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Tópicos selecionados do manual de estilo da “Folha de S.Paulo”

Notícia

Puro registro dos fatos, sem opinião. A exatidão é o elemento-chave da notícia, mas vários

fartos descritos com exatidão podem ser justapostos de maneira tendenciosa. Suprimir ou

inserir uma informação no texto pode alterar o significado da notícia. Não use desses

expedientes.

Seletividade e hierarquia

A seletividade na escolha das pautas é um recurso clássico do jornalismo. Nesta época,

contudo, é também uma forma de organização das notícias, de criação de nexos entre elas e de

estabelecimentos de parâmetros para o leitor sobre o que é relevante ou necessário ao seu

conhecimento e ao seu cotidiano.

Selecionar significa também priorizar assuntos, mesmo em detrimento de outros, de

modo a concentrar o trabalho principal da equipe naquilo que a edição julgar mais

relevante.

Assim, as pautas devem obedecer a hierarquias estabelecidas pelas editorias. Os fatos de

incontestável interesse geral e as notícias de utilidade pública ocupam o topo da hierarquia das

pautas. Dentre as de mesmo impacto, as investigações exclusivas devem ter prioridade. O

jornal deve, sempre que possível, aprofundá-las, buscando os meandros e detalhes dos fatos.

Investigações exclusivas exigem também, muitas vezes, trabalho de maior duraçao e

pesquisa mais aprofundada, que devem ser incentivados nas equipes.

São assuntos de incontestável interesse geral os acontecimentos que podem

modificar as estruturas políticas, econômicas e culturais de uma cidade, de um país ou


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do mundo, afetando a história de uma comunidade, de um povo ou de toda a

humanidade – como a queda do Muro de Berlim, o impeachment de um presidente, a

eleição de um prefeito.

As notícias de utilidade pública dizem respeito a tudo que afete fundamentalmente a vida

cotidiana dos leitores, no presente ou numa perspectiva futura, em todos os âmbitos. Elas

podem abranger áreas como saúde (uma epidemia de dengue, por exemplo), educação

(mudanças no vestibular da universidade), ciência (a criação de uma nova vacina), economia

(mudanças na taxa de juros), legislação (a alteração do Código Penal) e organização urbana

(nova lei de zoneamento urbano). Elas não devem ser confundidas com serviço ao leitor,

recurso editorial que visa auxiliar a pessoa quanto a certos procedimentos práticos.

No segundo patamar da hierarquia das pautas encontram-se os acontecimentos que

provocam grande comoção pública, a dinâmica das relações entre insituições e seus integrantes

e as reportagens contendo análises originais.

Acontecimentos que geram grande comoção pública interessam ao jornal à

medida em que os leitores passam a compartilhar de uma situação que lhes seria

possível viver de alguma forma, embora tenha ocorrido a outrem. Essa situação torna-se,

assim, objeto exemplar de admiração, catarse ou empatia da parte do leitor, como a

morte da princesa Diana, a queda de uma avião, a disputa brasileira pelo

tetracampeonato de futebol.

Nesses casos, a Folha recomenda que sejam evitados a emotividade e o sensacionalismo.

A busca da objetividade jornalística e o distanciamento crítico são fundamentais

para garantir a lucidez quanto ao fato e seus desdobramentos concretos.

A dinâmica das relações entre instituições e seus integrantes (como convenções

nacionais partidárias) deve ser mediada pela análise e pela visão de conjunto. Esse

procedimento visa evitar que o jornal se transforme emporta-voz involuntário e

intermitente de interesses políticos ou que sobrevalorize notícias a respeito do mundo


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institucional da política, como as discussões teóricas entre membros do governo.

As reportagens produzidas a partir de análise original nascem de percepções pertinentes

capazes de reunir numa mesma interpretação acontecimentos diversos ou distantes entre si,

mas de grande relevância para a compreensão da realidade. Por exemplo, a percepção,

seguida de investigação e explicação, de que existe uma relação entre a popularização

dos programas televisivos e o aumento da venda de aparelhos de TV para as classes D e

E. A análise original pode resultar também no perfil de um personagem, associado a um

acontecimento. A reportagem analítica sempre depende do trabalho de apuração e

investigação.

A hierarquização das pautas é apenas o primeiro passo para uma boa organização das

notícias. Em seguida, é necessário que se tenha decada uma delas uma visão específica e clara,

para evitar generalidades e generalizações. O jornalista deve saber exatamente qual sua linha

de conduta em relação a cada reportagem, as perguntas a que deve responder para o leitor.

Precisa também refletir sobre o diferencial que dará à sua reportagem e os níveis de

contextualização de que ela necessita.

Entrevista

A finalidade de caracterizar um texto jornalístico com entrevistado é permitir que o leitor

conheça opiniões, idéias, pensamentos e observações de personagem de notícia ou de pessoa

que tem algo relevante a dizer. Em geral, a Folha adota o estilo indireto ao publicar entrevistas.

Pode-se editar entrevista na forma de pergunta e resposta (pingue-pongue) quando o

entrevistado está em evidência especial ou diz coisas de importância particular.

O segredo de uma boa entrevista está na elaboração de um bom roteiro. Levante sempre

o máximo de informações sobre o entrevistado e o tema de que ele vai falar. Com esse material

em mãos, reflita sobre o objetivo a que pretende chegar. O melhor caminho é redigir perguntas
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tão específicas quanto possível. Peguntas muito genéricas resultam em entrevistas tediosas.

Observe as seguintes recomendações quando fizer e redigir uma entrevista:

1) Marque-a com antecedência.

2) Informe o entrevistado sobre o tema e a duração do encontro.

3) Anote e, de preferência, também grave a entrevista, para poder reproduzir com

absoluta fidelidade eventuais declarações curiosas, reveladoras ou bombásticas.

4) Vista-se sem destoar do ambiente em que será feita entrevista, para não inibir ou

incomodar o entrevistado.

5) Faça perguntas breves e diretas, que não contenham respostas implícita.

6) Identifique contradições, cite pontos de vista opostos e levante objeções, sem ser

deselegante com o entrevistado.

7) Não deixe de abordar temas considerados “sensíveis” pelo entrevistado. Faça

perguntas diretas e ousadas. Insista quantas vezes achar necessário se o

entrevistado se recusar a responder a alguma pergunta.

8) Registre essa recusa, se for significativa.

O entrevistado tem direito de retificar e acrescentar declarações. Se for relevante, o

jornalista pode registrar as duas versões (original e posterior). Se o entrevistado solicitar que

certos temas não sejam abordados, que as perguntas lhe sejam apresentadas por escrito e com

antecedência ou que o texto final seja submetido a ele antes da publicação, o jornalista deve

consultar a Direção da Redação.

nevesneto

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