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ON (A TRANSFERENCIA (2) Cr por exemple PREC (S), Jensetts des Listpranas, WIN GAN STIL wnt § XVI, HOT Br. Se, CONTRATRANSFERENCIA = D: Gegeniibertragung. — F: contre-transfert En.; counter-transference. Es.: contratransferencia. — J: controtransfert © Conjunto das reagées inconscientes do analista a pessoa do anali- sando e, mais particularmerts, a transferéncia deste. w Sao rarfssim wassagens em que Freud alude aquilo que chamou de contratransferéntie. Vé nela o resultadgstgy'‘influéncia do doente sobre os sentimentos inconscientes do médico”, é sublinha que “‘nenhum ana- lista vai além do que os seus préprios complexos ¢ resisténcias internas lhe permitem” (16), 0 que tem como. necessidade de o analista se, ubmeter a uma anilise pessoal. 07057680 lens TAnTe De uri ve @ Depois de Freud, a contratransferéncia foi objeto de crescente atencao | por parte dos psicanalistas, especialmente na medida em que o tratamento era cada vez mais compreendido e descrito como relacao, e também em virtude da extensao da psicandlise a novos campos (andlise de criangas e de psicéticos) em que as reacées inconscientes do analista podem ser mais sol: las. Vamos fixar apenas dois pontos: 0 ponto de vista da delimitagao do conceito, encontram-se largas vanagoes pois certos autores entendem por contratrandierencia tudo o que, da personalidade do analista, pode intervir no tratamento, e outros limitam a contratransferéncia aos processos inconscientes que a transferéncia do analisando provoca no analista. Daniel Lagache admite esta tiltima delimitagao e esclarece-a ao obser- var que a contratransferéncia entendida nesse sentido (rea¢do a transferéncia do outro) nao se encontra apenas no analista, mas também no analisando. Transferéncia e contratransferéncia nao coincidiriam assim com processos préprios do analisando, por um lado, e do analista, por outro. Se conside- rassemos 0 conjunto do campo analitico, conviria distinguir, em cada uma das duas pessoas presentes, o que é transferéncia do que é contratrans- feréneia (2). jo ponto de vista técnico, podemos esquematicamente distinguir ientagdes: eduzir o mais possivel as manifestagdes contratransferenciais pela andlise pessoal, de modo que a situagao analitica seja estruturada, por as- sim dizer, como uma superficie projetiva, apenas pela transferéncia do pa- cien, tre: utilizar, controlando-as, as manifestacdes de contratransferéncia no trabalho analitico, na seqiiéncia da indicacdo de Freud segundo a qual “... to- dos possuem no seu préprio inconsciente um instrumento com que podem interpretar as expressdes do inconsciente dos outros” (3) (ver: alengao flu- 2 tuante): CONVERSAG esmo para , mits Ve altitude postula que a ress' fui a diniea Commnicagdo autent uiar-se, 9 Je inconsciente a incons- amente psicanalitica. Die aickunttigen Chancen der pochoanalstischen Therapic, W910. ~ a GM, Br, 27. — be GW, VEL, 108; SB XP, Meh: Br, 27 La méthode psyehanalytique. in Micttats (L.) € col, Parchiatrie, (a) FRU S). E., Xl Lacacnté (1. 