande agilidade de
atualização. Um exemplo citado por Palacios é o site Último Segundo
(www.ultimosegundo.ig.com.br), onde as notícias são atualizadas em intervalos de
tempo muito pequenos.
Hipertextualidade: possibilita a interconexão de textos a partir de links. Leão
(2001) explica que hipertexto é:
Um documento digital composto por diferentes blocos
de informações interconectadas. Essas informações são
amarradas por meio de elos associativos, os links. Os
links permitem que o usuário avance em sua leitura na
ordem que desejar (LEÃO, 2001, p. 15).

A autora ainda define que os blocos de informações interconectados pelos links


podem ser denominados de lexias. As lexias podem ser texto, imagem, som, vídeo etc;
ou uma composição com vários destes elementos. Portanto, tomamos no presente
trabalho o hipertexto como um documento digital formado por várias lexias (texto,
imagens, sons, animações etc) que são interligadas pelos links.

1.4. As bases para o webjornalismo de terceira geração

8
Uma característica importante da Web é a possibilidade de agregar outros
recursos além das já oferecidas originalmente pela mesma. A cada ano surgem novas
tecnologias, assim como o aperfeiçoamento daquelas já utilizadas. Esta situação permite
que os sites jornalísticos explorem de forma mais aprofundada e diversificada as seis
características apontadas no tópico anterior.
Algumas destas tecnologias são essenciais para o desenvolvimento do novo
cenário do webjornalismo. Mielniczuk (2005) cita três recursos fundamentais para o
webjornalismo de terceira geração:
Para avançar em estudos de pesquisa aplicada sobre o
jornalismo digital, com o intuito de especular sobre as
possibilidades de desenvolvimento de produtos de
terceira geração e propor soluções, acreditamos que há
três questões que necessitam ser consideradas de
maneira conjunta: hipertexto, banco de dados e
ferramentas de publicação (MIELNICZUK, 2005, p.
2 - grifo nosso).

Para a autora, é necessário estudar as especificidades de cada um dos três


recursos citados, a fim de se desenvolver sistemas publicadores que não só alimentem os
bancos de dados, mas também possibilitem criar narrativas hipertextuais.
As três questões referidas pela autora já existiam anteriormente à atual fase do
webjornalismo. A hipertextualidade é possível desde o surgimento da Web, com a
utilização dos links. Os bancos de dados para Web surgiram logo depois e, graças a esta
tecnologia, apareceram em seguida as ferramentas de publicação. Embora já existissem
antes, é no webjornalismo de terceira geração que o hipertexto, o banco de dados e as
ferramentas de publicação, agindo de maneira interligada, constroem o formato da
informação na Web.
O presente projeto experimental tem como objetivo criar um sistema publicador
capaz de produzir notícias com narrativas hipertextuais; utilizando para isso tecnologias
como o banco de dados, além de conceitos e teorias do hipertexto. Logo, percebemos no
decorrer da pesquisa aplicada a estreita relação entre os três elementos citados, além de
mais um recurso: a linguagem de programação, que possibilita o desenvolvimento de

9
sites dinâmicos. Os capítulos a seguir abordam especificamente com mais detalhes cada
um dos elementos referenciados: o hipertexto, o banco de dados/linguagem de
programação e os sistemas de publicação.

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2. HIPERTEXTO

Neste capítulo é realizado um levantamento sobre o hipertexto, para embasar um


dos temas do presente projeto: a hipertextualidade na narrativa.

2.1. Breve histórico do hipertexto

Muitos dos autores de livros e artigos sobre hipertexto, entre eles estão Lévy
(1993), Leão (2001), Diaz Noci e Salaverría (2003), atribuem ao físico e matemático
canadense Vannevar Bush a origem do conceito de hipertexto. Em 1945, Bush lançou
um artigo com o título “As we may think” (como devemos pensar), onde defendeu que “a
maior parte dos sistemas de indexação e organização de informações em uso na
comunidade científica são artificiais” (LÉVY, 1993, p. 28). Para Bush, a mente humana
não funciona desta maneira, ela funciona por associações. Baseado nesta idéia, Bush
criou um projeto denominado Memex (Memory Extension), uma máquina que utiliza
microfilmes e outros elementos para armazenar dados e interligá-los a partir de elos
associativos, “assim o usuário podia construir de leitura de acordo com seu interesse”
(LEÃO, 2001, p. 19). Seria uma espécie de memória auxiliar do cientista ou
pesquisador, obrigado a pesquisar as informações desejadas em uma imensa quantidade
de publicações espalhadas e desordenadas ao redor do mundo. A máquina não chegou a
ser construída devido às limitações técnicas da época. Bush não utilizou o termo
hipertexto, por isso o é atribuído apenas a origem do conceito, e não do termo.
O termo hipertexto surgiu em 1965, em um texto intitulado “The hypertext”, de
Theodor Holm Nelson, nos Estados Unidos. Nelson inventou o termo hipertexto para
referenciar a possibilidade de escritura/leitura ramificada, não linear, em sistemas
informáticos (Diaz Noci e Salaverría, 2003). Na mesma época, na década de 1960,
Theodor Nelson propôs o projeto de um sistema que possibilitasse o compartilhamento
de textos, mensagens, comentários etc, por milhares de pessoas em todo o mundo; este
sistema foi denominado pelo autor como Xanadu (Lévy, 1993). O sistema não chegou a

11
ser desenvolvido, porém ficou registrado mais um projeto que rogava por um sistema
que colocasse em prática a característica da hipertextualidade.
Entre os anos 1960 e 1980, surgiram vários sistemas que utilizavam alguns
recursos hipertextuais, como o Hypercard, Hyperdoc, SuperCard, Hyperties e LinkWays
(Diaz Noci e Salaverría, 2003). Porém, foi em 1991 que nasceu o sistema de documentos
hipertextuais mais conhecido e difundido atualmente: a WWW (World Wide Web), ou
simplesmente Web. Desenvolvida pelo inglês Tim Berners-Lee, a Web “baseia-se numa
interface gráfica e permite o acesso a dados diversos (textos, músicas, sons, animações,
filmes, etc.) através de um simples ‘clicar’ no mouse” (LEÃO, 2001, p. 23). A internet é
uma estrutura física que permite a troca de informações entre os computadores que
fazem parte da rede; mas é a Web que permite visualizarmos o conteúdo dos sites, como
textos formatados e imagens. A Web também facilitou a utilização de um recurso
imprescindível ao hipertexto: o link, principal forma de unir documentos digitais.

2.2. Definições de hipertexto

Recuperando a já citada definição adotada neste trabalho, hipertexto é um


documento digital formado por lexias (blocos de texto, imagens, sons, animações etc)
que são interligadas pelos links (ou vínculos).
Embora tratemos, no presente trabalho, o hipertexto como um documento digital,
deve-se salientar que a característica da hipertextualidade já vem sendo estudada há
bastante tempo por estudiosos da literatura. Leão diz que o termo lexia já foi empregado
anteriormente por autores como Barthes e retomado anos mais tarde por Landow para
designar blocos de textos significativos (Leão, 2001). Salaverría e Diaz Noci (2003)
lembram que no estudo do hipertexto na literatura, Derrida não utiliza os termos lexia e
link, mas utiliza outros termos como nexo, trama e rede; já outros autores preferem
utilizar no lugar de lexia a palavra nó (Leão, 2001), porém ambos os termos possuem o
mesmo significado.

12
Para Lévy (1993), o hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões.
Segundo o autor, “os nós podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos ou partes de
gráficos, seqüências sonoras, documentos complexos que podem eles mesmos ser
hipertextos” (LÉVY, 1993, p. 33). Considerando os nós o mesmo significado de lexia,
logo o hipertexto não faz a interconexão apenas de textos escritos, mas também de
outros formatos da mídia como imagem, vídeo etc. À possibilidade de interconectar
mídias, denomina-se “hipermídia”; porém, assim como Lévy, consideramos no presente
trabalho que o hipertexto engloba também o significado da hipermídia, já que, assim
como o texto, a imagem ou qualquer outra mídia também pode ser lida. Segundo
Peruzzolo,
Ler quer dizer colher sinais, isto é, captar os traços nas
suas relações significantes de tal modo que se possa ver
neles o que eles pretendem estimular em termos de
significação. O processo de leitura, seja de um texto
lingüístico seja de um texto icônico, é sempre um
percurso que segue a remissiva de signos para signos,
operando a re-composição, isto é, às vezes restituindo o
movimento original e, na maioria das vezes, compondo
uma seqüência/percurso diferente daquela da autoria, a
fim de construir uma mensagem e/ou organizar
informações (PERUZZOLO, 2002, p. 101).

Assim como o conceito de leitura de Peruzzolo, o hipertexto também possibilita a


composição de seqüência/percurso de leitura diferente da proposta pelo autor original.
Para Capparelli,
[...] o hipertexto é uma série de blocos de textos
jornalísticos (relato ou análise de fatos e eventos que se
desdobram no tempo selecionados por repórteres,
editores para reconstruir uma história a partir de
determinado ponto de vista), conectados entre si, e
possibilitando ao leitor diversos caminhos de leitura
(CAPPARELLI, 2002, p. 3).

Esta possibilidade de criar vários caminhos de leitura é denominada como não-


linear, multiseqüencial ou multilinear. Não-linear remete à idéia de poder ler um
hipertexto na ordem que for desejada pelo leitor, ao contrário da leitura linear tradicional
dos livros, basta para isso clicar nos links que correspondem às lexias escolhidas.
Multiseqüencial ou multilinear é a idéia de que o hipertexto possui várias linearidades,

13
ou várias seqüências; a seqüência de textos muda de acordo com as ações do leitor frente
ao hipertexto. Ao falar sobre a estrutura do texto informativo digital, Diaz Noci comenta
sobre a multilinearidade da escrita:
La operación fundamental que se opera en la escritura
digital es el paso de la linealidad a la fragmentación
virtual: virtual porque al ser reconstruida por el lector
esa escritura vuelve nuevamente a ser lineal, aunque
será una linealidad, si se quiere, personal, elegida,
reelaborada por el usuario (DIAZ NOCI, 2001, p. 145).

Esta forma de leitura não-linear relembra a idéia original de Vannevar Bush, que
buscava uma solução técnica para permitir a leitura de diferentes textos interconectados
por elos associativos, da mesma forma como funciona a mente humana.
Xavier esclarece que o conceito de leitura não-linear do hipertexto já existia
antes dos computadores, pois o leitor já podia escolher caminhos alternativos de leitura
em livros a partir da consulta a notas de rodapé, índices remissivos, sumários e divisão
dos livros em capítulos. Segundo o autor, “a inovação trazida pelo texto eletrônico está
em transformar a deslinearização, a ausência de um foco dominante de leitura, em
princípio básico de sua construção” (XAVIER, 2005, p. 174-175).
Já para Aarseth (apud Leão, 2001), a principal mudança do hipertexto,
comparando com trabalhos literários anteriores, é a possibilidade do jump, ou seja, do
salto para outras lexias. O jump proporcionaria duas conseqüências: a primeira é o
favorecimento à leitura descontínua, e a segunda seria o deslocamento quase que
instantâneo.
Lévy considera que a principal mudança do hipertexto digital em relação a
hipertextualidade em impressos é a velocidade. Segundo o autor,
A quase instantaneidade da passagem de um nó a outro
permite generalizar e utilizar em toda sua extensão o
princípio da não-linearidade. Isto se torna a norma, um
novo sistema de escrita, uma metamorfose da leitura,
batizada de navegação (LÉVY, 1993, p. 37).

14
A literatura também já experimentou o hipertexto em livros. Um exemplo é a
obra literária “Rayuela”, de Júlio Cortazar, no qual leitor pode escolher seguir narrativas
diferenciadas, criando-se assim novas seqüências.

2.3. Narrativa hipertextual

Mielniczuk (2004), ao discorrer sobre a narrativa hipertextual, apresenta três


tópicos que, segundo a autora, seriam importantes para o uso do hipertexto no
jornalismo. Os tópicos são: o texto disperso, a não linearidade e a co-autoria. O “texto
disperso” é a forma fragmentada e dispersa como é composto o hipertexto, ou seja, o
texto dividido em várias lexias conectadas por links; forma esta que acaba com o sentido
de unicidade textual. O tópico “co-autoria” tem dois sentidos: o primeiro seria a
possibilidade de vários usuários participarem na escrita do conteúdo, processo este
facilitado com as ferramentas que possibilitam a interconexão entre vários usuários; o
outro sentido seria a da autoria da produção do texto e a autoria na leitura do texto, ou
seja, o leitor também é um autor, na medida em que ele escolhe os caminhos de leitura,
devido à não-linearidade. O último tópico, a “não-linearidade”, é a possibilidade do
leitor escolher qual caminho de leitura seguir em uma malha textual. Segundo a autora, a
malha textual é um conjunto de lexias conectadas através de links; a lexia elegida pelo
leitor tornaria-se no centro temporário da malha textual, e assim se manteria até que o
leitor escolhesse outra lexia como o centro da malha textual.
O tópico “texto disperso” pode ser observado nas estruturas hipertextuais
apresentadas por Leão (2001). Segundo a autora, há dois tipos de estruturas: a
arborescente e a estrutura em rede. Na estrutura arborescente, existe um corpo central e,
a partir deste corpo, surgem diversos outros corpos subordinados. É um modelo baseado
nos livros acadêmicos, onde o texto principal é o caule, e os anexos (notas de rodapé,
itens de glossário etc) seriam os galhos, como mostra a figura a seguir.

15
Figura 1 - Estrutura arborescente proposta por Leão.

Já na estrutura em rede, as interconexões são mais complexas; as lexias estão


dispersas em um espaço, e cada lexia pode se conectar com qualquer outra lexia, como
mostra a figura a seguir.

