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No sabia bem como havia chegado a esse ponto. Era como se todas
as decises tomadas em uma vida inteira servissem apenas para chegar
naquele momento. Seus pensamentos vagavam entre a sopa que tinha
tomado no almoo naquela tarde e o dia em que decidiu sair de casa,
cansada das pancadas do prprio pai.
Poderia ter buscado ajuda mais cedo. Mas no achava que era
merecedora de alguma ajuda nessa vida. A culpa era sua e apenas sua.
Cada deciso errada que havia tomado tinha lhe trazido para esse exato
momento. Ser que havia um cu? Ser que haveria outra vida em que
pudesse fazer as decises certas dessa vez? Talvez fosse punida e jogada
nas chamas do inferno. Havia merecido. J no enxergava. Sua vista havia
escurecido. Algum a acharia naquele quarto, ocasionalmente. Seu corpo j
no seria sua priso. O frasco vazio na sua mo alegaria a causa da morte.
O dono da pousada lamentaria o ocorrido. No faria bem pros negcios.
Talvez algum chorasse. Talvez no se importassem. Seria s mais uma
drogadazinha a menos no mundo. Ser que algum deus a perdoaria? Talvez
no. Pensou no irmo. Talvez iria v-lo e pedir perdo. Dizer que sentia
muito e que a culpa tinha sido sua. Dizer que o amava. Sua mente j no a
levava pra nenhum lugar. Vagava no limbo escuro espera do outro lado.
Seu corao j quase no batia. O ar j no entrava nos pulmes. Um ltimo
pensamento lhe ocorreu: Enfim, vou ter paz.