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ISSN: 1646-3137
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Capítulo I
Tempo presente e tempo passado
são ambos presentes no tempo futuro
T. S. Eliot
A imagem recorrente foi sintetizada nos filmes policiais americanos dos anos 30:
rotativas trabalhando freneticamente, despejando jornais que rodopiam até o close
fechado sobre a manchete, a informação chegando veloz e simultânea aos quatro
cantos do mundo, isto é, dos Estados Unidos - imagens superpostas de jornais de
Nova Iorque, Chicago, Boston, Baltimore, noticiando um assalto espetacular, uma
chacina estarrecedora, e finalmente o alívio pela prisão dos criminosos. Forma de
arte própria da “era da reprodutibilidade técnica”, significativamente inaugurada
com uma imagem emblemática dos tempos modernos - a locomotiva chegando à
estação, ameaçando romper a tela e invadir a sala escura -, o cinema ajudou a fixar
a idéia de que a imprensa trabalha sob o signo da velocidade. Ou melhor, de que a
velocidade é uma característica da imprensa.
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social para a definição do valor, mas também o caráter central do significado social
do tempo no estudo das atividades humanas.
A lógica do capital tende a ser estendida a todos os aspectos da vida social, num
processo de naturalização que lhes retira o sentido histórico. O que buscaremos
neste capítulo será precisamente recuperar esse sentido, refazendo o caminho da
formação da imprensa como atividade industrial, sua afirmação como produto de
massa e sua interação no processo de percepção de “aceleração do tempo” que
marcou a entrada na modernidade. Para isso, vamos inicialmente apresentar o
quadro de transformações nas concepções de espaço e tempo paralelamente ao
surgimento e consolidação do capitalismo. A seguir, procuraremos sintetizar o
desenvolvimento da imprensa no contexto mais amplo da comunicação, de forma a
esclarecer o vínculo quase automático que se estabelece entre imprensa e
velocidade. O aprofundamento da análise há de nos fornecer argumentos para
sustentar nossa hipótese original.
O tempo hegemônico
Em seu estudo sobre o que chama de “condição pós-moderna”, David Harvey não
foge a essa regra. É com base na física que ele contesta a idéia de um sentido único
e objetivo de tempo e espaço para medir a diversidade de concepções e percepções
humanas. Ao contrário, considera a necessidade de se reconhecer “a multiplicidade
das qualidades objetivas que o espaço e o tempo podem exprimir e o papel das
práticas humanas em sua construção”. Se, segundo os físicos, tempo e espaço não
tinham existência antes da matéria, “as qualidades objetivas do tempo-espaço físico
não podem ser compreendidas sem que se levem em conta as qualidades dos
processos materiais” [8] .
É, portanto, de acordo com essa perspectiva materialista que Harvey traçará seu
amplo painel das profundas transformações na experiência do espaço e do tempo
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A aceleração do tempo
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É a volatilidade da era do descartável, que, “mais do que jogar fora bens produzidos
(criando um monumental problema sobre o que fazer com o lixo)”, significa “ser
capaz de atirar fora valores, estilos de vida, relacionamentos estáveis, apego a
coisas, edifícios, lugares, pessoas e modos adquiridos de agir e ser” [19] .
Ressalte-se que o descarte de pessoas é citado como se aparentemente resultasse
de uma espécie de “estado de espírito”, quando, de fato, é uma realidade dramática
imposta pelo modo de produção, que cria uma crescente massa de excluídos já sem
qualquer função a não ser, talvez, a sua utilização como justificativa para
investimentos cada vez maiores nas áreas de segurança e de repressão ao crime,
com a conseqüente fabricação de ondas de histeria punitiva nas grandes cidades.
Veremos neste trabalho como o processo de produção das notícias insere também o
jornalismo nessa engrenagem que alimenta a volatilidade, e o quanto ele se justifica
por estar supostamente oferecendo o que o público também supostamente deseja.