66, Paris, 1964 16 een (S.), Die Disposition aur Zarangsnenose, 1913, GW, VI 5; 8: II, 320; Fr, 441 CONVERSAO = D:: Konversion. — F: conversion. — En.: conversion. ~ Es. conversion. — I: conversione. @ Mecanismo de formagao de sintomas que opera na histeria e mais especificamente na histeria de conversao (ver este termo). Consiste numa transposicdo de um conflito psiquico e numa ten- tativa de resolvé-lo em termos de sintomas somaticos, motores (para- lisias, por exemplo) ou sensitivos (anestesias ou dores Jocalizadas, por exemplo). O termo “‘conversio” 6, para Freud, correlativo de uma concep- a0 econémica; a libido desligada da representagao recalcada é trans- formada em energia de inervagao. Mas o que especifica os sintomas de conversao é a sua significacao simbélica: eles exprimem, pelo cor- po, representagées recalcadas, = O termo “‘conversao” foi introduzido por Freud em psicopatologia para explicar este ‘‘salto do psiquico para a inervacéo somatica” que ele préprio considerava dificil de conceber (1). Esta idéia, nova no fim do século XIX, tomou, como se sabe, enorme extensao, principalmente com o desen- volvimento das pesquisas psicossomaticas. Isto ainda torna mais necessa- rio delimitar, neste campo agora muito amplo, 0 que mais especificamente pode ser ligado & conversao; note-se, alids, que essa preocupacao ja esta presente em Freud, particularmente na distingao entre sintomas histéricos € sintomas soméaticos das neuroses atuais. O termo “‘conversao" é contemporaneo das primeiras investigacdes de Freud sobre a histeria. Podemos encontré-lo pela primeira vez no caso de Frau Emmy von N... de Estudos sobre a histeria (Studien tiber Hysteric, 1895) e€ em As psiconeuroses de defesa (Die Abwehr-Neuropsychosen, 1894). O seu sentido primordial ¢ econdmico; é uma energia libidinal que se transforma, Se converte, em inervacéo somatica. A conversao ¢ correlativa do desligat- Se da libido da representagao no processo do recalcamento; a energia libi- dinal desligada & entdo “. transposta para o corporal’ (2). 103 TRANSFERENCIA 1895), cuja orientagao neurotisioléyica aparentomente justificaria me Mae . . hor una assimilagio do trago mnésico a imagem mulaero™, que encontra. remos 0 melhor acesso ao que constitui a oriinalidade da teoria freudia- nada memoria. De fato, Freud ter xpli¢ no aparelho neurdnica sem apelar para um ral inser' cao da lembranga semelhanga entre os { ‘aggs, © 08 objelos. O trago mnesico nio passa de um artanjo especial de facilitagées*, de forma que determinado caminho ¢ aproveitado de pre! réncia a outro, Poderiamos aproximar este funcionamento da memoria da- quilo a que se chama “memdéria” na teoria das maquinas cibernéticas, cons- truidas com base no principio de oposigdes bindrias, tal como o aparelho neurdnico, segundo Freud, se define por bifurcagdes sucessivas, Convém todavia notar que a forma como Freud, nos seus escritos ul- teriores, invoca os tragos mnésicos — utilizando também muitas vezes co- mo sindnimo “imagem mnésica’’ — mostra que, quando process das ¢ 0 considera o y de sua constituigao, 6 levado a falar deles como de reprodugdes isas no sentido em que as entende uma psicologia empirista. UH Beer nS), Jonseits des Lustprin: (2) Baevek Qa, Theoretisehes, 189: (HCP FRECIIS., Notis der dew MII, 24: SE, NV, 25 IL, ISS: ne Fr. 5. GW. XIV. 3 Wetneddea ble Cr Freep ssa Fr, 285 ss. (3) Fleet b (Sa, Dic Abecehe-Newropsvelasen, 180. whe Ts SAE. HT, 60. (6) Cr PREC (S), Aus den Anrdugen der Prrchoanalsse, 1887-1902. Al.. 186; Ingl., 17 Pro Va-5 CV Feet 3, Dic Traondeutung ~ GW. IEIE, 543 2 |. Zur Pevchatherapic der Hysterte. 1895. GW. 5 ss.: SE., I, 291 1900. — a) CF. GW. TUL E.V.5. 