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P rojeto

PERGUNTE
É
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTAQÁO
DA EDIQÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos estar
preparados para dar a razáo da nossa
esperanga a todo aquele que no-la pedir
(1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos conta


da nossa esperanga e da nossa fé hoje é
mais premente do que outrora, visto que
somos bombardeados por numerosas
correntes filosóficas e religiosas contrarias á
fé católica. Somos assim incitados a procurar
consolidar nossa crenga católica mediante
um aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


■-- Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
'': controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
: dissipem e a vivencia católica se fortaleca no
Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar
este trabalho assim como a equipe de
Veritatis Splendor que se encarrega do
respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. EstevSo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacao.

A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada


em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral
assim demonstrados.
Ano xli Agosto 2000 459
Urna Vida que nao busca...

Perdáo e pedido de perdáo

A Igreja em estatística

Sacerdotes e Bispos ordenados clandestinamente


na Tchecoslováquia

O PapaAlexandre VI (1492-1503)

A origem da Igreja e do Papado

"A falta que o sexo faz" (O Globo)

Yoga: Que é?

Firma Procter e Gamble desmente

Carta aberta aos protestantes

"Os judeus do Vaticano" (Avraham Milgram)


PERGUNTE E RESPONDEREMOS AGOSTO 2000
Publicagáo Mensal N°459

Diretor Responsável
SUMARIO
Estéváo Bettencourt OSB Urna Vida que nao busca 337
Autor e Redator de toda a materia
Gesto magnánimo:
publicada neste periódico
Perdáo e pedido de perdáo 338
Diretor-Administrador: Os números falam:
D. Hildebrando P. Martins OSB A Igreja em estatística 344

Sob o regime comunista:


Administrado e Distribuicáo:
Sacerdotes e Bispos ordenados clandes
Edicoes "Lumen Christi"
tinamente na Tchecoslováquia 349
Rúa Dom Gerardo, 40 - 5° andar-sala 501
Tel.: (021) 291-7122 O ouro de Deus em máos humanas:
Fax (021) 263-5679
O Papa Alexandre VI (1492-1503) 355

Comofoi realmente?
Endereco para Correspondencia: A origem da Igreja e do Papado 360
Ed. "Lumen Christi"
Debate candente:
Caixa Postal 2666
"A falta que o sexo faz" (O Globo) 367
CEP 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ
Terapia e Mística:
Visite O MOSTEIRO DE SAO BENTO Yoga: Que é? 375
e "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" Firma Procter e Gamble desmente 379
na INTERNET: http://www.osb.org.br
Carta aberta aos protestantes 380
e-mail: lumen.christi@osb.org.br
"Os judeus do Vaticano" (Avraham
Milgram) 382

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA

NO PRÓXIMO NÚMERO:

Comunicacáo com os morios por meios eletrónicos? - Alucinacao. - Ainda o Aborto. -


"Historia das Inquisicóes". - Poder Regio e Inquisicáo em Portugal. - A Inquisicáo no
Brasil. - "Descomplicando a Fé" (H. Amorim). - Preservativo: de dois males o menor? -
Carta ao Ministro José Serra.

(PARA RENOVACÁO OU NOVA ASSINATURA: RS 35,00).


(NÚMERO AVULSO R$ 3,50).

O pagamento poderá ser á sua escolha:

1. Enviar em Carta, cheque nominal ao MOSTEIRO DE SAO BENTO/RJ.

2. Depósito em qualquer agencia do BANCO DO BRASIL, para agencia 0435-9 Rio na


C/C 31.304-1 do Mosteiro de S. Bento/RJ, enviando em seguida por carta ou fax,
comprovante do depósito, para nosso controle.

3. Em qualquer agencia dos Correios, VALE POSTAL, enderecado ás EDICÓES "LUMEN


CHRISTI" Caixa Postal 2666 / 20001-970 Rio de Janeiro-RJ

Obs.: Correspondencia para: Edicóes "Lumen Christi"


Caixa Postal 2666
20001-970 Rio de Janeiro - RJ >
UMA VIDA QUE NAO BUSCA...

"Urna vida que nao busca nao vale a pena de ser vivida", dizia o filósofo
grego Sócrates (t 400 a.C.) em seu bom senso.
E por que o dizia?

Porque verificava que o homem é naturalmente um ser inquieto, posto á


procura da Verdade, do Bem, do Amor, da Felicidade... Sabe que a Verdade
pode estar mesclada de erro, o Amor mesclado de traicáo, a Felicidade
ameacada de desgraca. Daí o anseio do ser humano que bate a todas as
portas em demanda de resposta cabal. Paradoxalmente pode-se dizer que
mais feliz é aquele que sabe nao ter encontrado e procura ardorosamente do
que aquele que se dá por satisfeito com bens temporais; este está sujeito a
grande decepcáo, pois tudo o que é criado definha.

Haveria resposta para a procura apregoada por Sócrates? O filósofo


grego talvez nao o pudesse afirmar. A vida do homem na térra parece ser urna
busca sem fim.

O Cristianismo reconhece esse anseio natural da criatura por bens mai-


ores do que os visíveis. E professa que nao é petulancia, mas simplesmente o
sinete que o Criador colocou em cada urna de suas criaturas racionáis. Feito
pelo Absoluto, o homem tende espontáneamente ao Absoluto; a marca do
Fabricante está gravada em seu coracáo. Todavía a fé crista afirma que nao é
na vida presente que o homem encontra a resposta plena para os seus anseios
naturais. Estes nao podem ser frustrados, pois, se o fossem, o homem seria
um ser absurdo: feito para o Infinito, jamáis atingiría o Infinito. Na verdade, a
dimensáo de Infinito nao existe nos bens criados; existe, pois, outra vida, na
qual seráo saciadas as aspiracóes congénitas do homem á Verdade, ao Bem,
ao Amor... Dizia Santo Agostinho: "Insatiabiliter satiaberis veritate. Serás insa-
ciavelmente saciado com a verdade".

Por isto também o Cristianismo pode afirmar: "Urna vida que nao busca
nao vale a pena de ser vivida". Trata-se da busca da Verdade e do Amor, que
sao o próprio Deus.

O Senhor Jesús exprime este principio numa estranha fórmula: "Bem-


aventurados os que tém fome e sede de justica, porque seráo saciados" (Mt 5,
6). "Justica", no caso, é mais do que urna virtude cardeal; é, sim, a ordem geral
intencionada por Deus. Ora quem tem fome e sede, sofre... Mas é proclamado
feliz porque se coloca na atitude de viandante e caminheiro, que é a atitude
mais normal de todo homem. Ser peregrino do Absoluto é a tática mais autén
tica do ser humano. É bom que este sinta fome e sede de algo mais, e nao se
dé por realizado plenamente ao desfrutaros bens presentes. É oportuno sentir
o incómodo de quem está fora de casa e tende ávidamente a entrar em sua
morada definitiva. Infeliz é aquele que nao vive essa santa ansiedade.

E quem procura, já de certo modo encontrou, diz a tradicáo crista, ao


afirmar com S. Bernardo que "procurar a perfeicáo já é perfeicáo".
E.B.

337
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

Ano XLI - N2 459 - Agosto de 2000

Gesto magnánimo:

PERDÁO E PEDIDO DE PERDÁO

Em síntese: No domingo 12 de margo pp. realizou-se na basílica


de Sao Pedro em Roma a solene cerimónia de pedido de perdáo por
parte do Papa Joáo Paulo II. A fim de dissipar equívocos e se poder
avaliar claramente o alcance de tal rito, vai, a seguir, proposto o texto das
oragóes proferidas entáo pelo Santo Padre.
* * *

No domingo 12 de margo de 2000 realizou-se cerimónia inédita em


toda a historia da Igreja. Dotada de repercussáo mundial, essa funcáo
nem sempre foi bem entendida pela imprensa escrita e falada, quando
noticiou: "O Papa pediu perdáo!". Ora, a fim de desfazer equívocos, vai, a
seguir, transcrito o texto das oragóes entáo proferidas pelo Papa.

Tres observacóes previas se impóem:

1) O Papa pediu perdáo pelas faltas dos filhos da Igreja, e nao por
faltas da Igreja. Esta distincáo já foi explanada em PR 452/2000, pp. 2-8.

2) O Papa pediu perdáo diretamente a Deus, reconhecendo todas


as falhas cometidas na historia da Igreja por cristáos que se afastaram
do Evangelho (muitas vezes de boa fé, julgando até estar servindo a
Deus num zelo fervoroso).

3) O Papa concede o perdáo a todos os que tém infligido persegui-


cáo aos filhos da Igreja, muitas vezes vítimas do odio de seus semelhan-
tes. O século XX, em particular, foi um período de numerosos mártires
devidos ao comunismo, ao nacional-socialismo de Hitler e a outras ideo-
logias, que atuaram na Europa, na Asia, na África e na América. Ver a
respeito PR 456/2000 pp. 194-208.

Tais ponderacóes decorrem de atenta leitura dos textos que se


seguem.

338
PERDÁO E PEDIDO DE PERDÁO

CONFISSAO GERAL

"Confessemos nossas responsabilidades de cristáos pelos males


de hoje. Frente ao ateísmo, á indiferenga religiosa, ao secularismo, ao
relativismo ético, as violagóes do direito á vida, á falta de interesse pela
pobreza de numerosos países, nao podemos deixar de nos perguntar
quais sao as nossas responsabilidades. Ao mesmo tempo, enquanto nos
confessamos nossas faltas, perdoamos as faltas cometidas pelos outros
contra nos. No decorrer da historia, os cristáos tiveram que sofrer vexa-
mes, violencia e perseguigóes por causa da sua fé".

CONFISSAO DE FALTAS EXPLÍCITAS E PEDIDO DE PERDÁO


Exortacáo inicial do S. Padre

Irmáos e Irmas, com confianga supliquemos Deus nosso Pai mise


ricordioso e compassivo, lento á cólera e cheio de amor e fidelidade, e
pegamos-Lhe que acolha o arrependimento do seupovo, o quaiconfessa
humildemente as suas faltas e Ihe conceda a sua misericordia.

A assembléia reza, por instantes, em silencio.

I. Confissáo dos pecados em geral

Cardeal Bernardin Gantin, decano do Colegio Cardinalfcio:

Oremos para que nossa confissáo e nosso arrependimento sejam


inspirados pelo Espirito Santo, a fím de que nossa dor seja consciente e
profunda e, considerando com humildade as faltas do passado numa
auténtica purificagáo da memoria, nos nos encaminhemos por urna vía
de verdadeira conversáo.

A assembléia reza em silencio.

Oracáo do Santo Padre:

Senhor Deus, tua Igreja peregrina, sempre santificada por Ti no


sangue do teu Filho, reúne em seu seio, em todos os tempos, membros
que brilham pela santidade e outros que, recusando obedecer-lhe, con-
tradizem á fé que eles professam assim como ao santo Evangelho. Tu,
que permaneces fiel, mesmo quando nos tornamos infiéis, perdoa nos
sas faltas e concede-nos ser, entre os homens, tuas auténticas testemu-
nhas. Por Jesús Cristo nosso Senhor.

R. Amém.

O Cantor:

Kyrie eleison, Kyrie eleison, Kyrie eleison.

A assembléia repete:

Kyrie eleison, Kyrie eleison, Kyrie eleison.


"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 459/2000

Acende-se urna lámpada diante do Crucifixo.

II. Confissáo das faltas cometidas no servico da Verdade

Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregacáo para a Doutri-


na da Fé:

Oremos para que cada um de nos, reconhecendo que homens da


Igreja, em nome da fé e da Moral, por vezes recorreram, eles também, a
métodos nao evangélicos, ao cumprir seu dever de defender a verdade,
saiba imitar o Senhor Jesús, manso e humilde de coragáo.
A assembléia reza em silencio.

Oracáo do Santo Padre:

Senhor, Deus de todos os homens, em certas épocas da historia,


os cristáos por vezes se entregaram a métodos de intolerancia e nao
observaram o grande mandamento do amor, poluindo assim o semblante
da Igreja, tua Esposa. Mostra tua misericordia a teus filhos pecadores e
acolhe nosso firme propósito de procurar e promover a verdade na suavi-
dade da caridade, conscientes de que a verdade nao se impóe senao em
virtude da verdade ela mesma. Por Jesús Cristo nosso Senhor.

R. Amém.

Kyrie eleison, Kyrie eleison, Kyrie eleison.

Acende-se urna lámpada diante do Crucifixo.

III. Confissáo dos pecados que afetaram a unidade do Corpo


de Cristo

Cardeal Roger Etchegaray, Presidente da Comissáo do Grande


Jubileu do ano 2000:

Oremos para que o reconhecimento dos pecados que romperam a


unidade do Corpo de Cristo e feriram a caridade fraterna aplaine o cami-
nho para a reconciliagáo e a comunháo de todos os cristáos.
A assembléia reza em silencio.

Oracáo do Santo Padre:

Pai misericordioso, na véspera de sua Paixáo, teu Filho rogoupela


unidade daqueles que nele créem; todavía, a revelia da sua vontade,
eles se opuseram e dividiram entre si, eles se condenaram mutuamente
e combateram uns contra os outros. Invocamos com forga o teu perdáo e
Te pedimos que nos des um coragáo arrependido, a fim de que todos os
cristáos, reconciliados contigo e entre si, constituam um só corpo e um só
espirito, e possam viver de novo a feliz experiencia da plena comunháo.
Por Jesús Cristo nosso Senhor.
R. Amém.

340
PERDÁO E PEDIDO DE PERDÁO

Kyrie eleison, Kyrie eleison, Kyrie eleison.

Acende-se urna lámpada diante do Crucifixo.

IV. Confissáo das faltas cometidas no relacionamento com Israel

Um Representante da Curia Romana:

A oracáo do Cardeal Edward Idris Cassidy, Presidente do Pontifi


cio Conselho para a Promocáo da Unidade dos Cristáos:

Oremos para que, ao se recordaren) dos sofrimentos padecidos


pelo povo de Israel no decorrer da historia, os cristáos saibam reconhe-
cer os pecados cometidos por varios deles contra o povo da Manga e
das Béngáos e assim purifiquem seu coragáo.

A assembléia reza em silencio.

Oragao do Santo Padre:

Deus de nossos pais, escolheste Abraáo e sua descendencia para


que teu Nome seja levado aos povos. Pedimos-Te perdáo pelo comporta-
mentó daqueles que, no decorrer da historia, os fizeram sofrer, a eles que
sao teus filhos, e desejamos comprometer-nos a viver urna auténtica
fraternidade com o povo da Manga. Por Jesús Cristo nosso Senhor.

R. Amém.

Kyrie eleison, Kyrie eleison, Kyrie eleison.

Acende-se urna lámpada diante do Crucifixo.

V. Confissáo das faltas cometidas por comportamentos con


trarios ao amor, á paz, aos direitos dos povos, ao respeito das cultu
ras e das religióes.

Um Representante da Curia Romana:

A oracáo de Monsenhor Stephen Hamao, Presidente do Pontificio


Conselho para a Pastoral dos Migrantes e das Pessoas Itinerantes:

Oremos para que, na contemplagáo de Jesús, nosso Senhor enossa


Paz, os cristáos saibam arrepender-se daspalavras e dos comportamentos
que por vezes Ihes foram sugeridos pelo orgulho, pelo odio, pela vontade de
dominar os outros, pela inimizade para com os adeptos de outras religióes e
para com grupos sociais mais traeos, como sao os ¡migrantes e itinerantes.

A assembléia reza em silencio.

Oracáo do Santo Padre:

Senhor do mundo, Pai de todos os homens, por intermedio de teu


Filho, Tu nos pediste que amemos os nossos inimigos e fagamos o bem aos

341
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 459/2000

que nosperseguem. Contudo freqüentemente os crístáos renegaran) o Evan-


gelho e, cedendo á lógica da torga, violaran) os direitos de etnias e depovos,
desprezando suas culturas e suas tradigóes religiosas. Mostra-nos a tua
paciencia e a tua misericordia e perdoa-nos! Por Jesús Cristo nosso Senhor.