Por ora, devemos enfatizar que é o processo de aceleração acima descrito que
permite a formulação do conceito de “compressão espaço-temporal” tantas vezes
referido pelos estudiosos da cultura contemporânea. Harvey ilustra esse
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Uma vez que não fazemos nada mais do que pensar as dimensões que o
olho é incapaz de ver, que o espaço e o tempo são para nós nada mais do
que intuições, as ferramentas de percepção e de comunicação poderão
realizar esse paradoxo das aparências que consiste em comprimir a
dimensão do universo em um perpétuo efeito de encolhimento [21] .
Primeiro, McLuhan e sua “aldeia global” celebrizada em meados dos anos 60:
Mais recentemente, desde fins dos anos 70, vários autores exploraram essa idéia, o
que nos dá a sensação de que se trata de uma formulação nova ou recente. Não é
bem assim, como indicam as referências de Virilio em um de seus vários estudos
sobre comunicação e velocidade:
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De fato, como nota Manuel Castells, “se a primeira revolução industrial foi
britânica, a primeira revolução da tecnologia da informação foi norte-americana”
[31] , o que certamente diz alguma coisa sobre territórios. O autor percebe uma
“continuidade da história espacial da tecnologia e industrialização na era da
informação: os principais centros metropolitanos em todo o mundo continuam a
acumular fatores indutores de inovação e a gerar sinergia na indústria e serviços
avançados” [32] . As origens da “revolução tecnológica” também deixam clara essa
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Fica difícil, nesse quadro, dizer que não há forças determinantes na condução do
processo social. Talvez por isso o autor discorde da ênfase que Harvey dá à lógica
capitalista no atual processo de transformação cultural, sob o argumento óbvio - e
certamente inadequado, pois Harvey não incorre nesse simplismo mecanicista - de
que “a cultura, em todas as suas manifestações, não reproduz simplesmente a
lógica do sistema econômico”.
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dependendo dos ciclos das empresas - seus componentes territoriais” [36] , mas
que não abolem a existência de lugares (pois, afinal, o território não desmancha...).
Assim, após demonstrar que o capital é global mas o trabalho continua sendo local,
o autor conclui que “capital e trabalho tendem cada vez mais a existir em
diferentes espaços e tempos: o espaço dos fluxos e o espaço dos lugares, tempo
instantâneo de redes computadorizadas versus tempo cronológico da vida
cotidiana” [37] .
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É por isso que Harvey, na parte final de seu estudo, sugere substituir a rígida
distinção categórica entre modernismo e pós-modernismo pela análise do fluxo de
relações interiores no capitalismo como um todo - retomando a idéia de que o
capital é um processo, uma relação social. Assim, talvez fosse possível dizer que
essas experiências modernistas anteciparam o ambiente em que vivemos hoje, e
que a novidade é a criação das condições para essa simultaneidade, com a
transmissão e recepção instantânea de informações. A propósito, convém lembrar
que o ressurgimento dos Jogos Olímpicos, em 1896, teve um papel decisivo como
metáfora do mundo moderno, sintetizada no lema “mais alto, mais rápido, mais
forte” [41] . A apropriação desse lema pela publicidade e os múltiplos significados
que dele decorrem para a vida cotidiana contemporânea não deixam dúvidas
quanto à força da metáfora.