4: S.E.. V. 538-9: Fre, = Ds Uberwagung. — F. transfert, — 1: traslazione om transfert. n.: transference. ~ E: ansferencia. — @ Designa em psicanidlise o processo pelo qual os desejos inconscien- tes se atualizam sobre determinados objetos no quadre de um certo tipo de relagao estabelecida com cles e, eminentemente, no quadro da relagao analitica, Trata-se aqui de uma repetigao de protétipos infanti um sentimento de atualidade acentuada. E a transferéncia no tratamento que os psicanalistas chamam & maior parte das vezes transferéncia, sem qualquer outro qualificativo. Al transferéncia é classicamente reconhecida como 0 terreno em que se da a problemitica de um tratamento psicanalitico, pois sao a sua instalagao, as suas modalidades, a sua interpretagao ¢ a sua re- solucao que caracterizam este. s vivida com a O termo “transferéncia” nao pertence exclusivamente ao vocabula- rio psicanalitico. Possui, de fato, um sentido muito ger imo do de 1 RANSFERENCIA transporte, mas implica um destocamento de silores, de direitos, de enti- dades, mais do que um deslocamento material de objets (ex. Wransferén. de tundos, transteréneiat de propriedade, ete). Em psiculogia, & utilis zado em diversas acepgoes: (ansferencia sensorial (radugan de uma per. cepgao de um dominio sensorial para outro); transferéncia de sentinentos (1); sobretudo na psicoluyza experimental contemporanea. transteréncia de aprendizagem v de habitos (os progressos obtidos na aprendizagem de uma certa forma de atividade acarretam uma melhoria no exerefcio de uma atividade diferente). Esta transferencia de aprendizayem © as vezes cha- mada positiva, por opusigao a uma Lransferencia chamada negative. que designa a interleréneia negativa de uma primeira aprendizayem sobre uma segunda (a). * Existe especial dificuldade em propor uma definigdo de transferéncia_ porque a nogao assumiu, para numerosos autores, uma extensdo muito grande, que cheya ao ponto de designar o conjunto dos fendmenos que constituem a relacgao do paciente com o psicanalista e que, nesta medida, veicula, muito mais do que qualquer outra nogao, 0 conjunto das concep- des de cada analista sobre o tratamento, o seu objetivo, a sua dinamica, a sua tatica, os seus objetivos, etc. E, assim, estao implicados nela toda uma _série de problemas que sao objeto de debates classicns. (@)Acerca da especificidade da transferéncia no tratamento: a ao analitica nao far senao fornecer, gracas ao rigor e 4 constancia das i suas coordenadas, uma ocasiav privilegiada de desenvolvimento e de ober- ; vacao de fenémenos que podem ser encontrados em vutras circunstancias? )) Acerea da relagao da transferéncia com a realidade: que apoio se poder encontrar numa nocao tao problematica como a de “desreal”. & tao dificil de determinar como a de realidade da situagao analitica, para i apreciar 0 carter nao adaptado ou adaptado a ess realidade, transferen- cial ou nao, de determinada manifestagao surgida durante © tratamento? (©)Acerea da funcao da transferéncia no (ratamento: quais serao os va- lores lerapéuticos respectivos da rememoragao e da repeticao vivida? (d) Acerca da natureza do que é transferido: tratar-se-d de patterns de comportamento, tipos de relagdes de objeto, sentimentos positivos ou ne- gativos, afetos, carga libidinal, fantasias, conjunto de uma imago ou trago particular desta, ou mesmo de instancia no sentido da tiltima teor ia do apa- relho psiquico? thar 0 quanto era estranho (2), que permitiu reconhecer em outras situagdes a acao da trans: feréncia, quer esta se encontre na See da relagao em causa (Ihip- 51 RANSFERENCIA 516 nose, sugestao), quer nela desempenhe, dentro de limites a apreciar, um papel importante (médico-doente, mas também professoraluno, orienta- dor espiritual-penitente, ete), Do mesmo modo, nos antecedentes imedia- tos da andilise, a (ransferéncia mostrou a extensao dos seus efeitos, no so de Anna 0... tratada por Breuer