Figura 2 - Estrutura em rede proposta por Leão.

16
Os modelos de escrita hipertextual são diversos, o que torna a prática da escrita
hipertextual mais complexa que a escrita linear. Salaverría (2005) diz que a simples
inserção de links em textos não é o suficiente para se criar verdadeiras narrativas
hipertextuais. Segundo o autor,
Si se desea aprovechar a fondo la hipertextualidad es
preciso llegar mucho más allá. Para elaborar textos
periodísticos realmente hipertextuales, el periodista
debe aprender a construir estructuras discursivas
compuestas mediante la articulación de fragmentos
textuales o incluso multimedia. En otras palabras: ha de
ser capaz de elaborar un discurso unitario a partir de
una combinación coherente y cohesionada de distintos
nodos hipertextuales (SALAVERRÍA, 2005, p. 101).

Salaverría ainda complementa que, entre as novas capacidades profissionais dos


editores de webjornalismo, se encontra a de saber traçar itinerários discursivos
hipertextuais. Para demonstrar exemplos destes itinerários, Salaverría apresenta algumas
possibilidades discursivas oferecidas ao jornalista graças à hipertextualidade. Para o
autor, há duas principais estruturas hipertextuais: as axiais e as reticulares. As estruturas
hipertextuais axiais, também denominadas lineares, são as estruturas organizadas em
torno de um corpo central. A estrutura axial pode ser unilinear (ver figura 3), quando há
apenas uma seqüência; ou multilinear (ver figura 4), quando há mais de uma seqüência
linear.

Figura 3 - Estrutura axial unilinear.

17
Figura 4 - Estrutura axial multilinear.

Ainda na estrutura axial multilinear, Salaverría diz que a narrativa pode seguir
uma estrutura arbórea (figura 5) ou paralela (figura 6).

Figura 5 - Estrutura axial multilinear arbórea.

18
Figura 6 - Estrutura axial multilinear paralela.

E por fim, Salaverría cita a estrutura reticular (ver figura 7) que, diferente da
axial, não possui um corpo central principal. É a mesma estrutura citada por Leão
(2001), na sua proposta de estrutura em rede.

Figura 7 - estrutura reticular.

Salaverría diz que a própria Web pode ser considerada uma estrutura reticular,
uma vez que as milhões de páginas estão dispersas e interconectadas. Porém, para o
jornalismo, o modelo reticular não é a melhor forma de relatar fatos, já que, para o autor,
uma narração é estritamente linear. Por isso, a estrutura reticular é mais bem utilizada no
jornalismo para dados, cifras, declarações etc; ou seja, dados que complementam a
narrativa principal. Logo, a melhor opção seria mesclar as estruturas axiais e reticulares.
Dias Noci e Salaverría (2003) apresentam outros modelos, divididos em
estruturas lineares, estruturas paralelas e estruturas arbóreas. As estruturas lineares são

19
semelhantes à estrutura axial unilinear (figura 3) de Salaverría, porém aqui os autores
incluem outras situações, como as estruturas lineares com alternativas, mostradas na
figura a seguir.

Figura 8 - Estrutura linear e estrutura linear com alternativas, propostas por Diaz Noci e
Salaverría.

As estruturas paralelas propostas por Diaz Noci e Salaverría são semelhantes à


estrutura axial multilinear paralela (figura 6) de Salaverría, ou seja, uma entrada única
seguida de uma ramificação para outras seqüências lineares, mostrada na figura a seguir.

20
Figura 9 - Estrutura de links paralelos, um dos modelos de estrutura paralela propostos por Diaz
Noci e Salaverría.

As estruturas arbóreas são semelhantes à estrutura axial multilinear arbórea


(figura 5) de Salaverría, com algumas variações. Neste modelo, a estrutura pode oferecer
várias opções como na estrutura paralela, porém pode ocorrer, segundo os autores, um
estreitamento do itinerário narrativo, ou seja, as seqüências podem voltar a apontar para
apenas uma seqüência (ver figura 10). Segundo os autores, neste caso seria uma
estrutura convergente.

21
Figura 10 - Estruturas arbóreas propostas por Diaz Noci e Salaverría.

Embora os modelos apresentados não sejam regras nem padrões, julgamos


interessante conhecer as propostas para obter noções de algumas estruturas possíveis
com a narrativa hipertextual. Para o presente projeto experimental, foi adotado como
referência para o produto desenvolvido o segundo modelo apresentado na figura 10,
denominado “estrutura arbórea fechada com saltos de níveis e retornos opcionais”. Esta
escolha é melhor explicada no capítulo 5, onde também é descrito o sistema publicador
desenvolvido.

22
3. BANCO DE DADOS

O banco de dados é um dos recursos em maior expansão na Web, devido às


possibilidades que esta tecnologia oferece no tratamento da informação. Trata-se de um
dos recursos necessários para se criar sistemas publicadores, tanto para armazenamento
de informações quanto para facilitar a manipulação de dados. 1
Em um primeiro momento, vamos apresentar as questões técnicas básicas
referentes ao banco de dados, para que seja possível compreender o funcionamento deste
recurso. Depois apresentaremos as reflexões de alguns autores sobre o uso desta
tecnologia no webjornalismo, bem como a sua importância para a criação de narrativas
hipertextuais.

3.1. Conceitos básicos

Segundo Oliviero, “um banco de dados pode ser definido como sendo um
mecanismo capaz de manipular, armazenar e organizar informações de modo que
possam ser recuperadas rapidamente e a qualquer momento” (OLIVIERO, 2002, p. 26).
Como exemplo de banco de dados, podemos citar a lista telefônica, ou uma
enciclopédia. Ambas armazenam dados organizados, ordenados (neste caso em ordem
alfabética), de tal forma que facilita o acesso aos dados (ou recuperação de dados). Com
o surgimento dos microcomputadores, na década de 1970, deu-se início ao
desenvolvimento de banco de dados digitais.
Um banco de dados para computador não existe apenas para realizar o
armazenamento das informações2, ele também possibilita o rápido acesso à informação e

1
Barbosa (2005) aborda a discussão sobre as diferenças entre os termos “banco de dados” e “base de
dados”. Devido ao limite de profundidade no estudo de assuntos paralelos ao tema principal do presente
trabalho, adotaremos como referência o termo “banco de dados” e trataremos os dois termos como
sinônimos, embora haja autores que distinguem os significados.
2
Date (1990) esclarece que alguns autores distinguem os significados das palavras dados e informações.
No estudo sobre bancos de dados, considera-se que o dado isolado não contém significado, porém dados

23
facilita o gerenciamento dos dados, como na inserção, atualização e eliminação dos
mesmos.
Com o desenvolvimento das redes de computadores, surgiu a possibilidade de se
trocar dados entre computadores, e conseqüentemente entre bancos de dados. Esse
cenário possibilitou a existência de uma estrutura de rede de computadores chamada
cliente-servidor, fundamental para que os bancos de dados fossem empregados em
massa na internet.

3.1.1. Arquitetura cliente/servidor

Antes do surgimento de microcomputadores, a informática estava restrita aos


mainframes, computadores de grande porte, acessíveis apenas para empresas ou
instituições capazes de cobrir altos custos de compra e manutenção. Neste ambiente, os
dados eram processados por uma CPU principal3, e armazenados em uma unidade de
disco principal4. O acesso humano ao mainframe era realizado através dos terminais
burros; eram assim denominados porque não tinham capacidade de processar e
armazenar dados, eles apenas acessavam os dados processados pelo mainframe
(Oliviero, 2002). Em outras palavras, um mainframe antes da arquitetura cliente/servidor
era um computador de grande porte, com vários monitores e teclados conectados a ele
(figura 11).

organizados produzem significados, ou seja, produzem informação. No presente trabalho, utilizaremos


ambos os termos como sinônimos.
3
CPU é a sigla em inglês para Unidade Central de Processamento. É o componente “responsável pela
realização das operações de processamento (os cálculos matemáticos etc.) e de controle, durante a
execução de um programa” (MONTEIRO, 1996, pg 134). A CPU também é conhecida como
“processador”. Qualquer microcomputador atual possui ao menos uma CPU para realizar tarefas de
processamento de dados.
4
Unidade de disco é o termo utilizado para designar o componente de um computador onde são
armazenados os dados. O termo disco remete à estrutura física da unidade, formada por discos magnéticos
que registram os dados armazenados (MONTEIRO, 1996).

24
Figura 11 - Modelo de mainframe.

Com o surgimento das redes, foi possível estruturar um ambiente diferente, onde
os terminais seriam agora pequenos computadores, que poderiam processar dados e
trocar informações com outros computadores: é o modelo cliente/servidor. Neste
modelo, os microcomputadores (chamados clientes) podem processar os dados, e enviar
para um computador principal (chamado servidor), que processa e armazena os dados
enviados pelos clientes. Em seguida, o servidor pode reenviar dados processados àquele
computador, ou a qualquer outro que esteja ligado em rede com ele (figura 12).

25
Figura 12 - Modelo de cliente/servidor.

A estrutura cliente/servidor influenciou muito nos sistemas de banco de dados.


Com a nova arquitetura, os bancos de dados puderam ser concentrados em um único
local (servidor), possibilitando que os clientes compartilhassem a mesma fonte de dados.
Quando um computador cliente necessita obter alguma informação do banco de dados
principal (que está no servidor), ele envia pela rede um comando requisitando o serviço,
então o servidor realiza a tarefa e devolve ao computador cliente apenas o resultado.
Num exemplo, podemos pensar em um banco de dados que armazena uma lista com
milhares de nomes com seus respectivos números telefônicos. Se o cliente necessitar de
um nome e número específicos da lista, ele envia um comando de pesquisa ao servidor;
este por sua vez realiza a pesquisa no banco de dados e devolve ao cliente apenas o
resultado da pesquisa, ou seja, o nome e o número requisitados. Este sistema de
transmissão de dados proporciona inúmeras vantagens, como a concentração e

26
compartilhamento do mesmo banco de dados, e o aumento do desempenho da rede,
como diz Oliviero:
- As informações pertencentes ao banco de dados ficam
concentradas em um ou mais servidores que têm por
objetivo “servir” as demandas de consultas, alterações,
inclusões, etc. requisitadas pelos seus “clientes”.
- Todo processo é realizado no servidor (ou servidores)
pelo gerenciamento de banco de dados. Os clientes
(usuários finais) apenas recebem em suas estações as
informações já processadas e organizadas, diminuindo
drasticamente o tráfego na rede e conseqüentemente
aumentando o desempenho do sistema com respostas
mais rápidas e eficientes (OLIVIEIRO, 2002, p. 28-29).

Na Web, é utilizada a arquitetura cliente/servidor, onde cada computador que


utiliza serviços da internet é o cliente (ou usuário final), e o servidor são os
computadores que armazenam os arquivos dos sites.
A arquitetura cliente/servidor é uma estrutura de organização dos computadores
envolvidos na operação com bancos. Nos próximos tópicos, vamos tratar sobre o
funcionamento do banco de dados; as formas como esta tecnologia armazena e organiza
as informações. Este conhecimento é importante para entender o quanto este recurso
pode auxiliar o profissional do jornalismo na apresentação das informações.

3.1.2. Banco de dados relacionais

Há vários modelos de banco de dados, cada um organiza os dados de uma forma


diferente. O principal modelo utilizado para representar um banco de dados é o modelo
relacional, onde a organização dos dados é representada por tabelas comuns, com linhas
e colunas (Date, 1990), como as empregadas em programas de planilhas. Cada registro é
inserido em uma linha, e as especificações do registro são divididas pelas colunas.
Vamos tomar como exemplo uma tabela com registros de pessoas físicas associadas a
uma loja locadora de vídeos (ver figura 13).

27
Figura 13 - Exemplo de uma tabela de banco de dados.

No exemplo da figura 13, as colunas (ou campos) são: o nome, a idade, o


endereço e a preferência de gênero de filmes. Cada linha representa um registro, onde os
dados estão divididos de acordo com as colunas. Neste exemplo, a tabela armazena as
preferências dos gêneros de filme dos clientes; esses podem escolher mais de um gênero,
por isso alguns nomes repetem.
No modelo relacional, as várias tabelas que formam o banco de dados podem se
relacionar umas com as outras. Além de organizar o banco de dados, esta segmentação
em várias tabelas permite realizar inúmeras combinações e cruzamentos entre os dados,
expandindo as possibilidades no tratamento das informações.
Para ilustrar o funcionamento do modelo relacional, vamos reestruturar os dados
da tabela anterior (mostrada na figura 13) em mais de uma tabela. Podemos organizar os
dados em duas tabelas, uma para registrar os clientes da locadora (figura 14), e outra
tabela para registrar os gêneros de filmes que a locadora dispõe (figura 15).

28
Figura 14 - Tabela denominada CLIENTE para registrar os clientes da locadora de vídeos.

Figura 15 - Tabela denominada GÊNERO para registrar os gêneros de filmes que a locadora de
vídeo dispõe.

Em seguida, podemos criar uma tabela específica apenas para relacionar a tabela
CLIENTE com a tabela GÊNERO (ver figura 16). O relacionamento entre as duas
tabelas é possível ao associarmos a coluna de identificação do cliente (Cód_cliente) com
a coluna de identificação do gênero (Cód_gênero). Esta coluna é conhecida como chave,
ou chave-primária.

29
Figura 16 - Tabela de relacionamento denominada CLIENTE_GÊNERO. Esta tabela associa a
chave-primária da tabela CLIENTE com a chave-primária da tabela GÊNERO.