R. Amém.

Kyrie eleison, Kyrie eleison, Kyrie eleison.

Acende-se urna lámpada diante do Crucifixo.

VI. Confissáo dos pecados que feriram a dignidade da mulher


e a unidade do género humano

Um Representante da Curia Romana:

Oracáo do Cardeal Francis Arinze, Presidente do Pontificio Conse-


Iho para o Diálogo Inter-religioso:

Oremos por todos os que foram ofendidos em sua dignidade huma


na e viram seus direitos conculcados. Oremos pelas mulheres muito fre
qüentemente humilhadas e marginalizadas, e reconhegamos que os cris-
táos, por diversas modalidades de consentimento, disso se tornaram cul
pados também eles.

A assembléia reza em silencio.

Oracáo do Santo Padre:

Senhor Deus, nosso Pai, criaste o ser humano, homem e mulher á


tua imagem e á tua semelhanga e quiseste a diversidade dos povos na
unidade da familia humana; ás vezes, porém, a igualdade dos teus filhos
nao foi reconhecida e os cristáos se tornaram culpados de atitudes de
marginalizagáo e de exclusáo, consentindo em discriminagóes motivadas
pela diferenga de raga ou de etnia. Perdoa-nos e concede-nos a graga de
curar as feridas ainda presentes na tua comunidade por causa do pecado,
de modo que todos nos sintamos teus filhos. Por Jesús Cristo nosso Senhor.

R. Amém.

Kyrie eleison, Kyrie eleison, Kyrie eleison.

Acende-se urna lámpada diante do Crucifixo.

Vil. Confissáo dos pecados no setor dos direitos fundamen


táis da pessoa

Um Representante da Curia Romana:

A oracáo do Monsenhor Nguyén van Thuán, Presidente do Pontifi


cio Conselho "Justica e Paz":

Por todos os seres humanos do mundo, especialmente pelos me


nores feitos vítimas de abusos, pelos pobres e os marginalizados, os

342
PERDÁO E PEDIDO DE PERDÁO

abandonados. Oremos por aqueles que estáo sem defesa, pelas crían-
gas ainda nao nascidas, extintas no seio materno ou até utilizadas para ser-
vira experiencias por parte daqueles que abusaran) das possibilidades pro
porcionadas pela biotecnología, desviando assim as finalidades da ciencia.

A assembléia reza em silencio.

Oracáo do Santo Padre:

Deus, nosso Pai, Tu que escutas sempre o clamor dos pobres,


muitas vezes os cristáos mesmos nao Te reconheceram naqueles que
tém tome, tém sede, estáo desnudos, naqueles que sao perseguidos,
naqueles que estáo encarcerados, naqueles que nao tém possibilidade
alguma de se defender, principalmente ñas primeiras etapas da existen
cia. Por todos aqueles que cometeram injustigas, confiando apenas na
riqueza e no poder, desprezando os pequeninos, que Te sao táo caros,
nos Te pedimos perdáo. Tem piedade de nos e acolhe o nosso arrependi-
mento. Por Jesús Cristo nosso Senhor.

R. Amém.

Kyrie eleison, Kyrie eleison, Kyrie eleison.

Acende-se urna lámpada diante do Crucifixo.

Oracáo conclusiva

Oracáo do Santo Padre:

Ó Pai misericordioso, teu Filho Jesús Cristo, Juiz dos vivos e dos
mortos, na humildade da sua primeira vinda resgatou a humanidade pre
sa do pecado, e, por ocasiáo do seu retorno na gloria, Ele pedirá conta
de todas as faltas. Aos nossos pais, aos nossos irmáos e a nos teus
servidores que, movidos pelo Espirito Santo, voltamos a Ti, com o cora-
gáo cheio de arrependimento, concede a tua misericordia e o perdáo dos
pecados. Por Jesús Cristo nosso Senhor.

R. Amém.

Em sinal de penitencia e veneracáo, o Santo Padre abraca o Crucifixo.

Observacáo Final

Á guisa de observacáo final, é oportuno notar que o reconhecimen-


to de faltas cometidas por filhos da S. Igreja nao afeta a infalibilidade do
Sumo Pontífice quando define alguma proposicáo de fé ou de Moral. A
infalibilidade assim entendida nao implica impecabilidade. Nern a Igreja
como tal perde a sua indefectibilidade doutrinária pelo fato de que seus
filhos cometam faltas de fndole moral. O Espirito Santo, prometido por
Jesús (cf. Jo 14, 26: 16, 13-15), continua a assistir á Igreja para que
guarde e transmita incólume o depósito da Revelacáo.

343
Os números falam:

A IGREJA EM ESTATÍSTICA

Em síntese: A Santa Sé publicou no comego do ano 2000 o Anua


rio Estatístico, que refere dados numéricos sobre o Catolicismo de 1978
a 31 de dezembro de 1998. Os números revelam pontos alvissareiros
principalmente na África e na América Latina; outros sao um tanto proble
máticos, particularmente no continente europeu ocidental. O número de
fiéis católicos em 1997 no mundo inteiro era de 17,3% da populagáo do
globo; em 1998 passou a 17,4%, aumento superior ao da populagáo
mundial.

No comeco de 2000 a Santa Sé publicou dois Anuarios, que apre-


sentam urna radiografía da Igreja Católica esparsa pelos cinco continen
tes. Um deles, o "Anuario Estatístico da Igreja" refere dados numéricos
válidos desde 1978 ató 31 de dezembro de 1998. A Sala de Imprensa da
Santa Sé redigiu urna síntese de tais elementos, que vai abaixo
reproduzida.

1. Católicos: 17,4% da populacio mundial

Em 1996 e 1997 ocorreu um aumento numérico dos católicos no


mundo inteiro. Ora tal aumento se deu também em 1998, sendo que a
taxa em 1998 foi levemente superior a de 1997, a saber: 1,29% em vez
de 1,02%. É de notar aínda que essa taxa de aumento é mais elevada do
que a do crescimento da populacáo mundial entre 1997 e 1998. Disto
resulta que a presenca dos fiéis católicos no mundo cresceu
quantitativamente: passou de 17,3 católicos sobre cem habitantes em
1997 para 17,4 em 1998.

A reparticáo dos católicos é variável de regiáo para regiáo. O con


tinente americano, por exemplo, congrega quase a metade dos católicos
do globo com a seguinte peculiaridade: na América do Sul estáo 29,4%
ao passo que na América Central e Setentrional há 16% dos católicos do
mundo inteiro.

Na Europa vivem 28,8% dos católicos do mundo. Na África sao


13,5% e na Asia 11,4%, sendo que os católicos da Asia estáo concentra
dos no Sudeste asiático. A Oceania conta 0,8% de católicos. Observa-se
que neste particular os números de 1998 sao muito próximos dos de
1997, mas um tanto diferentes dos de 1978: a presenca dos católicos na

344
A IGREJA EM ESTATÍSTICA

Europa tende a diminuir, ao passo que ela vai aumentando na África e na


Asia.
2. Aumento de Bispos

No perfodo de 1978 a 1998 o número de Bispos passou de 3.714 a


4.439, o que representa um aumento de pouco menos de 20%. Compre-
ende-se que o aumento varíe de regiáo para regiáo. O aumento medio
mais elevado foi o da África, que superou notavelmente outros continen
tes, especialmente a Europa.

Ainda no período de 1978 a 1998 a distribuicáo dos Bispos ñas


diversas regioes geográficas ficou substancialmente a mesma: a Améri
ca conta 37,7% do colegio episcopal; segue-se-lhe a Europa, com 32,9%.
A seguir, vem a Asia com 13,9%, a África com 12,9% e a Oceania com
2,8%.

3. Menos Presbíteros

O número de presbíteros, quer diocesanos, quer Religiosos1, está


decrescendo desde 1978, embora em proporcoes diferentes entre os di
versos continentes. Em 1998 havia 404.626 presbíteros, dos quais 246.202
diocesanos e 158.424 do clero Religioso (de Ordens ou Congregacóes
Religiosas).

O decréscimo global nao quer dizer que nao tenha havido aumen
tos regionais. Tal foi o caso da África, onde o número respectivo se ele-
vou consideravelmente. Algo de semelhante, mas em termos mais ate
nuados, ocorreu na Asia e na América; no tocante á América em particu
lar, nota-se diversidade entre nacóes da América Setentrional (que, como
as da Europa, estáo em recuo) e os países do Centro e do Sul, que regis-
tram forte expansáo do número de presbíteros. Na Europa, como dito, há
decréscimo notorio, ao passo que na Oceania há oscilacóes entre au
mento e diminuicáo. Especialmente os sacerdotes regulares ou religio
sos estáo em decréscimo de modo geral.

É de notar, porém, que, se o número de presbíteros vai diminuindo,


principalmente na Europa e na América Setentrional, estáo em franca
expansáo quantitativa os diáconos permanentes, os membros de Institu
tos Seculares2, os missionários leigos e os catequistas. Especialmente a

1 Chamase presbítero diocesano o padre que está ¡ncardinado numa diocese e deve
obediencia diretamente ao respectivo Bispo. Presbítero Religioso é o que pertence a
urna Ordem ou Congregagáo Religiosa (o franciscano, o jesuíta, o salesiano, o
redentorista...).
2 O Instituto Secular congrega pessoas consagradas a Deus, que vivem em comuni-
dade ou em familia, e se dedicam a afazeres de ordem civil ou de caráter eclesiásti
co e apostólico.

345
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 459/2000

categoría dos catequistas cresce, adquirindo importancia numérica que


ultrapassa a das demais categorías. Em grande parte esta expansáo se
deve aos incentivos prestados pelo Concilio do Vaticano II ao comprome-
timento dos leigos com a obra evangelizadora da Igreja.

4. Vocacóes sacerdotais e religiosas

É oportuno ainda observar a situacáo das torgas jovens que assu-


miráo o futuro da Igreja, ou seja, o quadro dos candidatos ao sacerdocio
e á Vida Religiosa (masculina e feminina).

É muito satisfatório o aumento quantitativo dos candidatos ao sa


cerdocio diocesano na África e na América Latina. Na Europa Ocidental
a situacáo é estacionaria, ao passo que na Europa Oriental há forte surto
de vocacóes (com excecáo da Polonia, que, após grande expansáo de
vocacóes entre 1978 e 1988, registra um decréscimo nos anos seguin-
tes).

Ñas Ordens e Congregacóes Religiosas as vocacóes femininas


sao sempre mais numerosas do que as masculinas. Verifica-se rápido e
extenso aumento na África e nítida diminuicáo na Europa. Na América a
situacáo difere se se consideram o Norte (EE.UU. e Canadá) e o Sul: ao
decréscimo setentrional se contrapóe valioso desenvolvimento na Amé
rica Latina. Na Asia as tendencias permanecem indefinidas.
Tal é a face numérica da Igreja de Cristo, que, entre as sombras e
as luzes da peregrinacáo terrestre, caminha para a plenitude da Vida.

Seguem-se gráficos ilustrativos de quanto acaba de ser dito.

BISPOS NO MUNDO (1978-1998)

ano —> 1978 1988 1998 VARIACÁO


ÁFRICA 432 487 575 33,10%

AMÉRICA 1.416 1.589 1.672 18,7%

ASIA 519 578 617 18,88%

EUROPA 1.253 1.365 1.459 16,44%

OCEANIA 94 107 116 23,40%


MUNDO 3.714 4.126 4.439 19,52%

346
A IGREJA EM ESTATÍSTICA 11

PRESBÍTEROS NO MUNDO (1978-1998)


1978 1988
DIOCESANOS RELIGIOSOS TOTAL DIOCESANOS RELIGIOSOS TOTAL
ÁFRICA 5.507 11.149 16.926 9.184 10.085 19.269
AMÉRICA 66.084 54.187 120.271 68.414 50.969 119.403
Asia 13.863 13.837 27.700 17.789 14.502 32.291
EUROPA 174.175 76.323 250.498 159.033 69.413 228.446
OCEANIA 2.856 2.720 5.576 2.779 2.669 5.448
MUNDO 262.485 158.486 420.971 257.199 147.658 404.857

1998
DIOCESANOS RELIGIOSOS TOTAL
ÁFRICA 15.535 10.491 26.026
AMÉRICA 74.039 46.258 120.297
Asia 24.337 17.119 41.456

EUROPA 147.517 64.310 211.827


OCEANIA 2.774 2.246 5.020
MUNDO 264.202 140.424 404.626

SEMINARISTAS NO MUNDO (1978-1998)


1978 62.670
1979 64.989
1980 66.042
1981 68.633
1982 73.001
1983 77.049
1984 80.302
1985 85.804
1986 87.511
1987 90.424
1988 92.173
1989 93.405
1990 96.155
1991 99.668
1992 102.000
1993 103.709
1994 105.075
1995 106.346
1996 105.870
1997 108.017
1998 109.171

347
o
o
o
w

DISTRIBUIDO DOS AGENTES DE PASTORAL NO MUNDO CATÓLICO EM 31/12/1998

1
LU
CONTINENTE Bispos Presbíteros
Diáconos
permanentes
Religiosos
nao

presbíteros
Religiosas
Leigos
consagrados
Missionáríos
leigos
Catequistas Total
OC
LU
O
ÁFRICA 575 26.026 313 7.025 51.304 378 1.256 343.085 429.962 00

O 00
Q_ AMÉRICA 1.672 120.297 16.748 16.990 237.504 5.610 52.084 1.258.836 1.709.741
O)
LU
CC ASIA 617 41.456 219 7.764 134.035 1.200 2.274 226.500 414.065
LU
LU EUROPA 1.459 211.827 7.890 24.097 380.309 23.535 562 455.481 1.105.160
h-

Z) OCEANIA 116 5.020 175 1.937 11.627 49 245 14.485 33.654


O
DC 2.298.387 3.692.582
LU Mundo 4.439 404.626 25.345 57.813 814.779 30.772 56.421
Q_

OJ
Sob o regime comunista:

SACERDOTES E BISPOS ORDENADOS


CLANDESTINAMENTE NA TCHECOSLOVÁQUIA

Em síntese: Sob o regime comunista alguns Bispos da


Tchecoslováquia, receosos de ficar sem clero, houveram por bem orde
nar clandestinamente sacerdotes e Bispos, escolhidos, alguns deles en
tre homens casados. Terminado o período de perseguigao, a Santa Sé,
cíente do problema, investigou caso por caso e resolveu que 1) os
presbíteros celibatários fossem de novo ordenados sob condigno, po-
dendo posteriormente exercer o ministerio na respectiva diocese; 2) os
presbíteros casados, após ordenagáo sob condigno, seriam transferi
dos para o Rito oriental, que admite padres casados. Quanto aos Bispos
casados, a solugáo proposta pela Santa Sé a tais Bispos nao Ihes agrá-
dou, de modo que certo impasse foi assim criado, que a Igreja espera
encontré a devida solugáo.

Sob o regime comunista, foram ordenados clandestinamente na


antiga República Tchecoslovaca presbíteros e Bispos, dos quais alguns
casados. Urna vez terminada a perseguicáo, a Congregacáo para a Dou-
trina da Fé se pos a investigar as condicóes em que se deram tais orde-
nacóes: poderiam ser tidas como válidas?

Finalmente após anos de estudo dos diversos casos, a mesma Con


gregacáo emitiu urna Carta aos interessados, datada de 11/02/2000, que
expóe a decisáo do Santo Padre para cada caso e verifica nao haver
plena aceitacáo da mesma por parte de alguns dos interessados; expri
me, porém, a esperanca de que se encontré adequada solugáo.

Abaixo segue-se o teor de tal Carta em traducáo portuguesa, ao


que se acrescentará breve explanacáo do problema abordado.

I. A CARTA DA SANTA SÉ
«Aos Bispos e Presbíteros ordenados clandestinamente na Repú
blica Tcheca.

Durante algum tempo, a situacáo da Igreja Católica na República


Tcheca exigiu especial atencáo da Santa Sé. O mais doloroso problema
era a questáo dos Bispos e Presbíteros ordenados secretamente.

