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21.01.

10 - BRASIL
Manifesto de entidades de apoio e Organizações Indígenas

Adital - Letra
Entidades indígenas e indigenistas publicam manifesto sobre reestruturação A-A+
da Funai

Sete entidades do movimento indígena e indigenista publicaram nesta quita-feira um


manifesto sobre a publicação do Decreto 7.056, de 28 de dezembro de 2009, que
reestrutura a Fundação Nacional do Índio (Funai). As entidades participantes, entre elas
o Cimi, afirmam a importância de se ter uma reestruturação da Funai, mas ressaltam que
não foi feita da melhor maneira, pois desrespeitou os indígenas em seu direito de serem
ouvidos. De acordo com a nota, a reestruturação foi trabalhada "intra-muros", fazendo
com que os povos se sentissem desrespeitados.
Em outro ponto, o documento também afirma que tal comportamento da Funai deu
brechas para que "setores coorporativos do órgão, contrários a qualquer mudança se
articulasse para tumultuar o processo". Em relação às afirmações da Funai de que a
Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI) já sabia do processo de
reestruturação, o manifesto rebate. "Apresentar a grosso modo à proposta de
reestruturação na CNPI sem possibilitar o debate democrático, como foi feito com as
propostas do Estatuto dos Povos Indígenas ou do Projeto de Lei do Conselho de Política
Indigenista, não pode ser caracterizado como consulta ou produto de deliberação desta
instância".
De acordo com o documento, as entidades também esperam que "a participação
indígena seja assegurada no acompanhamento da implementação da reestruturação,
depois de devidamente adequada aos reais interesses dos povos e organizações
indígenas". Por fim, asseguram estar vigilantes na defesa dos direitos dos povos
indígenas, tendo em consideração suas reais necessidades e aspirações.

Manifestações
Os protestos contra a publicação do decreto começaram em Brasília no dia 11 de janeiro
e chegou a contar com a participação de mais de 500 indígenas na capital federal. Cerca
de 200 indígenas continuam em protesto, acampados em frente ao Ministério da Justiça.
Os indígenas pretendem falar com o ministro da Justiça, Tarso Genro, e com o
presidente Lula. Eles pedem a revogação do decreto e a saída do presidente do órgão,
Márcio Meira.

Brasília, 21 de janeiro de 2010.


Cimi - Conselho Indigenista Missionário

*********

Nota sobre a reestruturação da Funai

Manifesto de entidades de apoio e Organizações Indígenas

Nós, abaixo-assinados, tendo em consideração a edição do Decreto de reestruturação da


Fundação Nacional do Índio (Funai) ocorrida em 28 de dezembro de 2009, e suas
repercussões que motivaram a ocupação da sede do órgão em Brasília por várias
delegações indígenas, viemos a público nos manifestar.
1 - O movimento indígena e seus aliados sempre defenderam a necessidade e
importância da reestruturação do órgão indigenista, visando à readequação de sua
estrutura institucional e quadro funcional às demandas dos povos indígenas,
especialmente no tocante às reivindicações territoriais, assegurando a demarcação do
passivo de terras indígenas e o monitoramento das distintas ações e políticas de governo
voltadas aos povos indígenas, hoje dispersas em distintos ministérios. Com efeito,
esperava-se que esta reestruturação fosse viabilizada desde 2003, quando o movimento
indígena e seus aliados aguardaram com grande expectativa que o Governo Lula
tornasse realidade a almejada Nova Política Indigenista anunciada em seu Programa de
Governo.

2 - O movimento indígena e seus aliados, contudo, questionam a forma como a proposta


de reestruturação foi trabalhada "intra-muros" na Funai, repetindo a tática do "fato
consumado", praticada pelo Governo em outras ocasiões. Como conseqüência, os povos
e organizações indígenas se sentiram desrespeitados no seu direito à consulta livre,
prévia e informada assegurada pela Convenção 169 da Organização Internacional do
Trabalho (OIT), que já é lei no país. Isso deu margem a que setores corporativos do
órgão, contrários a qualquer mudança que afete seus interesses pessoais e de grupo, se
articulassem para tumultuar o processo.

