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ESCOLA SECUNDÁRIA CAMILO CASTELO BRANCO

Casamento entre
pessoas do mesmo sexo
Legalizar ou não legalizar
João Paulo Ferreira
24-11-2009

Pela sua controvérsia e complexidade, foi-nos solicitado este trabalho que visa clarificar o tema:
casamento entre pessoas do mesmo sexo. Desde a situação actual portuguesa até à situação da
temática no mundo, passando pelos argumentos a favor e contra, este trabalho pretende esclarecer o
assunto a qualquer leitor interessado
Índice
Introdução: .....................................................................................................................3
I – A situação legal vigente em Portugal. ..........................................................................4
II – Direito Comparado – como se posicionam outros países face à mesma temática.........5
III – O enquadramento constitucional e as tentativas de mudança pelos partidos da
oposição em Portugal. .........................................................................................................6
IV – Legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo: argumentos a favor e
contra. ................................................................................................................................8
Conclusão: .................................................................................................................... 10
BIBLIOGRAFIA UTILIZADA: ............................................................................................. 11

2
Introdução:

No decurso de uma aula de Direito, surge a temática do casamento entre pessoas do


mesmo sexo. Esta discussão prolongou-se por várias aulas e eis que o professor da disciplina, o
professor Ademar Santos, nos atribui a seguinte tarefa: realizar um trabalho sobre esta mesma
temática abordando-a sob o ponto de vista judicial e até político.
Posto isto, pretende-se neste trabalho o desenvolvimento dos seguintes tópicos sobre o
tema do casamento entre pessoas do mesmo sexo: a situação legal actual em Portugal,
segundo a perspectiva da lei ordinária, ou seja, o Código Civil; deve ser colocado também
neste trabalho o chamado Direito comparado, que se traduz em referências a regimes
diferentes do português, com particular atenção ao espaço europeu; o tema deverá também
ser enquadrado na Constituição, portanto, o que está escrito na Constituição sobre este
mesmo tema; já numa perspectiva mais política serão também colocadas neste
desenvolvimento as propostas de alteração da lei ordinária apresentadas na anterior
legislatura; já no final irão ser apresentados argumentos a favor e contra a legalização do
casamento entre pessoas do mesmo sexo.

3
I – A situação legal vigente em Portugal.

Como referido na introdução deste trabalho, o tema “Casamento entre pessoas do mesmo
sexo” será abordada sob várias perspectivas. Assim sendo, começarei por explicar a situação
actual portuguesa sobre este tópico, segundo o Código Civil.
Ora neste documento judicial está expressa muito claramente a definição de casamento e a
quem esta é aplicada pois podemos verificar o seguinte: “casamento é o contrato celebrado
entre duas pessoas de sexo diferente que pretendem constituir família mediante uma plena
comunhão de vida, nos termos das disposições deste Código”1.
Este artigo mostra claramente que é impossível duas pessoas de sexo igual não podem
celebrar este contrato que é o casamento.
Mais à frente neste trabalho iremos verificar que não se constata esta situação em todo
lado.

