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CONSULTA
Veio a Senhora Advogada, Dra. ..., solicitar ao Senhor Presidente do Conselho Distrital de
Lisboa parecer sobre a questão que a seguir enunciamos:
Na audiência de partes, foi alcançado um acordo, que ficou lavrado em acta e que foi
homologado por sentença.
Findo o patrocínio de que tinha sido investida, a Senhora Advogada consulente requereu ao
Tribunal a fixação de honorários ao abrigo da Portaria n.º 1386/2004, de 10 de Novembro.
A Senhora Advogada consulente não concorda com o teor despacho proferido pelo Tribunal,
pois entende que o serviço foi prestado e a compensação pela prestação do serviço é
devida.
A título preliminar, refira-se que não cabe ao Conselho Distrital de Lisboa pronunciar-se
sobre decisões judiciais em concreto, pelo que apenas se acolhe a pretensão da Senhora
Advogada consulente na medida em que se trata de matéria com interesse para a profissão
em que a posição deste Conselho pode contribuir para uma correcta apreensão e
compreensão, por parte dos intervenientes no sistema de acesso ao direito e aos tribunais,
das normas de direito transitório fixadas na Lei n.º 47/2007, de 28 de Agosto e na Portaria
n.º 10/2008 de 3 de Janeiro, na redacção dada pela Portaria n.º 210/2008, de 29 de
Fevereiro.
Vejamos então.
A Lei do Acesso ao Direito e aos Tribunais actualmente em vigor – Lei n.º 34/2004, de 29
de Julho, com as alterações introduzidas pela Lei n.º 47/2007, de 28 de Agosto, prevê no
n.º 2 do seu artigo 3º que “O Estado garante uma adequada compensação aos
profissionais forenses que participem no sistema de acesso ao direito e aos tribunais”.
Estatui ainda o n.º 2 do artigo 45º da Lei n.º 34/2004, de 29 de Julho, na redacção dada
pela Lei n.º 47/2007, de 28 de Agosto que a admissão dos profissionais forenses ao
sistema de acesso ao direito, a nomeação de patrono e de defensor e o pagamento da
respectiva compensação, é regulamentada por portaria do membro do Governo responsável
pela área da justiça.
A regulamentação da Lei n.º 34/2004, de 29 de Julho, na redacção dada pela Lei n.º
47/2007, de 28 de Agosto, encontra-se prevista na Portaria n.º 10/2008, de 3 de Janeiro,
com as alterações introduzidas pela Portaria n.º 210/2008, de 29 de Fevereiro.
A Portaria n.º 10/2008, de 3 de Janeiro entrou em vigor no dia 1 de Janeiro de 2008 – cf.
n.º 1 do artigo 37º, sendo, portanto, as suas normas de aplicação imediata.
O n.º 2 do artigo 37º exceptua, no entanto, algumas normas, cuja entrada em vigor foi
diferida para o dia 1 de Setembro de 2008.
Essas normas são, nomeadamente, as relativas (1) à selecção dos profissionais forenses
(artigo 10º), (2) às regras de participação no sistema de acesso ao direito (artigos 12º a
16º), (3) à nomeação dos profissionais forenses envolvidos no sistema de acesso ao direito
para lotes de processos (artigos 18º a 26º) e (4) ao processamento e meio de pagamento
da compensação devida (artigos 28º a 33º).
De forma muito sintética diremos que, com a introdução destas novas regras, o profissional
forense passa a ser nomeado para lotes de processos e o pagamento dos honorários é
sempre efectuado por via electrónica, graças à implementação de um interface com a
função de integrar o Portal da Ordem dos Advogados com o Sistema de Informação da
Ordem do Advogados (SInOA).
O profissional forense através do Portal da Ordem dos Advogados e clicando num botão
“Pedido de Pagamento” despoleta o envio de um pedido de pagamento via web service
para o Sistema de Informação da Ordem dos Advogados que, por sua vez, o reenviará para
o Instituto de Gestão Financeira e de Infra-Estruturas da Justiça.
Em suma, os honorários deixam de ser fixados pelo Tribunal e, posteriormente, por este
remetidos para o Instituto de Gestão Financeira e de Infra-Estruturas da Justiça para
processamento do respectivo pagamento.
Mas estas normas só entraram em vigor no dia 1 de Setembro de 2008, sendo que, como
expressamente ressalva o n.º 2 do artigo 35º da Portaria n.º 10/2008, de 3 de Janeiro,
com as alterações introduzidas pela Portaria n.º 210/2008, de 29 de Fevereiro, “até ao dia
31 de Agosto de 2008 mantêm-se em vigor as regras relativas à selecção e participação
dos profissionais forenses envolvidos no sistema de acesso ao direito, bem como as
relativas ao pagamento dos honorários e à compensação das despesas”.
Certo é que sempre caberá, contudo, à Senhora Advogada consulente, sob a sua exclusiva
responsabilidade, decidir se deverá promover qualquer acção ou procedimento junto do
Tribunal, designadamente, interpor recurso do despacho que indeferiu a fixação dos
honorários, tendo em vista acautelar ou tutelar os direitos que julgue dever assistir-lhe.
E, conforme despacho proferido pelo Senhor Presidente do Conselho Distrital de Lisboa, Dr.
Carlos Pinto de Abreu, “deve ser dado imediato conhecimento desta situação e deste
parecer ao Conselho Geral para que este, no quadro das suas atribuições e competências
próprias – designadamente no exercício dos seus poderes próprios previstos nas alíneas a),
c) e d) do artigo 45º nº 1 do Estatuto da Ordem dos Advogados – possa, querendo, definir
uma (firme) posição da Ordem no que se relaciona com esta questão concreta da (boa)
administração da justiça, propondo as (concretas) alterações legislativas que se mostrem
eventualmente necessárias e deliberando (especificamente) sobre este assunto que
respeita ao exercício da profissão e aos legítimos interesses dos advogados”.
devidamente fundamentados,