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Macrometria Abril 2010

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23 de Abril de 2010

Comentário semanal: Crise na Grécia acentua-se, Portugal sofre efeito de contágio


A revisão em alta do défice Grego voltou a provocar grande agitação nos mercados esta semana,
afectando em particular os juros sobre a dívida Grega e Portuguesa e o euro. Os indicadores de
actividade voltaram a registar melhorias significativas na Zona Euro em Março e em Abril.

Eurostat revê em alta o défice Grego em 2009 e exprime reservas relativamente aos
dados publicados pela Grécia
Esta semana, os mercados continuaram a ser fortemente abalados pela incerteza relativamente à situação
das contas públicas na Grécia, depois do Eurostat rever em alta o défice de 2009 quase 1 ponto percentual
(p.p.), ou seja, de 12,7% para 13,6% do PIB. Para além do mais, o Eurostat exprimiu dúvidas sobre a clas-
sificação de algumas entidades públicas, sobre o registo de operações de swaps e sobre o superavit dos fun-
dos da segurança social. O Eurostat estima que, depois de resolvidas estas questões, o défice poderá vir a
subir entre 0,3 e 0,5 pontos percentuais. Esta notícia levou os mercados a castigarem muito severamente a
dívida Grega, com as taxas de juro sobre as Obrigações do Tesouro (OT) a 10 anos a atingirem 8,92% no
final do dia de ontem. Portugal sofreu também um efeito de contágio e as taxas de juro subiram para 4,99%.

A situação acalmou ligeiramente esta manhã, quando o Governo Grego anunciou que irá pedir os 30.000
milhões de euros de empréstimos bilaterais disponibilizados pelos Estados-membros da Zona Euro. As
taxas de juro Gregas desceram hoje para 8,6%, mas as taxas Portuguesas mantiveram-se em 4,95%. O euro
tem continuado a sofrer com esta crise de confiança nas contas públicas europeias e, só esta semana, desva-
lorizou 1,7% relativamente ao dólar.

Portugal na linha de mira dos mercados


Portugal encontra-se agora na posição muito desconfortável de ser o próximo país na mira dos mercados.
Os motivos que levaram a esta situação não são completamente óbvios. Portugal apresenta um nível de
dívida e défice inferiores à maioria dos países mais laxistas em termos de finanças públicas. A justificação
poderá estar na percepção que o Governo Português não tem feito esforços tão significativos como a Gré-
cia, e sobretudo como a Irlanda, para reduzir o défice e a dívida pública. Mas os motivos são secundários. O
que interessa é que, se os mercados decidirem punir muito severamente as OT Portuguesas, o efeito de bola
de neve sobre a dívida Portuguesa poderá ser muito superior ao dos anos anteriores. Se as taxas de juro se
mantiverem próximas de 5% (isto é, cerca de 1 p.p a mais do que a média de 2009), a dívida só estabilizará
se o saldo primário subir para cerca de 2,0-2,5%. Actualmente o PEC prevê que a dívida estabilize quando

Euro continua a ser afectado pela crise da dívida Spreads da Grécia e Portugal continuam a subir
1.55 7
Diferença entre OT Gregas e Alemãs a 10 anos, %
1.5 6
1.45
5
1.4 Portugal
Apreciação 4 Grécia
1.35 Espanha
3 Irlanda
1.3
1.25 2
1.2 1
2/1/09

3/3/09

2/5/09

1/7/09

6/2/10

7/4/10
22/1/09
11/2/09

23/3/09
12/4/09

22/5/09
11/6/09

21/7/09
10/8/09
30/8/09
19/9/09
9/10/09

8/12/09

17/1/10

26/2/10
18/3/10
29/10/09
18/11/09

28/12/09

0
07 08 09 10
Fonte: BCE Fonte: BCE e Bancos Centrais Nacionais , dados de Abril 2010 são de dia 22.

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Macrometria Abril 2010

a soma do saldo primário e outros factores de ajustamento atinjam 1,7%.

Indicadores de actividade melhoram na Europa


Para contrabalançar as más notícias nos mercados financeiros, os indicadores de actividade publicados esta
semana mostram que a economia da Zona Euro continua a recuperar.

Os indicadores Purchasing Managers Indicator (PMI), que se baseiam em inquéritos feitos às empresas da
Zona Euro sobre a actividade, voltaram a subir em Abril. O indicador da Indústria subiu de 56,6 para 57,5
em Abril e o indicador dos Serviços de 54,1 para 55,5. Estes indicadores estão agora muito acima de 50,
nível consistente com estagnação do PIB, e próximo de valores consistentes com crescimento potencial do
PIB. Na Alemanha, o indicador de actividade do Instituto Ifo subiu 3,4 pontos em Abril, graças sobretudo a
melhorias no sub-indicador de condições actuais (+4,8 pontos). Finalmente, em Portugal, o indicador coin-
cidente mensal de actividade do Banco de Portugal registou, em Março, uma variação homóloga de 0,4%
relativamente a Março do ano passado. O indicador tem registado variações positivas desde Janeiro deste
ano e sugere que a economia não deverá ter voltado a entrar em recessão no início do ano.

É possível que a indústria europeia esteja a beneficiar da queda do euro.

Inês Domingos

Zona Euro: PMI da Indústria atinge nível mais alto desde Jun 2006 Indicador de confiança nos negócios na Alemanha: situação actual
65 regista melhorias significativas
Índice 120
60 Índice
110
55
Crescimento
50 100
Recessão
45 90
40
80
Indústria
35
Serviços 70
30 Ifo Situação actual Expectativas
Mar-06 Sep-06 Mar-07 Sep-07 Mar-08 Sep-08 Mar-09 Sep-09 Mar-10 60
Jan-07 Jul-07 Jan-08 Jul-08 Jan-09 Jul-09 Jan-10
Fonte: Markit, Abril é estimativa rápida Fonte: Instituto IFO

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