Com o uso de tabelas de relacionamento, o banco de dados torna-se menos


redundante, pois não repete informações, como acontece no primeiro exemplo citado
com as informações “idade” e “endereço”, na figura 13.
Os dados são manipulados por um tipo de aplicativo5 conhecido como sistema
gerenciador de banco de dados (SGBD)6; para realizar esta manipulação, o SGBD utiliza
certos comandos específicos para esta operação. Retomando o exemplo da locadora, é
possível programar para que sejam apresentados no site final7 somente os nomes dos
clientes que preferem o gênero “suspense”. Para isso, o SGBD seleciona na tabela
CLIENTE (ver figura 14) somente os nomes dos clientes que possuem o Cód_cliente
relacionado ao Cód_gênero número 2, que representa o gênero suspense. Este
relacionamento está registrado na tabela CLIENTE_GÊNERO (figura 16). Logo, o

5
Tratamos neste trabalho os termos “aplicativo”, “programa” e “software” como sinônimos.
6
Existem vários tipos de SGBD no mercado, alguns com mais capacidade, e outros mais limitados. O
SGBD utilizado no presente projeto experimental é o MySQL, indicado para gerenciar bancos de dados
para a internet, devido a sua simplicidade e rapidez, além de ser um open source, ou seja, qualquer pessoa
física pode usar o programa, sem precisar pagar para isto.
7
Quando utilizamos o termo “site final”, nos referimos ao site que o leitor acessa, ou seja, é o site depois
que a informação já foi inserida no banco de dados. Um exemplo de site final é uma página com uma
notícia.

30
SGBD selecionará os clientes Pedro e Marta, pois seus códigos (003 e 004) estão
relacionados ao código do suspense (02) (ver figura 17).

Figura 17 - Tabela CLIENTE_GÊNERO determina a relação entre as tabelas de dados.

As chaves primárias “Cód_cliente” e “Cód_gênero” servem para identificar os


registros, e facilitam o relacionamento entre tabelas (cruzamento de informações),
possibilitando o processo de indexação de dados.

31
Também é possível manipular os dados sem o uso de tabelas de relacionamento,
para isso são utilizadas regras definidas pelas colunas (campos) da tabela pesquisada.
Por exemplo, podemos determinar que sejam apresentados no site final apenas os nomes
dos clientes com idade entre 30 e 50 anos (ver figura 18). Neste caso, o SGBD
selecionará apenas os nomes João e Pedro, respectivamente com 35 e 41 anos, pois estes
registros satisfazem a condição determinada (idade entre 30 e 50 anos).

Figura 18 - Tabela CLIENTE. Nos campos destacados, estão as idades que satisfazem a condição
determinada; em negrito estão os nomes que serão escritos no site.

Esse exemplo demonstra de forma bem simplificada como um programa pode


manipular dados, num universo de inúmeras ações possíveis no tratamento do banco de
dados. Para realizar esta manipulação, são utilizados comandos SQL8.
Entender os princípios básicos do funcionamento de um banco de dados é
importante para formular uma noção do que é e como funciona esta tecnologia. Em
tópicos posteriores, quando tratarmos sobre o webjornalismo, serão apresentados os
argumentos de vários autores e pesquisadores que defendem o uso do banco de dados
como essencial para a prática da atual fase do jornalismo na Web.
Além do banco de dados, outra tecnologia exigida para o desenvolvimento de
sistemas publicadores de notícias são as linguagens de programação direcionadas à Web,
como veremos agora.

8
SQL (Structured Query Language – linguagem de consulta estruturada) é uma linguagem específica para
uso em banco de dados. Além do comando de seleção de dados (chamado também de recuperação ou
consulta dos dados) que mostramos no exemplo, há ainda comandos para inserir novos registros, apagar
ou atualizar registros já existentes, criar novas tabelas etc (Date, 1990, p. 3).

32
3.2. Linguagens de programação

Embora o capítulo trate sobre banco de dados, é necessária uma introdução ao


assunto linguagens de programação para internet, pois elas possibilitam que um site da
Web acesse e manipule as informações armazenadas pelo banco de dados.
O site é a interface gráfica da Web; é nele que o padrão visual da Web se
materializa. Para que isso seja possível, é necessário que os documentos digitais sejam
escritos (programados) utilizando-se uma série de códigos específicos que são lidos pelo
computador. Estes códigos são conhecidos por HTML (HyperText Markup Language –
Linguagem de Marcação de Hipertexto), uma linguagem de marcação, embora seja
popularmente considerada, de forma errada, uma linguagem de programação. São os
códigos HTML que definem como o conteúdo do site será apresentado, ou seja, é o
HTML que informa ao browser9 como deve ser formatada a apresentação do site. Por
exemplo: um código específico (também conhecido como tag ou etiqueta) define que o
texto será negrito (ver figura 19). Porém, o leitor não visualiza os códigos HTML,
apenas o resultado dos códigos, ou seja, a página formatada (ver figura 20).

9
Um browser (em uma tradução livre, significa “vasculhador”, “paginador”) é um tipo de software
utilizado para visualizar sites da Web. É o browser que solicita ao servidor o envio de uma página, e logo
depois disponibiliza esta página ao leitor. Em português, o browser é conhecido como “navegador”.
Alguns dos navegadores mais utilizados atualmente são o “Internet Explorer”, o “Netscape” e o “Mozzila
Firefox”.

33
Figura 19 - Exemplo de códigos HTML. A tag <br> representa quebra de linha, as tags <b> e </b>
formatam para negrito o texto que está entre elas, e as tags <i> e </i> formatam para itálico.

Figura 20 - Exemplo de como o leitor visualiza a página HTML em um navegador, formatada de


acordo com os códigos mostrados na figura anterior.

Em outras palavras, segundo Salaverría, o HTML:


[...] es el lenguaje con el que se elaboran las páginas
Web. No se trata exactamente de un lenguaje de
programación, sino más bien de un conjunto de
etiquetas que, cuando se unem a unos contenidos y son
leídas por unos programas llamados <<navegadores>>
(por ejemplo Explorer, Netscape, Opera o Mozilla), dan
como resultado unas páginas diseñadas con

34
determinados atributos tipográficos, cromáticos,
gráficos, etc (SALAVERRÍA, 2005, p. 51).

A Web possibilita vários recursos técnicos, como o uso do link que, ao ser
clicado, remete a tela do navegador para outro site. A Web permite ainda inserir em um
site outras mídias como o som e o vídeo. Todas estas informações são transmitidas de
um computador a outro pela estrutura física da internet, mas é a Web que possibilita a
apresentação destas informações na forma de um site, com o uso do HTML.
O HTML foi muito útil para o desenvolvimento da Web, pois democratizou o
acesso à internet ao simplificar a apresentação e o manuseio das informações. Porém, a
Web foi agregando novas tecnologias e exigindo mais recursos que o HTML não
poderia oferecer, assim tornou-se limitado e obsoleto. Para solucionar este problema,
foram desenvolvidos novos recursos que puderam ser agregadas ao HTML, como as
linguagens de programação, que trazem inúmeras possibilidades para os sites da Web. É
como se fossem oferecidas centenas de novos códigos, ou tags, ao programador do site.
Os sites HTML são considerados “estáticos”, ou seja, depois que um site é
programado, ele será apresentado ao leitor sempre com a mesma formatação, imutável.
Seu conteúdo só pode ser modificado manualmente, pelas mãos de um programador com
conhecimento em HTML. Já os sites que empregam linguagens de programação são
considerados “dinâmicos”, porque o conteúdo do site pode ser modificado
automaticamente. Como exemplo podemos citar um site que, com o uso da linguagem
de programação, pode mostrar a data e o horário de acesso, que são atualizados
automaticamente. Neste exemplo, o conteúdo do site se modifica automaticamente de
acordo com a mudança de uma situação externa ao site, ou seja, o dia e a hora de acesso.
Em um site programado apenas com HTML, isso não seria possível. Soares explica em
outras palavras:
A WEB de hoje é muito distinta de poucos anos atrás,
quando somente tínhamos acesso a páginas estáticas
que sempre mostravam a mesma “cara” para todos os
internautas. Bem, isto mudou e para melhor, posso
garantir, pois hoje em dia você pode acessar sites na
WEB que fazem de tudo um pouco, desde pesquisa em

35
outros sites até compra de ações, carros, barcos, casas,
etc. Enfim, tudo o que o mundo real pode ter,
provavelmente, você encontrará na WEB (SOARES,
2000, p. 1).

Um site dinâmico pode manipular dados que são inseridos pelo usuário10. Por
exemplo, um usuário poderia inserir dois valores numéricos em um formulário11 de um
site dinâmico; desde que tenha sido programado para este fim, o site dinâmico poderia
realizar um cálculo aritmético com os valores numéricos inseridos pelo usuário e
mostrar o resultado no site. Já um site estático não poderia realizar a mesma tarefa, pois
sempre exibirá o mesmo conteúdo já determinado no dia de sua criação, ou atualização
manual.
Outra vantagem das linguagens de programação é a possibilidade de acessar
bancos de dados e apresentar estas informações acessadas em um site, uma operação que
não é possível utilizando apenas o HTML.
Silva (2002) esclarece que os sites estáticos são distribuídos pelo servidor; ou
seja, após o cliente solicitar ao servidor o envio do site, o fluxo dos dados é
unidirecional, do servidor para o cliente (figura 21).

10
Neste capítulo utilizaremos os termos “usuário” para aqueles que inserem conteúdos no banco de dados,
como o programador ou o profissional jornalista; e “leitor” para aquele que lê as informações, ou seja, o
consumidor dos produtos jornalísticos. Em muitas situações, como nos sistemas de produção colaborativa,
o leitor pode se tornar um dos agentes que produzem o conteúdo, pois também pode inserir informações
em um banco de dados, porém para fins de compreensão do recurso banco de dados, não consideramos
esta questão.
11
Formulário é um recurso oferecido em sites, onde são disponibilizados campos que permitem a inserção
de informações pelo usuário. No final do formulário, é disponibilizado um botão que, ao ser clicado, envia
ao servidor as informações inseridas pelo usuário.

36
Figura 21 - Fluxo de dados na solicitação de documentos estáticos.

Já em sites dinâmicos, os dados são trocados entre o cliente e o servidor; ou seja,


o um leitor insere informações em um site, o computador cliente envia estes dados para
o servidor, este por sua vez processa os dados e envia um documento digital modificado
de acordo com os dados submetidos pelo leitor. O fluxo dos dados é bidirecional (figura
22).

Figura 22 - Fluxo de dados nas solicitações de dados usando páginas dinâmicas.

37
Podemos citar alguns exemplos de sites dinâmicos: sites de compras, onde o
leitor informa o número do cartão de crédito ou solicita a informação de preços
atualizados de produtos em venda; sites que exigem cadastros, onde o leitor deve
informar certas informações como nome e endereço, que são armazenadas em banco de
dados; sites de jornalismo onde o leitor pode solicitar a pesquisa de notícias publicadas
em uma data específica, armazenadas no banco de dados do site; ou ainda os conhecidos
sites de buscas.
Atualmente existem várias linguagens de programação, como o PHP (Hypertext
Preprocessor), ASP (Active Server Page), ColdFusion, e Java. No presente projeto
experimental, optamos pelo PHP que, além de ser uma potente linguagem de
programação, é um open source, ou seja, qualquer pessoa pode usar a linguagem sem
precisar pagar. O PHP pode ser facilmente mesclado com o HTML, então um site que
utiliza a linguagem de programação PHP é formado tanto por códigos PHP quanto por
tags HTML. No manual encontrado no site oficial do PHP, o conceito desta linguagem é
descrito como:
PHP, que significa "PHP: Hypertext Preprocessor", é
uma linguagem de programação de ampla utilização,
interpretada, que é especialmente interessante para
desenvolvimento para a Web e pode ser mesclada
dentro do código HTML. A sintaxe da linguagem
lembra C, Java e Perl, e é fácil de aprender. O objetivo
principal da linguagem é permitir a desenvolvedores
escrever páginas que serão geradas dinamicamente
rapidamente, mas você pode fazer muito mais do que
isso com PHP.12

A linguagem de programação possibilita também criar ferramentas de interação


entre o leitor e o site. Um exemplo típico é o fórum de debates, uma ferramenta muito
utilizada para publicar diálogos de leitores em um site, permitindo a interação entre eles.
No fórum de debates, o leitor pode digitar algum texto em um formulário, e clica com o
mouse em um botão que envia o texto digitado ao banco de dados. A linguagem de
programação é responsável por acessar o banco de dados e enviar o texto digitado para o

12
Transcrito do manual do PHP em português, disponibilizado no site oficial do PHP. Disponível em: <
http://www.php.net/manual/pt_BR/preface.php>. Acesso em: 18 set 2005.

38
SGBD, este por sua vez fará a inserção do texto como um novo registro em uma tabela
do banco de dados.
Com as noções de banco de dados e linguagem de programação, já é possível
abordarmos sobre o uso do banco de dados no webjornalismo.

3.3. Banco de dados no webjornalismo de terceira geração

Embora tenhamos citado que a finalidade do banco de dados é a de armazenar


dados de forma organizada, no webjornalismo esta tecnologia permite muito mais que o
simples armazenamento. Para Barbosa:
Como forma de jornalismo mais recente, o jornalismo
digital é a modalidade na qual as novas tecnologias já
não são consideradas apenas como ferramentas, mas,
sim, como constitutivas dessa prática jornalística. E
nela, as bases de dados possibilitaram a criação de um
formato com estatuto próprio, desempenhando três
funções simultâneas e complementares: a) de formato
para a estruturação da informação; b) de suporte para
modelos de narrativa multimídia; e c) de memória dos
conteúdos publicados [...] (BARBOSA, 2005, p. 5).