segundo 0 “mélodo catartico”, muito antes de o Lerapeuta saber identificd-la como tal, ¢ sobretudo utiliza-la (8), Do mesmo modo, na histéria da nogéo em Freud, existe uma defasagem entre as concepgées explicitas ¢ a experiencia afeliva, defasagem que ele foi o primeiro a experimentar As suas custas, como notou a propésito do caso Dora. Dai resulta que quem quisesse tragar a évolugado da transferén- cia no pensamento de Freud deveria, indo além dos enunciados, desco- brir a transferéncia em agao nos tratamentos cuja descrigao nos foi trans- mitida. * Quando Freud, a propésito do sonho, fala de “transferéncia”, de “‘pen- samentos de transferéncia”’, designa assim um modo de deslocamento* em que o desejo inconsciente se exprime e se disfarca através do material for- necido pelos restos pré-conscientes do dia anterior (3a). Mas seria um er- ro ver nisto um mecanismo diferente do que se invoca para explicar aqui- lo que Freud encontrou no tratamento: “... a representagao inconsciente 6 totalmente incapaz, enquanto tal, de penetrar no pré-consciente, € nao pode exercer nele qualquer efeito a nao ser pondo-se em conexao com uma representacdo anddina que pertence ja ao pré-consciente, transferindo a sua imensidade para ela e cobrindo-se com ela. E esse 0 fato da transfe- réncia, que fornece a explicagéo de tantos fenémenos impressionantes da vida mental dos neuréticos” (3b). E do mesmo modo que, nos Estudos so- bre a histeria (Studien tiber Hysterie, 1895), Freud explica casos em que determinada paciente transfere para a pessoa do médico as representa- goes inconscientes. ‘‘O contetido do desejo tinha inicialmente surgido na consciéncia da doente sem qualquer lembranga das circunstancias que o rodeavam e que 0 teriam recolocado no passado. O desejo presente era entao, em funcg4o da compulsao a associar que dominava na consciéncia, ligado a uma pessoa que ocupava legitimamente os pensamentos da doen- te; e, resultante desta ligag4o incorreta a que chamo conexao falsa, des- pertava o mesmo afeto que em seu tempo tinha levado a paciente a rejei- tar esse desejo proibido.” (4a) Na origem, a transferéncia nao passa, para Freud, pelo menos no pla- no teérico, de um caso particular de deslocamento do afeto de uma repre- sentag4o para outra. Se a representagao do analista é escolhida de forma privilegiada, é porque constitui uma espécie de “resto diurno”’ sempre a jisposicAo do sujeito, e também porque este tipo de transferéncia favore- ce a resisténcia, pois a confissao do desejo recalcado se torna especial- mente dificil se tem de ser feita 4 pessoa visada por ele (4b, 52). Vemos TRANSFERENCIA igualmente que nesta época a Wanslereneia & considerada um fenomeno muito localizado, Cada transferéncia deve ser tratarla como qualquer sin- toma (dq), de forma a manter ou restaurar uma relagao terapéutica funda- da numa cooperagdo confiante, em que Freud, entre outros fatores, faz intervir a influéncia pessoal do médico (4d) sem a referir de modo nenhum a transferéncia. Parece portanto que a transferéncia foi inicialmente designada por peutica, Volta: mos a encontrar esta idéia mesmo no caso Dara, onde o papel da transfe- réncia surge como primordial, a ponto de Freud, no comentirio critico que acrescenta ao relato da observagao, imputar a um defeito da interpreta- gao da transferéncia a interrupgao prematura do tratamento, Ha muitas expressdes que mostram como Freud nao assimila o conjunto do trata- mento na sua estrutura ¢ na sua dindamica a uma relagao de transferéncia: “Que sao as transferéncias? Sao reimpressées, cépias das mogées e das fantasias que devem ser despertadas e tornadas conscientes 4 medida dos progressos da anilise; o que é caracteristico da sua espécie é a substitui- cao pela pessoa do médico de uma pessoa anteriormente conhecida."’ (6) Destas transferéncias (note-se o plural), Freud indica que nao sao diferen- tes por natureza conforme se dirijam ao analista ou a qualquer outra pes- soa, €, por outro lado, que nao constituem aliados para 0 tratamento a nao ser que sejam explicadas e “destruidas’” uma a uma. A integracao progressiva da descoberta do complexo de Edipo nao podia deixar de repercutir na forma como Freud compreende a transfe- réncia. Ferenczi, desde 1909 (7), tinha mostrado como, na andlise, mas ja nas técnicas de sugestéo e de hipnose, o paciente fazia inconsciente- mente com que 0 médico desempenhasse figuras parentais amadas ou te- midas. Na primeira exposicao de conjunto que consagra transferéncia (1912), Freud mostra que ela esta ligada a “‘protétipos”, a imagos* (prin- cipalmente a imago do pai, mas também a imago da mae, do irmao, etc.): «0 médico sera inserido numa das ‘séries’ psiquicas que o paciente ja formou’”’ (58). Freud descobre que é a relacao do sujeito com as figuras parentais que é revivida na transferéncia, principalmente com a ambivaléncia* pul- sional que a caracteriza: “Era preciso que [o homem dos ratos] se conven- cesse, pela via dolorosa da transferéncia, que a sua relacdo com o pai im- plicava verdadeiramente este complemento inconsciente.” (8) Neste sen- tido, Freud distingue duas transferéncias: uma positiva, outra negativa, uma transferéncia de sentimentos ternos e uma transferéncia de sentimen- tos hostis (7). Note-se o parentesco destes termos com os de componente positiva e negativa do complexo de Edipo. Esta extensao da nogao de transferéncia, que faz dela um processo estruturante do conjunto do tratamento a partir do prototipo dos contlitos infantis, resulta no delineamento por Freud de uma nova nocao, a de neu- rose de transferéncia*: “... conseguimos normalmente conferir todos os sintomas da doenga uma nova significagao transferencial, substituir a sua 517 pr eansrERencia 18 neurose Comum por uma neurose de t ser curado pelo trabalho terapéutico’ Ansferéncia da qual fo doente} pode (9). * Do ponto de vista da sua fingdo no lratamento, a transferéncia é antes de tudo, da forma mais explicita, classificada por Freud entre og princi- pais “obstaculos" que se opoem a rememoracao do material recaleado (4e), Mas, também desde o inicio, o seu aparecimento é assinalado como fre- quente ¢ mesmo generalizado: "... podemos estar certos de que a encon- traremos em qualquer aniilise relativamente séria”’ (4). Por isso, neste momento do seu pensamento, Freud constata que 0 mecanismo da trans- feréncia para a pessoa do médico se desencadeia no proprio momento em que contetidos recalcados particularmente importantes ameagam se reve- lar. Neste sentido, a transferéncia surge como uma forma de resisténcia*, € ao mesmo tempo assinala a proximidade do conflito inconsciente. As- sim, Freud encontra desde a origem o que constitui a prépria contradicao da transferéncia e 0 que motiva as formulacdes muito divergentes que apre- sentou acerca da sua fungdo; em certo sentido, ela é, relativamente a re- memoracao verbalizada, ‘‘resisténcia de transferéncia” (Ubertragungswi- derstand); em outro, na medida em que constitui tanto para 0 sujeito como para o analista uma maneira privilegiada de apreender ‘‘a quente” e in staiu nascendi os elementos do conflito