349
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 459/2000

Verifica-se notável progresso na procura de urna sol 11530 definiti


va. Nao obstante, permanecem algumas dificuldades, que tornam ne-
cessário um diálogo esclarecedor. Este é indispensável a fim de explanar
com exatidáo os acontecimentos e a documentacáo respectiva, dissipar
mal-entendidos e tornar precisa a doutrina católica a tal propósito.

1. A AtitudedaSanta Sé

A Congregacao para a Doutrina da Fé sempre manteve urna atitu-


de de respeito e expectativa. Nao deseja ferir as sensibilidades daqueíes
que, por razóes pessoais, nao aceitam os criterios adotados por este
Dicastério para resolver o mui delicado problema de consciéncia que afeta
pessoas que por muito tempo sofreram nos obscuros anos de comunis
mo. Além do mais, esta Congregacáo sempre alimentou a esperanca de
se encontrar uma feliz conclusáo para o problema.

2. A Solucáo dos Casos Individuáis

Grande número dos presbíteros celibatários que foram clandesti


namente ordenados - cinqüenta ao todo - aceitaram a decisio, do Papa,
de que fossem ordenados sob condicáo1, e foram inseridos no ministe
rio pastoral pelos respectivos Bispos diocesanos.

Aos 16/09/1997 o Cardeal Achule Silvestrini, Prefeito da Congre-


gacio para as Igrejas Orientáis, comunicou á Nunciatura Apostólica (Pro
tocolo n° 115/190) que o Santo Padre regularizou a posicáo jurídica de
vinte e dois sacerdotes casados, ordenados secretamente, autorizándo
os a passar para o Rito Eslavo Bizantino2 como integrantes (a pleno direi-
to) do Exarcado dos fiéis de tal Rito residentes na República Tcheca.
Desses presbíteros, dezoito foram ordenados sob condicáo na Abadia
Premonstratense de Zeliv no seguinte dia 22/10. Outro foi ordenado pou-
co depois, também sob condicáo. Tais sacerdotes atualmente estáo exer-
cendo seu ministerio pastoral de acordó com as normas e a jurisdicáo
das Igrejas Católicas Orientáis no Exarcado em que foram incardinados.

3. Outros problemas

Alguns dos Bispos e presbíteros ordenados clandestinamente nao


aceitaram as normas aprovadas pelo Santo Padre. O principal motivo por

1 Sob condigáo, isto é, sob a condigno de nao tersido válida aprimeira ordenagáo.
(Nota da Redagáo).
2 A palavra "Rito", no caso, significa o conjunto de usos e normas culturáis, jurídicas,
administrativas, vigentes em determinada porgáo de fiéis católicos unidos a Santa
Sé ou ao Santo Padre. Assim falase de "rito latino, rito bizantino, rito alexandríno...".
Os fiéis católicos do rito oriental, como dito, tém seus costumes próprios, como, por
exemplo, a autorizagáo para que seus clérigos se casem. (Nota da Redagáo).

350
SACERDOTES E BISPOS ORDENADOS
CLANDESTINAMENTE NA TCHECOSLOVÁQUIA 15

eles alegado para recusá-las foi a imposigáo de nova ordenagáo sob


condigáo, que eles consideram como urna falta de confianga da parte da
Santa Sé, pois eles tém firme certeza de que foram validamente ordena
dos.

Além disto, há razóes psicológicas que merecem respeito, embora


nao possam ser reconhecidas.

Foi-lhes explicado pelos respectivos Bispos diocesanos, como tam-


bém pelo Nuncio Apostólico (que teve alguns encontros com diversos
desses sacerdotes), que a ordenagáo sob condigáo nao significa um
obstáculo para que sejam reconhecidos como presbíteros.

Na realidade, a pesquisa efetuada em cada caso revelou que a


ordenagáo sacerdotal nem sempre foi conferida de maneira válida. Póde
se admitir que em alguns casos ten ha havido validade, mas ficam serias
dúvidas a propósito, especialmente ao se tratar das ordenagóes realiza
das pelo Bispo Mons. Félix María Davidek.

A ordenagáo sob condigáo significa que, se a anterior ordenagáo


foi válida, a segunda ordenagáo (condicional) nao tem efeito algum, dado
que é conferida a quem já é presbítero. Todavía, se a ordenagáo clandes
tina foi inválida, a nova ordenagáo dissipa qualquer dúvida e comunica a
certeza de que o candidato é realmente sacerdote. A propósito houve um
diálogo aberto e sincero, de modo que as acusagóes levantadas contra a
Santa Sé nao correspondem á realidade.

No tocante aos Bispos casados, a sua delicada posigáo levou o


Santo Padre a seguir urna norma de prudencia bem motivada. Com efei
to, ó notorio que o Direito Canónico da Igreja Católica, tanto o do Rito
Latino como o do Rito Oriental, assim como a mais antiga tradigáo des-
sas comunidades orientáis que nao estáo em comunháo com a Igreja
Católica, nao admite em absoluto a compatibilidade do estado conjugal
com a fungáo episcopal. Apesar de tudo, as possibilidades propostas a
tais Bispos, a eles comunicadas pelos respectivos Bispos diocesanos,
nao foram consideradas satisfatórias pelos interessados.

4. Esclarecimentos

(A) A "Igreja das Catacumbas"

O título "Igreja das Catacumbas" nao se justifica. Na verdade, as


pessoas que reivindicam tal designagáo, nao vivem clandestinamente;
pertencem á sociedade civil, tém iniciativas próprias, inclusive obras
assistenciais, que certamente tém valor, e que demonstram a plena liber-
dade de movimento da qual gozam. Nao sao perseguidas como os cris-
táos das catacumbas; chegam a dar entrevistas nos meios de comunica-

351
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 459/2000

cao, publicam livros, e, de maneira aberta e totalmente livre, exprimem


sua dissidéncia frente á autoridade do Pontífice Romano. Se existe clan-
destinidade, esta se refere apenas ao fato de que celebram a Eucaristía
em pequeños grupos de adeptos e ministram os sacramentos aos rnes-
mos em casas particulares ou em localidades que só eles conhecem.

(B) lliceídade

Estáo proibidas tais Missas como também a administracao dos sa


cramentos e outras celebracóes litúrgicas. Aqueles que negam a autori
dade do Papa e dos Bispos celebram ilícitamente.

(C) Validade Duvidosa

Por haver dúvidas a respeito da sagracáo de certos Bispos e da


ordenacáo de sacerdotes, há dúvidas também no tocante á validade das
suas Missas e dos sacramentos que eles ministram (especialmente o da
Reconciliacáo). A sagracáo e a ordenacáo condicionáis teriam precisa
mente a vantagem de remover essas dúvidas em torno da validade da
Eucaristía e dos sacramentos oficiados por tais ministros. Esta temática
foi longamente explanada ás partes ¡nteressadas. Qualquer afirmacáo
em contrario nao corresponde á verdade.

S. Conclusáo

Existe esperanca de que a situacáo possa melhorar na República


Tcheca, onde a Igreja tanto sofreu sob a pressáo da autoridade inimiga e
onde os cristáos sao chamados a dar unánime testemunho em todos os
nfveis da vida civil e eclesiástica.

A Igreja Católica é una e deve dar testemunho do Único Deus e


Senhor mediante a unidade de seus membros. Por conseguinte a Santa
Sé apela para os católicos que ainda nao aceitaram sua orientacáo, e
convida-os a que se unam de novo aos demais católicos sob o pastoreio
do Papa.

Os Bispos da República, assim como o Nuncio Apostólico, estáo


prontos para colaborar a fim de realizar essa uniáo no espirito de servigo
ao qual o Senhor chama os seus seguidores e que é sinal distintivo da
sua pertenca á Igreja.

Dado em Roma, na sede da Congregacáo para a Doutrina da Fé,


aos 11 de fevereiro de 2000, dia da Comemoracáo de Nossa Senhora de
Lourdes.

Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito


Arcebispo Tarcisio Bertone, Secretario»

352
SACERDOTES E BIS POS ORDENADOS
CLANDESTINAMENTE NA TCHECOSLOVÁQUIA 17

II. COMENTANDO...

Eis como o órgáo Zenit, transmissor do pensamento da Santa Sé


via e-mail, expóe os tatos e a situacáo que ocasionaram:

"Nos anos do comunismo na República Tcheca, alguns Bispos re-


alizaram ordenacóes de sacerdotes e de outros Bispos sem as devidas
autorizacóes ou cometendo irregularidades no Ritual em virtude das pre-
mentes condicóes da época. Após a queda do comunismo, a Congrega-
cáo para a Doutrina da Fó tem-se esforcado por encontrar um modo de
resolver todas as questóes suscitadas por tal situacáo. Hoje (14/02) o
Cardeal Ratzinger divulgou urna Declaracáo relativa a tais casos.

Os problemas oriundos de tais ordenacóes sao de varios tipos. Al


guns Bispos consideraram a drástica diminuicáo de sacerdotes como
razáo suficiente para permitir a presenca de presbíteros casados no Rito
Latino. E - o que é mais problemático ainda - alguns desses presbíteros
casados foram ordenados Bispos, algo que nao é permitido em rito al-
gum da Igreja. As ordenacóes de alguns sacerdotes, especialmente as
que se devem ao Bispo Mons. Félix Maria Davidek, sugerem serias dúvi-
das aos pastores da Igreja, que perguntam se foram válidas.

Ñas mais sombrías horas, Mons. Davidek vivia angustiado com a


previsáo de que a Igreja Católica perderia todos os seus sacerdotes por
causa da perseguigáo. Esta preocupagáo levou-o a efetuar ordenacóes
em todos os tipos de circunstancias.

Em nossos dias, a maioria desses casos já foi resolvida, mas al


guns poucos presbíteros estáo celebrando a S. Missa sem pertencer a
alguma diocese, como se a Igreja ainda estivesse ñas catacumbas.

A Declaracáo divulgada hoje enfatiza que a Congregacáo para a


Doutrinada Fé assumiu urna atitude de respeito e expectativa no
concernente a tais problemas. Roma nao quer ofender as sensibilidades
de varios presbíteros e Bispos que possam estar relutando contra as
decisóes da Santa Sé.

Como decidiu o Papa Joáo Paulo II, os sacerdotes celibatários or


denados no período do comunismo tiveram que se submeter a nova or-
denacáo sob condicáo; caso a sua primeira ordenacáo fosse válida, a
segunda nao teria efeito algum, ao passo que, se a anterior fosse proble
mática, a segunda os tornaría realmente presbíteros. Em principio, a or
denacáo sacerdotal nao pode ser reiterada (se é válida), pois imprime
caráter indelével na alma do ministro ordenado.

Muitos dos cinqüenta sacerdotes celibatários aceitaram o rito su-


plementar e atualmente estáo trabalhando em suas respectivas dioceses.

353
]8 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 459/2000

Fica, porém, um pequeño grupo desses presbíteros que recusa o rito


condicional, alegando que seria sinal de falta de confianca da Santa Sé;
acreditam eles firmemente que foram validamente ordenados.

Quanto aos presbíteros casados, o Cardeal Achule Silvestrini, Pre-


feito da Congregacáo para as Igrejas Orientáis, comunicou-lhes a deci-
sáo do Papa Joao Paulo II aos 16/09/1997. Estes vinte e dois sacerdotes
foram autorizados a ser ordenados sob condlcáo no Rito Eslavo
Bizantino, deixando assim o Rito Latino, que requer o celibato dos seus
sacerdotes. Desses vinte e dois, dezenove já aceitaram a determinacáo
papal e estáo trabalhando entre os fiéis do respectivo Rito.

Mais espinhoso é o problema dos Bispos casados. O Direito


Canónico tanto do Rito Latino quanto das Igrejas Orientáis proíbe a orde-
nacáo episcopal de um homem casado. A antiga tradicáo crista e a prá-
tica da Igreja Ortodoxa confirmam a invalidade de tal ordenacáo. A Santa
Sé ofereceu varias solucóes a esses "Bispos", os quais, porém, nao as
aceitaram.

A Declaracáo da Congregacáo para a Doutrina da Fé encerra-se


esclarecendo alguns pontos da situacáo da Igreja na República Tcheca.
Antes do mais, afirma que atualmente nao há "Igreja das Catacumbas"
na República Tcheca. Os presbíteros e Bispos que estáo atuando sem a
aprovacáo da Santa Sé, fazem-no abertamente, com plena liberdade de
procedimento e sem perseguicao.

Em segundo lugar, a Declaragáo confirma que tais presbíteros e


Bispos nao estáo autorizados para celebrar a S. Missa e ministrar os
sacramentos. Com efeito; desde que haja dúvidas quanto á validade das
ordenacóes, existem razoáveis motivos para duvidar também da valida-
de dos sacramentos ministrados em tais condicóes.

Por fim, a Declaragáo exprime a esperanca de que a Igreja na


Tchecoslováquia retorne sem demora á unidade que caracteriza a Igreja
Católica, e convida todos os dissidentes a se reunir aos demais católicos
sob o pastoreio do Papa».

Palavras da Fonte, porJean-Yves Leloup. - Ed. Vozes, Petrópolis


2000, 135x210mm, 173 pp.

O autor é um cristáo ortodoxo, que comenta dois Evangelhos


apócrifos (o de Tomé eode María) como se contivessem o inconsciente
do Cristianismo. Recorre á psicanálise, dando ampio espago as tenden
cias sexuais dos personagens do Evangelho. Além do qué está associa-
do ao holismo ou a urna filosofía de vida que se aproxima da Nova Era e
solapa os fundamentos do Cristianismo. O edificio de idéias levantado
por Leloup é subjetivo e carece de fundamento real.

354
O ouro de Deus em máos humanas:

O PAPA ALEXANDRE VI (1492-1503)

Em síntese: O Papa Alexandre VI é figura pouco feliz no conjunto


dos Papas, visto que levou conduta de vida devassa mesmo depois de
eleito Pontífice. Se, de um lado, se deve reconhecer isto, doutro lado é
preciso observar que náopromulgou um $ó decreto que contraríasse á fé
e aos bons costumes. O ouro de Deus passou intacto por máos sujas;
nao foi contaminado - o que atesta a providencial assisténcia do Senhor
Jesús a sua Igreja. -Éde notar ainda que os historiadores tém acentua
do exageradamente os pontos sombríos da conduta de Alexandre VI como
também os de sua filha Lucrecia Borgia.
* * *

A sinceridade manda que se reconhe9am as enormes falhas mo


ráis do Papa Alexandre VI {1492-1503), embora seja notorio que os his
toriadores carregaram exageradamente as tintas do respectivo quadro.
A fim de conceber urna nocáo objetiva e fiel do Papado de Alexandre VI,
é oportuno, antes do mais, reconstituir o contexto histórico em que viveu
tal Papa.

1. O Contexto Histórico

Tenha a palavra o historiador Carlos Castiglioni, Doutor da Bibliote


ca Ambrosiana, em sua obra Historia de los Papas1, tomo II p. 1738:
"Alexandre VI foi o produto natural da época em que viveu, e o
expoente da sociedade que o elevou ao cume supremo. As cortes da
época, em vez de encontrar motivos de escándalo na corte de Alexandre
VI, viram nesta aspectos admiráveis. Infelizmente o escándalo e a indig-
nagáo só podiam ter lugar naqueles personagens de escol que a corrup-
gáo paga do Humanismo nao havia depravado.
O paganismo triunfante naquele século subiu até os escaldes mais
elevados da sociedade; galgou os tronos e até mesmo a cátedra de Sao
Pedro...
No fim do século XV e no comego do século XVI as mentes huma
nas foram transtornadas por um perígoso sofisma: fizeram do bem e da
beleza urna só coisa; em conseqüéncia aceitavam, sem a mínima restri-
gáo, tudo o que apresentasse urna beta forma estética ou artística. A
religiáo, com suas faustosas cerimónias, foi reduzida a urna beta forma-

1 Editorial Labor S.A., Barcelona, Madrid, Buenos Aires, Rio de Janeiro.

355
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 459/2000

lidade; os templos passaram a ser considerados monumentos de arte,


carentes de sagrada inspiragáo. O delito e o vicio já nao causavam hor
ror, porque se apresentavam cercados de cultura e de encanto. Na políti
ca, todo o direito repousava sobre a torga. Todas as leis, divinas e huma
nas, eram sacrificadas ao éxito. O desprezo da vida tomou o caráter de
cinismo, o adulterio era urna aventura de familia; as cortes dos príncipes
estavam cheias de filhos bastardos e ilegítimos; podia mesmo acontecer
que os bastardos e os ilegítimos suplantassem os fílhos legítimos ñas
dinastías reinantes...