Vamos tratar aqui de duas das funções citadas por Barbosa: a de formato para
estruturação da informação e a de memória dos conteúdos publicados. Não trataremos da
outra função (suporte para modelos de narrativa multimídia) porque o foco deste
trabalho é a hipertextualidade, e não a multimidialidade.

3.3.1. Banco de dados como memória dos conteúdos publicados

Palacios (2002b) enfatiza a contribuição do banco de dados para a memória do


webjornalismo, por meio de arquivamento de notícias e outros produtos jornalísticos.
Para o autor, a memória é identificada como uma ruptura em relação ao jornalismo de
veículos tradicionais. Para exemplificar a força da característica memória, Palacios diz
que a forma como as outras características do webjornalismo são aplicadas hoje não são

39
rupturas, mas continuidades e potencialização de características já presentes nos meios
tradicionais. Um exemplo é a multimidialidade, que não é uma exclusividade do
webjornalismo, já que a TV possibilita também o texto, o áudio e o vídeo; o
webjornalismo apenas potencializa esta característica pela facilidade de convergência
das mídias. Palacios também cita a característica personalização, que já existia com a
segmentação de audiências; e a característica hipertextualidade, presente no CD-ROM,
ou até mesmo em uma enciclopédia impressa. Já a disponibilidade de espaço
praticamente ilimitado para se colocar informações, o autor confirma que se trata da
primeira vez que isso ocorre, se compararmos com o jornal impresso (limitado pelo
tamanho do papel), com a TV e com o rádio (ambos limitados pelo tempo), por isso a
memória seria uma mudança tão marcante a ponto de se tornar uma ruptura.
Embora a memória não seja a característica alvo do presente projeto
experimental, é necessário discorrer sobre o assunto, pois o arquivamento de notícias
contribui na produção de notícias hipertextuais, onde uma notícia atualizada pode levar a
notícias anteriores, e assim por diante. Segundo Fidalgo (!!!Sintaxe e semântica das
notícias on-line: para um jornalismo assente em base de dados):
Estando as notícias anteriores acessíveis on-line a
aparência primeira de um jornal deixa de ser a de uma
edição fixa para se tornar na ponta de um iceberg em
que o que jaz submerso pode ser sempre trazido à
superfície. Claro que na actualidade é sempre o
primeiro critério na configuração standard ou
privilegiada da sintaxe de um jornal, mas essa sintaxe
pode ser alterada consoante as associações profundas
que as suas partes evocam. O que num jornal impresso
poderia figurar como uma notícia menor, de página
interior, pode revelar-se no fim de uma cadeia de
notícias como uma notícia de primeira página (Fidalgo,
2003, p. 4-5).

Ainda sobre banco de dados, Fidalgo diz que as notícias podem ser consideradas
objetos, e serem classificadas como se fossem dados.
Depois de introduzida na base de dados, a notícia pode
ser submetida a uma análise por parte de um programa
informático, que a classifica mais detalhadamente
consoante nomes de pessoas, lugares, datas e eventos

40
que nela ocorram. Esta análise depende da
“inteligência” do programa, em especial quanto ao
pormenor e à pertinência da classificação (Fidalgo,
2003, p. 8).

Portanto, o banco de dados tem a capacidade se armazenar informações, como


notícias ou outros produtos jornalísticos, de forma organizada e classificada, permitindo
acesso rápido aos dados. Para ilustrar esta situação, vamos utilizar como exemplo um
banco de dados utilizado para armazenar notícias sobre política. Como já abordamos no
tópico 1.2, uma tabela de banco de dados relacional possui linhas e colunas. Neste
exemplo, cada linha é uma notícia, e cada coluna é uma especificidade da notícia, como
na figura a seguir.

Figura 23 - Exemplo simplificado de uma tabela de banco de dados para armazenar notícias sobre
política.

Neste caso, o banco de dados oferece mais do que o título e o texto, oferece
também o campo “palavra-chave” como subsídio para o tratamento da notícia. Com este
recurso a mais, as possibilidades de criação de novas notícias dependem da criatividade
dos desenvolvedores do site (desenvolvimento da arquitetura da informação do site, da
estrutura do banco de dados etc). Poderia-se, por exemplo, criar uma regra onde toda
notícia que é apresentada ao leitor devesse apresentar no final da página uma lista com
os títulos das outras notícias que fazem parte da mesma categoria, indicada no campo
“palavra-chave”.

41
3.3.2. Banco de dados como formato para a estruturação da informação

Já explicamos no tópico 1.2 que o banco de dados oferece muito mais recursos
do que o simples armazenamento de dados. Por isso, ao discorrer sobre o banco de dados
no jornalismo, Barbosa (2004a) vai além da questão da memória. A autora diz que o uso
dos bancos de dados pode contribuir para a geração de uma maior variedade de
conteúdos e mais adaptados às características de um produto digital. Evocando a idéia
do webjornalismo de primeira e segunda geração, onde os produtos jornalísticos para
webjornalismo são parecidos ou iguais, em sua estrutura e conteúdo, aos do jornalismo
impresso, Barbosa diz que os bancos de dados inteligentes e dinâmicos podem produzir
rupturas, e até mesmo:
[..] se constituírem como uma metáfora apropriada para
trazer nova luz no sentido de superar a metáfora do
jornal impresso que, desde os primeiros anos de
experimentação do jornalismo no suporte digital até
agora, permanece sendo a mais empregada pelos mais
diferentes tipos de sites noticiosos (Barbosa, 2004a).

Em outro artigo, Barbosa (2004b) argumenta que as perspectivas de mudanças no


emprego e utilização dos bancos de dados se dão em relação à construção das narrativas,
concepção do produto e uso do arquivo. Também ocorrerão transformações nas rotinas
de produção das informações, e na provisão de conteúdos mais originais e variados,
refletindo no modo como as informações serão apresentadas. A autora ainda acrescenta:
A adoção de bancos de dados bem como dos chamados
bancos de dados inteligentes e dinâmicos pode
favorecer a inovação, permitindo a exploração de novos
gêneros, a oferta de conteúdo mais diverso, a
disponibilização/ apresentação das informações de
maneira diferenciada, mais flexível e dinâmica, além da
produção descentralizada – outra das características que
o jornalismo digital de terceira geração deve contemplar
(BARBOSA, 2004b, p. 5).

42
Fidalgo (2003) traz um exemplo prático de como o banco de dados pode
transformar a forma como o produto é apresentado. Neste exemplo, o autor compara um
jornal digital criado apenas em HTML (sem a possibilidade do uso de banco de dados) e
um jornal criado com outras linguagens de programação (que possibilita o uso do banco
de dados). Para ele, a grande diferença entre os dois tipos de jornais é que no primeiro
caso (HTML), ele é um produto único, ou seja, a página continuará estática, sempre com
o mesmo conteúdo. Já num jornal estruturado sobre um banco de dados, o conteúdo será
sempre o resultado de uma pesquisa nas notícias inseridas no banco de dados. Num
exemplo mais detalhado, Fidalgo diz:
O que simplifica os jornais on-line são as relações
hipertextuais que permitem consultas rápidas e cômodas
de matérias associadas com a notícia em causa. Porém
aqui as relações ou links estão previamente
estabelecidos, são estáticos. Numa base de dados, ao
contrário, apenas se cria o tipo de relação deixando em
aberto quais os correlatos dessas relações. No hipertexto
temos ligações de página a página, na base de dados
temos relações de campos, podendo cada campo
comportar um número aberto de páginas (FIDALGO,
2003, p. 3).

Para ilustrar este exemplo citado por Fidalgo, criamos dois gráfico que detalham
esta possibilidade que o banco de dados traz ao webjornalismo (ver figura 24 e figura
25)

Figura 24 - Exemplo de site em HTML, onde ao clicar no link, a tela será remetida sempre ao
mesmo site já programado.

No exemplo da figura 24, o site está em HTML e não utiliza linguagens de


programação nem banco de dados. Neste caso, o site é estático, imutável, ou seja,

43
sempre apresentará a mesma formatação. O link sempre irá apontar para o mesmo
destino. A única forma de modificar esta situação é com a atualização manual do código
pelo programador. Já na próxima figura, o site utiliza linguagem de programação e
banco de dados. Neste caso, o site dispõe de um banco de dados com vários registros,
que podem servir como opções ao link. Dependendo das ações do leitor, ou de outras
situações externas, o link da página assume o valor de um dos registros do banco de
dados (uma das linhas da tabela).

Figura 25 - Exemplo de site estruturado sobre banco de dados, onde o destino do link será
determinado pela pesquisa feita no banco de dados pelo site.

Por exemplo, poderíamos criar uma regra que determinasse ao link do site
assumir os valores da primeira linha (onde Cod_link = 001) das 00:01 horas até as 06:00
horas do dia; a segunda linha (onde Cod_link = 002) das 6:01 horas até as 12:00 horas; a
terceira linha (onde Cod_link = 003) das 12:01 horas até as 18:00 horas; e a quarta linha
(onde Cod_link = 004) das 18:01 horas até as 00:00 horas. O resultado seria um site que

44
apresenta conteúdos diferenciados ao longo do dia, sem que o programador modifique
manualmente o site. Logo, o conteúdo do site se modifica dinamicamente, de acordo
com uma situação externa ao site, neste caso a situação é o horário. Em uma situação
real, este exemplo poderia ser aplicado no site de um hotel, onde seria disponibilizado o
cardápio do dia de acordo com o horário: opções de café da manhã das 04:00 horas até
as 09:00 horas; almoço das 09:01 horas até as 13:00 horas; lanches das 13:01 horas até
as 19:00 horas e janta das 19:01 horas até 22:00 horas.
Em outro exemplo, a regra poderia ser definida de acordo com as escolhas do
leitor frente à narrativa, como no caso de o leitor escolher ler notícias sobre informática
e, neste caso, um link rotulado “anúncios” assumir o endereço do site de uma loja de
informática; endereço este armazenado no banco de dados. Em ambos os exemplos, o
site procura no banco de dados a opção mais correta para o momento, e modifica a sua
estrutura automaticamente. Por isso, Fidalgo diz que “um jornal assente em base de
dados é sempre o resultado de uma determinada pesquisa” (FIDALGO, 2003, p.3).
Abordamos aqui exemplos relacionados ao link, porém este dinamismo do conteúdo em
sites estruturados em banco de dados vai além das possibilidades de mudança do link;
também se estende a imagens e ao texto e, em conseqüência, à narrativa.
Em seu artigo, Machado (2004) discute o banco de dados como um espaço para a
composição de narrativas. Segundo o autor, “o Banco de Dados aparece para os usuários
como uma interface tipificada no espaço navegável que permite explorar, compor,
recuperar e interagir com as narrativas” (MACHADO, 2004, p. 2).
O presente projeto experimental utiliza o banco de dados como um suporte à
narrativa. Todo o conteúdo inserido pelo jornalista no sistema publicador aqui
desenvolvido é armazenado em banco de dados, de forma organizada e categorizada. A
descrição detalhada do produto desenvolvido neste projeto experimental pode ser
acompanhada no capítulo 5.

45
4. SISTEMAS DE PUBLICAÇÃO

As noções básicas de banco de dados e linguagens de programação facilitam o


entendimento dos sistemas de publicação, também denominados sistemas publicadores.
Neste capítulo, buscamos apresentar algumas definições e alguns exemplos de sistemas
publicadores.

4.1. Definições de sistema de publicação

A integração do HTML com uma linguagem de programação e com acesso a


banco de dados traz ao programador inúmeras possibilidades de criação de sites
dinâmicos. Podemos citar exemplos de sites dinâmicos que foram possíveis graças a
estas tecnologias, como os sites de vendas, que oferecem ao leitor a possibilidade de
visualizar o produto, informar-se sobre o seu valor atualizado e sobre suas características
etc. Ainda neste exemplo, o leitor13 pode selecionar os produtos desejados, e o site faz
todo o trabalho de cálculos de preços e os serviços financeiros necessários para se
efetuar o pagamento.
É possível inserir formulários em sites escritos apenas com HTML, porém as
possibilidades de tratamento dos dados coletados nos formulários ficam muito limitadas.
Com as linguagens de programação e bancos de dados, é possível tratar de maneiras
muito diversa estes dados coletados. Como exemplo podemos citar os sistemas
publicadores (ou sistemas de publicação), ferramentas que facilitam o serviço daqueles
que necessitam trabalhar com informações na Web, mas não possuem o conhecimento
necessário para programar um site, como é o caso de grande parte dos jornalistas que
atuam em webjornalismo.

13
Assim como no capítulo sobre banco de dados, neste capítulo utilizaremos os termos “usuário” para
aqueles que inserem conteúdos no banco de dados, como o profissional jornalista ou o programador; e
“leitor” para aquele que lê as informações, ou seja, o consumidor dos produtos jornalísticos.

46
Um sistema publicador é formado por um formulário, que serve como interface
para o usuário inserir dados, como textos, imagens, opções de múltipla escolha etc (ver
figura 26). Ao clicar no botão para enviar o formulário, o sistema publicador trata de
selecionar os dados inseridos pelo usuário, e enviá-los ao banco de dados. É o sistema
publicador que define, por exemplo, em quais tabelas do banco de dados serão inseridas
as informações do usuário. Este sistema permite que usuários leigos em informática
possam inserir dados em sites, como textos e imagens. Desta forma, o usuário torna-se
um agente criador do site, sem precisar conhecer códigos HTML ou de linguagens de
programação.

Figura 26 - Exemplo simplificado de formulário empregado em um sistema publicador.