infantil, ela é 0 terreno em que se representa, em sua atualidade irrecusavel, a problematica singular do pa- ciente, em que este se encontra confrontado com a existéncia, coma per- manéncia, com a for¢a dos seus desejos e fantasias inconscientes. “E ine- gavel que a tarefa de domar os fendmenos de transferéncia implica as maio- res dificuldades para o psicanalista; mas é preciso nao esquecer que sao, justamente elas que nos prestam 0 inestimavel servico de atualizar e ma- nifestar as mogdes amorosas, sepultadas e esquecidas; porque, no fim de contas, ninguém pode ser executado in absentia ou in effigie.” (5c) Esta segunda dimensao, incontestavel, assume importancia cada vez maior aos olhos de Freud: “A. transferéncia, tanto na sua forma positiva como negativa, entra a servico da resisténcia; mas nas maos do médico torna-se o mais poderoso dos instrumentos terapéuticos e desempenha um papel que nao pode deixar de ser hipervalorizado na dinamica do proces- so de cura." (10) Mas, inversamente, deve notar-se o fato de que, mesmo quando Freud vai mais longe no reconhecimento do carater privilegiado da repeticao na transferéncia — “‘o doente nao pode recordar-se de tudo 0 que nele esta recalcado, nem talvez do essencial [ Ele é antes obrigado a repetir 0 recalcado, como vivéncia no presente” (11a) —, isso nao 0 impede de en- fatizar a seguir a necessidade de 0 analista ‘,,. limitar 0 mais possivel o dominio desta neurose de transferéncia, de levar 0 maximo de contetido Possfvel para o caminho da rememoracao e de abandonar o minimo possi- vel a repeticao”’ (11). “TRANS Por isso, Freud sempre sustentow como id co completa ¢, quando «© reyela imp v ** que ele se fia para preencher as lacunas do passado in- fantil. Em contrapartida, nunca valoriza por si mesma a re Ao tran: fe- rencial, quer na p iva de uma ab-reagao* das experiéncias infanti . quer na de uma corregao de um modo desreal de relagéo com 0 objeto. il do tratamento @ reme- fvel, & nas * Falando das manifestagoes de transferéncia nos Estudos sobre a histe- ria, Freud escreve: este novo sintoma que foi produzido segundo 0 antigo modelo [deve ser tratado] da mesma maneira que os anligos sinto- mas” (4g). Do mesmo modo, mais tarde, ao descrever a neurose de trans- feréncia como uma ‘‘doenga artificial’ que substituiu a neurose clinica, nao vird a pressupor uma equivaléncia simultaneamente econdmica € es- trutural entre as reacdes transferenciais ¢ os sintomas propriamente ditos? De fato, Freud as Yezes explica 0 aparecimento da transferéncia co- mo um “... compromisso entre as exigéncias [da resisténcia] e as do tra- balho de investiga¢ao” (5d). Mas mostra-se imediatamente sensivel ao fa- to de as manifestag6es transferenciais serem tanto mais imperiosas quan- to o “complexo patogénico"’ esté mais préximo, e quando as refere a uma compulsao 4 repeti¢ao* indica que esta compulsao nao pode exprimir-se na transferéncia ‘‘... enquanto 0 trabalho do tratamento nao tiver vindo ao seu encontro dissipando o recalque” (11c). Do caso Dora, em que com- para as transferéncias a verdadeiras “reimpressdes”’ que muitas vezes nao contém qualquer deformagao relativamente as fantasias inconscientes, até Além do princtpio do prazer (Jenseits des Lustprinzips, 1920), onde diz que a reproducdo na transferéncia “... aparece com uma fidelidade nao dese- jada [e que] ela tem sempre como contetido um fragmento da vida sexual infantil, e portanto do complexo de Edipo e das suas ramificagoes...” (11d), vai se consolidando a idéia de que na transferéncia se atualiza 