Naquela época o Papado tomou o aspecto de um Principado civil".


Estas observares podem parecer exageradas. Todavía dáo a ver
o paño de fundo ao qual sobreveio a figura do Papa Alexandre VI. O
chamado "Renascimento" levou os eruditos da época a descobrir os tex
tos clássicos das literaturas grega e latina; muitas obras desentulhadas
despertaram nos seus leitores o desejo de conduzir-se á moda dos ho-
mens e das mulheres da sociedade pré-cristá, isentos da austera orienta-
cao do Cristianismo; o ideal era viver segundo a natureza e seus impulsos
espontáneos; renasceu assim a mentalidade paga com seus costumes de-
vassos, criando um clima de euforia, que pretendia exaltar o humano (donde
Humanismo). Tal ambiente relativizava as categorías da Moral crista.

2. Eleicáo e traeos biográficos de Alexandre VI

2.1. A Eleicáo

Após a morte do Papa Inocencio VIII, os 23 Cardeais eleítores se


reuniram em conclave no dia 10 de agosto de 1492. Na noite seguinte
pronunciaram-se em favor do Cardeal Rodrigo Borgia, de 62 anos de
idade, o qual tomou o nome de Alexandre VI. Tem-se dito que o eleito
subornou seus eleitores - o que nao parece verídico. O historiador
Ferdinando La Torre escreveu um estudo crítico intitulado Conclave di
Alessandro VI (Florenca 1933), em que chega a estas conclusóes:

"A eleigáo de Alexandre VI nao foi devida a simonía. Antes, foi ins
pirada pelo reconhecimento das qualidades de estadista que Rodrigo
Borgia possuía".

Escolheram Borgia por causa de seu tino diplomático, seu caráter


enérgico e seus evidentes dotes de bom administrador. Além disto, o fato
de ser espanhol falava em seu favor, pois o colocava em situacáo de
independencia frente aos diversos Estados da península itálica, que dis-
putavam entre si o privilegio de ter um Papa seu conterráneo.

Escreve a propósito Carlos Castiglioni:

"A escolha de Alexandre VI foiacolhida com júbilo e esperanga em


Roma e fora de Roma. Giovanni Pico della Mirándola escreveu-lhe urna

356
O PAPA ALEXANDRE VI (1492-1503)

carta de felicitagóes, na qual tecia magnífico elogio do eleito. Na tarde de


12 de agosto, os cidadáos conservadores de Roma, ou seja, oitocentos
homens da nobreza montados a cávalo, levando tochas ñas máos, dirigi-
ram-se ao Vaticano para prestar homenagem ao Papa recém-eleito, en-
quanto na cidade inteira se acendiam luminarias em sinal de regozijo.

Aos 26 de agosto foi celebrada com pompa extraordinaria a coroa-


gáo de Alexandre, abrilhantada pelas múltiplas e encantadoras manifes-
tagóes da mentalidade renascentista. Os enviados dos Estados itálicos
se regozijavam entusiasmados e os poetas exaltavam o novo Papa com
elogios típicos da literatura paga, como se fosse ele o inaugurador de urna
nova idade de ouro. Seja citado, á guisa de espécimen, o seguinte dístico:

Caesare magna fuit, nunc Roma est máxima;

Sextus regnat Alexander; ille vir, iste Deus.1

Em Miláo e em Florenga foram celebradas festas especiáis em honra


de Alexandre VI. O próprio reí de Ñapóles mostrou-se mais do que satis-
feito, embora nao tivesse desejado a eleigáo de Borgia, por ser do agra
do dos espanhóis, seus inimigos" (ob. cit. p. 1750).

2.2. Tragos biográficos

É forcoso reconhecer que desde a juventude Rodrigo Borgia se


entregou á libertinagem de costumes. Nao se corrigiu nem mesmo após
receber a ordenacáo sacerdotal em 1468. Foi vítima de urna sensualida-
de irrefreada até o fim de sua vida. Houve tentativas de emenda, mas
sempre frustradas pela veeméncia das paixóes. Chama particularmente
a atengáo o relacionamento adúltero de Rodrigo Borgia com a nobre dama
romana Vanozza de Cataneis, donde resultaram quatro filhos reconheci-
dos por Rodrigo Borgia. Urna das grandes aspiracóes do pontificado de
Alexandre foi marcada pelo nepotismo; quis providenciar ao enriqueci-
mento e á promocáo dos seus familiares.

Historiadores e novelistas tém explorado a figura de Lucrecia Borgia,


nascida em 1480, a predileta do pai. Era urna jovem alegre e desejosa de
se casar, dando provas de grande ternura. Nao foi imune da corrupcáo
moral de sua época; mas certamente nao mereceu a má fama que muito
a desfigurou posteriormente. Por duas vezes foi noiva e por tres vezes se
casou. O primeiro casamento, realizado com Joáo Sforza, senhor de
Pésaro, foi logo dissolvido. O segundo conheceu triste desfecho, visto
que foi assassinado o seu marido, que era o duque Afonso de Bisceglia,
filho natural do rei Afonso II de Ñapóles; o terceiro enlace matrimonial,
com o príncipe herdeiro de Ferrara, Afonso d'Este, foi bem sucedido; de

1 "Por César Roma foi grande; agora é a maior;


Reina Alexandre Sexto; aquele foi homem, este é Deus".

357
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 459/2000

entáo por diante Lucrecia se comportou como esposa crista irrepreensível,


e morreu em 1519 como membro da Ordem Terceira de Sao Francisco,
louvada pelo pobres, enaltecida pelos eruditos e pelos artistas.

Papel funesto na vida de Alexandre VI foi desempenhado por seu


filho César Borgia, homem dotado de prendas brilhantes, mas altamente
ambicioso e de vida corrupta; era o tipo do tirano renascentista. Pai e
filho aspiravam á criacáo de um grande reino na Italia central; caso tal
intento se tornasse realidade, o Estado Pontificio, em grande parte, seria
secularizado ou subtraído á jurisdicáo da Igreja para atender a interes-
ses da familia dos Borgia.

Merece referencia também o caso de Jerónimo Savonarola, Prior


do convento dominicano de Sao Marcos em Florenca desde 1491. Era
insigne pregador e notávei inteligencia. Apregoava a observancia estrita
da Regra conventual bem como a reforma geral dos costumes da época,
inclusive a do clero. Visto que tal atividade incomodava a nao poucos, foi
denunciado á Santa Sé, que houve por bem proibir-lhe pregar. Após al-
guma hesitacáo, Savonarola recusou obedecer, apelando para a sua
consciéncia. Em conseqüéncia foi punido com a excomunháo mediante
um Breve papal de 13 de maio de 1497. Savonarola reagiu, declarando
injusta e inválida a excomunháo, tendo em vista especialmente a figura
do Papa que a pronunciara; pós-se a proclamar a deposigáo de Alexan
dre VI mediante um Concilio geral, que trataría o Papa como herege in
capaz de exercer as suas funcóes. Todavía o povo de Florenca, que sem-
pre aclamara o frade dominicano e o acatara, voltou-se contra ele por
motivos fúteis; talvez desagradasse á sociedade florentina a conviccáo
inabalável, demonstrada por Savonarola, de ter urna missáo confiada
por Deus a ser executada ferrenhamenté.

O fato é que o convento de Sao Marcos foi assaltado pelo povo; o


Prior foi detido e levado perante um tribunal que Ihe era contrario. Na
base de confissdes extorquidas e falsas, foi condenado á morte. Aos 23
de maio de 1498, juntamente com dois confrades, foi degradado como
"herege, cismático e desprestigiador da Santa Sé".

A excomunháo proferida sobre Savonarola foi válida, pois a jurisdi


cáo do Papa nao depende do seu teor de vida. Foi, porém, excessiva-
mente severa. Savonarola era homem de vida ¡libada e retas intencóes.
Todavía cedeu a certo fanatismo em sua atitude profética e em sua inge
rencia em assuntos politicos. A posteridade Ihe tem feito justiga, reco-
nhecendo a grandeza de sua personalidade, movida pelo amor á causa
do Evangelho.

O nome de Alexandre VI está associado ainda ao Tratado de


Tordesilhas. Com efeito; o Papa foi arbitro entre Espanha e Portugal, que

358
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 459/2000

sio de Alexandria, grande defensor da fé ortodoxa na controversia contra


os arianos. Assim o Cristianismo, que Constantino I tornara lícito em 313,
era feito religiáo oficial do Imperio Romano.

4. "Nao sabemos como a Igreja pode ser romana e universal". - O


título romana nao implica nacionalismo nem particularismo. É apenas o
título que indica o endereco da sede primacial da Igreja. Na verdade, a
Igreja, atuando neste mundo, precisa de terseu endereco ou seu referen-
cial postal, que é o do Bispo de Roma, feito Chefe visível por Cristo. Por
conseguinte a Igreja Católica recebe o título de Romana sem prejuízo
para a sua catolicidade ou universalidade. De modo semelhante, Jesús,
Salvador de todos os homens, foi dito Nazareno, porque, convivendo com
os homens, precisava de um endereco, que foi a cidade de Nazaré.

2. Apostolicidade

Diz a noticia de jornal:

"Devido ás alteragóes que fez, a Igreja deixou de ser apostólica".

Em resposta, torna-se oportuno, antes do mais, examinar o que


signifique o atributo apostólica aplicado a Igreja.

Já no Novo Testamento se encontra a nocáo de que o patrimonio


da fé nao chega aos fiéis como algo descido do céu diretamente, mas,
sim, como algo que parte do Pai, passa por Jesús Cristo, pelos Apostólos
e, finalmente, chega a cada individuo no seu respectivo tempo. Assim,
por exemplo:

1 Jo 1, 1-3: "O que era desde o principio, o que ouvimos, o que


vimos com nossos olhos, o que contemplamos, e o que nossas maos
apalparam do Verbo da vida... nos vos anunciamos esta Vida eterna, que
estava voltada para o Pai e que vos apareceu". Cf. Jo 17, 7s; 20, 21; Mt
28, 18-20; Rm 10, 13-17; 2Tm 2, 2; Tt 1, 5.

Os primeiros escritores da Igreja retomaram e estenderam essa


serie de comunicacSes ou missóes. Assim lemos em Tertuliano:

"Sem dúvida, é preciso afirmar que as igrejas receberam dos Apos


tólos; os Apostólos receberam de Cristo, e Cristo recebeu de Deus" (De
Praescriptione Haereticorum 21, 4).

Os antigos davam grande apreco ás listas de Bispos que houves-


sem ocupado urna sede outrora fundada ou governada por um Apostólo.
S. Ireneu de Liáo (t 202) é o autor de um desses catálogos:

"Depois de ter assim fundado e edificado a Igreja, os bem-aventu-


rados Apostólos transmitiram a Lino o cargo do episcopado... Anacleto

362
A ORIGEM DA IGREJA E DO PAPADO 25

ou naquela comunidade). Todavia os intérpretes do texto julgam que algo


mais está dito ai: S. Inácio terá tido em vista a Igreja auténtica, verda-
deira, perfeita. Desde fins do século II se torna freqüente o sentido de
universal, sem, porém, excluir o de auténtica, isto é, portadora de to
dos os meios de salvacáo instituidos por Cristo. Esta segunda acepcáo
se tornava necessária pelo fato de haver correntes ou "igrejinhas" heréti
cas, separadas da Igreja grande, nos primeiros séculos (como até hoje
as há).

O sentido de auténtica atribuido ao adjetivo católica encontra-se


regularmente nos escritos dos primeiros séculos. A partir do século III,
pode-se dizer que católica significa a verdadeira Igreja, esparsa pelo
mundo ou também alguma comunidade local que esteja em comunháo
com a Grande Igreja.

Quanto á origem da palavra católico, é preciso procurá-la no gre-


go profano. Com efeito; para Aristóteles (t 322 a.C), kath'holon signifi
ca segundo o conjunto, em geral; o vocábulo é aplicado as proposi-
cóes universais. O filósofo estoico Zenon (t 262 a.C.) escreveu um trata
do sobre os universais intitulado katholiká; sao católicos os principios
universais . Polfbio (t 128 a.C.) falou da historia universal em comum,
dizendo-a Tés katholikés kai koinés Historias. Para o judeu Filón de
Alexandria (f 44 d.C), katholikós significa geral, em oposicáo a particu
lar; os deuses astrais da Siria eram ditos katholikoí.

Tal vocábulo é, pela primeira vez (como dito), aplicado á Igreja por
S. Inácio de Antioquia (t 107 aproximadamente).

2. Que houve entáo em 381?

Em 381 realizou-se o Concilio geral de Constantinopla, que repetiu


a fórmula Igreja Católica, professando: "Creio na Igreja una, santa, cató
lica e apostólica". O Concilio nada inovou; apenas reiterou a fórmula an-
tiga.

3. Póe-se entáo a pergunta: que dizer do mencionado decreto do


Imperador Teodósio?

Imp5e-se notar logo que o decreto data de 380, e nao de 381. Com
efeito; sob Teodósio I (379-95), que reinou no Oriente do Imperio Roma
no, registraram-se acontecimentos importantes. Aos 28/02/380, o Impe
rador assinou um decreto que tornava oficial a fé católica "transmitida
aos romanos pelo apostólo Pedro, professada pelo Pontífice Dámaso e
pelo Bispo de Alexandria, ou seja, o reconhecimento da Santa Trindade
do Pai, do Filho e do Espirito Santo". Com estas palavras, Teodósio abra-
cava, para si e para o Imperio, o Credo que, proveniente dos Apostólos,
era professado entáo pelo Papa Dámaso (366-84) e pelo Bispo S. Ataná-

361
Como foi realmente?

A ORIGEM DA IGREJA E DO PAPADO

Em síntese: Há quem diga que o título de Católica só foi atribuido


á Igreja pelo Concilio de Constantinopla I em381 por decreto do Impera
dor Teodósio - alegagáo esta desmentida pelo tato mesmo de que já S.
Inácio de Antioquia, nos primeiros anos do século II, falava de ¡greja
Católica. Quanto ao termo Papa, só foi aplicado ao Bispo de Roma no
século V de maneira ernática; todavía a fungáo de Pedro como chefe do
colegio apostólico já está delineada nos escritos do Novo Testamento; no
caso, o que importa nao é o nome, mas o exercfcio da fungáo.

A Redacáo de PR recebeu de um amigo o seguinte recorte de jor


nal, que terá deixado varios leitores confusos. Daí o pedido de resposta
feito a esta Redacáo.

«A origem do Vaticano e do Papa

A Igreja recebeu o nome de "católica"somente no ano 381, no Con


cilio "Conotos Populos", dirigido pelo imperador romano Teodósio. Devi-
do as alteragoes que fez, deixou de ser apostólica e nao sabemos como
pode ser romana e universal ao mesmo tempo. (Hist. Ecles., I pg. 47,
Rivaux).

Até o século V nao houve "papa" como conhecemos hoje. Esse


tratamento de ternura comegou a ser aplicado a todos os bispos a partir
do ano 304. (Cónego Salin, Ciencia e Religiáo. Tom. 2pg. 56)».

O texto em foco contém varias imprecisóes (para nao dizer varios


erros), como se evidenciará ñas páginas seguintes.

1. Igreja Católica: desde quando?

1. A expressáo "Igreja Católica" nao tem origem no fim do século


IV, mas encontra-se sob a pena de S. Inácio, Bispo de Antioquia (t 107
aproximadamente), que nos primeiros anos do século II escrevia:

"Onde quer que se aprésente o Bispo, ali esteja também a comuni-


dade, assim como a presenga de Cristo Jesús nos assegura a presenga
da Igreja Católica" (Aos Esmirnenses 8, 2).