47
Os sistemas publicadores são utilizados em sites que manipulam informações.
Um exemplo típico é o blog14, que é alimentado a partir de um publicador. Segundo
Komesu (2005),
Os blogs surgiram em agosto de 1999 com a utilização
do software Blogger, da empresa norte-americana Evan
Williams. O software fora concebido como uma
alternativa popular para publicação de textos online,
uma vez que a ferramenta dispensava o conhecimento
especializado em computação. A facilidade para a
edição, atualização e manutenção dos textos em rede
foram – e são – os principais atributos para o sucesso e
a difusão dessa chamada ferramenta de auto-expressão
(KOMESU, 2005, p. 111).

Os sites que necessitam de uma ferramenta de publicação devem ser dinâmicos,


pois somente assim que podem acessar bancos de dados. Logo, os sistemas de
publicação não inserem informações no site, e sim no banco de dados. O site dinâmico,
por sua vez, acessa e disponibiliza as informações armazenadas no banco de dados. Por
isso que os sistemas publicadores não são aplicáveis a qualquer site dinâmico, pois o site
deve “entender” a forma como as informações estão organizadas em um banco de dados,
e esta organização é definida pelo sistema publicador. Essa é a justificativa para as
empresas jornalísticas desenvolverem seus próprios sistemas publicadores: eles são
feitos sob medida para o site da empresa. Também é essa a justificativa para o presente
projeto experimental desenvolver não só um sistema publicador, mas também um site
que acessa e disponibiliza as informações armazenadas no banco de dados.
Podemos observar este aspecto na figura 27. Na parte superior, é representada a
inserção dos dados pelo usuário no sistema publicador: o cliente envia as informações
para o servidor, onde está localizado o banco de dados; esse por sua vez armazena as
informações no banco de dados. Já na parte inferior, é representado o acesso do leitor ao
site dinâmico: o servidor envia as informações do banco de dados para o cliente; este por
sua vez apresenta as informações para o leitor em um navegador.

14
Blog, ou weblog, “são os diários pessoais na rede; uma escrita autobiográfica com observações diárias
ou não, agendas, anotações, em geral muito praticados pelos adolescentes na forma de diários
participativos” (MARCUSCHI, 2005, p.29).

48
Figura 27 - Esquema simplificado onde a) na parte superior demonstra o envio de dados pelo
sistema publicador ao servidor e b) na parte inferior demonstra o envio de dados pelo servidor para
ser disponibilizado em um site no cliente.

4.2. Sistemas publicadores no jornalismo

Os sistemas publicadores podem ser utilizados por jornalistas para produzirem


conteúdos em sites jornalísticos, como na inserção de notícias. Na FACOS (Faculdade
de Comunicação Social da UFSM), os alunos de jornalismo utilizam um sistema
publicador para inserir notícias no site da faculdade (www.ufsm.br/facos). No
publicador desenvolvido especialmente para a faculdade, o aluno pode inserir o título, a
manchete e o texto da notícia e clicar em um botão que envia os dados para o servidor
(ver figura 28). No momento do armazenamento da notícia no banco de dados, o
publicador insere automaticamente a data de publicação e o nome do aluno.

49
Figura 28 - Parte do sistema publicador da FACOS.

O publicador da FACOS ainda controla a publicação de notícias ao determinar


uma hierarquia de três tipos de usuários: o administrador, o veterano e o novato. Além
de poder inserir notícias, o usuário administrador tem o poder de incluir/excluir contas,
editar e excluir qualquer notícia inserida no banco de dados. O usuário veterano, cargo
atribuído pelo administrador, pode apenas inserir notícias e excluir as notícias inseridas
por ele. Já o usuário novato pode apenas inserir notícias que, ao serem enviadas ao
servidor, não são publicadas no site, e sim armazenadas em uma caixa de mensagens do

50
usuário administrador; este por sua vez pode, a qualquer momento, aceitar ou recusar as
notícias na caixa de mensagem; ao serem aceitas, as notícias são publicadas no site.
As ferramentas de publicação dos blogs permitem inserir vários textos e imagens
em uma mesma página, além de links para outros sites ou blogs; porém estas ferramentas
não exploram outros recursos possíveis de serem inseridos em um site. Para Schwingel
(2004a), um sistema publicador é uma ferramenta muito mais complexa do que as
ferramentas de publicação utilizadas em blogs, “pois visam incorporar efetivamente as
características do Jornalismo Digital tanto na concepção do site (na arquitetura da
informação do produto) quanto na estrutura da notícia (na arquitetura da informação de
cada matéria)” (SCHWINGEL, 2004, p. 5). Para a autora, há tipos de ferramentas para
publicação, como o CMS (Content Management System – sistema de administração de
conteúdos), que é utilizado para selecionar, aprovar, editar e publicar conteúdos. Outro
tipo de ferramenta é o Portal System – sistema de gerenciamento de portais –, utilizado
para facilitar a manipulação dos módulos do site. Os dois tipos são utilizados no
webjornalismo; porém, um sistema publicador para o webjornalismo deve ser capaz de
realizar outras tarefas além de possibilitar a seleção manual, edição, aprovação e
publicação da matéria. Em outro texto, a autora diz que:
Anteriormente pensávamos que um sistema de
publicação fosse um Content Management System
(CMS), sistemas de administração de conteúdos, ou um
Portals System, sistemas de gerenciamento de portais,
considerando-os como tecnologias que facilitavam a
publicação do conteúdo em páginas Web ou em outras
plataformas de acesso, com rotinas de seleção,
aprovação e edição. No entanto, com o avanço da
pesquisa, compreendemos que sistemas de publicação
são ambientes tecnológicos que possuem as
potencialidades dos sistemas de administração de
conteúdos e de gerenciamento de portais adaptados às
rotinas produtivas do Jornalismo Digital
(SCHWINGEL, 2004C, p. 9-10).

Fidalgo afirma que “é a estrutura de base de dados que determina a forma como
as diferentes notícias aparecem conjugadas na apresentação on-line” (FIDALGO, 2003,
p. 7). Com a apresentação desta tecnologia no capítulo 2, é possível formular uma noção

51
da importância do banco de dados na apresentação do conteúdo digital. Com a estrutura
do banco de dados, o conteúdo é segmentado em vários campos, divididos em tabelas; a
relação destas tabelas permite que o conteúdo seja apresentado de variadas formas, de
acordo com as regras pré-estabelecidas pelo programador.
Se o banco de dados determina a forma como o conteúdo é apresentado, é o
sistema publicador que determina como o conteúdo é inserido no banco de dados. O
sistema publicador oferece um formulário com campos de texto, onde o usuário insere o
conteúdo que será armazenado no banco de dados; porém um sistema publicador mais
complexo pode oferecer outras ferramentas ao usuário para facilitar ou até incrementar
as capacidades de produção do conteúdo jornalístico. Para citar um exemplo, um sistema
publicador pode oferecer ferramentas que localizam notícias antigas referentes ao
assunto tratado na notícia em produção, ou ainda oferecer a capacidade do jornalista
inserir opções de caminhos de leituras em uma notícia hipertextual. Por isso, podemos
concluir que um sistema publicador pode influenciar ou até determinar a forma como um
conteúdo é apresentado em um site. Para Schwingel:
Nesse sentido, a ruptura apresentada pelo jornalismo ao
deixar de utilizar as ferramentas computacionais apenas
de forma instrumental e a buscar gerar significados,
parece-nos ser o diferencial do Jornalismo Digital para
todas as demais práticas profissionais jornalísticas que
anteriormente utilizavam recursos tecnológicos
(SCHWINGEL, 2004a, p. 4).

O sistema publicador e o banco de dados estão intrinsecamente relacionados,


pois um complementa o outro na tarefa de armazenar conteúdos jornalísticos. Ao tratar
sobre bancos de dados, Barbosa confirma que:
Esta tecnologia desempenha papel chave, pois, aliada
ao desenvolvimento de sistemas de publicação
compatíveis, determinam um modo diferenciado para a
estruturação e a organização das informações de modo a
contemplar elementos intrínsecos à prática jornalística
no ciberespaço.
Como resultado, certamente, ter-se-á produtos com
temáticas mais diversificadas, em função das
inumeráveis possibilidades de cruzamento ou
relacionamento das informações; narrativas mais

52
criativas [...]; usos editoriais distintos do material de
arquivo dada à flexibilidade combinatória, assim como
recuperação mais eficaz das informações, o que
contribui para a documentação e atualização da
memória social, uma das funções que cabe ao
jornalismo (BARBOSA, 2005, p. 9-10).

Machado (2003) discorre sobre a importância do desenvolvimento de novos


aplicativos direcionados à publicação de produtos jornalísticos adaptados a atual fase do
webjornalismo:
Numa época caracterizada pelos sistemas de objetos
inteligentes beira a ironia adestrar os profissionais no
uso de tecnologias como os programas de edição
incorporados pelas redações das publicações
jornalísticas nas redes, que oferecem como máximo ao
usuário o recurso de copiar e colar, destruindo o prazer
do trabalho jornalístico pela repetição contínua de um
conjunto de operações mecânicas (MACHADO, 2003,
p. 45).

Ainda sobre a produção de aplicativos para o webjornalismo, Machado afirma


que “temos, portanto, o desafio de elaborar métodos para apuração, modelos de
narrativa, técnicas de edição, sistemas de circulação e gêneros jornalísticos adequados ao
entorno do ciberespaço” (MACHADO, 2003, p. 45-46).
Sabendo da importância que os sistemas publicadores portam no processo de
produção de notícias hipertextuais no webjornalismo de terceira geração, o presente
projeto experimental busca criar um sistema publicador capaz de inserir a característica
da hipertextualidade na narrativa jornalística. A descrição do produto desenvolvido é
apresentada no próximo capítulo.

53
5. O PROTÓTIPO MAPALINK

Neste capítulo, descrevemos como trabalhar com o protótipo MapaLink, servindo


como um manual do software. Antes de descrevermos o protótipo, vamos fazer uma
breve apresentação do produto, e em seguida apresentaremos algumas idéias que
embasaram o seu desenvolvimento.
O produto desenvolvido é um site que necessita de softwares específicos para ser
executado; que são encontrados em servidores de Internet. Logo, não é possível
simplesmente armazenar os arquivos em uma mídia removível, como um CD, pois sem
os softwares específicos, o site não pode realizar tarefas como acessar bancos de dados.
Logo, para acompanhar o produto desenvolvido, é necessário acessá-lo através do
endereço <http://www.ufsm.br/facos/mapalink/admin.php>.

5.1. Apresentação do sistema publicador

Dados de uma pesquisa sobre sites jornalísticos brasileiros, realizada pelo Grupo
de Pesquisa em Jornalismo Online da FACOM/UFBA, demonstram que a
hipertextualidade é bastante empregada para organizar as informações do webjornal a
partir de links, como na divisão do conteúdo em editorias, edições, datas etc; porém, o
emprego da hipertextualidade na narrativa jornalística é quase inexistente.
O protótipo MapaLink é um sistema publicador de notícias para sites
jornalísticos da Web que possibilita a inserção da hipertextualidade na narrativa
jornalística. É importante esclarecer que o MapaLink é um sistema publicador parcial,
pois o objetivo do presente projeto é de facilitar a inserção de apenas uma das seis
características anteriormente apresentadas no capítulo 1, a da hipertextualidade. É por
isso que o MapaLink não oferece inovações, nem suporte, para a inserção de outros
recursos, já presentes em outros publicadores, como a inserção da multimidialidade
(imagem, vídeo, som etc), da interatividade (fóruns de debate, enquetes etc), da
personalização (escolhas na forma de apresentação do conteúdo), entre outros.

54
O MapaLink oferece diferentes possibilidades na inserção da hipertextualidade
na narrativa. Estas possibilidades são:
a) de segmentar o conteúdo em blocos15;
b) apresentar automaticamente este conteúdo estruturado em um micro-site;
c) gerar a representação gráfica da narrativa, ou seja, em um mapa interativo.
A inovação do produto está na possibilidade de integrar estas formas de utilizar a
hipertextualidade em um produto jornalístico.
Antes de detalharmos o funcionamento do sistema publicador, vamos apresentar
algumas das idéias de micro-site e de representação gráfica da narrativa hipertextual.

5.2. A notícia como um micro-site

Ao tratar-se do problema, já citado, relativo ao não aproveitamento da


hipertextualidade na narrativa, surgem dúvidas sobre quais as possibilidades da
utilização desta característica na narrativa jornalística. Schwingel (2004a) apresenta uma
forma de se pensar a inserção da hipertextualidade na narrativa: através da concepção de
micro-site. Segundo esta concepção, um conteúdo pode ser segmentado em vários
blocos, e estes blocos podem ser apresentados com a estrutura de um site, para
possibilitar a leitura hipertextual e não linear.
Assim conjecturamos que para um sistema de
publicação ser eficiente no Jornalismo Digital cada
informação precisa ser tratada como conteúdo (SAAD
CORRÊA, 2000-2001) em um micro-site
(SCHWINGEL, 2003), que integrará a
hipertextualidade na estrutura narrativa da notícia, uma
vez que cada matéria passará a constituir um projeto a
ser pensado, segmentado, fragmentado, elaborado com
elementos interativos e multimidiáticos. O que
esperamos inferir a partir da análise dos sistemas de
publicação é a elaboração de cada site, e de cada
matéria como um micro-portal. Noção que coaduna
com o conceito de portal desenvolvido por Echeverría
(1999) em sua associação com o jornalismo, ou seja,

15
Embora existam diferenças, neste capítulo utilizamos os termos “segmento” e “bloco de texto” como
sinônimos de lexia, para facilitar as descrições do sistema publicador.

55
como local de distribuição da informação de maneira
descentralizada, interativa e multidirecional.
(SCHWINGEL, 2004a, p. 6-7).