0 essencial do conflito infantil. Sabe-se que, em Além do princfpio do prazer, a repeticao na transfe- réncia é um dos dados invocados por Freud para justificar a colocagao em primeiro plano da compulsao a repeti¢do: no tratamento repetem-se situa- ces, emocdes em que finalmente se exprime a indestrutibilidade da fan- tasia inconsciente. Podemos entao interrogarmo-nos sobre 0 sentido que se deve confe- rir ao que Freud chama resisténcia de transferéncia. Em Inibigdo, sintoma e angistia (Hemmung, Symptom und Angst, 1926) ele liga-a as resistén- cias do ego, na medida em que, opondo-se a rememoragao, renova no atual a acdo do recalque. Mas convém notar que no mesmo texto a compulsio A repeticao é designada, no fundo, como resisténcia do id (ver: compulsio a repeticao). . Por fim, quando Freud fala da repeticao na transferéncia das expe- riéncias do passado, das atitudes para com os pais, etc., esta repetico ENCIA 519 cl Lenina lan ac acontecimento, ¢ * Handy aN oO" ai sen i ha “dpa por exeth sto, "fs elipenldinnagraday aQ.ang ete; PUGS BMF atuagdo é ase aN ns v ¢do,fato falho, por exemplo). f igre fim, em reacao a uma tese exfrema que veria na transferéncia um nomeng mle espontineo, uma projecdo sobre a lela consti- tuida pele ane CHOBE coduranatacomple {core ria depend fot ns 1 UHRA eSBe aibmiente alesure i taior r sujeito, ay ist Mt 4 A baerince, elucidando o que na situ litica 2 Les a cme ie garter limitado da auto-anilise; por outro Temygetns! ag ae He oa ty faa Malcalpine (43) nnositatores.reaita Si do majgarmbiente analiac he [een infantibdaepaclentcdn AB} a ad 2 tetas’ de demande quea artalise, imstauraia c Ng, i atéo maig cee! PR CI pre fez), Sree ane UE a aa Net raat sepia sao n&dgamais mesteacde fans WkPle AGREE, amy les Spica . dos eniqpedidos para ass quis ha PrESECaOy| ae fea v0 Areayistoniciasdemmear carenlagaeranite a Sit UaGA9 Bre ad ae ou rg oa a trarisferercianlinid tintrarepcanada pe reusal hegougle auinclica rae diversBe*tippsteamnlsferaheia matenni fralerach eae SEH tradokt®? alagqetiiends reaileodshnos médicos faces cP™ WS! 2 imago do pai, NadiditisaiivesasletSe).que levou a valorizacio da nogio de rela- fe objeto”, procura-se ver em aco na relacdo de transferéncia (8) as ( rule privilaniad aguarihytésacdisponu di doistermos (ea: ates fence LSB Na aad es a desir tae OSH, ngseBeARENEio nai rience Hae wat a pncsatirenslontsea erste ste speeded ef feneseetst vo ace pear Re iby caro er dnleittierd (al atamentivaarsasiaccasdtendtas euler ou desfavoravel, da tra éncia no tratamento. Segundo regativositia trabstecticns Rename Bas - a a re] Danie, ese CECHrisp sia pnaieoves comp ae vga ounce ‘que teanisfertneidaleine nt nenae Net4 7 FRED AA aHSS, RO COANETIONS expe: Jia derseubiment os SeSAUERS, 20 je constant ogres geome neat ceanen aoe das le rayne recaleadas (talking cu- 8 A ENSERCA cuhigoleaseat bese ean LET Lenear a langleispelssastako, em ausia ane SE Fa s Sau Msrelae reais tdeeeoTirman a Svea- oe et wes ati Fesos ‘a0 ver que ele as coloca na rubrica da “atuagao””* THUEGFn}, 6 que contrapoe a repeti¢ao como experiéncig yivida, 4 AW LseiioFerlewpsincperintid saddened oF toot aS fe Sl $1. ora para reconhecer a transferéncia na sua cul9 gh gms i- " orteunssiedbresdt debeanicl Bar ‘Gave “Si 4 oh ses sac. ara 42, Na realid: tr 1) Fue unt). ad “rani "i ate, PgNOtinta Hsh2568: 8 Ba sVirG2idirclo 461. ~ b) G.W., IFiI1, 568; S-E., V. 461. (4) Frevp(S.), Zur Pevchotlorspie Henn. 189! 5. — a) G.W., I, 309; S.E., II, 303; 521

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