A expressáo católica parece designar, em primeira instancia, a


universalidade da Igreja (ela está em toda parte, e nao somente nesta

360
O PAPA ALEXANDRE VI (1492-1503) 23

litigavam entre si a respeito das térras recém-descobertas e por desco-


brir. Em sua Bula de 4 de margo de 1493, o Papa tracou urna linha imagi
naria de um a outro polo do globo, passando a cem leguas a Oeste da
mais ocidental ilha dos Azores (chamada linha Vaticana ou de Alexandre
VI). Tal linha dividiria o planeta em duas partes, atribuindo ao rei Fernando
o Católico, de Espanha, as térras do Oeste da linha e a Portugal as do
Leste. A Bula que o estipulava, incutia aos reis católicos a obrigacáo de
levar o Evangelho aos habitantes de tais regióes. No século XVII houve
quem interpretasse erróneamente o gesto do Papa como sendo a doa-
cáo do Novo Mundo á Espanha. A Franca e a Inglaterra nao quiseram
reconhecer a decisáo papal e procuraram estabelecer suas colonias ñas
novas térras sempre que isto Ihes foi possfvel.

Nao se pode deixar de notar que Alexandre VI foi grande protetor


das Ordens Religiosas; aprovou Congregagoes recém-fundadas e se
empenhou pela evangelizado do Novo Mundo e da Groelándia.

Observa Carlos Castiglioni:

"Desde que eleito, Alexandre VI empreendeu um tipo de vida muito


simples e frugal, com surpresa para toda a corte pontificia. Sua mesa era
táo sobria que os familiares do Papa preferiam afastar-se déla" (ob. cit,
p. 1750).

Em conclusáo, ainda segundo o mesmo historiador:

"Alexandre foi um príncipe do seu tempo, com os vicios e os peca


dos dos outros principes, com a única diferenga de que nao quis encobrir
nem velar seus vicios com hipocrisia e fingimento. Seu desacertó consis
te em ter vivido como viviam, na sua época, os homens do grande mundo
político, sem levar em conta a sua condigno de sacerdote, Cardeale Papa.
Se nao fora Papa, teña sido objeto de compaixáo, ou talvez de aplausos,
por causa de seus vicios. Ninguém há de querer isentá-lo de suas faltas
em sua vida pessoal e em familia, mas é justo reconhecer que nenhum
erro contra a fé se encontra em seus escritos".

O pontificado de Alexandre VI é urna prova a mais de que a Divina


Providencia rege e conserva a Igreja, apesar da eventual inercia dos pró-
prios Pontífices Romanos.

Esta frase final merece ser enfatizada, pois, de um lado, reconhe-


ce a miseria da criatura que Deus escolhe para o pastoreio do seu reba-
nho, mas, de outro lado, afirma sabiamente que nao é o homem que
governa a Igreja, mas é o próprio Cristo, que age no grande sacramento
da Igreja. Ele parece dormir na Barca de Pedro, mas nao falta na hora do
perigo, de modo que a Barca nao socobrará até o fim dos tempos; cf. Me
4,35-41.

359
A ORIGEM DA IGREJA E DO PAPADO 27

Ihe sucede. Depois, em terceiro lugar a partir dos Apostólos, é a Clemen


te que cabe o episcopado... A Clemente sucedem Evaristo, Alexandre;
em seguida, em sexto lugar a partir dos Apostólos, é instituido Sixto, de
pois Telésforo, também glorioso por seu martirio; depois Higino, Pió,
Aniceto, Sofero, sucessor de Aniceto; e, agora, Eleutérío detém o episco
pado em décimo segundo lugar a partir dos Apostólos" (Contra as Here-
siaslll2, 1s).

Com outras palavras: para os antigos, a Igreja é urna comunidade


que teve inicio com os Apostólos, mas está destinada a se prolongar até
o fim dos tempos, de modo que Ela nao é senáo o desabrochamento do
cerne dos Apostólos. Vejam-se as palavras de Tertuliano (t 220 aproxi
madamente):

"Foi primeiramente na Judéia que eles (os Apostólos escolhidos e


enviados por Jesús Cristo) implantaram a fé em Jesús Cristo e estabele-
ceram comunidades. Depois partiram pelo mundo afora e anunciaram as
nagóes a mesma doutrina e a mesma fé. Em cada cidade fundaram Igre-
jas, as quais, desde aquele momento, as outras Igrejas emprestam a es
taca da fé e a sementé da doutrina; alias, diariamente emprestam-nas,
para que se tornem elas mesmas Igrejas. A este título mesmo sao consi
deradas comunidades apostólicas, na medida em que sao filhas das Igre
jas apostólicas. Cada coisa é necessariamente definida pela sua origem.
Eis por que tais comunidades, por mais numerosas e densas que sejam,
nao sao senáo a primitiva Igreja apostólica, da qual todas procedem...
Assim faz-se urna única tradigáo de um mesmo Misterio" (De
Praescrlptlone Haeretlcorum 2, 4-7.9).

A necessidade de distinguir das correntes cismáticas a verdadeira


Igreja de Cristo provocou a acentuacáo e a utilizacáo mais e mais fre-
qüente do predicado da apostolicidade: a Igreja verdadeira vem de Cristo
mediante os Apostólos, ao passo que as correntes heréticas e as seitas
nao podem reivindicar para si o título de apostólicas. A partir do século
XII comecaram a aparecer pequeños tratados sobre a Igreja Apostólica
frente as seitas dissidentes. Alias, foram as heresias que provocaram a
publ ¡cacao de tratados explícitos sobre a Igreja.

No século XVI a apologética católica, frente á reforma protestante,


explanou largamente a origem apostólica da Igreja Católica. Os teólogos
puseram em evidencia que aqueles que se afastam da Igreja fundada
por Cristo e entregue aos Apostólos, é que perdem o direito de constituir
a Igreja Apostólica. Os reformados tém um fundador humano para cada
urna de suas denominacóes, que pretende recomecar a historia do Cris
tianismo séculos após a geracáo dos Apostólos, portante sem o clássico
caráter de apostolicidade.

363
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 459/2000

Quanto as "alteracóes" na Igreja, nao sao mais do que o desabro


char da sementé langada por Cristo. A árvore plenamente desenvolvida
é da mesma natureza que a própria sementé, e vice-versa. Tal
desabrochamento - lógico e necessário - foi acompanhado pelo Espirito
Santo prometido por Jesús á Igreja (cf. Jo 14, 26; 16, 13-15) para que
conserve e transmita incólume o depósito da fé. Caso o Senhor nao ti-
vesse providenciado essa garantía de fideiidade e autenticidade através
dos séculos, tena sido váo o seu sacrificio na Cruz. É, pois, necessário
dizer que na Igreja Apostólica (fundada por Cristo e entregue aos Apos
tólos) se mantém viva e pura a mensagem apregoada pelo Divino Mestre.

Ver "Carta Aberta aos Protestantes" as pp. 380s deste fascículo.

3. Origem do Papado

Lé-se no citado tópico de jornal:

"Até o século V nao houve Papa como conhecemos hoje".

A resposta a esta afirmacáo dependerá de como entender a ex-


pressáo "Papa como conhecemos hoje". Se entendemos que se trata de
Papa com uso dos meios de comunicacáo modernos (televisáo, radio,
internet...) e viagens aéreas, está claro que nao houve Papa de tal tipo na
antigüidade. Todavia, se se entende Papa no sentido de chefe visívei da
Igreja, encontra-se tal figura já nos escritos do Novo Testamento. Com
efeito; Pedro ai aparece como aquele a quem Jesús confia as chaves do
reino dos cóus (cf. Mt 16,17-19) e entrega o pastoreio das suas ovelhas
(cf. Le 22,31 s; Jo 21,15-17). O aspecto bíblico da questáo jáfoi repetida
mente abordado em PR; ver especialmente PR 375/1993, pp. 338-344.
Sejam acrescentados alguns tragos significativos da historia da Igreja.

Nao se pode esperar encontrar nos primeiros séculos um exercício


do Papado (ou das faculdades entregues por Jesús a Pedro e seus su-
cessores) táo nítido quanto nos séculos posteriores. As dificuldades de
comunicacáo e transporte explicam que as expressóes da funcáo papal
tenham sido menos freqüentes do que em épocas mais tardías. Como
quer que seja, podemos tecer a historia do exercício dessas fungóos nos
seguintes termos:

A Sé de Roma sempre teve consciéncia de que Ihe tocava, em


relacao ao conjunto da Igreja, urna tarefa de solicitude, com o direito de
intervir onde fosse necessário, para salvaguardar a fé e orientar a disci
plina das comunidades. Tratava-se de ajuda, mas também, eventualmente,
de intervengáo jurídica, necessária para manter a unidade da Igreja. O
fundamento dessa funcáo eram os textos do Evangelho que privilegiam
Pedro, como também o fato de que Pedro e Paulo haviam consagrado a
Sé de Roma com o seu martirio, conferindo a esta urna autoridade singular.

364
A ORIGEM DA IGREJA E DO PAPADO 29

Eis algumas expressóes do primado do Bispo de Roma:

1) No século II houve, entre Ocidentais e Orientáis, divergencias


quanto á data de celebracáo da Páscoa. Os crístáos da Asia Menor que-
riam seguir o calendario judaico, celebrando-a na noite de 14 para 15 de
Nisá (daí serem chamados quatuordecimanos), independentemente do
dia da semana, ao passo que os Ocidentais queriam manter o domingo
como dia da Ressurreicáo de Jesús (portanto, o domingo seguinte a 14
de Nisá); o Bispo S. Policarpo de Esmirna foi a Roma defender a causa
dos Orientáis junto ao Papa Aniceto em 154; quase houve cisáo da Igre
ja. S. Ireneu, Bispo de Liáo (Gália) interveio, apaziguando os ánimos.
Finalmente o Papa S. Vítor (189-198) exigiu que os fiéis da Asia Menor
observassem o calendario pascal da Igreja de Roma, pois esta remonta-
va aos Apostólos Pedro e Paulo.

Alias, S. Ireneu (t 202 aproximadamente) dizia a respeito de Roma:


"Com tal Igreja, por causa da sua peculiar preeminencia, deve estar de
acordó toda Igreja, porque nela... foi conservado o que a partir dos Apos
tólos é tradicáo" (Contra as Heresias 3, 2).

Muito significativa é a profissáo de fé dos Bispos Máximo, Urbano


e outros do Norte da África que aderiram ao cisma de Novaciano, rigorista,
mas posteriormente resolveram voitar á comunháo da Igreja sob o Papa
S. Cornélio em 251: "Sabemos que Cornélio é Bispo da Santíssima Igre
ja Católica, escolhido por Deus todo-poderoso e por Cristo Nosso Se-
nhor. Confessamos o nosso erro... Todavía nosso cora?áo sempre este-
ve na Igreja; nao ignoramos que há um só Deus e Senhor todo-poderoso,
também sabemos que Cristo é o Senhor...; há um só Espirito Santo; por
isto deve haver um só Bispo á frente da Igreja Católica" (Denzinger-
Schónmetzer, Enchiridion 108 [44]).

O Papa Estéváo I (254-257) foi o primeiro a recorrer a Mt 16,16-19,


ao afirmar contra os teólogos do Norte da África, que nao se deve repetir
o Batismo ministrado por hereges, pois nao sao os homens que batizam,
mas é Cristo que batiza.

A partir do século IV, o recurso a Mt 16, 16-19 se torna freqüente.


No século V, o Papa Inocencio I (401-417) interveio na controversia mo
vida por Pelágio a respeito da graca; num de seus sermóes S. Agostinho
respondeu ao fato, dizendo: "Agora que vieram disposicóes da Sé Apos
tólica, o litigio está terminado (causa finita est)" (serm. 130, 107).

No Concilio de Calcedonia (451), lida a carta do Papa Leáo I, a


assembléia exclamou: "Esta é a fé dos Pais, esta é a fé dos Apostólos.
Pedro falou através de Leáo".
O Papa Gelásio I declarou entre 493 e 495 que a Sé de Pedro
(romana) tinha o direito de julgamento sobre todas as outras sedes episco-

365
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 459/2000

pais, ao passo que ela mesma nao está sujeita a algum julgamento hu
mano. Em 501, o Synodus Palmaris de Roma reafirmou este principio,
que entrou no Código de Direito Canónico: "Prima sedes a nemine
iudicatur, - A sé primacial nao pode ser julgada por instancia alguma"
(canon 1629).

Em suma, quanto mais o estudioso avanca no decurso da historia


da Igreja, mais nítidamente percebe a configuracáo do primado de Pe
dro, ocasionada pelas diversas situacóes que o povo de Deus foi atra-
vessando.

No tocante ao termo Papa deve-se dizer que vem do grego pappas


= pai. Nos primeiros sáculos era título atribuido aos Bispos como expres-
sáo de afetuosa veneracáo, veneracáo que se depreende dos adjetivos
"meu..., nosso..." que acompanham o título. A mesma designacáo podia
ser ocasionalmente atribuida também aos simples presbíteros (pais), como
acontecía no Egito do sáculo IV. No Oriente aínda hoje o sacerdote é
chamado papas. No Egíto o papas por excelencia é o Patriarca de
Alexandria.

O título de papa é dado ao Bispo de Roma já por Tertuliano (t 220


aproximadamente) no seu livro De pudlcitia XIII7, onde se lé: Benedictus
papa. É encontrado também numa inscricáo do diácono Severo (296-
304) achada ñas catacumbas de Sao Calixto, em que se lé: iussu
p(a)p(ae) sui Marcellini (por ordem do Papa ou pai Marcelino). No fim
do século IV a palavra Papa aplicada ao Bispo de Roma come?a a expri
mir mais do que afetuosa veneracáo; tende a tornar-se um título especí
fico. Tenha-se em vista a interpelacáo colocada por S. Ambrosio (f 397)
numa de suas cartas: "Domino dilectissimo fratrl Syriaci papae - Ao
senhor diletíssimo irmáo Siríaco Papa" (epístola 42). O Sínodo de Toledo
(Espanha) em 400 chama Papa (sem mais) o Bispo de Roma. Sao Vicente
de Lerins (f antes de 450) cita varios Bispos, mas somente aos Bispos
Celestino I e Sixto III atribuí o título de Papa.

No século VI o título tornou-se, com raras excecóes, privativo dos


Bispos de Roma.

Compreender a historia da vida, por André Steiger. Ed. Paulus,


Sao Paulo 1998, 140 x 210 mm, 265 pp.

O livro distingue nove aspectos da historia: o da materia, o da vida,


o da liberdade..., todos explanados com erudigáo. Todavía o autor julga
que o espirito nao é senáo materia aperfeigoada e defende a comunica-
gáo entre os mortos e os vivos, nao levando em conta a explicagáo
parapsicológica dos fenómenos espiritas. A propósito do citado livro "Os
Mortos nos falam" de Frangois Bruñe ver PR 361/1992, pp. 270-280.

366
Debate candente:

"A FALTA QUE O SEXO FAZ"


(O Globo)

Em sintese: O debate em torno da necessidade de usar o sexo


(genitalidade) continua candente. O jornal O GLOBO, em sua edigao de
30/04 pp., apresenta noticias e depoimentos que dáo idéia de como yai a
discussáo. Após apresentar tais testemunhos, as páginas subseqüentes
discorrem sobre a castidade, que é o uso da sexualidade segundo as leis
da natureza (que sao as leis do Criador). A castidade é fator de harmonia
e grandeza da personalidade.

O debate sobre a necessidade de vida sexual ativa ou genitalidade


continua aceso. O jornal O GLOBO, em sua edicáo de 30/04 pp., Cader-
no da Familia, pp. 1 e 2, traz noticias e depoimentos atuais sobre o as-
sunto; há quem afirme, em nome da psicanálise freudiana, e há quem
negué, na base da experiencia pessoal (nem sempre inspirada pela reli-
giáo), a necessidade de vida sexual. A seguir, proporemos os termos do
debate; após o qué, será explanada a nocáo de castidade como fator de
paz e harmonia interiores.