Um exemplo desta concepção pode ser observado no Panopticon, jornal digital


experimental desenvolvido no curso de Jornalismo da Facom (Faculdade de
Comunicação) da UFBA (Universidade Federal da Bahia). Para publicar o conteúdo do
Panopticon, é utilizado um sistema publicador específico daquele jornal digital. Esse
sistema publicador permite aplicar a hipertextualidade na narrativa ao possibilitar o
desenvolvimento de uma matéria jornalística na forma de um micro-site. Para isso, ele
permite segmentar o conteúdo em blocos de texto, e no lado direito da matéria é
mostrado um menu com o título de cada um dos segmentos, como se fossem seções da
notícia, conforme a figura a seguir.

Figura 29 - Página do Panopticon de uma matéria com estrutura de micro-site, disponível em


www.panopticon.ufba.br.

56
O menu da matéria é intitulado “Continuidade da matéria”, em alusão à
continuidade da seqüência proposta pelo autor, mas que pode ser extrapolada pelo leitor,
ao escolher seguir a hierarquia definida pelo autor ou criar a sua própria trilha de leitura.
Logo, o publicador no Panopticon insere a hipertextualidade na narrativa, permitindo
assim a leitura não-linear.
Ao clicar em um dos links daquele menu, a página é remetida para aquele bloco
de texto; porém a página de destino não mantém o menu “continuidade da matéria”.
Clicamos em “O que é Wiki?” para apresentar esta situação. (ver figura 30).

Figura 30 - No segmento da narrativa o menu da continuidade da matéria, antes localizado na parte


direita da tela, não é mantido.

Sem manter o menu da narrativa, esta estrutura obriga o leitor a voltar para a
página anterior se desejar acessar as outras continuações da narrativa.
Numa comparação com os modelos apresentados por Salaverría e Diaz Noci
(2003), podemos relacionar a narrativa desenvolvida no Panopticon com o modelo
“estrutura arbórea com retornos”, como mostra a próxima figura.

57
Figura 31 - Modelo de estrutura arbórea, apresentada por Slaverría e Diaz Noci.

No protótipo MapaLink, foi aplicada a concepção de micro-site na estruturação


da notícia. E para tanto foram consideradas algumas idéias referentes aos modelos
narrativos apresentados por Salaverría e Diaz Noci (2003), já citados no capítulo 2.
Visto que no protótipo MapaLink, é permitido ao jornalista produzir narrativas com mais
de uma seqüência, criando assim narrativas paralelas. Ainda é permitido às narrativas
paralelas convergir para uma mesma seqüência. Essas possibilidades são comparáveis ao
modelo “estrutura arbórea fechada com saltos de níveis e retornos opcionais”,
apresentado por Salaverría e Diaz Noci, como mostra a figura a seguir.

58
Figura 32 - Estrutura arbórea fechada com saltos de níveis e retornos opcionais, apresentado por
Salaverría e Diaz Noci e adotado no protótipo MapaLink.

Para representar o modelo de narrativa da Figura 32 em um menu desenvolvido


para a narrativa jornalística, o protótipo MapaLink apresenta os títulos dos segmentos
como um menu de um site. No exemplo, criamos uma notícia fictícia sobre a votação de
uma reforma pelo Congresso Nacional. Na figura a seguir, mostramos o menu da
narrativa, com os títulos dos segmentos da notícia apresentados como links para os
respectivos blocos de texto. O ícone em forma de quadrado representa o bloco de texto
acessado no momento, e os ícones em forma de setas indicam possibilidades de acessos.
Ao lado do menu, colocamos o modelo de Salaverría e Diaz Noci que melhor o
representa.

59
Figura 33 - À esquerda, o menu da narrativa em uma notícia fictícia. À direita, a estrutura linear de
Salaverría e Diaz Noci, que melhor representa o menu.

O protótipo MapaLink possibilita que a narrativa seja bifurcada em duas


seqüências paralelas; assim como também a possibilidade das duas seqüências
convergirem em uma só seqüência principal. Para ilustrar esta possibilidade, tomamos o
exemplo de notícia citado anteriormente e inserimos duas seqüências paralelas logo
abaixo do título “Reforma deve ser aprovada ainda neste mês” (ver figura 34).
Buscamos criar duas trilhas de leitura, uma com o ponto de vista da oposição que seria
contra a aprovação da reforma, e outra com o ponto de vista do governo que seria a
favor da reforma. Logo após esta bifurcação, a narrativa volta a ser apenas uma
seqüência (em “O que muda com a aprovação da reforma).

60
Figura 34 - À esquerda, menu indica que a narrativa é dividida em duas seqüências diferentes, e
logo é convergida para uma só seqüência principal. À direita, uma adaptação dos diagramas de
Salaverría e Diaz Noci para representar o menu.

As seqüências paralelas podem ser estendidas, criando narrativas hipertextuais


individuais. Para ilustrar esta possibilidade, inserimos nas seqüências paralelas outros
blocos de texto com entrevistas de políticos representantes de cada uma das duas
tendências (oposição contra a reforma e governo a favor), conforme mostra a próxima
figura. Ao lado do menu, mostramos o modelo de estrutura que representa a narrativa.

61
Figura 35 - À esquerda, menu da notícia fictícia com seqüências diferentes. À direita: representação
da estrutura em uma adaptação os modelos de Salaverría e Diaz Noci.

Os ícones de setas, as características da fonte e os recuos das frases facilitam o


reconhecimento das seqüências principal e paralelas no menu gerado automaticamente
pelo protótipo MapaLink.
Com as possibilidades aqui apresentadas, o protótipo MapaLink permite ao
jornalista criar narrativas hipertextuais, com textos segmentados e organizados. O menu
da narrativa possibilita a leitura não-linear e multi-seqüencial, características da leitura
em hipertexto. Concluímos que o protótipo permite formatar a notícia de acordo com a
concepção de micro-site, apresentada por Schwingel (2004).

5.3. Representação gráfica da narrativa hipertextual

62
Os vários caminhos de leitura, propostos pelo hipertexto segmentado e disperso,
podem provocar a desorientação do leitor, pois quebram os percursos de leitura
considerados normais (Capparelli apud Mielniczuk, 2004). Para Xavier (2005), o
hipertexto pode provocar a desorientação pelo excesso de informações. Para o autor, “a
superabundância do ato de ler redundaria inevitavelmente no afogamento, na asfixia do
leitor no oceano de informação” (XAVIER, 2005, p. 179).
Lévy (1993) também aborda a questão da desorientação do leitor em uma
estrutura hipertextual. Segundo o autor,
[...] nos perdemos muito mais facilmente em um
hipertexto do que em uma enciclopédia. A referência
espacial e sensoriomotora que atua quando seguramos
um volume nas mãos não mais ocorre diante da tela,
onde somente temos acesso direto a uma pequena
superfície vinda de outro espaço, como que suspensa
entre dois mundos, sobre a qual é difícil projetar-se
(LÉVY, 1993, p. 37).

Já discorremos no capítulo 2 sobre os variados tipos de itinerários que a leitura


de um hipertexto pode apresentar. A estrutura textual do hipertexto pode apresentar
tantos caminhos que poderia ser comparado a um mapa:
Esta estrutura textual assemelha-se a um mapa, na
verdade podemos dizer que todo texto é um mapa,
alguns funcionam como o “mapa da mina”, outros são
apenas mapas. [...] No caso do hipertexto, não podemos
falar de uma “mina” a ser encontrada, pois não há um
caminho a ser percorrido, de acordo com uma certa
progressão referencial (interna ao texto) na sua relação
com o contexto apontado para a construção de sentido,
o que temos de fato é o delineamento de um espaço,
demarcado por alguns pontos de referência (links) que
remetem a outros espaços (nós), como o mapa de uma
localidade qualquer. Logo não há “solda” hipertextual
na perspectiva do autor, apenas a disponibilização de
um certo recorte demarcador de possibilidades
(CAVALCANTE, 2005, p. 167).

O meio digital oferece a possibilidade de criar recursos visuais e interativos que


auxiliam na navegação de um hipertexto. Estes recursos poderiam auxiliar o leitor neste
“oceano de informação”, e evitar uma eventual desorientação nos vários caminhos de

63
leitura do hipertexto, funcionando como um mapa da informação. Ainda sobre esta
questão, Lévy complementa:
Os esquemas, mapas ou diagramas interativos estão
entre as interfaces mais importantes das tecnologias
intelectuais de suporte informático.
A memória humana é estruturada de tal forma que nós
compreendemos e retemos bem melhor tudo aquilo que
esteja organizado de acordo com relações espaciais.
Lembremos que o domínio de uma área qualquer do
saber implica, quase sempre, a posse de uma rica
representação esquemática. Os hipertextos podem
propor vias de acesso e instrumentos de orientação em
um domínio do conhecimento sob a forma de
diagramas, de redes ou de mapas conceituais
manipuláveis e dinâmicos (LÉVY, 1993, p. 40).

Um exemplo de recurso icônico que auxilia na navegação é o mapa das matérias


jornalísticas publicadas pelo portal CNET News (http://news.com.com). Denominado
“The Big Picture”, esta ferramenta permite visualizar três formas diferentes de como as
matérias estão relacionadas: a relação das matérias umas com as outras, a relação das
matérias com tópicos de assuntos, e por fim a relação entre as matérias e algumas das
maiores empresas mundiais, principalmente empresas de tecnologia. Na figura a seguir,
mostramos a matéria “Firefox continues gains against IE”, que trata do crescimento da
popularidade do navegador Mozilla Firefox em relação a do navegador Internet
Explorer, da empresa Microsoft. A ferramenta “The Big Picture” é alocada na coluna
direita da matéria, logo abaixo.

64
Figura 36 - Matéria do portal CNET News.

O diagrama apresenta as matérias em retângulos pretos; os tópicos em retângulos


verdes e as empresas em retângulos vermelhos. As linhas indicam as relações entre os
elementos. É possível ainda escolher entre ver todas as relações ao mesmo tempo (figura
37) ou entre cada um dos três tipos de relações: entre as matérias, entre matérias e
tópicos ou entre matérias e as empresas.

65
Figura 37 - Ferramenta “The Big Picture”. Na opção “Display” foram marcadas para serem
apresentadas as matérias, os tópicos e as empresas.

Ao clicar em um dos retângulos do mapa, o elemento marcado é movido para o


centro da tela, e a teia de relações entre os elementos é automaticamente modificada de
acordo com o item selecionado. Quando o elemento clicado é uma matéria, é possível
selecionar “ler matéria”; se o elemento é um tópico, é possível escolher para listar as
matérias referentes àquele tópico; o mesmo é possível com as empresas citadas.

66
Figura 38 - O tópico “Web browsers” foi selecionado, e foi escolhida a opção para mostrar apenas
as matérias, ocultando assim os tópicos e as empresas.

Observamos que o “The Big Picture” relaciona as matérias publicadas pelo portal
CNET News, mas não auxilia na orientação do leitor em narrativas hipertextuais.
Podemos comparar esta ferramenta com o modelo de estrutura reticular, apresentada por
Salaverría e Diaz Noci (2003), ou com a estrutura em rede apresentada por Leão (2001),
ambos citados no capítulo 2 e mostrados na figura a seguir.

67
Figura 39 - À esquerda, estrutura em rede de Leão (2001). À direita, modelo reticular de Salaverría
e Diaz Noci (2003).

As matérias interconectadas não são continuações da narrativa, nem mesmo


seqüências que fazem parte da narrativa principal, são apenas matérias relacionadas
pelos assuntos em comum entre elas; idéia já praticada, embora de maneira mais
simples, em muitos jornais digitais brasileiros, como na Folha Online
(www.folha.com.br) e no site do jornal Zero Hora (www.clicrbs.com.br/jornais/
zerohora), que geralmente dispõem no final de cada matéria uma seção chamada “leia
mais” (Folha Online) ou “saiba mais” (Zero Hora) com alguns links para outras matérias
relacionadas aos assuntos tratados. Porém, o “The Big Picture” disponibiliza este recurso
de forma mais atrativa e intuitiva ao apresentar a visualização da teia hipertextual, além
de permitir opções que auxiliam na navegação, como as escolhas de visualização entre
os tipos de relações.
O protótipo MapaLink busca auxiliar o leitor com a disponibilização de um mapa
da narrativa hipertextual. Porém, ao contrário da ferramenta “The Big Picture”, o
protótipo MapaLink não mapeia as relações entre notícias, mas sim entre os blocos de

68
texto que segmentam a única notícia. Enquanto o mapa do portal CNET News se
compara com a estrutura reticular, o mapa disponibilizado pelo protótipo MapaLink
pode ser comparado ao modelo já mencionado de “estrutura arbórea fechada com salto
de níveis e retornos opcionais”, apresentado por Salaverría e Diaz Noci (2003).
Tomamos como exemplo a notícia fictícia citada no tópico 5.2 deste capítulo; na figura
40 mostramos como seria o menu da narrativa, de acordo com a concepção de micro-
site.

Figura 40 - Menu da narrativa hipertextual apresentado ao lado da notícia.

Podemos observar que a notícia começa com um bloco de texto principal


(Congresso apressa votação da reforma); seguido de um outro bloco de texto. Em
seguida, a narrativa é dividida em dois blocos de textos; cada um destes blocos apresenta
mais dois blocos. Logo, a narrativa é dividida em mais duas seqüências lineares: a

69
primeira formada pelos blocos “Oposição votará contra”, “João Silva, presidente do
PCP, critica projeto de reforma” e “Maria Machado, do PCP, contesta adiantamento da
votação”; a segunda seqüência é formada por “Governo diz que jogará pesado para
garantir aprovação”, “Senador Pereira, líder da bancada do governo, comemora” e
“Dissidentes do PCP votarão a favor”. Após esta bifurcação, a narrativa passa por uma
convergência, voltando a ser apenas uma seqüência linear, com os blocos de texto “O
que muda com a aprovação da reforma” e “As outras reformas que ainda esperam para
serem discutidas”. Neste exemplo citado, podemos observar que há uma seqüencial
principal, mas que pode ser dividida em outras duas seqüências, demonstrando a
presença das características “multiseqüencial” e “multilinear” do hipertexto”.
Na próxima figura, mostramos como este exemplo é representado graficamente
no mapa criado automaticamente pelo protótipo.

