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Radiação cósmica de fundo 1

Radiação cósmica de fundo


Em Cosmologia, a radiação cósmica
de fundo é uma forma de radiação
eletromagnética prevista por George
Gamov, Ralph Alpher e Robert
Herman em 1948 e descoberta em
1965 por Arno Penzias e Robert
Woodrow Wilson, do Bell Telephone
Laboratories. Ela tem um espectro
térmico de corpo negro com
intensidade máxima na faixa de
microondas. A radiação cósmica de
fundo é, ao lado do afastamento das
galáxias e da abundância de elementos Imagem WMAP (Wilkinson Microwave Anisotropy Probe) da anisotropia da radiação
cósmica de fundo. (Março de 2006)
leves, uma das mais fortes evidências
observacionais do modelo do Big Bang
de criação do universo.[1]

Penzias e Wilson receberam o Nobel de Física em 1978 por essa descoberta.

Características
A radiação cósmica de fundo é uma radiação eletromagnética que preenche todo o universo, cujo espectro é o de um
corpo negro a uma temperatura de 2,725 kelvin. Ela tem uma freqüência de pico de 160,4 GHz, o que corresponde a
um comprimento de onda de 1,9 mm. Ela é isotrópica até uma parte em 100 000: as variações de seu valor eficaz são
de somente 18 µK.[2] O Far-Infrared Absolute Spectrophotometer (FIRAS), um instrumento no satélite COsmic
Background Explorer (COBE) da NASA, mediu cuidadosamente o espectro da radiação cósmica de fundo, o que o
tornou a medida mais precisa de um espectro de corpo negro de todos os tempos.[3]
A radiação cósmica de fundo é uma predição do da teoria do Big Bang. Segundo essa teoria, o universo inicial era
composto de um plasma quente de fótons, elétrons e bárions. Os fótons interagiam constantemente com o plasma
através do Efeito Compton. À medida que o universo se expandia, o desvio para o vermelho cosmológico fazia com
que o plasma esfriasse até que fosse possível aos elétrons combinarem-se com os núcleos atômicos de hidrogênio e
hélio para formarem átomos. Isso aconteceu por volta de 3000 K, ou quando o universo tinha aproximadamente
380 000 anos de idade (z=1088). Nesse momento, os fótons puderam começar a viajar livremente pelo espaço. Esse
processo é chamado "recombinação".
Os fótons continuaram a esfriar desde então, atingindo a temperatura de 2,7 K, e essa temperatura continuará a
diminuir enquanto o universo continuar a se expandir. Assim, a radiação do espaço que se mede hoje é oriunda de
uma superfície esférica, chamada superfície de última difusão, que representa a coleção de pontos no espaço (a cerca
de 46 bilhões de anos-luz da Terra, ver universo observável) na qual ocorreu o processo de recombinação descrito
acima, há 13,7 bilhões de anos, e cujos fótons chegam agora na Terra.
A teoria do Big Bang sugere que a radiação cósmica de fundo preenche todo o espaço observável, e que a maior
parte da energia do universo está na radiação cósmica de fundo, que constitui uma fração de aproximadamente
5×10−5 da densidade total do universo.[4]
Dois dos maiores sucessos da teoria do Big Bang são suas predições do seu espectro de corpo negro praticamente
perfeito e sua detalhada predição das anisotropias na radiação cósmica de fundo. A recente sonda Wilkinson
Microwave Anisotropy Probe (WMAP) mediu com precisão essas anisotropias através de todo o céu até escalas
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angulares de 0,2 graus.[5] Elas podem ser utilizadas para estimar os parâmetros do modelo padrão Lambda-CDM do
Big Bang. Algumas informações, como a forma do universo, podem ser obtidas diretamente da radiação cósmica de
fundo, enquanto outras, como a constante de Hubble, não são óbvias e precisam ser inferidas de outras medidas.[6]