1. Pros e contras

Eis os principáis tópicos das duas citadas páginas de jornal:

«A FALTA QUE O SEXO FAZ

Pesquisa constata que as relagóes virtuais reduzem o contato físico

O imperativo do sexo1

Sexo faz falta? A julgar pela legláo de solitarios que vivem nave
gando na Internet, parece que nao. O pesquisador Norman Nie, da Uni-
versidade de Stanford, entrevistou mais de quatro mil adultos america
nos e descobriu que o contato físico está perdendo terreno para as rela-
góes virtuais. A pesquisa mostra urna mudanga de comportamento im-
pressionante, que pode ter origem nao apenas na expansáo da Internet,
mas também no medo do virus da Aids.

As conclusóes de Nie reforgam a polémica sobre a importancia do


sexo na vida cotidiana, abena com o langamento de urna obra monumen
tal de Alfred Kinsey, intitulada "Sexo, a medida de todas as coisas", Kinsey

1 Subtítulo da Redagáo de PR

367
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 459/2000

se tornou conhecido por um famoso relatório sobre o comportamento


sexual nos anos 50, duramente questionado pelo pesquisador, Jonathan
Gathorne Hardy. Segundo o relatório, o sexo era o único motor na vida de
homens e mulheres. O que Hardy mostra, agora, é que os americanos do
fím do milenio nao sao táo fixados em sexo quanto julgava Kinsey.

Dos quatro mil entrevistados pelo professor de Stanford, 20% se


confessaram internautas regulares, gastando pelo menos cinco horas
diarias na Internet. E25% confessaram passarmais tempo na Internet do
que com seus parceiros amorosos.

- Poucos estudos estáo analisando o impacto emocional do que


significa vivernum mundo com tantas pessoas solitarias. Quem passa o
tempo na Internet nao ouve voz humana nem recebe um abrago. Isto é
assustador em termos de interagáo social - diz Me.

Aínda nao há uma pesquisa semelhante no Brasil, mas os psicana-


listas alertam que a falta de sexo pode trazer problemas psicológicos.

- O desejo nao pode ser abolido. Se for recalcado no inconsciente


ou suprimido conscientemente, causa neuroses e angustias. A abstinen
cia interíere nos caminhos do desejo, o que sempre traz conseqüéncias
graves - diz o psicanalista Eduardo Losicer...

O psicanalista Eduardo Losicer comenta que o fato de os pacien


tes de Freud ficarem doentes por falta de satisfagáo sexual nao indica
que os estressados, os paranoicos, os compulsivos e os deprimidos do
século XXI reajam da mesma maneira. Se no século passado nao se
podía fazer sexo, hoje todos sao praticamente obrigados á sexualidade.

- No mercado norteado radicalmente pela satisfagáo do cliente nao


há opgáopela abstinencia. Impóe-se o gozo compulsivo. Neste universo,
o abstinente é considerado simplesmente excluido, radicalmente fora do
sistema. Deverfamos entender os novos abstinentes como resistentes
contra a ordem da satisfagáo a qualquer prego que impera nos nossos
dias? - indaga.

Para o psicanalista Renato Avzaradel, a opgáo pela abstinencia é


uma forma de automutilagáo emocional:

- As pessoas podem fazer esse tipo de escolha para evitar possí-


veis frustragóes, mas afabrem máo da vida, por nao se sentirem capazes
de amar e de ser amadas, o que considero a razáo mais poderosa. As
pessoas que fazem essa opgáo estáo doentes.

Para a psicanalista Lulli Milman, o que há é uma opgáo pela absti


nencia de relagoes afetivas mais profundas e constantes, nao de sexo.
Acho que abrir máo do sexo é abrir máo de uma possibiiidade de prazer

368
"A FALTA QUE O SEXO FAZ" 33

que a vida oferece a todos. Portante, para mim, esta opgáo significa um
desperdicio de vida. Partilhar amor e sexo é urna invengáo dos deuses.

Em contrario1

A atriz Lady Francisco discorda. Ela se diz abstinente de sexo há


N13 anos, gozando de boa saúde:

- Nunca fui chegada a sexo. Nao confessava por vergonha. Agora


tenho coragem de falar que viver sem sexo nao me fez mal.

A abstinencia foi a opgáo que a publicitaria Bia Neves encontrou


para dar um basta a relagóes frustrantes e afetivamente insatisfatórias:

- Nao agüento mais homens casados, que me trocam pela esposa


nos fins de semana. Hoje tenho pánico de me relacionar com alguém e
ser abandonada. A renuncia de sexo passa por ai.

A escritora Rose Marie Muraro considera urna questáo de saúde


mental fazer um mínimo de abstinencia sexual.

- Até os casáis tém que ter urna fase de abstinencia, para poder se
repensar, senáo fica tudo muito compulsivo, obrigatório. A verdadeira li-
berdade sexual é a sexualidade facultativa e o orgasmo facultativo. Se
náo vocé fica viciada na sexualidade.

Para o psicanalista Narciso Mello Teixeira, a abstinencia só é do-


entia quando se trata de urna fuga ao contato consigo mesmo, de um
pacto com o medo de enfrentar seus próprios entraves, ou de urna recu
sa de se sentir perdido no vendaval do amor».

Como se vé, a abstinencia sexual espontánea nem sempre é moti


vada por razóes de fé, mas simplesmente pelo bom senso ou pela expe
riencia do abuso sexual, que nao leva a pessoa á almejada felicidade ou
á esperada auto-realizacáo. É certo, pois, que a abstencáo sexual nao
causa doencas, a nao ser no caso em que o individuo se sugestione a tal
ponto que nao pode prescindir do sexo sem experimentar disturbios
psicofísicos. A abstinencia pode mesmo vir a ser fator de saúde, especi
almente no caso em que a pessoa a abrace por um ideal superior; a
aspiracáo a esse ideal polariza e sublima os impulsos naturais e faz que
o ser humano encontré sua plena satisfacáo na entrega amorosa nao a
um(a) parceiro(a) humano(a), mas ao Criador ou ao seu Polo Superior
de atracáo.

Estas consideracóes nos levam a discorrer sobre a castidade, sem


pretender desmerecer o valor do matrimonio legítimo.

Subtítulo da Redagáo de PR.

369
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 459/2000

2. Castidade

Examinaremos sucessivamente o sentido e os graus da castidade.

2.1. O sentido da Castidade

Chama-se castidade o reto uso das funcóes sexuais. Estas exis


te m no ser humano, por designio do Criador, a fim de proporcionar ao
homem e á mulher complementacáo mutua, da qual a prole é muitas
vezes a expressáo natural.

O Senhor Deus quis anexar as funcóes da natureza um prazer, que


tem o papel de estimular o exercício das mesmas. Assim á alimentacáo,
indispensável para a conservagáo do individuo, se liga um atrativo es
pontáneo. Também a vida sexual, necessária para a conservacao da es
pecie, é incentivada por um prazer anexo. Tal prazer é um concomitante,
e nao a finalidade das funcóes naturais. Acontece, porém, muitas vezes
que o individuo procure apenas o prazer, com exciusáo da finalidade do
mesmo - o que pode redundar em degradacao da pessoa humana; tal ó
o caso de quem come só pelo prazer de comer, e também o de quem
recorre á sexualidade apenas pelo prazer erótico. Quem se entrega a tal
prática, fácilmente se torna escravo de paixóes violentas, que humilham
a pessoa; as paixóes fazem capitular a razáo. Recorda S. Agostinho,
falando ao Senhor: "Adolescente muito miserável, sim, miserável no limi-
ar mesmo da adolescencia, eu Vos pedirá a castidade. Dissera: 'Dai-me
a castidade, a continencia, mas nao ma deis de ¡mediato'. Sim; eu rece-
ava que, se me atendésseis logo, me curarfeis dessa doenca da concu
piscencia, que, em última instancia, eu quería alimentar mais do que do
minar" (Confissdes VIII 7). Depois de certo tempo, as paixóes enojam o
individuo, sem que veja como libertar-se de tal situacáo. É Sao Hago
quem diz: "Cada qual é tentado pela própria concupiscencia, que o arras-
taeseduz"(Tg 1,14).

A castidade nao é a primeira das virtudes; a primeira, a que está na


base da vida crista, é a fé. A consumacáo desta ó a caridade, que Sao
Paulo chama "o vínculo da perfeicáo" (Cl 3, 14). A castidade, porém,
suscita o clima necessário para que estas duas virtudes desabrochem e,
com elas, as demais. Isto é evidente no que concerne a fé: muitas vezes
os afetos desregrados prejudicam o modo de pensar da pessoa; diz mui
to sabiamente o ditado popular: "Quem nao vive como pensa, acaba pen
sando como vive"; S. Agostinho observa que, enquanto cedía as paixóes,
nao conseguía encontrar a verdade (Confissóes X 41). Também a cari
dade (o amor) se ressente da falta de castidade, pois o homem carnal se
torna egoista, manipulador, fechado aos interesses alheios. A vida casta
é bela, pois permite a manifestacáo do especifico humano, ou seja, per
mite a elevacáo das funcóes vegetativas e sensitivas ao plano espiritual;

370
"A FALTA QUE O SEXO FAZ" 35

sem ser sufocadas, tais fung 3es entram na construcáo de alguém que foi
feito á imagem e semelhan?a de Deus.

2.2. Graus de Castidade

Distinguem-se diversos graus e modalidades de vida casta: a pre


matrimonial, a matrimonial, a consagrada a Deus e a pós-matrimonial.

1) A castidade pré-matrimonial consiste na abstencáo do uso do


sexo. Verdade é que o indivfduo durante a vida inteira é marcado pelas
características masculinas ou femininas do seu sexo (timbre de voz, tipo
de pele, de máos...), das quais ele nao se pode ¡sentar; mas nem por isto
está obrigado ao exercício da sexualidade, que se chama "a genitalidade".
Sem dúvida, há quem julgue que este é obrigatório desde que desperté o
apetite sensual no adolescente; tal concepcáo é falsa; ao contrario, está
comprovado que a continencia pré-matrimonial é fator de saúde e pe-
nhor de fidelidade e felicidade no casamento. Para conseguir viver a cas
tidade pré-matrimonial, o jovem há de estabelecer a hierarquia dos valo
res, nao se deixando levar pela errónea concepc. áo de que a castidade é
um imperativo inexorável; convenca-se do contrario, e terá éxito, pois a
mais poderosa "glándula sexual" do homem é o cerebro, com o qual pen
samos e com o qual concebemos imagens e fantasías. A Vitoria sobre as
paixóes desregradas requer também o treinamento da vontade, que deve
ser bastante forte para dizer Sim e dizer Nao quando o bom senso o
exija. A propósito muito se recomenda o livro de Joao Mohana: Vida Se
xual dos Solteiros e Casados. Ed. O GLOBO, Porto Alegre-Rio de Ja
neiro.

2) A castidade matrimonial consiste em que os cónjuges prati-


quem a genitalidade em respeito mutuo, sem concessáo a afetos
desordenados, e em conformidade com as leis da natureza. Em conse-
qüéncia, o sexo oral, o sexo anal e o homossexualismo, por serem aber-
racoes que ferem a natureza, sao rejeitados pela Lei de Deus. Todavía
nao é vedado aos esposos desejosos de evitar filhos manter relacóes
sexuais quando a própria natureza é estéril; nisto nao há derrogacáo as
normas do Criador, que propiciam periódicamente ao organismo femini-
no um repouso necessário á saúde.

3) A castidade consagrada, nos casos femininos, é chamada vir-


gindade consagrada {embora possa existir após a perda, voluntaria ou
involuntaria, da virgindade física). Nos casos masculinos, é o celibato.
Consiste na entrega de todo o ser humano com seus afetos diretamente
ao Senhor e ao servico do seu Reino. Corresponde a urna vocac.áo espe
cial e supóe um dom próprio do Senhor (cf. 1 Cor 7, 7); nao implica me-
nosprezo do matrimonio, que é santificado por um sacramento, mas, de
certo modo, vem a ser baliza ou referencial para todos os cristáos, pois

371
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 459/2000

todos, direta ou indiretamente, sao chamados a se consagrar ao Senhor


e aos interesses do seu Reino.

4) A castidade pós-matrimonial ou da viuvez também é bela; tem


seu prototipo na figura bíblica de Judite, a viúva fiel ao Senhor, que sal-
vou seu povo, munida de um dom especial. Sao Paulo, em suas epísto
las pastorais, atribuí ás viúvas na Igreja fungues próprias, corresponden
tes á sua experiencia de vida (cf. 1Tm 5, 3-16).

3. Conclusáo

A castidade é preciosa especialmente em nossos días, quando


muitas pessoas, impelidas pelo erotismo, se tornam vítimas do vazio e
da frustracáo, e nao véem mais sentido para a sua vida; as drogas e o
suicidio as ameacam. A prática da castidade é um sinal que chama a
atencáo, pois mostra que alguém pode ser plenamente feliz e realizado
atendendo a outros apelos que nao os das paixóes desregradas; mani-
festam-se assim outros valores que o Senhor Jesús apregoou e o Apos
tólo Sao Paulo explanou muito enfáticamente (cf. Mt 19,12; 1Cor 7, 25-
35). É em Deus e na fidelidade incondicional aos seus designios que a
criatura encontra a sua consumacáo.

Para poder viver a castidade, recomendam-se tres elementos mui


to importantes: 1) a educacáo da vontade, sem a qual ninguém atinge
meta alguma; é ilusorio crer que, dizendo Slm a todos os impulsos, al
guém possa conseguir felicidade e auto-realizacáo; 2) o pudor, que é o
respeito pelo corpo, templo de Deus; é também a delicadeza de ánimo,
que reconhece o sentido transcendental das funcóes que o homem tem
em comum com os outros viventes na térra; 3) a oracáo, fonte de torga e
nobreza de ideal para todos os homens; nunca pode faltar na vida de um
cristáo, pois é a alavanca que o ajuda a sair de toda fossa e encruzilhada
e Ihe comunica o indizível sabor da presenca de Deus, muito mais atra-
ente do que qualquer outro.

APÉNDICE
O Catecismo da Igreja Católica tem belos parágrafos sobre a cas
tidade, dos quais vao, a seguir, extraídos os mais significativos dizeres:

«2337 A castidade significa a integracáo correta da sexuali


dad e na pessoa e com isso a unidade interior do homem em seu
ser corporal e espiritual.

A virtude da castidade comporta, portanto, a integridade da


pessoa e a integralidade da doacáo.

2339 A castidade comporta urna aprendizagem do dominio de si,


que é urna pedagogía da liberdade humana. A alternativa é clara:

372
"A FALTA QUE O SEXO FAZ" 37

ou o homem comanda suas paixóes e obtém a paz, ou se deixa


subjugar por elas e se torna infeliz. A dignidade do homem exige
que ele possa agir de acordó com urna opcáo consciente e livre,
isto é, movido e levado por convicgáo pessoal e nao por forca de
um impulso interno cegó ou debaixo de mera coacio externa. O
homem consegue esta dignidade quando, libertado de todo cati-
veiro das paixóes, caminha para o seu fim pela escolha livre do
bem e procura eficazmente os meios aptos com diligente aplica-
cáo.

2340 Aquele que quer permanecer fiel as promessas do Batismo e


resistir as tentacóes empenhar-se-á em usar os meios: o conhe-
cimento de si, a prática de urna ascese adaptada as situacóes em
que se encontra, a obediencia aos mandamentos divinos, a práti
ca das virtudes moráis e a fidelidade á oracáo. A castidade, com
efeito, nos recolhe, reconduzindo-nos á unidade que perdemos
quando nos dispersamos na multiplicidade.

2341 A virtude da castidade deve ser comandada pela virtude car-


deal da temperanga, que tem em vista impregnar de razao as
paixóes e os apetites da sensibilidade humana.