70
Figura 41 - Mapa criado pelo protótipo MapaLink.

O mapa mostra as relações entre os blocos de texto: os quadrados representam as


lexias, e as linhas representam os links. Note que o primeiro quadrado está destacado,
indicando o bloco de texto acessado no momento. Os quadrados possuem uma borda
azul, indicando que eles ainda não foram acessados; depois de acessados, a borda muda
de cor para indicar que já foram lidas; recurso útil e já utilizado pelos links da Web.

71
Com o desenvolvimento do mapa, buscamos solucionar alguns dos problemas de
usabilidade de mapas destinados à orientação do usuário frente à narrativa hipertextual,
como diz Nielsen:
Os mapas de site estão se tornando de certa forma um
clichê. Todos os usuários dizem que desejam mapas de
sites e sabemos da pesquisa sobre hipertexto que
diagramas panorâmicos ajudam os usuários a encontrar
as informações mais rápido; portanto, não me oponho a
mapas de sites. Mas os atuais mapas de sites realmente
não parecem ajudar muito os usuários. Por exemplo,
carecem de recursos que qualquer freqüentador de
shopping sabe ser essencial a um mapa: o indicador
“você está aqui”. Muitos sites parecem desenhar seus
mapas como uma simples lista de tudo o que têm a
oferecer. Uma solução melhor seria um mapa de site
dinâmico que indique a página da qual foi acessado e
que tenha formas de destacar informações de interesse a
populações de usuários específicas (NIELSEN, 2000, p.
221).

O mapa do protótipo MapaLink é criado dinamicamente, ou seja, o gráfico é


desenhado automaticamente, de acordo com as informações subsidiadas pelo banco de
dados. O mapa também é interativo, pois o usuário pode navegar tanto pelo menu da
narrativa, quanto pelas imagens que formam o diagrama. É possível clicar nos quadrados
que indicam os blocos de texto, possibilitando uma leitura não-linear da narrativa. Para
não ocupar o tempo do leitor em buscas de informação, o mapa mostra o título e ainda
oferece uma prévia do conteúdo de cada bloco de texto, basta para isso posicionar o
mouse sobre o respectivo quadrado (ver figura 42). Desta forma, o diagrama busca
solucionar problemas referentes à leitura do hipertexto, como diz Nielsen:

Sublinhar as palavras-chave é importante, mas seria


melhor incluir texto que oferecesse um breve resumo do
tipo de informação adicional disponível.
Embora a âncora de hipertexto real não deva ter mais do
que duas a quatro palavras de comprimento, é altamente
recomendável incluir verbiagem adicional (não-âncora)
que explique o link. A Web é tão lenta que não se pode
esperar que os usuários sigam todos os links apenas
para aprender do que tratam. A página de partida deve
incluir informações suficientes para permitir aos

72
usuários decidir para que link ir em seguida (NIELSEN,
2000, p. 55).

Figura 42 - Mapa da notícia fictícia, gerada dinamicamente pelo protótipo MapaLink.

Ainda na figura 42, podemos observar que o segundo quadrado está destacado,
indicando que segundo bloco de texto é o que está sendo lido no momento. O primeiro
quadrado mudou a cor de borda, indicando que ele já foi lido. Antes de passar para o

73
próximo bloco de texto, o leitor pode posicionar o mouse sobre os respectivos quadrados
para ler o título e a prévia do que encontrará naquele segmento da notícia.
Além de Nielsen, Wei também destaca a importância de se informar ao leitor o
que será encontrado no próximo bloco de texto.

Much research on hyperlink wording and labeling stems


from the belief that users need as much information as
possible about the target of a hyperlink, particularly
when they are searching for information. Informative
wording and additional labeling help users to find
information on a site and decide whether to click a link,
and such wording signals users as to what they will
expect to see after clicking a link. Many Web design
guidelines recommend explicitly wording hyperlinks
with sufficient detail about the target content so that
users will have an accurate expectation of where the
links will take the user. (WEI, et alii, 2005, p. 434)

O mapa criado pelo protótipo MapaLink é semelhante ao modelo de “estrutura


arbórea fechada” de Salaverría e Diaz Noci; porém, a possibilidade de clicar em
qualquer um dos quadrados do mapa e saltar para qualquer uma das lexias permite ao
jornalista criar narrativas que se encaixariam no modelo “estrutura arbórea fechada com
saltos de níveis e retornos opcionais”, dos mesmos autores.
Embora o protótipo MapaLink possibilite e incentive a fragmentação da
narrativa, nem sempre um conteúdo deve ser fragmentado. Bugay e Ulbricht esclarecem
que, “se a informação é pequena ou um objeto, ela deve ser mostrada como um todo”
(2000, p. 49).

5.4. Tipologia dos links

As possibilidades de bifurcação e convergência da narrativa oferecidas ao


jornalista no protótipo MapaLink seguem uma proposta sobre a tipologia dos links,
apresentada por Mielniczuk (2005). Segundo a autora, alguns estudiosos como Nielsen,
Leão, Landow, Gunder, Trigg e McAdams já apresentaram regras ou classificações

74
sobre a utilização do link; alguns focam a questão técnica do uso do link, outros estudam
o link de acordo com o conteúdo. Mielniczuk então propõe uma tipologia dos links para
o webjornalismo, mesclando ambas as questões referentes à técnica e ao conteúdo. Nesta
tipologia, os links são divididos em três grupos: um referente à navegação do produto
(links conjuntivos e disjuntivos); outro grupo referente ao universo de abrangência dos
links (intratextuais ou intertextuais); e por fim um grupo referente ao tipo de informação.
A classificação dos links segundo esta tipologia é representada pela tabela a seguir.

Figura 43 - Tipologia dos links proposta por Mielniczuk.

Para o presente trabalho, interessa abordarmos a classificação dos links referente


à narrativa, ou seja, os links de acontecimento, detalhamento, oposição, exemplificação
ou particularização, complementação ou ilustração e memória. Esses tipos e links foram
adotados para definir os percursos da narrativa hipertextual desenvolvida pelo protótipo
MapaLink. Sobre a classificação dos links, a autora diz que:
Os Links Editoriais, quando narrativos, podem ainda
estar divididos nas seguintes subcategorias, que se
referem ao: a) Acontecimento: diz respeito aos
principais acontecimentos do fato noticiado; b)
Detalhamento: apresenta detalhes sobre o

75
acontecimento; podem ser dados depoimentos ou
explicações de especialistas; c) Oposição: quando for o
caso, apresentar argumentos de entrevistados ou mesmo
dados que contestem informações de fontes oficiais ou
fontes primárias ouvidas; d) Exemplificação ou
particularização: ilustra ou explica o acontecimento
com exemplos ou casos particulares, apresentando
personagens ou casos semelhantes; e) Complementação
ou ilustração: oferece dados complementares que
possam auxiliar na apresentação e compreensão do
acontecimento; f) Memória: oferece links que remetem
ao arquivo de material já disponibilizado sobre o
mesmo assunto ou assuntos correlatos. (MIELNICZUK,
2005, p. 11).

Para aplicar esta classificação na narrativa hipertextual desenvolvida pelo


protótipo MapaLink, criamos alguns diagramas que representam os links propostos. Para
o link acontecimento, o diagrama mostra um bloco de texto alocado logo abaixo de
outro, indicando que o acontecimento é uma seqüência linear do bloco anterior,
conforme a imagem a seguir.

Figura 44 - Diagrama do link acontecimento.

Para os links de detalhamento, exemplificação ou particularização e


complementação ou ilustração, o diagrama mostra um bloco de texto ao lado do bloco de
texto acessado no momento, indicando que a informação que o link remete se refere à
informação do bloco de texto acessado no momento, como mostra a figura a seguir.

76
Figura 45 - Diagrama dos links de detalhamento, exemplificação ou particularização e
complementação ou ilustração.

O link de oposição é representado por dois blocos de texto alocados logo abaixo
do bloco de texto principal, indicando que a narrativa sofre uma bifurcação, criando
assim duas novas seqüências lineares. Este link proporciona a multiseqüencialidade ou
multilinearidade da narrativa, como mostra a próxima figura.

Figura 46 - Diagrama do link de oposição.

E por fim o link de memória que, conforme a autora, “remetem ao arquivo de


material já disponibilizado sobre o mesmo assunto ou assuntos correlatos”
(MIELNICZUK, 2005, p. 11), ou seja, remetem a outras narrativas, e não aos segmentos
da narrativa acessada no momento. Por isso, este link não é representado como um bloco
de texto da narrativa, mas sim como a possibilidade de interconectar a narrativa atual a
outros micro-sites, como mostra a figura a seguir:

77
Figura 47 - Diagrama do link memória. Cada círculo representa um outro micro-site.

Na figura 48, vemos um exemplo de um mapa gerado pelo protótipo MapaLink,


onde podemos observar o conjunto de diagramas conectados, formando o mapa da
narrativa hipertextual. O único diagrama que não é visualizado neste mapa é o do link
memória, pois está relacionado a outras narrativas, e os diagramas representam a
narrativa acessada no momento.

78
Figura 48 - O mapa apresenta os diagramas dos links citados, com exceção da memória. Os
pequenos quadrados verdes são representações do link de complementação.

O diagrama que representa os links de detalhamento, exemplificação ou


particularização e complementação ou ilustração foi adaptado como um pequeno
quadrado verde ao lado do quadrado maior, devido aos problemas de espaço em uma
representação plana. Neste caso, podemos observar dois destes tipos de links ao lado do
segundo quadrado da narrativa principal. Podemos ainda observar um diagrama que não
foi citado: o de convergência; é o momento em que duas narrativas paralelas convergem
para um acontecimento, voltando a ser uma só seqüência linear.
Para representar o link memória, a notícia formatada pelo protótipo MapaLink
oferece dois recursos: o primeiro é a possibilidade de inserir links dentro do texto, que
remetem a outras narrativas. O segundo recurso é a listagem no final da página de links
para as últimas notícias publicadas pelo sistema publicador que fazem parte da mesma
editoria da notícia atual. É importante esclarecer que esses dois recursos já são
largamente utilizados no webjornalismo; o último recurso já foi citado no tópico
anterior, onde exemplificamos com os jornais Folha Online (www.folha.com.br) e Zero
Hora (www.clicrbs.com.br/jornais/zerohora), que oferecem o recurso denominado
respectivamente como “Leia mais” e “Saiba mais”.

79
5.5. Manual do software

Neste tópico, vamos apresentar um manual do software, mostrando como utilizar


o sistema publicador para se criar narrativas hipertextuais. Antes, é importante informar
que o MapaLink é um sistema publicador parcial, pois oferece recursos da característica
hipertextualidade; logo não oferece recursos de outras características (que outros
sistemas publicadores mais simples podem oferecer). Esta limitação é devido aos
objetivos deste trabalho, já explicados na introdução.

5.5.1. Criação da notícia hipertextual

Na página inicial do sistema publicador, são apresentadas três opções no menu:


“Criar notícia”, “Listar notícias” e “Apagar notícias”. A primeira opção permite iniciar o
processo de redação da notícia, dividido em etapas. A segunda opção lista todas as
notícias já inseridas pelos usuários. A terceira opção permite ao usuário apagar uma
notícia.
Ao clicar em “Criar notícia”, o sistema publicador abre a primeira página do
processo de produção da notícia segmentada. Neste processo, cada segmento da notícia
passa por duas etapas: a primeira é a fase de inserção das informações nos campos de
texto disponibilizados em um formulário; a segunda etapa é a fase de continuidade da
notícia; é onde determinamos que tipo de seqüência a notícia terá. Depois de terminadas
estas duas etapas, o processo se repete para o próximo segmento.
Para demonstrar como funciona o processo, vamos mostrar as etapas de criação
com um exemplo de notícia fictícia. Na figura a seguir, é apresentada a primeira etapa:
um formulário com os campos de entrada para título, corpo de texto, prévia do segmento
e editoria da notícia.