1
Em “Código Civil Português (Actualizado até à Lei 59/99, de 30/06)”, Artigo 1577.º Noção de
casamento

4
II – Direito Comparado – como se posicionam outros países face
à mesma temática.

É possível verificar que nem todos os países se regem pela norma portuguesa pois já é
permitido o casamento entre pessoas do mesmo sexo em alguns países. Senão veja-se, a
Holanda foi o primeiro país a admitir esta prática, desde 2001, seguem-se a Bélgica, em 2003,
o Canadá e a Espanha em 2005, um ano depois o casamento homossexual viria a ser permitido
na África do Sul e mais recentemente, no espaço europeu, a Noruega e a Suécia legalizaram
ainda este ano. Nos EUA, o casamento entre indivíduos do mesmo género é permitido em
alguns estados como é o caso de Massachussets, desde 2004, Connecticut em 2008, Iowa,
Vermont e Maine em 2009 e prevê-se ainda que o estado de New Hampshire adira em Janeiro
de 2010. Ainda de referir que no Israel e no Japão, apesar de não ser legalizar o casamento
entre pessoas do mesmo sexo, este é reconhecido caso seja feito noutros países. Nota final
para o facto de este tema não discutido somente em Portugal mas também em países tais
como Austrália, Áustria, França, Brasil, China, Letónia, Lituânia, Irlanda, Nova Zelândia, mesmo
em grande parte dos estados dos EUA entre vários outros, em Cuba a homossexualidade é até
considerada crime.
Especificamente no caso europeu, em nenhum dos 50 países e territórios deste espaço
criminaliza as relações entre indivíduos do mesmo sexo. Entre os quais, 19 reconhecem o
casamento entre indivíduos do mesmo género na sua legislação, contudo, destes, apenas oito
reconhecem a adopção.
Podemos verificar que a Europa é pioneira no que toca às chamadas conquistas gay. Em
1944, a Suécia legaliza a homossexualidade. Note-se também que a Noruega foi o primeiro
país onde foram aplicadas leis anti-discriminatórias de cariz particularmente sexual, em 1981.
Contudo, é de reparar que existem países que tentam fazer leis no sentido oposto, veja-se o
caso russo, país onde, desde 2002, já foram feitas três propostas para recriminar a
homossexualidade.

5
III – O enquadramento constitucional e as tentativas de
mudança pelos partidos da oposição em Portugal.

Deve ser considerado o enquadramento que esta temática tem na Constituição da


República Portuguesa. Aqui podemos verificar que não existe uma proibição, não mostrando
até um limite para o casamento e constituição de família não existe. Veja-se o Artigo 36º., “1.
Todos têm o direito de constituir família e de contrair casamento em condições de plena
igualdade”2, mas de notar principalmente o Artigo 13º., “1- Todos os cidadãos têm a mesma
dignidade social e são iguais perante a lei. 2- Ninguém deve ser privilegiado, beneficiado,
prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de
ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou
ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual”3.Ora, aqui,
ao contrário do Código Civil, que restringe o casamento a indivíduos de sexo oposto, a
Constituição dá a toda gente a oportunidade de formar família. Verifica-se então, uma certa
contradição entre a lei ordinária e a Constituição.
Para tentar harmonizar a Constituição e a lei ordinária, foram apresentados dois projectos
lei na anterior legislatura, um pelo BE (Bloco de Esquerda), outro pelo PEV (Partido Ecologista
“Os Verdes”).
No caso do Bloco de Esquerda, a proposta consistia em harmonizar o Código Civil com a
Constituição, conformando-o com a realidade social, legalizando o casamento, quer entre
pessoas de sexo oposto, quer entre pessoas do mesmo sexo. Propõe também uma alteração
do conceito de casamento, retirando a referência contratual existente na lei ordinária sobre
esta matéria argumentando que, estando em causa valores pessoais e afectivo e não sendo
estes negociáveis, esta conotação não faz qualquer sentido. Assim sendo, sugere a
alteração de dois artigos do Código Civil, passando-os para os seguintes termos:
“Artigo 1577º
(…)

Casamento é o encontro de vontades, solenemente formalizado, de duas pessoas que


pretendem constituir uma família mediante uma plena comunhão de vida, nos termos das
disposições deste Código.”
Artigo 1591º
(…)

2
Constituição da República Portuguesa
3
Idem

6
O contrato pelo qual, a título de esponsais, desposórios ou qualquer outro, duas pessoas se
comprometem a contrair matrimónio não dá direito a exigir a celebração do casamento, nem a
reclamar, na falta de cumprimento, outras indemnizações que não sejam as previstas no artigo
1594º, mesmo quando resultantes de cláusula penal.”