2342 O dominio de si mesmo é um trabalho a longo prazo. Nunca


deve ser considerado definitivamente adquirido. Supóe um esfor-
90 a ser retomado em todas as idades da vida. O esforco neces-
sário pode ser mais intenso em certas épocas, por exemplo, quan
do se forma a personalidade, durante a infancia e a adolescencia.

2343 A castidade tem leis de crescimento, o qual passa por graus,


marcados pela imperfeicáo e muitas vezes pelo pecado. Dia a dia
o homem virtuoso e casto se constrói através de opcóes numero
sas e livres. Assim, ele conhece, ama e realiza o bem moral se-
guindo as etapas de um crescimento.

2345 A castidade é urna virtude moral. É também um dom de Deus,


urna graga, um fruto da obra espiritual. O Espirito Santo concede
o dom de imitar a pureza de Cristo aquele que foi regenerado
pela agua do Batismo.

2348 Todo batizado é chamado á castidade. O cristáo "se vestiu


de Cristo" (Gl 3, 27), modelo de toda castidade. Todos os fiéis de
Cristo sao chamados a levar urna vida casta segundo o seu espe
cífico estado de vida. No momento do Batismo, o cristao se com-
prometeu a viver sua afetividade na castidade.

2349 A castidade há de distinguir as pessoas de acordó com seus


diferentes estados de vida: urnas na virgindade ou no celibato

373
38 TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 459/2000

consagrado, maneira eminente de se dedicar mais fácilmente a


Deus com um coracáo nao dividido; outras, da maneira como a
lei moral determina, conforme forem casados ou celibatários. As
pessoas casadas sao convidadas a viver a castidade conjugal; os
outros praticam a castidade na continencia:

«Existem tres formas da virtude da castidade: a primeira dos


esposos, a segunda da viuvez, a terceira da virgindade. Nos nao
louvamos urna délas excluindo as outras. Nisso a disciplina da
Igreja é rica» (S. Ambrosio).

2350 Os noivos sao convidados a viver a castidade na continen


cia. Nessa provacáo eles veráo urna descoberta do respeito mu
tuo, urna aprendizagem da fidelidade e da esperaba de se rece-
berem ambos da parte de Deus. Reservaráo para o tempo do
casamento as manifestacóes de ternura específicas do amor con
jugal. Ajudar-se-áo mutuamente a crescer na castidade».

Continuagáo dap. 381

Ah! Serei ateu! Passarei para a irreligiáo! O Jesús em que acredi-


tei mentiu para mim! Oh, judeus! Acolhei-me em vosso meio, abracai-me
em vossas sinagogas! O Messias nao chegou! Jesús mentiu!

Bendito sejas, Caifas, por teres denunciado um falso Cristo!


Barrabás! Bendita a tua libertacao! Judas! Judas! Por que tiraste a pró-
pria vida? Morreste por um farsante! Ñero! Ñero! A humanidade te será
eternamente grata por teres usado da tua forca para exterminar os segui
dores de um embusteiro que se dizia Redentor.

Nao soubesse eu, senhores, que a assisténcia divina é infalível e


que tem, pelos séculos, preservado a Igreja de todas as heresias, e estes
brados de revolta soariam os mais justos e louváveis. Mas sei que a Igre
ja, um dia edificada sobre a Rocha, jamáis renegou os ensinamentos que
recebeu, porque nela atua aquele que é a própria Verdade, mesmo que
assim nao o queiram as vossas incontáveis denominacoes, que, nao ten-
do Deus Cristo por fundador, jazem impotentes ante um turbilháo de con-
tradicóes doutrinárias»".

Fábio Moráis

374
Terapia e Mística:

YOGA: QUE E?

Em síntese: Segundo recentes noticias, a Yoga está sendo muito


cultivada no mundo ocidental, inclusive no Brasil. Para avallar devida-
mente a Yoga, é necessárío distinguir as suas concepgóes fílosófico-reli-
giosas e os exercfcios corporais que elas inspiram. A filosofía yogui é
panteísta - o que nao se coaduna com a fé católica. Os exercfcios físi
cos, porém, ditados pela Yoga sao, religiosamente falando, neutros, de
modo que podem ser praticados por um cristáo sem prejuízo para a sua
fé. Acontece contudo que os mestres de Yoga costumatn transmitir aos
discípulos sua cosmovisáo panteísta, ao mesmo tempo que Ihespropóem
o respectivo treinamento corporal.

Tem-se noticia de que a Yoga vem sendo mais e mais praticada


especialmente por pessoas afetadas de preocupacóes e exaustáo; ¿con
siderada urna terapia muito salutar. Todavía pergunta-se: é compatível a
prática da Yoga com o pensamento religioso cristáo? Pode um fiel cristáo
seguir os ditames da Yoga? - É a tais questóes que responderáo as
páginas subseqüentes.

1. A Noticia

Eis o que se lé na revista VEJA, edicáo de 26/4/00 p. 26:

"A velha ioga, quem diría, está voltando á moda. As ginásticas de


que o brasileiro mais gosta atualmente sao aquetas que imitam lutas
marciais, técnicas de circo ou movimento de danga - masjá nao há aca
demia de prímeira linha que deixe de oferecer sessóes de ioga, sobretu-
do da versáo energética chamada power ioga. Nos Estados Unidos, onde
nascem os modismos que depois causam furor por aqui, tornou-se urna
nova febre entre as celebridades. O roqueiro Sting e a atriz Gwyneth
Paltrow foram fotografados em posigáo de lótus. A popstar Madona nao
apenas representa urna professora de ioga no filme Sobrou pra Vocé,
com estréia no Brasil prevista para o próximo mes, como a pratica na vida
real. O que está atraindo toda essa gente é a promessa de cuidar nao só
do corpo mas também aliviar a cabega. Isso explica por que as salas de
aula estáo cheias de gente que deixou a gravata pendurada no vestiario.
"Eu comecei de mansinho e hoje fago tres vezes por semana", diz Aldo

375
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 459/2000

Leone Filho, vice-presidente da agencia de viagens Agaxtur. 'É a única


hora do dia em que consigo tirar o celular do bolso. A ioga está me dei-
xando muito mais tranquilo'".

2. Que dizer?

Muitos perguntam em nossos dias: será lícito a um cristao praticar


a yoga? Nao seria isso urna concessáo ao paganismo? É o que vamos
abordar, propondo, antes de mais nada, urna nocáo do que vem a ser a
yoga.

A palavra "yoga" tem origem hindú e exprime a idéia de ligar, unir.


Em portugués, deu jugo, conjugar, juntar. Em linguagem hinduísta, sig
nifica a uniao do homem aparente, tal como o conhecemos, com a reali-
dade profunda que se acha latente dentro de cada individuo.

A yoga nasceu na India, num contexto panteísta. O panteísmo é a


teoría que ensina que tudo (pan, em grego) é Deus {Théos, em grego). O
panteísmo afirma que dentro do ser humano existe urna centelha da di-
vindade, encarcerada no corpo humano e tendente a se libertar da mate
ria. Para conseguir a libertacáo do corpo, o homem deve, segundo a
filosofía hinduísta, praticar um conjunto de exercícios físicos e respirato
rios; deve também observar um regíme alimentar que Ihe proporcione o
dominio sobre a materia e a possibilidade de se desprender do corpo ou
desencarnar definitivamente. Enquanto a centelha da divindade (ou o
espirito humano) conserva algum apego ao corpo, deve-se encarnar e
reencarnar para exercer seu autodominio, pagar suas faltas passadas e
assim preparar sua desencarnagáo definitiva.

Ora, o conjunto de exercícios físicos e respiratorios que o hindú


pratica para conseguir dominar o corpo, chama-se yoga; constitui a técnica
da yoga. Esta técnica compreende posturas do corpo ditas "asanas", que
estimulam o metabolismo, ativam a circulacáo do sangue, favorecem o
funcionamento das glándulas e acalmam os ñervos. Proporcionam, as
sim, paz de espirito e bem-estar físico, que facilitam a concentracáo. A
yoga também recomenda o controle da respiracáo, pois esta tem impor
tancia em nossos fenómenos vitáis; ela influencia o funcionamento dos
nossos órgáos e é por eles influenciada.

2.1. Meditacáo: mente vazia e identificacáo com a divindade

Notemos ainda que o yogui (aquele que pratica a yoga) hindú tem
em vista, mediante os exercfcios corpóreos, realizar a sua meditacáo.

Meditacáo, para o hinduísta, nao é o mesmo que para nos, cris-


táos; nao significa reflexáo, aprofundamento de um tema que leve á ora-
cáo. Meditacáo, para o hinduísta, é o esvaziamento da mente; é fazer da

376
YOGA: QUE É? 41

mente urna folha branca ou urna tábua rasa. Assim pensa o yogui se
libertar do rebolico do mundo sensível e entrar em repouso, identifican-
do-se mais e mais com a divindade.

Para esvaziar a mente das coisas sensíveis e concentrá-la na cen-


telha divina que está dentro do homem, o yogui hindufsta recorre, entre
outras coisas, ao método dito "da japa" ou á repeticáo continua de urna
prece, de um nome santo ou de um versículo tirado dos livros sagrados
da India. Assim: "Eu sou Brahmart', "Eu sou a consciéncia mesma", "Eu
sou isso", "Eu sou aquilo"... Essas palavras devem entrar pelos ouvidos
do orante e atingir o seu subconsciente; aí, dizem, as palavras fazem
surgir a divindade ou provocam urna especie de obsessáo, que elimina
da mente toda idéia profana.

Sao muitas as possíveis combinacóes de exercícios físicos ensi-


nados pela yoga. O uso desses métodos é condicionado pelo tipo ou
pela índole pessoal do aprendiz: em uns predomina a atividade intelectu
al consciente, em outros a necessidade do trabalho e da dedicagáo, em
outros ainda o desejo de ascese e disciplina. De acordó com essas diver
sas categorías de temperamento, distinguem-se correntes de yoga diver
sas: a Yoga do Conhecimento, a da Dedicacáo, a da Agáo, a Yoga Regia,
a Hata-Yoga, etc.

2.2. A filosofia e a técnica da yoga: aspectos distintos

Perguntamos agora: é lícito a um cristáo praticar a yoga? Em res-


posta, facamos urna distincáo entre a filosofia da yoga e as técnicas res
pectivas.

Como podemos ver, a filosofia da yoga nao é crista, pois professa


o panteísmo e a reencarnacáo, duas concep^óes que nao se coadunam
nem com a mensagem do Evangelho, nem com a sá razáo.

Com efeito, dizer que Deus é tudo o que vemos, ou dizer que tudo
é Deus, é urna aberracáo. Pois o que vemos é temporal, mutável, relati
vo, ao passo que, por definicáo, Deus é eterno, imutável, absoluto. Ora,
nao há continuidade entre o temporal e o Eterno, entre o relativo e o
Absoluto. Ademáis, Deus nao tem parcelas nem centelhas, porque Ele
nao tem quantidade nem extensáo.

Também a teoria da reencarnacáo carece de fundamento lógico.


Ninguém pode dizer que pecados cometeu numa encarnacáo anterior, e
muito menos que deve expiá-los na vida presente. Se fosse assim, esta
ríamos pagando por faltas que ignoramos, o que nao é pedagógico.

Além do mais, para o cristáo o mundo nao é mau, nao é ilusáo,


nem o corpo é cárcere. Deus é o Criador de tudo o que existe; Ele fez

377
42 TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 459/2000

todas as coisas boas. O pecado é que trouxe a desordem a este mundo.


Porconseguinte, nao é possfvel a um cristáo abracar a filosofía hinduísta,
dentro da qual teve origem a yoga.

Acontece, poróm, que a yoga ensina exercícios corporais e regras


de saúde que podem ser assumidos independentemente da respectiva
filosofía. Nao há dúvida, as energías do nosso organismo podem ser apro-
veitadas de maneira mais racional, beneficiando o nosso metabolismo.
Ora, os orientáis tém explorado muito esse tipo de medicina natural, uti
lizando os recursos do próprio corpo para restaurar ou fortalecer a saúde
do organismo. Tal é o caso da yoga e da acupuntura.

Por isso, pode-se dizer que é lícito a um cristáo recorrer as práticas


da yoga e da acupuntura, contanto que guarde o seu modo de pensar
genuinamente cristáo. Os exercícios corporais sao algo de neutro do ponto
de vista religioso; assim, podem ser utilizados numa perspectiva auténti
camente crista. Existe mesmo um livro de um autor católico chamado
Yves Monchanin, que se diz "o yogui de Cristo" e narra os bons resulta
dos corpóreos obtidos mediante a yoga, na sua obra La Voie du Silence
(A Via do Silencio), de 1956.

É preciso, porém, observar que muitos dos mestres de yoga que


no Brasil dáo aulas de exercícios, insinuam a filosofía pantefsta e as con-
cepcóes náo-cristás que alimentam a yoga em seu berco hinduísta. As
sim, insensivelmente váo passando para os seus discípulos as nocóes e
teorías originarías do panteísmo ou a idéia de que o nosso verdadeiro eu
é divino, e temos que o descobrir medíante as posturas do corpo, o silen
cio, a repetícáo de certos vocábulos ou mantras... Muitos católicos
despreparados váo absorvendo essas concepcóes, sem se dar conta de
que nao se compatíbílízam com a fé católica.

Daí a importancia da distincáo entre os exercícios ou a técnica da


yoga (coísa neutra, do ponto de vista religioso) e a filosofía dos mestres
hindúístas (de índole panteísta, náo-crístá). Quem assim distingue, pode
praticar a yoga, sabendo que se trata de urna terapia, um tratamento de
saúde, e nao urna mística ou um método de medítacáo.

O cristianismo tem seus próprios métodos de meditacáo, ensina-


dos por Santo Inácío de Loyola, Santa Teresa de Ávila, Santo Afonso
María de Ligórío... Sao os frutos de urna venerável tradicáo que formou
urna multidáo de santos e santas, heróis e heroínas.

378
FIRMA PROCTER E GAMBLE DESMENTE

Tem sido divulgada no Brasil a denuncia de que afirma multinacional


Procter e Gamble tem ligacóes com urna seita satánica norte-americana.
A noticia tem impressionado muitos fiéis católicos, desejosos de esclare-
cimentos. - Ora a própria firma encarregou-se de desfazer os equívocos,
enviando á Curia Arquidiocesana de Niterói a Nota de Esclarecimento
que vai transcrita nesta página.

Nota de Esclarecimento

"Conforme contato telefónico, estamos Ihe enviando material a fim


de esclarecer a veracidade dos fatos relativos aos absurdos rumores de
que a Procter & Gamble tem sido vítima. Vítima, principalmente de pes-
soas que passam adiante informacóes sem antes investigarem a veraci
dade ou nao da informacáo. Vamos aos fatos:

A Procter & Gamble é urna organizacáo com mais de 160 anos de


tradicáo, atua em 140 países e tem um compromisso moral e ótico para com
seus empregados, o público consumidor e as comunidades em que atua.
Presente no Brasil desde 1988, a empresa sempre resguardou a integrida-
de de seus negocios e a qualidade de seus produtos, e jamáis teve suas
atividades influenciadas por qualquer outro tipo de abordagem religiosa.

Diante disso, a Procter & Gamble gostaria de esclarecer que ja


máis manteve ou mantém qualquer ligacáo com aquela suposta Igreja. Ane
xamos copia da declaracáo do próprio Phil Donahue e do programa Sally
Jessy Raphael afirmando que 'o presidente da Procter & Gamble nunca
apareceu no programa, nem qualquer outro executivo da Procter & Gamble1.
Tal informacáo infundada já foi veiculada em ocasióes anteriores e
sempre desmentida pela empresa, de forma enfática e inequívoca. Soli
citamos a sua colaboracáo em apresentar a verdade á sua comunidade,
amigos e familiares.

Todas as informacóes sobre esse rumor estáo devidamente


explicadas e registradas através do site, em inglés, http://www.pg.com/
rumor.

Agradecemos antecipadamente e ficamos á disposicáo através do


telefone (11) 3748-0305 para esclarecer quaisquer dúvidas adicionáis.
Atenciosamente,

Sylvia Weiss Chan - Coordenadora do Dept0 de Relacóes Exter


nas da Procter e Gamble do Brasil".