80
Figura 49 - Primeira etapa do processo de redação de um segmento.

No campo “Texto”, são oferecidos alguns recursos para a digitação da notícia,


disponibilizados em quatro botões acima da caixa de texto: o botão “->Parágrafo” inclui
um novo parágrafo no texto; além de incluir uma nova linha, este botão inclui os
caracteres “>>”, que na formatação do texto será substituído por um recuo na primeira
frase do parágrafo. O botão “Negrito” destaca em negrito uma ou mais palavras
selecionadas. O botão “Itálico” destaca em itálico uma ou mais palavras selecionadas. O
botão “Link” insere em uma ou mais palavras selecionadas um código específico para

81
transforma-las em um link de hipertexto. Neste caso, o usuário deve digitar o endereço
da página de destino no código que é inserido. Por exemplo, ao selecionarmos a palavra
“UFSM” e clicarmos no botão de link, será inserido no lugar da palavra selecionada o
código “[UFSM]www.digite endereço.com.br]”. A palavra entre as chaves é o link, e o
endereço ao lado deve ser editado pelo usuário. Neste caso, o código deveria ser editado
com o endereço da UFSM, e ficaria da seguinte forma: “[UFSM]www.ufsm.br]”.
No campo “Prévia”, deve ser inserido um breve resumo do segmento que está
sendo editado. Esta prévia é apresentada no mapa da notícia, quando o leitor mantém o
ponteiro do mouse sobre o quadrado que representa o segmento. Este recurso é
importante para manter o leitor informado sobre a estrutura da narrativa, sem precisar
acessar e ler cada um dos segmentos.
O campo “Editoria” só é apresentado no primeiro segmento da notícia. Esta
informação auxilia no funcionamento do recurso “Leia mais”, disponibilizado no final
de cada segmento. O “Leia mais” é uma lista das últimas notícias inseridas no banco de
dados e que pertencem à mesma editoria da notícia lida no momento.
No lado direito do formulário é mostrado o mapa da narrativa em construção. O
pequeno quadrado representa a lexia que está sendo redigida no momento. No decorrer
do processo de redação da notícia, outras lexias aparecerão, interconectadas por linhas
que representam os links.
Depois de preenchidos os campos do formulário, basta o usuário clicar no botão
“Enviar lexia” para prosseguir no processo de redação da notícia. Na próxima etapa do
processo, são mostrados o título e o texto já formatado (com parágrafos, negrito, itálico e
links). No lado direito da janela, onde está o mapa em construção, a lexia é marcada com
um símbolo indicando que ela já foi inserida no banco de dados. Na parte inferior da
janela, são mostradas as opções de continuação da notícia, como mostra a figura a
seguir.

82
Figura 50 - Segunda etapa do processo de redação de um segmento.

Se assim desejar, o usuário pode finalizar a notícia clicando no botão “Finalizar”.


O botão “Complemento” abre uma janela pop-up para inserir um complemento do
segmento que está sendo criado (ver figura a seguir). Não há uma quantidade limite de
complementos a serem inseridos. Este tipo de lexia pode ser utilizado para inserir
informações complementares ao texto principal, como entrevistas, documentos,
legislações etc. O MapaLink utiliza este recurso para demonstrar possibilidades de
caminhos de leitura em uma narrativa hipertextual; embora não oferecemos a
possibilidade de inserir recursos multimídias, o link de complemento poderia muito bem
ser utilizado para inserir imagens, sons, vídeos, assim como recursos interativos.

83
Figura 51 - Janela pop-up para inserção de complementos.

Ao se clicar no botão “Acontecimento”, o processo de criação de um segmento


se repetirá, com as mesmas etapas de criação do segmento anterior. Para indicar que o
usuário está criando uma outra lexia, o mapa mostra um pequeno quadrado logo abaixo
do anterior; o quadrado que representa a lexia anterior permanece com a marca de
concluído. Quando o segundo segmento for concluído e inserido no banco de dados, o
quadrado que representa este segmento também recebe uma marca indicando a
conclusão, e os dois quadrados são interligados no mapa, como mostra a próxima figura.

84
Figura 52 - Construção dinâmica do mapa. À esquerda, quadrado indica que o segmento atual é de
acontecimento. À direita, após o segundo segmento ser concluído, ambos são interligados.

O botão “Versões” executa uma bifurcação na narrativa principal, criando duas


novas seqüências. Quando o botão é clicado, o processo de criação de um segmento é
iniciado para uma das duas lexias da bifurcação (começa pela seqüência da esquerda). O
mapa indica que o usuário está redigindo uma das lexias (esquerda) e que há uma lexia
pendente (direita), que será redigida depois, conforme mostra a figura a seguir.

Figura 53 - À esquerda, representação das lexias após clicar no botão "Versões". À direita, mapa
indica que a lexia esquerda foi incluída no banco de dados.

Ao concluir a primeira lexia (da esquerda), o mapa realiza a interligação entre os


quadrados representativos, e então o usuário pode escolher entre redigir a lexia
pendente, ou continuar incluindo segmentos na seqüência esquerda. Para redigir lexia da
direita, basta o usuário clicar em “Editar outra lexia”; para continuar redigindo a
seqüência da lexia esquerda, neste caso o usuário deve clicar em “Acontecimento”,
como mostra a figura a seguir.

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Figura 54 - Logo após concluir a lexia esquerda, o usuário pode escolher entre editar a outra lexia
ou inserir um acontecimento.

Enquanto a lexia da direita estiver pendente, o botão “Finalizar” não é


apresentado, e o botão “Editar outra lexia” continuará sendo apresentado como uma das
opções de continuidade.
Após o usuário redigir a(s) lexia(s) da seqüência direita, o sistema publicador
disponibiliza um novo botão: o de “Convergência”. Ele permite que a narrativa volte a
ser formada por apenas uma seqüência principal. No primeiro quadro da figura a seguir,
é mostrado o momento quando a seqüência da direita é concluída e são apresentadas as
opções de continuação. No segundo quadro, é mostrado o momento após o botão
"Convergência" ser clicado; é neste momento que a lexia de convergência é redigida. No
terceiro quadro, momento após a lexia de convergência ser iserida no banco de dados.

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Figura 55 – Evolução do processo na convergência da narrativa.

Para clicar no botão de convergência, não é necessário que as seqüências estejam


com o mesmo número de lexias (como é o caso da figura anterior, onde as seqüências da
esquerda e da direita possuem duas lexias cada); basta que tenha no mínimo uma lexia
de cada lado. É possível finalizar a notícia antes da convergência, ou seja, a notícia pode
ser finalizada com dois finais diferentes.
Os títulos dos botões que determinam a continuidade da narrativa são auto-
explicativos, e os recursos visuais do mapa facilitam a orientação do usuário na criação
das notícias hipertextuais.

5.5.2. Visualização das notícias

87
O link “Admin”, localizado logo abaixo da logomarca (MapaLink) na parte
superior da janela, é utilizado para voltar à página inicial do sistema publicador, onde é
mostrado o menu do administrador (criar, listar e apagar notícias). O link “Listar
notícias” lista os títulos de todas as notícias inseridas no banco de dados pelo sistema
publicador; nesta listagem, só os títulos do primeiro segmento das notícias são listados.
Para visualizar uma das notícias listadas, basta clicar no título desejado. Ao clicar-se no
título, é aberto um site específico para a visualização das notícias. A visualização da
notícia neste site específico apresenta alguns recursos adicionais que não são
disponibilizados no momento da criação da narrativa. Na figura 56, é mostrada uma
notícia fictícia no site de visualização; em seguida, explicamos os recursos apresentados.

88
Figura 56 - Site para visualizar as notícias do MapaLink

Na parte superior, é apresentado um menu com algumas opões para o


administrador, como a opção de listar as notícias.
Abaixo do menu do administrador, na coluna da esquerda, são mostrados o título,
a data e o texto principal da lexia acessada no momento.

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Na coluna da direita, é mostrado o menu da narrativa em forma de micro-site. Os
ícones ao lado dos títulos trazem indicações que orientam o leitor. Neste exemplo, há um
pequeno quadrado ao lado do título “Congresso apressa votação da reforma”, indicando
que este é o segmento que está sendo lido. Os outros títulos possuem setas de diferentes
tamanhos, além de recuos diferentes, que indicam a quais seqüências pertencem
(principal ou paralela). A partir deste menu, é possível acessar qualquer segmento da
notícia.
Abaixo do menu, ainda na coluna da direita, é mostrado o mapa da narrativa
hipertextual. Além de permitir a visualização da estrutura da narrativa, o mapa ainda
possibilita ao usuário clicar nos quadrados que representam as lexias; ao clicar, o leitor
acessa a lexia correspondente. Para saber do que trata o conteúdo de cada segmento,
basta que o leitor aponte com o mouse para os quadrados correspondentes para que a
prévia do segmento seja apresentada. O mapa ainda serve como orientação do leitor,
pois destaca o quadrado referente à lexia que está sendo lida, indicando assim a
localização do leitor na narrativa. As lexias que já foram lidas são demarcadas com uma
cor diferente na borda, mostrando assim os “rastros” das trilhas de leituras do leitor.
Voltando à coluna da esquerda, logo abaixo da notícia, são disponibilizadas as
opções de continuidade da narrativa; porém, ao contrário do menu citado anteriormente,
nesta parte não são listados todas as lexias da notícia, e sim os próximos segmentos a
serem lidos, de acordo com a continuidade da seqüência criada pelo autor.
Abaixo das continuidades da narrativa, em “Leia também”, o site lista as três
últimas notícias inseridas no banco de dados, e que fazem parte da mesma editoria da
notícia que está sendo lida no momento. Este recurso é bastante utilizado em sites
jornalísticos, como no da Folha Online e Zero Hora.
Os recursos apresentados pelo MapaLink podem ser modificados, expandidos,
dependendo das necessidades de um site. Nenhum destes recursos é regra fixa, pois são
interpretações criativas, soluções em potencial, que podem muito bem serem adaptadas e
aperfeiçoadas, ou integradas a outras idéias.

90
CONCLUSÃO

A cada dia que passa, nos vemos mais integrados à vida digital. Neste ambiente,
“novas maneiras de pensar e de conviver estão sendo elaboradas no mundo das
telecomunicações e da informática” (LÉVY, 1993, p. 7). Uma destas novas maneiras de
pensar que podemos experimentar atualmente é o hipertexto, onde a leitura e a escrita,
principais parceiras do conhecimento nos últimos séculos, são modificadas,
reestruturadas, reinventadas.
O jornalismo, como uma modalidade da comunicação, não poderia ficar de fora
desta “revolução”. Os estudos sobre a narrativa hipertextual estão progredindo, e assim
surgem perspectivas para uma nova prática jornalística. Alguns chegam a sustentar
previsões pessimistas, como o jornalista e professor José Luiz Martinez Albertos, que
pressupôs o desaparecimento do jornalismo impresso até o ano de 2020, pois “o discurso
jornalístico pertence à modernidade e não à pós-modernidade, o mundo de hoje”
(ALBERTOS apud KARAM, 2004, p. 236).
No presente trabalho, não trabalhamos com a idéia do desaparecimento das
mídias tradicionais e uma eventual hegemonia do webjornalismo, mas pensamos que são
necessárias as iniciativas de pesquisas e estudos desta prática que a cada dia torna-se
mais comum no cotidiano das pessoas interessadas em buscar informações. Por isso,
propomos este projeto experimental, não com o intuito de propor soluções para
problemas presentes, mas para colaborar nas discussões sobre estas soluções. Não
trazemos idéias novas, apenas aplicamos em um projeto prático algumas das idéias que
até então existiam na teoria (modelos de narrativas hipertextuais de Salaverría e Diaz
Noci, geração dinâmica de mapas interativos etc), ou que já eram praticadas de outras
maneiras (micro-sites, The Big Picture, “Leia mais” da Folha Online). Se há inovação
neste projeto, então podemos apontar que é a possibilidade de aplicar na prática, de
forma integrada, as idéias apresentadas por alguns autores e citadas neste trabalho, para
se criar narrativas jornalísticas hipertextuais.

91
Além do desenvolvimento do produto jornalístico, também buscamos apresentar
delimitações sobre o webjornalismo, o hipertexto, o banco de dados e os sistemas
publicadores. Este resgate de citações e idéias de autores, pesquisadores e estudiosos das
áreas abordadas possibilitou desenvolver no presente trabalho um levantamento de
informações, que permitem ao leitor conhecer noções básicas da prática jornalística na
Web, assim como do meio digital e de alguns dos seus recursos.
O mapa gerado pelo protótipo pode dividir a narrativa principal em apenas duas
seqüências, pois a estrutura plana não permite muita liberdade na utilização do espaço
para representar outras ramificações. Em outros modelos apresentados por autores como
Salaverría, uma narrativa poderia apresentar uma divisão de mais que duas seqüências.
Embora apenas duas seqüências não sejam o ideal para uma narrativa hipertextual, o
MapaLink abre caminho para que outras possibilidades sejam pensadas, como a
superação dos limites espaciais impostos por uma representação plana do mapa, ou até
uma representação tridimensional.
Poucos aspectos da hipertextualidade na narrativa são implementados no atual
cenário do webjornalismo, se considerarmos as possibilidades que o meio digital
oferece. Por isso, acreditamos que este tema específico do webjornalismo oferece várias
opções de estudos a serem trilhados.
Concluímos neste trabalho que o desenvolvimento de produtos jornalísticos
integrando a teoria jornalística e a prática técnica pode facilitar na compreensão das
novas tecnologias, e colaborar como subsídio a novas discussões no meio acadêmico.
Com a aplicação de idéias desenvolvidas por pesquisadores e estudiosos da área, o
protótipo MapaLink pode colaborar não só com a comprovação ou reprovação de
soluções teóricas, mas também com o incentivo às pesquisas aplicadas na área, como em
empresas jornalísticas, conforme diz Machado:
A ausência da pesquisa aplicada na formação dos
jornalistas conduz a uma dependência dos futuros
profissionais de modelos tecnológicos importados,
muitas vezes, com enormes desperdícios de recursos
financeiros, sem falar na perda de competitividade das
empresas brasileiras, quando em concorrência pela
conquista de espaços dentro do mercado mundial da

92
notícia. A prioridade dada aos estudos de natureza
abstrata, colabora para a quase inexistência de projetos
de pesquisa articulados com as empresas do ramo,
muito comuns em outros países ou mesmo entre nós na
área das Ciências da Terra ou das Engenharias
(MACHADO, 2003, p. 43).

Com o protótipo MapaLink pretendemos ajudar a promover a aproximação das


discussões sobre webjornalismo e hipertextualidade na narrativa, assim como fazem
outros projetos. Concluímos com este experimento que as possibilidades técnicas para
algumas das teorias apresentadas são possíveis e que podem progredir muito mais; não
só na área técnica, mas também na criação de teorias e modelos da escrita hipertextual.

93
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