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que se destina ao lidar com a informação. Marcos Dantas argumenta que o valor de
uso da informação será tanto maior quanto mais acessível estiver o dado, por isso “o
trabalho de busca e processamento visa, em essência, tornar imediato o acesso a
um dado, acesso este que, obviamente, não foi imediato para quem o buscou e
processou (que despendeu tempo de trabalho) mas o será para quem o usou” - para
quem recebeu a comunicação. Assim, o efeito útil é a realização da comunicação,
após o que seu valor se degrada. Dantas ressalta que
Pierre Lévy também ressalta que o tempo instaurado pela informática baseia-se no
funcionamento de uma estrutura de banco de dados que não está programada para
acumular informações, e sim para disponibilizar a versão mais atual “a um cliente
com crédito”. Assim,
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Mas talvez seja este apenas mais um véu a encobrir relações de poder muito
concretas. Pois, na interpretação de Bauman,
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Cabe também destacar que a abordagem de Sevcenko sobre o “fim da história” não
parece autorizar a combinação aleatória de eventos, como sugere Castells. Uma fala
de Eric Hobsbawm, aliás, é esclarecedora em relação a esse processo. A referência
é pertinente, embora o historiador inglês se encaixe na tradição iluminista criticada
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por Sevcenko, de vez que, nesse exemplo, não está em causa a questão do método,
mas a defesa da necessidade de se cultivar a capacidade de conhecer e encadear
fatos, pois “todo aquele que já tenha ouvido um estudante americano inteligente
perguntar-lhe se o fato de falar em ‘Segunda Guerra Mundial’ significa que houve
uma ‘Primeira Guerra Mundial’ [sabe] muito bem que nem sequer o conhecimento
de fatos básicos do século pode ser dado por certo”.
A leitura mais atenta da análise de Castells, além do mais, revela uma imprecisão
conceitual grave debaixo de um exercício de estilo: “[a] libertação do capital em
relação ao tempo e a fuga da cultura ao relógio são decisivamente facilitadas pelas
novas tecnologias da informação e embutidas na estrutura da sociedade em rede”
[54] . Pois a desregulamentação e a flexibilidade atuais não representam libertação
alguma, apenas uma nova forma de lidar com o tempo para “economizá-lo” e daí
extrair mais-valia. Da mesma maneira, a fuga da cultura ao relógio, que costuma
ser apresentada também como libertação - inclusive e especialmente pela mídia -,
esconde um novo e invisível aprisionamento.
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“Imprensa e capitalismo são pares gêmeos”, afirma Ciro Marcondes Filho em sua
tentativa de associar o nascimento e desenvolvimento daquela atividade profissional
com esse determinado modo de produção, buscando ver como a notícia se torna
mercadoria e aplicando-lhe, conseqüentemente, os conceitos de valor de uso e valor
de troca da teoria marxista [59] . Adelmo Genro Filho já fez uma boa crítica dessa
perspectiva, que reduz a possibilidade de uma imprensa crítica e transformadora a
seu “valor de uso genérico”, identificado no campo do debate político-partidário,
enquanto o “valor de uso específico” seria reduzido a zero, pois tal jornalismo não
teria condições de produzir as informações relativas à imediaticidade dos
fenômenos, tais como são tratados pela imprensa diária, e que correspondem a
necessidades reais de informação do público [60] .
Mas, embora com enfoques e conclusões distintos, os dois autores sustentam suas
teses a partir de uma orientação marxista na abordagem da história da imprensa. É
também o que faz Marcos Dantas em seu estudo sobre o desenvolvimento das
tecnologias da informação, lembrando que
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Mas, apesar das raízes iluministas que forneceriam os princípios para o exercício
do jornalismo, até aquela época a imprensa ainda não havia alcançado prestígio
como instrumento para expressão de idéias. Valorizados eram os livros e brochuras.
A esse respeito, Albert e Terrou reproduzem um comentário de Rousseau, de 1755:
Todos esses papéis são o alimento dos ignorantes, o recurso dos que
querem falar e julgar sem ler, o flagelo e o desgosto dos que trabalham.
Nunca levaram um bom espírito a produzir uma boa linha, nem
impediram um mau autor de fazer uma obra má [66] .