379
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 459/2000

CARTA ABERTA AOS PROTESTANTES

Eis o texto que foi enviado á Redacáo de PR pelo Sr. Fábio Moráis,
a quem PR agradece cordialmente:

«Vos dizeis que a Igreja Católica apostatou, que o paganismo, como


um tufáo incontrolável, Ihe penetrou todos os recantos, e, qual um car
rasco impiedoso, nao poupou nenhum dos seus membros. A acusacáo é
grave, e exige provas indiscutíveis. E que provas, senhores, me podereis
apresentar? Eu vos direi: Alegareis o culto da Virgem María, o purgatorio,
a veneracáo das imagens e outras tantas doutrinas e práticas que o pro
testantismo, no seu odio incontido á Igreja Romana, repudiou. Ora, des
de quando o repudio do protestantismo serve como prova de alguma
coisa? Diréis que a Biblia se opóe a essas doutrinas e práticas. Mas
quem o disse? O protestantismo? Entáo voltamos para o mesmo lugar,
visto que nao me serve o repudio do vosso protestantismo, assim como
nao vos servem as afirmacóes do meu Catolicismo. É tudo urna questáo
de interpretacáo. Se disserdes, portanto, que tais coisas sao contrarias
ás Escrituras, eu vos responderei que nao sao, e, se apontardes textos
que, na vossa opiniáo, favorecem o que sustentáis, vos direi que o vosso
próprio entendimento vos traiu, e indicarei mil outras passagens a con
trastar com o que pensáis ser a verdade. Por vossa vez, certamente me
acusareis de torcer miseravelmente a Palavra de Deus. O que restará,
pois? Nada além de afirmacóes contra afirmacoes e interpretares con
tra interpretacoes. Tudo findará numa contenda inútil, dessas que
embrutecem o espirito e ensoberbecem a inteligencia, já táo inclinada á
vaidade.

Nao, senhores! Devemos partir de um ponto que nos seja pacífico,


de urna premissa que todos admitamos. Somente assim saberemos com
quem está a verdade e onde reside o erro.

Afirmáis a paganizacáo da Igreja, e eu nao me incomodo em


concedé-lo por um momento. A Igreja Católica apostatou? Seja. Ora, se
veio a apostatar, é porque, de fato, nao era ainda apóstata. Quem diz
apostasia diz a passagem de urna realidade para outra diametralmente
oposta. O ato de apostatar exige urna condicao previa inteiramente in-
compatível com a apostasia. Assim como urna barra de ferro só se pode-
rá esquentar se estiver fria, e um pedaco de madeira só se poderá partir
se estiver inteiro, e um homem só poderá morrer se estiver vivo, também

380
CARTA ABERTA AOS PROTESTANTES 45

a Igreja Católica só poderia apostatar se estivesse em algum momento


livre de apostasia; só poderia paganizar-se se nao estivesse paganizada
ainda. Negareis o obvio? Nao o creio.
Muito bem. Mas se um dia a Igreja nao foi apóstata, se nao era
paganizada em algum momento da historia, segue-se que foi um dia le
gítima, auténtica, verdadeira. Se era verdadeira, era, por conseguinte, a
Igreja de Jesús Cristo, pois que nao havia outra. Temos, entáo, que essa
Igreja que chamáis apóstata, foi em alguma época a verdadeira Igreja,
pura ñas suas doutrinas e práticas. Negareis o obvio? Nao o creio.
Mas afirmáis que ela apostatou. Como? A verdadeira Igreja pode
ria alguma vez apostatar? É aqui, senhores, que a vossa afirmacáo des
morona como um imenso castelo de areia firmado na flacidez do chao
molhado da praia. Desde quando a Igreja poderia apostatar? Nunca! Je
sús Cristo teria sido um mentiroso, um impostor, e mui justa seria a sen-
tenca condenatoria exarada por Póncio Pilatos e a acusacáo vinda da
parte do Sinedrio. Mas isso ninguém jamáis cogitou. Justo foi Pilatos?
Justo o Sinedrio? Impossível!
As promessas neotestamentárias da assisténcia divina á Igreja, por
outro lado, sao muitas e claras.
Ao dizer a Pedro do estabelecimento da Igreja, o Salvador garantiu
que as portas do inferno nao prevaleceriam contra ela (cf. Mt 16, 18).
Ora se a Igreja depois disso apostatou, deixando de ser a verdadeira
Igreja, segue-se que as portas do Inferno prevaleceram e Jesús foi um
falso profeta. Em outra ocasiáo, pouco antes de ascender, o Senhor dis-
se aos apostólos que ficaria com eles "até a consumacáo dos seculos
(Mt 28, 20). Mas o que seria desta presenca sempre continuada, se o
paganismo depois invadisse a Igreja e a corrompesse até os seus funda
mentos?
Sabendo da proximidade da sua ida para junto do Pai, Jesús falou
do Espirito Santo: "Eu rogare! ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito,
para que fique eternamente convosco" (Jo 14, 16; aínda: 14, 26; 15,
26). Mas onde, senhores, a eficacia da atuacáo deste Paráclito se
apostatasse a Igreja?

Ah galileu! Se a Igreja apostatou, nao passaste de um traidor mi-


serável que nos ludibriou a todos! Prometeste que as portas do Inferno
jamáis prevaleceriam, mas a Igreja apostatou. Prometeste a tua ¡asis
tencia até o final dos séculos, mas a Igreja apostatou. Prometeste o Espi
rito da verdade para que ficasse eternamente, mas a Igreja apostatou.
Continua na p. 374

381
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 459/2000

"OS JUDEUS DO VATICANO"


por Avraham Milgram

O livro traz o interessante subtítulo "A tentativa de salvacáo de ca


tólicos - náo-arianos - da Alemanha ao Brasil através do Vaticano (1939-
1942)". O autor nasceu na Argentina (1951); foi educado no Brasil (Curitiba
e Sao Paulo) e vive em Israel desde 1973. Bacharelou-se em Historia do
Povo Judeu e completou o Mestrado no Instituto de Judaismo Contem
poráneo (ambos na Universidade de Jerusalém), especialmente abor
dando a temática do genocidio e suas implicacóes com o Novo Mundo
Escreveu algumas obras sobre a historia do Judaismo, entre as quais
"Os Judeus do Vaticano" (Ed. I mago, Rúa Santos Rodrigues 201-A Rio
de Janeiro - RJ, 1994,140 x 21 Omm, 173 pp).

Em síntese, o autor lembra que em 1938 na Alemanha as atitudes


anti-semitas do governo nacional-socialista de Adolf Hitler alcancaram
ym fanatismo até entáo nunca visto. Nesse período foi implementada a
"arianizacáo" (nacionalizacáo das propriedades, dos negocios e industri
as de judeus), e aumentou tremendamente o envolvimento da S. S. nos
assuntos judaicos, visando á saída de judeus da Alemanha e da Austria.
Neste último país, o tratamento dado á populacáo judaica caracterizou-
se por violencias, desapropriacóes e expulsoes sob a maestría de Adolf
Eichman; os suicidios foram muitos. Estas medidas culminaram na
famigerada "Norte de Cristais" (9-10 de novembro de 1938), na qual mais
de mil sinagogas foram depredadas, queimadas e destruidas, e aproxima
damente trinta mil judeus foram aprisionados em campos de concentracáo.
Em vista disto, nos primeiros meses de 1939 o Vaticano e as insti-
tuicóes católicas da Alemanha iniciaram as suas atividades no sentido
de salvar cidadáos judeus, fazendo-os emigrar para o Brasil.
No dia 31 de marco de 1939, duas personalidades eminentes da
Igreja Católica na Alemanha, o Cardeal-arcebispo de Munique, Faulhaber,
e o Bispo de Osnabruck, Mons. Berning, dirigiram-se, separadamente'
ao recém-eleito Papa Pío XII, a fim de que intercedesse em favor da'
causa judaica. O Papa foi solicitado a obter do Governo brasileiro e es
pecíficamente, do seu presidente Getúlio Vargas a concessáo especial
de 3.000 vistos a católicos náo-arianos ou de sangue judaico residentes
na Alemanha.

As duas cartas assim enviadas ao Papa revelam que os dois Prela


dos haviam verificado, durante o ano de 1938 (antes, portanto, da elei-
382
"OS JUDEUS DO VATICANO" 47

cao de Pío XII, que se deu aos 12/3/39), a possibilidade de encaminhar


as vítimas católicas náo-arianas da Alemanha a outros países como Austra
lia, Argentina, Estados Unidos e Palestina (Israel sob mandato británico).
Apesar da oposigáo do Conselho de Imigracáo e Colonizacáo do
Brasil o presidente Getúlio Vargas e o Ministro Osvaldo Aranha decidi-
ram nao contrariar a vontade do Papa. Concederam 2.000 vistos a ser
distribuidos pelo Embaixador do Brasil em Berlim, Ciro de Freitas Vale, e
1.000 vistos que seriam outorgados pelo Embaixador do Brasil junto a
Santa Sé, Hildebrando Accioly.
Todavía após tal concessáo, nao tardaram a surgir dificuldades
levantadas pelo próprio Governo Brasileiro. Primeiramente, exigiu que
os candidatos á imigracáo viessem próvidos de urna quantia de dinheiro
que a política de arianizagáo do governo nazista nao Ihes permitía pos-
suir Posteriormente, foi negada acolhida a familias mistas, ñas quais um
dos cónjuges fosse judeu nao batizado. Ao chegarem os pnmeiros imi-
grantes ao Brasil, foi levantada a suspeita quanto á origem legal de suas
certidóes de Batismo. Outros embargos foram ulteriormente formulados-
Tais fatores resultaram em que somente mil vistos aproximadamente
foram concedidos pelo Governo brasileiro em resposta ao pedido de Pío
XII- foram, sim, os vistos que estavam em poder do Embaixador
Hildebrando Accioly. Os dois mil restantes foram "congelados" pelo Em
baixador do Brasil em Berlim. Afinal a autoridade de Pió XII e dos seus
colaboradores nao foi capaz de derrubar a resistencia anti-semita de au
toridades brastleiras.
O livro de Avraham Milgram relata as peripecias dessa historia com
farta documentacáo, que torna a leitura de obra muito elucidativa. As pp.
32-55 aprésenla os nomes dos ¡migrantes que obtiveram o visto e entra-
ram no Brasil a pedido da Igreja Católica, figurando ai os nomes de pes-
soas que se tornaram famosas no Brasil. - O livro nao deixa de apreciar
positivamente a obra de Pió XII:
-A nomenclatura de que trata o presente trabalho, embora exigua,
poderla ser denominada 'a Lista de Pió XII'... O episodio da segunda
guerra mundial foi um gesto solidario e piedoso da Igreja Catohca (Alberto
Diñes, no Prefacio, p. 11).
"A idéia da salvagáo dos católicos náo-arianos surgiu num momen
to em que as perseguigóes raciais nazistas do pré-guerra chegaram ao
auge, após o fatídico ano de 1938.
O Vaticano tomou para si o amparo de um público que, expelido da
sociedade alema, viu na emigragáo a única saída capaz de outorgar a
383
1! "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 459/2000

seus protegidos urna vida digna. Este assunto, que ocupou grande parte
da correspondencia do Vaticano durante os anos 1939-1940, foi, sem
dúvida, o projeto humanitario que mais preocupou a Santa Sé nesté perí
odo. ^

O Brasil aceitou o pedido do Papa Pió XII nao por consideragóes


humanitarias, mas por questóes diplomáticas de bom relacionamento com
a lideranga espiritual do Catolicismo universal. Paralelamente, esquivou-
se hábilmente das pressdes feitas pelas potencias democrático-liberais
para que aceitasse judeus refugiados. Foi o jeito encontrado para conci
liar diplomacia e ideología" (Avraham Milgram, p. 157).
Em suma, o livro é valioso, porque póe em relevo mais urna faceta
do empenho do Papa Pió XII em prol da salvacao dos judeus persegui
dos pelo nacional-socialismo. Verdade é que se tratava de judeus con
vertidos ao Catolicismo; todavía o título de convertidos nao significa que
o gesto do Papa nao tenha sido urna atitude humanitaria para com Israel;
apresentando ao Governo brasileiro judeus feitos católicos, o Papa tinhá
mais probabilidade de ser aceito1. O livro evidencia tambóm a acáo de
outros prelados e de instituicoes da Igreja em favor do povo israelita per
seguido. Mostra outrossim que, se as metas almejadas nem sempre fo-
ram alcanzadas, o fracasso (ainda que parcial) se deve a fatores inde-
pendentes da vontade do Papa e de seus assessores.

Congratulamo-nos com Avraham Milgram e a Editora Imago pela


publicacáo de tal obra, que desvenda aspectos da historia insuficiente
mente conhecidos do grande público.

Estéváo Bettencourt O.S.B.

Escola de Fé, I - A Sagrada Tradlcáo, por Felipe Aquino Ed


Cléofas, Lorena (SP), 2000, 140x210mm, 160 pp.

O Prof. Felipe de Queiroz Aquino dirige urna Escola de Fé pela


televisáo e publica suas aulas em excelentes livros, dos quais o de título
ácima vaiaqui apresentado. O volume é urna antología de textos da Sa
grada Tradigao ou dos grandes mestres da fé da Igreja referentes a te
mas diversos do Credo. Além disto, explica com clareza o valor dessa
Tradigao, que faz eco ao Evangelho através dos séculos e constituí rico
manancialpara o estudo da Teología e para a catequese. O livro é muito
recomendável, pois contribuí amplamente para esclarecer e firmar a fé
dos leitores.

'Notemos, alias, que o título do livro soa: "Os judeus do Vaticano", nao "Os católicos
do Vaticano".

384
"Lumen Christi"

é um CD de música sacra interpretada por D. Félix Ferrá, osb,


^nten^aSs instrumentáis de quatorze composicóes de Palestrina e Ussus,
os dois maiores músicos católicos de todos os tempos RS 12,50.

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Roteiro e locucáo: Dom Marcos Barbosa, OSB.
Produgáo: Mosteiro de S. Bento do Rio de Janeiro

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2a edicáo. 165 págs. 1997

- CATÓLICOS PERGUNTAM. Coletánea de artigos publicados na secáo de cartas da


revista "O Mensageiro de Santo Antonio". 1997. 165 pags R$ 7,00.

SsSS
de ap'ca?áo perene e universal), 2- edicáo. 1993, 47 pags RS 7,00.

ria e Noticias Biográficas. 1990. 315 pags

3=£25S33SsSSS^=
Editora Santuario, 65 págs
PARA ENTENDER O ANTIGO TESTAMENTO, depois detrás edigó••

3SSSS53ip%
SS53SipS
muitas vezes controvertidas que ali se encontram. 286 pags "*
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Um Homem de Deus

DOM COLUMBA
MARMION
Abade de Maredsous (Bélgica)
(1858-1923)

Um dos grandes mestres


espirituais do século XX será

beatificado em Roma dia 3 de


setembro de 2000

LIVROS DE DOM COLUMBA MARMION

Editados luí varios anos pelo Mosteiro de Singevcrga de Portugal (Edicóes


Ora et Labora) e distribuidos no Brasil pelas Edigóes Lumen Christi
• Jesús Cristo vida da alma, 4a edicto (1961), 544 pp R§ 35,00.
• Jesús Cristo nos scus misterios, 3a edicto (1958), 540 pp R$ 35,W
• Jesús Cristo ideal do monge (1962), 680 pp R$ 35^)0.*
A doutrina espiritual de Dom Columba Marmion, comida nesses tres volumes
nao c outra ansa senáo o cristocentrismo teológico e místico de Sao Paulo, reproposto
de forma cxistcncial as almas desejosas de viver cm profund.dade as realidades da
graga santificante.

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Caixa Postal 2666
CEP 20001-970 Rio de Janeiro - RJ
Tel.: (0XX21) 291-7122 Fax: (0XX21) 263-5697
E-mail: lumcn.christi@osb.org.br

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