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A NOVA NORMATIZAÇÃO DO TST ACERCA

DA REQUISIÇÃO DE PEQUENO VALOR

Jorge Alberto Araujo


Juiz do Trabalho Titular da Vara do Trabalho de Rosário do Sul

O TST editou no final do mês de dezembro, através da Resolução 145/2007,


a Instrução Normativa n. 32, que, consoante a sua ementa “Uniformiza procedimentos para
a expedição de Precatórios e Requisições de Pequeno Valor no âmbito da Justiça do Traba-
lho e dá outras providências.”
Esta instrução revoga a de número 11 do próprio TST e, com certeza, derro-
gará o Provimento n. 4/2003 do nosso TRT, que também dispõe sobre a matéria.
A luz desta resolução se oportuniza rediscutir algumas controvérsias que se
estabeleceram após a edição da Emenda Constitucional n. 30, que criou as Requisições de
Pequeno Valor (RPVs). Como, por exemplo, a questão das leis municipais reduzindo o va-
lor ali previsto e a proibição do fracionamento do crédito para a execução por ambos os
procedimentos (RPV e precatório).
A norma constitucional que disciplinou o pagamento das RPVs pelos muni-
cípios estabeleceu o seu valor em trinta salários mínimos (art. 87, II) até que as respectivas
unidades da federação dispusessem em contrário, atendendo às suas respectivas capacida-
des econômicas (art. 100, § 3º).
Todavia se observam decisões em que, nada obstante os poderes legislativos
municipais tenham atuado sob esta autorização, reduzindo os valores de acordo com as suas
possibilidades (em especial visando o atendimento dos ditames da Lei de Responsabilidade
Fiscal), estas normas não são consideradas pelo Judiciário Trabalhista, ao argumento de que
a autorização constitucional seria apenas para a ampliação, não para sua limitação.
Tal argumento, contudo, é falho. Quem como já atuou nas regiões mais po-
bres do Estado sabe que há municípios cuja receita com dificuldades atende às suas obriga-
ções imediatas, como, por exemplo, André da Rocha, no qual a população é inferior a 1000
pessoas, e que não tem sequer ligação por asfalto com os municípios que o circundam. Para
municípios come este é inviável pagar praticamente à vista débitos no importe de trinta sa-
lários mínimos – que são a quase totalidade de suas dívidas, haja vista que a sua pequena
capacidade econômica não lhes permite sequer se comprometerem em valores superiores –,
que são os mesmos de municípios ricos como Caxias do Sul, Porto Alegre ou São Paulo.
Outro aspecto importante que poderia ter sido melhor disciplinado diz res-
peito à impossibilidade de fracionamento de um crédito de forma a adequá-lo aos dois pro-
cedimentos (RPV e precatório). O Provimento 04/2003 do TRT da 4ª Região expressamen-
te veda este procedimento (art. 5º), tendo chegado a ocorrer de serem anulados procedimen-
tos em que no lugar de se expedir precatório complementar se requisitaram valores através
de RPV.
A IN 32 reproduz esta vedação. Equivocadamente, no entanto. Até porque
não foi este o intuito do texto constitucional. Ao contrário o seu conteúdo veda que seja ex-
pedida requisição de pequeno valor para, a seguir, ser expedido precatório (§ 4º do art.
100), o que representaria, com efeito, violação ao procedimento.
No entanto o procedimento oposto, com a expedição de RPV no lugar de um
precatório complementar, quando o valor deste complemento esteja compreendido nos seus
limites, não viola qualquer preceito. Ao contrário atende ao princípio de economia, que in-
forma a Administração Pública, na medida em que poupa o Poder Público do dispendioso
procedimento atinente ao precatório, quando, muitas vezes, a complementação devida é
desprezível do ponto de vista econômico – observe-se que, nada obstante se faculte à parte
renunciar ao seu crédito para amolda-lo à RPV, não se pode obrigar que tal renúncia ocorra,
embora o valor não seja importante, sendo que nesta hipótese se penalizará mais ao Poder
Público do que ao particular ao lhe determinar a expedição de precatório complementar por,
por exemplo, frações de reais.
Nesta situação a melhor interpretação seria a literal, considerando-se que a
vedação diz respeito apenas à expedição de RPV seguido de precatório, não o contrário.

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