Como já referido, o Partido “Os Verdes”, avançou também com um projecto referente a
esta matéria. Apoia-se no Artigo 13º. da Constituição que visa a igualdade entre indivíduos,
independentemente, como já foi possível verificar anteriormente, da sua orientação sexual.
Semelhante ao BE, propõe também uma alteração da noção de casamento mas faz também
uma correcção ao regime de adopção. Isto traduz-se num Código Civil alterado que passaria a
utilizar os seguintes termos:

“Artigo 1577º
(Noção de casamento)

Casamento é o contrato celebrado entre duas pessoas que pretendem constituir família
mediante uma plena comunhão de vida, nos termos das disposições deste Código.

Artigo 1591º
(Ineficácia da promessa)

O contrato pelo qual, a título de esponsais, desposórios ou qualquer outro, duas pessoas se
comprometem a contrair matrimónio não dá direito a exigir a celebração do casamento, nem a
reclamar, na falta de cumprimento, outras indemnizações que não sejam as previstas no artigo
1594º, mesmo quando resultantes de cláusula penal.

Artigo 1690º
(Legitimidade para contrair dívidas)
1. Qualquer dos cônjuges tem legitimidade para contrair dívidas sem o consentimento do
outro.
2. (…)

Artigo 1979º
(Quem pode adoptar plenamente)

1. Podem adoptar plenamente duas pessoas casadas há mais de quatro anos e não separadas
judicialmente de pessoas e bens ou de facto, se tanto o homem como a mulher tiverem mais
de 25 anos.
2. (…)
3. (…)
4. (…)
5. (…)”
(em Projecto de Lei Nº. 218/X, apresentado pelo grupo parlamentar do partido “Os Verdes”)

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IV – Legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo:
argumentos a favor e contra.

Contra:
Existem várias entidades que se definem como contra o casamento entre indivíduos
do mesmo género. Nuno Melo, eurodeputado pelo CDS-PP, que diz, numa entrevista à
Agência Lusa, em Madrid: “Quando aqui em Espanha se tira do código civil as palavras 'pai' e
'mãe' e 'marido' e 'mulher', estamos perante a instrumentalização do direito, para impor
concepções de vida contrárias ao que justificou a própria formação do direito”. O MEP
(Movimento Esperança Portugal), abordam a questão de outra maneira dizendo que esta não
devia estar nas prioridades do país neste momento. O PNR (Partido Nacional Renovador),
assume-se como completamente contra a união matrimonial entre pessoas do mesmo sexo,
afirmando, “A nossa concepção de família assenta exclusivamente na família tradicional
heterossexual, por ser a única que, de acordo com a Ordem Natural, assegura a reprodução
natural, a criação e educação dos nossos descendentes em condições equilibradas e
harmoniosas”. Mas não é somente nos partidos que podemos verificar posições contra esta
união. Recentemente, este foi o tema do programa “Prós e Contras”, na RTP1 e aqui pudemos
ver alguns argumentos como o do Padre António Vaz Pinto, ao afirmar que há limites reais nas
opções de cada um porque senão devia-se também permitir o casamento poligâmico ou até o
casamento incestuoso. Nuno Salter Cid também se assume como não apoiante do casamento
entre pessoas do mesmo género, na sua perspectiva os homossexuais não deviam precisar de
sentir dignidade pela sua união através de uma instituição que não foi pensada para eles,
criada para eles e que não lhes serve. Rui Castro por sua vez, achou que ao legalizar o
casamento entre pessoas do mesmo sexo, legalizar-se-ia também a adopção por casais do
mesmo género pois faz parte dos direitos que os casais têm. A Igreja, representada pela
Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) é obviamente contra, por um lado dizendo que o país
devia ter outras prioridades, por outro dizendo que é “antropologicamente errado”.