3 - Faltou, de fato, um processo de diálogo com os povos e organizações indígenas nas


distintas regiões que, como os fatos têm demonstrado, até o momento não se sentiram
devidamente informados e esclarecidos sobre os impactos da reestruturação e as
implicações e procedimentos de sua implementação. Os representantes indígenas e
indigenistas na Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI) reiteraram, na última
reunião da Comissão realizada no mês de dezembro de 2009, poucos dias antes da
publicação do Decreto, a necessidade de diálogo, a respeito.

4 - Apresentar a grosso modo a proposta de reestruturação na CNPI sem possibilitar o


debate democrático, como foi feito com as propostas do Estatuto dos Povos Indígenas
ou do Projeto de Lei do Conselho de Política Indigenista, não pode ser caracterizado
como consulta ou produto de deliberação desta instância.

5 - Face a este contexto é compreensível a reação das lideranças indígenas contra a


publicação do Decreto, fazendo-se necessária, por parte do Governo, uma postura de
acolhida às críticas, ajustando o decreto, nos casos onde houve falhas na percepção das
realidades peculiares de cada povo ou região étnica, sem necessariamente mexer com o
propósito fundamental da reestruturação: a adequação da Funai para o cumprimento de
seu papel institucional na perspectiva de uma nova política indigenista, longe do
indigenismo tutelar, autoritário, assistencialista e paternalista.

Espera-se também que, na discussão do Regimento previsto no Decreto, as percepções e


críticas acerca do Decreto sejam discutidas com os povos indígenas e incorporadas
naquele diploma legal.

6 - É preciso ser suficientemente esclarecido o conteúdo do Decreto e, inclusive, como


será efetivamente implementado nas distintas instâncias: coordenações técnicas locais,
coordenações regionais e sede em Brasília, para superar temores, relacionadas, por
exemplo, com o enfraquecimento do papel da Funai na regularização fundiária das
terras indígenas ou com a falta de quadros especializados para cada área de atuação.
Neste sentido, é preciso que, no processo de seleção dos novos servidores, a Funai
priorize as especializações que reforcem seu papel na regularização fundiária das Terras
Indígenas (antropólogos, ambientalistas, topógrafos etc.).

7 - Espera-se que a participação indígena, seja assegurada no acompanhamento da


implementação da reestruturação, depois de devidamente adequada aos reais interesses
dos povos e organizações indígenas.

8 - Dado que o Governo decretou este ato administrativo sem ter previsto suficientes
espaços de diálogo com o movimento e os povos indígenas, cabe ao mesmo respeitar o
direito de insatisfação e manifestação que a Constituição Federal assegura aos
movimentos sociais, priorizando a via do diálogo e da negociação como prevê o novo
Plano Nacional de Direitos Humanos em casos semelhantes.

9. Por fim, exortamos o Governo, com base na experiência gerada pelo Decreto de
reestruturação da Funai, a assegurar aos povos indígenas o direito à consulta livre,
prévia e informada, conforme assegura a Convenção 169 da OIT, sobre as distintas
questões que os afeta. São eles, afinal, os primeiros interessados diretos.

10. Aos povos e organizações indígenas, manifestamos a nossa disposição de continuar


vigilantes na defesa de seus direitos, tendo em consideração as suas reais necessidades e
aspirações.

Brasília, 19 de janeiro de 2010.

Associação Nacional de Ação Indigenista - ANAI


Conselho Indigenista Missionário - CIMI
Centro de Trabalho Indigenista - CTI
Instituto de Estudos Socioeconômicos - INESC
Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito
Santo - APOINME
Articulação dos Povos Indígenas do Pantanal e Região - ARPIPAN
Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira - COIAB

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