História
A radiação cósmica de fundo foi predita por George Gamov, Ralph Alpher e Robert Herman em 1948. Além disso,
Alpher e Herman foram capazes de estimar a temperatura da radiação cósmica de fundo como sendo de 5 K.[7]
Apesar de que existissem diversas estimativas anteriores da temperatura do espaço, essas sofriam de diversos
inconvenientes. Primeiramente, elas eram medidas da temperatura efetiva do espaço, e não sugeriam que o espaço
fosse repleto com um espectro de Planck térmico; segundo, elas eram dependentes da nossa posição específica na
beira da Via Láctea e não sugeriam que a radiação fosse isotrópica. Além disso, elas levariam a predições
completamente diferentes se a Terra estivesse localizada em um outro lugar do Universo.[8]
Os resultados de Gamov não foram amplamente discutidos. No entanto, eles foram redescobertos por Robert Dicke e
Yakov Zel'dovich no início da década de 1960. Em 1964, isso incentivou David Todd Wilkinson e Peter Roll,
colegas de Dicke na Universidade de Princeton, a começar a construção de um radiômetro Dicke a fim de medir a
radiação cósmica de fundo.[9] Em 1965, Arno Penzias e Robert Woodrow Wilson, do Bell Telephone Laboratories
perto de Holmdel, New Jersey, construíram um radiômetro Dicke que pretendiam utilizar para experiências de
radioastronomia e comunicação via satélite. O instrumento deles tinha um ruído térmico excessivo de 3,5 K que eles
não podiam explicar, e após diversos testes Penzias se deu finalmente conta que aquele ruído nada mais era do que a
radiação cósmica de fundo predita por Gamov, Alpher e Herman e mais tarde por Dicke. Após receber um
telefonema de Penzias, Dicke disse a famosa frase: "Gente, nos passaram para trás (Boys, we've been scooped)".[10]
Uma reunião entre as equipes de Princeton e Holmdel determinou que o ruído da antena era devido efetivamente à
radiação cósmica de fundo. Penzias e Wilson receberam o Prêmio Nobel de Física de 1978 pela descoberta.
A interpretação da radiação cósmica de
fundo foi um assunto controverso nos
anos 1960, com alguns defensores da
teoria do estado estacionário
argumentando que a radiação de fundo
era o resultado da difusão de luz estelar
de outras galáxias. Usando esse
modelo, e baseando-se no estudo de
características da linha de absorção no
espectro de estrelas, o astrônomo
Andrew McKellar escreveu em 1941:
"Pode-se calcular que a temperatura
rotacional do espaço interestelar é de
2 K."[11] No entanto, durante a década
de 1970, o consenso foi estabelecido
que a radiação cósmica de fundo é um
Melhoramentos sucessivos das observações das anisotropias (ou flutuações) da radiação
resquício do Big Bang. Isso ocorreu cósmica de fundo
principalmente porque novas medidas
em uma gama de freqüências mostraram que o espectro era um espectro térmico, de corpo negro, um resultado que o
modelo de estado estacionário foi incapaz de reproduzir.