Favor:
Entre os argumentos que surgem na defesa do casamento entre pessoas do mesmo sexo,
podemos verificar que nos direitos e deveres de cada um, não existe distinção pela orientação
sexual mas sim pelo facto de sermos todos humanos e cidadãos, assim sendo, se os deveres
são iguais para pessoas com desejo sexual por outras do mesmo sexo, também os direitos
deveriam ser. No site da ILGA, existe todo um leque de argumentos a favor casamento entre
indivíduos do mesmo género. Entre estes a refutação do argumento de nas relações

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homossexuais não ser possível a concepção de filhos em conjunto, dizendo que não existe
artigo algum na lei que pressuponha a reprodução por casais casados. Além de mais, o facto de
casais homossexuais se casarem em nada afecta os casais heterossexuais que continuariam a
usufruir da mesma liberdade que usufruem hoje. Como é óbvio existe ainda a referência à
Constituição e ao seu artigo 13.º, que defende a igualdade dos indivíduos.
É de referir também o facto do casamento como instituição trazer aos casais muitos
benefícios, entre os quais a nível financeiro, pois grande parte dos governos oferece benefícios
fiscais a casais em comparação com individuais. Além disso, como casal os cônjuges podem
beneficiar dos estatutos um do outro enquanto casados, se os casais homossexuais, tendo
todas as condições teóricas para casar, deveriam também desfrutar dos benefícios de cariz
judicial.
A nível social o casamento traz também benefícios pois traduz um compromisso amoroso
entre duas pessoas, compromisso que pessoas com interesse sexual em indivíduos do mesmo
sexo desejam também poder ter pois nutrem esses mesmos sentimentos. Os casais gay, ao
não poderem contrair o matrimónio, estão a ser alienados da sociedade.

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Conclusão:

No decorrer deste trabalho consegui realmente aprofundar o tema da legalização do


casamento entre pessoas do mesmo sexo, algo que até aqui não tinha feito. Contudo, já tinha
uma ideia pessoal definida, pelo que efectivamente já sabia quanto à matéria, que não se
alterou.
Eu concordo plenamente com o casamento entre pessoas do mesmo sexo pois não vejo em
que medida é que será diferente do chamado casamento heterossexual. Como qualquer outro
indivíduo, as pessoas que nutrem sentimentos por outras do mesmo género devem ter as
mesmas liberdades que outra pessoa qualquer tem e, por consequência, os mesmos direitos.
Esta batalha pela igualdade já havia sido travada pelas mulheres, ainda é em alguns casos, e
como humanos acima de tudo, devemos ter orgulho dos feitos já alcançados por este grupo.
Agora trava-se a batalha pela igualdade independentemente da orientação sexual, batalha
esta que nem devia acontecer pois sendo humanos, não deveria existir uma restrição deste
género. No entanto não deve ser confundida esta minha opinião como um conceito quase
anárquico onde todos fazem o que querem e não existe qualquer tipo de organização e dá-se,
consequentemente, o caos. Apenas defendo que, neste caso particular, tal como aconteceu
por exemplo, quando se procurava que fosse permitido o voto à mulher, as pessoas tendo
plenas capacidades para contrair matrimónio, sendo consensual, não prejudicando a liberdade
da restante sociedade, sim, o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo deve ser
legalizado.
Com muito desagrado devo referir ainda o facto de ainda se poderem verificar
mentalidades muito retrógradas cujo carácter ofensivo e homofóbico pude constatar no
decurso da pesquisa para este trabalho. Estes conteúdos, por uma questão de princípios, não
foram aqui apresentados.
Com esta reflexão mais pessoal dou por terminado o meu trabalho, espero que tenha sido
do agrado do leitor.

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BIBLIOGRAFIA UTILIZADA:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Casamento_entre_pessoas_do_mesmo_sexo

http://dn.sapo.pt/inicio/interior.aspx?content_id=1172588

http://casamentoshomossexuaispolitica.blogspot.com/

http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20090402140415AADMpU5

http://www.ilga-portugal.pt/noticias/20041001.htm

http://gaymarriage.lifetips.com/cat/64293/for-gay-marriage/index.html

Restantes consultas feitas são mencionadas ao longo do trabalho.

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