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Recurso 2007.

0012729-0
Acórdão 28960

Acórdão na Íntegra
RECURSO INOMINADO

RECURSO INOMINADO N.º 2007.0012729-0/0


Origem: 7.º Juizado Especial Cível de Curitiba
Recorrente: IBI ADMINISTRADORA E PROMOTORA LTDA
Recorrida: VIVIANE NAVARRO BIANCHINI
Juiz Relator: HORÁCIO RIBAS TEIXEIRA

RECURSO INOMINADO - AÇÃO INDENIZATÓRIA - PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA


DO JUIZADO ESPECIAL DEVIDO A COMPLEXIDADE DA CAUSA AFASTADA -
DESNECESSIDADE DE PRODUÇÃO DE PROVA PERICIAL - AUTORA QUE NÃO CELEBROU
NEGÓCIO JURÍDICO COM A RÉ - UTILIZAÇÃO FRAUDULENTA DE DOCUMENTOS POR
TERCEIROS - DÍVIDA INEXISTENTE - INSCRIÇÃO INDEVIDA - ÓRGÃOS DE RESTRIÇÃO
AO CRÉDITO - DANO MORAL CONFIGURADO - APLICAÇÃO DO ENUNCIADO N.º 8 DA
TRU/PR - QUANTUM (R$ 5.000,00) ARBITRADO DE ACORDO COM AS PECULIARIDADES
DO CASO CONCRETO - CONFIRMAÇÃO DA SENTENÇA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS
- RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.

Ausência de complexidade da causa: Inexiste a complexidade da causa a


afastar a competência do juizado especial, bem como a produção de prova
pericial grafotécnica. Os documentos acostados às fls. 12/15 corroboram a
alegação da parte Autora relativamente ao furto e que um terceiro, na
posse de seus documentos, teria contraído a dívida.
Inexistência de contrato entre as partes: Não restou comprovado tenha
a parte Autora celebrado negócio jurídico com a Reclamada, o que torna o
débito inexistente e indevida e abusiva a inscrição do seu nome nos
cadastros de órgãos de restrição de crédito. Anote-se que, no caso,
descabe impor ao Reclamante o ônus de provar que não contraiu a dívida,
pois não tem como fazer prova de fato negativo.
Vulnerabilidade do sistema de contratação: A Reclamada instituiu um
sistema de contratação débil em suas atividades, revelado pela
formalização de contrato com terceiro que não a Autora e nem por este
autorizado. Isso constitui falha da segurança do serviço prestado, pela
qual responde a Ré de forma objetiva. Não há se falar em culpa exclusiva
de terceiro, por fraude deste, como eximente de responsabilidade pelo
dano, porque esse fato de terceiro é previsível em todo negócio jurídico,
havendo evidente falta de cautela da Ré.
Excludente de responsabilidade - afastamento: Se a Reclamada admite a
contratação com a utilização de documentos de outra pessoa, sem
conferência da veracidade das informações, é dela o risco de suportar as
fraudes daí decorrentes, devendo assumir a responsabilidade de conferir
os dados e as próprias alegações de quem deseja contratar. Dessa forma,
os fatos alegados pelo consumidor não podem ser considerados como
excludentes de responsabilidade, eis que cabe à prestadora de serviços
acautelar-se para que fatos como o ocorrente não se implementem, devendo
responder pelos danos causados ao nome daquele que, embora conste como
contratante, jamais manifestou sua vontade de figurar na relação
jurídica.
Dolo do terceiro: Não diminui a culpa da ré o dolo com que se houve o
estelionatário, a qual, no entanto, poderá ser acionada por aquele, em
ação de regresso.
Responsabilidade objetiva: A responsabilidade civil da Recorrente é
objetiva, quer porque (a) a Autora é vítima do evento, sendo, por isso,
consumidor por equiparação (art.17 do CDC), quer porque (b) há, in casu,
a incidência da teoria do risco do negócio (art.927, § único, CC),
segundo a qual o empresário pode explorar o mercado, auferindo os lucros
das suas atividades; devendo, no entanto, suportar, também, os riscos do
seu empreendimento. Desse modo, pode-se dizer que a responsabilidade
objetiva está lastreada em um princípio de eqüidade, existente desde o
direito romano, a saber, aquele que lucra com uma situação deve responder
pelo risco ou pelas desvantagens dela resultantes (ubi emolumentum, ibi
onus; ubi commoda, ibi incommoda). Isso equivale a dizer que, quem aufere
os cômodos (ou lucros) deve suportar os incômodos (ou riscos), pelo que,
enquanto o negócio é favorável, estando o empresário lucrando, não lhe é
legítimo transferir para o consumidor, ou sequer dividir com este, os
riscos do negócio, caso ele se torne desvantajoso.
Dano moral - presunção: “É presumida a existência de dano moral, nos
casos de protesto de título e inscrição e/ou manutenção em órgão de
proteção ao crédito, quando indevidos” (Enunciado n.º 8 da TRU/PR).

Confirmação da sentença por seus próprios fundamentos: A respeitável


sentença foi bem fundamentada pelo i. Julgador, que deu escorreito termo
à lide, atento ao conjunto probatório colacionado aos autos,
compromissado com a lei e os valores que ela consubstancia, especialmente
com o valor do justo, inexistindo qualquer desencontro entre a
argumentação expendida e os elementos constantes no feito. Restaram
observados in casu, o disposto no artigo 131 do CPC, que elenca o
Princípio da livre persuasão racional do juiz, que dá ao mesmo liberdade
para examinar os resultados da prova segundo sua própria capacidade
perceptiva, bem como o artigo 93, inciso IX, da Carta Maior, atinente à
motivação dos julgados. Assim, não verifico qualquer vício ou falha na
sentença vergastada, que por isso deve ser mantida pelos seus próprios e
jurídicos fundamentos, o que se faz na forma do disposto no art. 46, da
Lei nº 9.099/95, que assim estabelece: “O julgamento em segunda instância
constará apenas da ata, com a indicação suficiente do processo,
fundamentação sucinta e parte dispositiva. Se a sentença for confirmada
pelos próprios fundamentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão”.
Acordam os Juízes da Turma Recursal Única dos Juizados Especial Cível
e Criminal do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em conhecer e
negar provimento ao recurso. Sucumbência: Condena-se a Recorrente ao
pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, arbitrados em
20% sobre o valor atualizado da condenação, tendo em vista o tempo
decorrido, a natureza da demanda, o local da prestação do serviço e o
grau de zelo do advogado da parte contrária. O julgamento foi presidido
pelo Juiz Alexandre Barbosa Fabiani (sem voto) dele participaram os
Senhores Juízes Telmo Zaions Zainko e Helder Luís Henrique Taguchi.
Curitiba, 30 de maio de 2008. _______________________________ HORÁCIO
RIBAS TEI

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