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Entretanto, “o que o jornal não transmitiu aos seus leitores foi o fato de que uma
máquina tão impressionante não poderia ser utilizada sem um gasto financeiro
considerável, e que os custos mal poderiam ser cobertos com o produto da venda”
[71] . Assim, a liberdade política começa a ser limitada pelas exigências
econômicas: a imprensa, para sobreviver, necessitará de investimentos crescentes
em equipamentos. Marcondes Filho aponta a separação entre imprensa como
empresa capitalista e imprensa partidária, “puramente política (doutrinária,
ideológica)”, dos partidos social-democratas e socialistas, de fundamental
importância na luta política de fins do século XIX. “A imprensa burguesa,
particularmente a partir de 1830, começara a definir-se como imprensa de
negócios para o comércio de anúncios. É nessa mercantilização do jornalismo que
se separam as tendências” [72] . O autor ressalta que, como empresa capitalista, é
essa imprensa que mantém as características originais da atividade jornalística: a
busca da notícia, o furo, o caráter de atualidade, a aparência de neutralidade, em
suma, o caráter “libertário e independente”. E argumenta que, “assim como o
funcionamento econômico é regido pelo laissez-faire, também em pleno capitalismo
concorrencial a atividade jornalística reflete o livre jogo de forças capitalistas da
disputa política”, o que lhe confere uma aparência pluralista, distintamente do
caráter da imprensa partidária, contrária à lógica empresarial.
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Marcondes Filho vê entre o jornal dito “sensacionalista” e o outro dito “sério” uma
diferença apenas de grau, pois, em ambos,
Genro Filho partilha dessa interpretação, considerando que toda notícia é, de certa
forma, sensacionalista, porque é construída de modo a apelar aos sentidos do
público. Mas encara o jornalismo de forma bem distinta, como “forma de
conhecimento do mundo” baseada no fato singular - e por isso afirma que o
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“segredo da pirâmide” é que ela não é invertida, como indica a técnica de redação
predominante, mas está em sua posição direita, com o vértice no topo, se quisermos
caracterizar o percurso de apreensão do fato singular objeto do jornalismo [77] .
Tudo que se move no mundo, tudo que anda depressa, progride. Toda
mobilidade é positiva: o mal maior é ser “ultrapassado”. A maioria das
competições é à base de velocidade, mas é em todos os domínios que é
preciso andar depressa, pensar rápido, viver rápido. (...) Naturalmente, a
vertigem da velocidade leva a aceitar em bloco todas as evoluções
modernas [78] .
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A ênfase no “ao vivo”, além de reduzir o tempo da análise e da reflexão, cria o efeito
de que todos, repórteres e público, são testemunhas oculares da “história em
movimento”. Ramonet aponta aí o retorno à idéia pré-iluminista (de fato,
pré-renascentista) de que “ver é compreender”.
A mídia não disse: “vai haver uma guerra e não vamos mostrá-la”. Pelo
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contrário, ela disse: “vocês vão ver a guerra diretamente”. E ela mostrou
imagens tais que todo mundo acreditava estar vendo a guerra, a ponto de
ninguém compreender que não a via, que aquelas imagens mascaravam
silêncios; que aquelas imagens eram na maioria das vezes falsas,
reconstruções, enganações. De fato, elas ocultavam aquela guerra a ponto
de Jean Baudrillard poder escrever um livro intitulado A guerra do Golfo
não aconteceu [84] .
O retorno da política
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Mattelart não se detém sobre a internet, que como se sabe também resulta de um
esforço originado no campo militar, nos anos 60, quando a Agência de Projetos de
Pesquisa Avançada do Departamento de Defesa dos Estados Unidos desenvolveu um
sistema de rede (a arpanet) com o objetivo de preservar as comunicações em caso
de guerra nuclear. Mas cita os episódios que marcaram a “desinformação proposital
e consentida” durante a guerra do Golfo, em 1991, para afirmar que “os velhos
métodos de manipulação foram se modernizando desde o fim das guerras do
Sudeste Asiático, tornando cada vez mais frágil a linha tênue que separa a
informação da propaganda” [88] .
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a todos o que tinha conseguido realizar para alguns”. É um debate ainda incipiente,
como reconhece o autor, que talvez por isso tenha dado à conclusão de seu estudo o
título de “o enigma”.