Harrison, Peebles e Yu, e Zel'dovich deram-se conta que o universo primordial deveria ter heterogeneidades a nível
de 10−4 ou 10−5.[12] Rashid Sunyaev mais tarde calculou a marca observável que essas heterogeneidades teriam na
radiação cósmica de fundo.[13] Limites crescentes na anisotropia da radiação cósmica de fundo foram colocados
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através de experiências, mas a anisotropia foi detectada pela primeira vez pelo Differential Microwave Radiometer
(Radiômetro de microondas diferencial) do satélite COBE.[14]
Inspiradas pelos resultados obtidos pelo COBE, uma série de experiências de solo e baseadas em balões mediram as
anisotropias da radiação cósmica de fundo em escalas angulares inferiores ao longo da década seguinte. O objetivo
principal dessas experiências era medir a escala do primeiro pico acústico, que COBE não tinha resolução suficiente
para resolver. O primeiro pico na anisotropia foi detectado por tentativas pela experiência Toco e o resultado foi
confirmado pelos experimentos BOOMERanG e MAXIMA.[15] Essas medidas demonstraram que o universo é plano
e foram capazes de indicar a teoria de string cósmico como uma teoria de formação da estrutura cósmica, e
sugeriram que a Inflação cósmica é a teoria correta de formação estrutural.
O segundo pico foi detectado por tentativas por diversas experiências antes de ser definitivamente detectado pelo
WMAP, que também detectou por tentativas o terceiro pico. A polarização da radiação cósmica de fundo foi
primeiramente descoberta pelo Degree Angular Scale Interferometer (DASI).[16] Várias experiências para melhorar
as medidas da polarização da radiação cósmica de fundo em pequenas escalas angulares estão em andamento. Estas
incluem DASI, WMAP, BOOMERanG e o Cosmic Background Imager. Outras experiências incluem a sonda
Planck, o Telescópio cosmológico de Atacama e o Telescópio do Polo Sul.
[1] Kolb, E.W.; Turner, M.S. The Early Universe. Westview Press, 1993.
[2] Isso ignora a anisotropia dipolar, que é devida ao efeito Doppler da radiação de fundo causado pela nossa velocidade relativa ao resto do
cosmos. Essa característica é consistente com o movimento da Terra a 380 km/s em direção da constelação de Virgo.
[3] D. J. Fixen et al., "The Cosmic Microwave Background Spectrum from the full COBE FIRAS data set", Astrophysical Journal 473, 576–587
(1996).
[4] A densidade de energia de um espectro de corpo negro é , onde T é a temperatura, 'kB é a constante de Boltzmann,
é a constante de Planck e c a velocidade da luz no vácuo. Isso pode ser relacionado à densidade crítica do universo através dos
parâmetros do modelo Lambda-CDM.
[5] Astrophysical Journal Supplement, 148 (2003). Em particular, G. Hinshaw et al. "First-year Wilkinson Microwave Anisotropy Probe
(WMAP) observations: the angular power spectrum", 135–159.
[6] D. N. Spergel et al., "First-year Wilkinson Microwave Anisotropy Probe (WMAP) observations: determination of cosmological parameters",
Astrophysical Journal Supplement 148, 175–194 (2003).
[7] G. Gamow, "The Origin of Elements and the Separation of Galaxies," Physical Review 74 (1948), 505. G. Gamow, "The evolution of the
universe", Nature 162 (1948), 680. R. A. Alpher and R. Herman, "On the Relative Abundance of the Elements," Physical Review 74 (1948),
1577.
[8] A. K. T. Assis, M. C. D. Neves, "History of the 2.7 K Temperature Prior to Penzias and Wilson," (1995, PDF (http:/ / redshift. vif. com/
JournalFiles/ Pre2001/ V02NO3PDF/ V02N3ASS. PDF) | HTML (http:/ / www. dfi. uem. br/ ~macedane/ history_of_2. 7k. html)) mas veja
também N. Wright, "Eddington did not predict the CMB", (http:/ / www. astro. ucla. edu/ ~wright/ Eddington-T0. html).
[9] R. H. Dicke, "The measurement of thermal radiation at microwave frequencies", Rev. Sci. Instrum. 17, 268 (1946). Esse projeto básico para
um radiômetro foi utilizado na maioria das experiências posteriores implicando a radiação cósmica de fundo.
[10] A. A. Penzias and R. W. Wilson, "A Measurement of Excess Antenna Temperature at 4080 Mc/s," Astrophysical Journal 142 (1965), 419.
R. H. Dicke, P. J. E. Peebles, P. G. Roll and D. T. Wilkinson, "Cosmic Black-Body Radiation," Astrophysical Journal 142 (1965), 414. A
história é contada em P. J. E. Peebles, Principles of physical cosmology (Princeton Univ. Pr., Princeton 1993)
[11] A. McKellar, Publ. Dominion Astrophys. Obs. 7, 251.
[12] E. R. Harrison, "Fluctuations at the threshold of classical cosmology," Phys. Rev. D1 (1970), 2726. P. J. E. Peebles and J. T. Yu, "Primeval
adiabatic perturbation in an expanding universe," Astrophysical Journal 162 (1970), 815. Ya. B. Zel'dovich, "A hypothesis, unifying the
structure and entropy of the universe," Monthly Notices of the Royal Astronomical Society 160 (1972).
[13] R. A. Sunyaev, "Fluctuations of the microwave background radiation," in Large Scale Structure of the Universe ed. M. S. Longair and J.
Einasto, 393. Dordrecht: Reidel 1978. Enquanto esta é a primeira publicação a discutir a marca observável das heterogeneidades de densidade
como anisotropias na radiação cósmica de fundo, parte do trabalho de base baseava-se em Peebles e Yu, acima.
[14] G. F. Smoot et al. "Stucture in the COBE DMR first year maps", Astrophysical Journal 396 L1–L5 (1992). C. L. Bennett et al. "Four year
COBE DMR cosmic microwave background observations: maps and basic results.", Astrophysical Journal 464 L1–L4 (1996).
[15] A. D. Miller et al., "A measurement of the angular power spectrum of the cosmic microwave background from l = 100 to 400",
Astrophysical Journal 524, L1–L4 (1999). A. E. Lange et al., "Cosmological parameters from the first results of Boomerang". P. de Bernardis
et al., "A flat universe from high-resolution maps of the cosmic microwave background", Nature 404, 955 (2000). S. Hanany et al.
"MAXIMA-1: A measurement of the cosmic microwave background anisotropy on angular scales of 10'-5°", Astrophysical Journal 545
L5–L9 (2000).
[16] J. Kovac et al., "Detection of polarization in the cosmic microwave background using DASI", Nature 420, 772-787 (2002).
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Ver também
• Big Bang
• COBE
• WMAP

Ligações externas

Missões
• Site da missão COBE (http://aether.lbl.gov/www/projects/cobe/) (em inglês).
• Site da missão Archeops (http://www.archeops.org/) (em inglês).
• Site da missão BOOMERANG (http://cmb.phys.cwru.edu/boomerang/) (em inglês).
• Site da missão WMAP (http://map.gsfc.nasa.gov/) (em inglês).

Resultados
• The Cosmic Microwave Background Spectrum (http://fr.arxiv.org/pdf/astro-ph/9705101) (em inglês)., por
George F. Smoot
• The CMB Dipole: The Most Recent Measurement And Some History (http://fr.arxiv.org/pdf/astro-ph/
9609034) (em inglês)., por Charles H. Lineweaver
• A catalog of galaxies behind the Southern Milky Way (http://www.edpsciences.org/journal/index.
cfm?v_url=aas/full/2000/01/h1636/h1636.html) (em inglês)., por R.C. Kraan-Korteweg
• The Cosmic Microwave Background Anisotropy Experiments (http://fr.arxiv.org/pdf/astro-ph/9705135) (em
inglês). (pre BOOMERANG) por George F. Smoot

Aspectos cosmológicos
• A física das anisotropias da radiação cósmica de fundo (http://background.uchicago.edu/) (em inglês).
Fontes e Editores da Página 5

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Radiação cósmica de fundo  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?oldid=17193236  Contribuidores: ChristianH, Mschlindwein, Py4nf, Thiago Guimarães, 3 edições anónimas

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