Não é o caso de tentar decifrá-lo aqui, mas de perceber que essa forma de pensar a
comunicação fornece a possibilidade de associar informação e velocidade -
conforme as necessidades da guerra e de acordo com uma determinada noção de
progresso - ao mesmo tempo que permite vislumbrar perspectivas críticas ao
“pensamento único”, a partir dos estudos sobre a cultura. Especialmente se esses
estudos forem perpassados por uma recuperação do sentido da política nas
atividades humanas, como insinua o questionamento de Milton Santos:
A história é comandada pelos grandes atores desse tempo real, que são,
ao mesmo tempo, os donos da velocidade e os autores do discurso
ideológico. Os homens não são igualmente atores desse tempo real.
Fisicamente, isto é, potencialmente, ele existe para todos. Mas
efetivamente, isto é, socialmente, ele é excludente e assegura
exclusividades, ou, pelo menos, privilégios de uso. Como ele é utilizado
por um número reduzido de atores, devemos distinguir entre a noção de
fluidez potencial e a noção de fluidez efetiva. Se a técnica cria
aparentemente para todos a possibilidade da fluidez, quem, todavia, é
fluido realmente? Que empresas são realmente fluidas? Que pessoas?
Quem, de fato, utiliza em seu favor esse tempo real? A quem, realmente,
cabe a mais-valia criada a partir dessa nova possibilidade de utilização do
tempo? Quem pode e quem não pode? [90]
Escrevendo cinco anos antes, mas informado por documentos de teor semelhante,
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Castells afirmava:
Previsões à parte, Lessig afirmou que o ciberespaço está se tornando cada vez
menos livre, em consequência da regulamentação imposta pelo governo americano
especialmente em torno de direitos autorais, a partir de pressões das empresas que
atuam no setor.
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[8] David Harvey. Condição pós-moderna. São Paulo, Loyola, 1993, p. 189.
[9] D. Landes. Revolution in time: clocks and the making of the modern world, apud
Harvey, op. cit., p. 209.
[10] Paul Virilio. “O resto do tempo”, trad. Juremir Machado da Silva. Porto Alegre,
PUCRS.
[13] Zygmunt Bauman. Em busca da política. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2000, p.
38.
[21] Paul Virilio. A arte do motor. São Paulo, Estação Liberdade, 1996, p. 42. Grifos
do autor.
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[27] Milton Santos. Por uma outra globalização - do pensamento único à consciência
universal. Rio de Janeiro, Record, 2000, p. 41-42. As cifras são retiradas de Y.
Berthelot, Globalisation et régionalisation: une mise en perspective, in L’integration
régionale dans le monde, Gemdev, 1994, e Noam Chomsky, Folha de S. Paulo,
1993.
[41] Cf. Eugene Weber. França fin-de-siècle. São Paulo, Companhia das Letras,
1989.
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[43] Cf. “Tempo real e espaço virtual”. Atrator Estranho nº 17, São Paulo,
NTC/ECA/USP, outubro de 1995.
[53] Eric Hobsbawm. A era dos extremos - o breve século XX (1914-1991). São
Paulo, Companhia das Letras, 1995, p. 13.
[59] Ciro Marcondes Filho. Imprensa e capitalismo. São Paulo, Kairós, 1984, p. 22.
[62] Ciro Marcondes Filho. O capital da notícia - jornalismo como produção social
da segunda natureza. São Paulo, Ática, 1986, p. 56.
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[65] Citado por P. Albert e F. Terrou, História da imprensa, São Paulo, Martins
Fontes, 1990, p. 11-12.
[69] Nelson Werneck Sodré. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro, Graal,
1977, p. 3.
[71] Jaenick, apud Marcondes Filho. O capital da notícia, op. cit., p. 63.
[74] Dieter Prokop, apud Marcondes Filho. O capital da notícia, cit., p. 66.
[79] Adauto Novaes. “Sobre tempo e história”. in Adauto Novaes (org.). Tempo e
história, S. Paulo, Companhia das Letras, 1992, p 13.
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[85] Marcondes Filho. A saga dos cães perdidos. São Paulo, Hacker, 2000, p. 112.
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