Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Desencantos - Phantasia Dramatica. Assis, Machado De. 1861 PDF
Desencantos - Phantasia Dramatica. Assis, Machado De. 1861 PDF
'-^í***-
EX^LIBRIS
-m
.«Sfe.
M
RpBENS BOR
ALVES D E M O R A E S !
Ie ne fay rien
sans
Gayeté
(Montaigne, Des livres)
Ex Libris
José Mindlin
J. 4~l»
^J^—v
*4h". r~ c
U^*^ ^
DESENCANTOS
DESENCANTOS
PHANTASIA DRAMÁTICA
MACHADO DE ASSIS
^J^Ji^J^Sh^^^^T^XJB
RIO DE JANEIRO
IS61
Jjgawifaze <^$oca-uawa.
INTERLOCUTORES
CLARA DE SOUSA.
LUIZ DE MELLO.
PEDRO ALVES.
PRIMEIRA PARTE
EM IM TliOPOI IS.
No»* 11 a 1 .
CLARA.
Luiz.
Esplendido !
CLARA,
Explendido, sim !
Luiz.
Maravilhnsi.
— 2 —
CLARA.
Luiz.
CLARA.
Luiz.
Oh não
CLARA.
CLARA.
Luiz.
CLARA.
Luiz
CLARA,
Porque ?
Luiz.
Porque eu não posso admittir a mulher sem os grandes en-
thusiasmos do coração. Chamou-me ha pouco de poeta; com
efleito eu assemelho-me por esse lado aos filhos queridos das
musas. Esses imaginam a mulher um ente intermediário que
separa os homens dos anjos e querem-a participante das boas
qualidades de uns e de outros. Dir-me-ha que se eu fosse agiota
não pensaria assim; eu responderei que não sãn os agiotas
os que tem razão neste mundo.
CLARA.
Luiz.
Penso e sinto assim.
CLARA.
Luiz.
Razão de que?
CLARA.
A que respeito ?
Luiz.
Respeito á crueldade das violetas.
CLARA.
CLARA.
Luiz.
Por blasphemar de si. Uma mulher nas condições da dé-
cima musa nunca obra por calculo. E V. Ex., por mais que
queira, deve estar nas mesmas condições de sensibilidade,
que a poetisa antiga, bem como está nas de belleza.
Scena II.
PEDRO ALVES.
CLARA.
PEDRO ALVES.
CLARA.
Luiz.
PEDRO ALVES.
Maldita enxaqueca !
Cl. ARA.
PEDRO ALVES.
CLARA.
PEDRO ALVES.
CLARA.
Luiz.
Luiz.
lioatos ?
PEDRO ALVES.
toda parte, mesmo nos bailes; <• desta vez não houve tino
na escolha dos convidados.
PED:IO AI.YK**.
PEDRO AI.VK*-.
CLARA.
Ah !
I.ii/ í. Pr.uiio A n i s .
O que é ?
— 12 —
CLARA.
PEDRO ALVES.
CLARA.
Luiz
Se consente, eu faço concurrencia ao desejo do Snr. Pedro
Alves...
CLARA.
Luiz.
Mas se isso é um desejo de nós ambos. Decida.
PEDRO AL\ES
Luiz.
Não espero mais nada.
Scena 111.
PEDRO ALVES, CLARA.
PEDRO ALVES.
Não lhe acho razão para fallar assim. O Snr. Luiz de Mello
é um moço de maneiras delicadas e está longa de offender a-
quem quer que seja, muito menos a uma pessoa que eu
considero...
PEDRO ALVES.
Acha ?
CLARA.
Aoho sim.
PEDRO ALVES.
CLARA.
CLARA.
PEDRO ALVES.
PEDRO AI.MS.
PEDRO ALVES.
Deveras ?
CLARA.
Deveras.
Com licença.
CLARA.
PEDRO ALVES.
,\ào acredita ?
— 16' —
PEDRO ALVES.
E' capricho de moça bonita e nada mais. Capricho sem
exemplo.
CLARA.
CLARA.
PEDRO ALVES.
PEDRO ALVES.
Sccna IV.
PEDRO ALVES ( só ).
Luiz.
D. Clara?
PEDRO ALVES.
Luiz.
PEDRO ALVES-.
Luiz.
PEDRO ALVES.
Não comprehcnde ?
Luiz.
PEDRO ALVES.
PEDRO ALVES.
Luiz.
Informaram-no mal. Eu não faço a corte á viuva do co-
ronel.
PEDRO ALVES.
Pois éu faço.
Luiz.
PEDRO ALVES.
Luiz.
PEDRO ALVES.
Acha pouco ?
Luiz.
Acho.
PEDRO AI.VES.
Pois ha. Essa posição, esse physico, essa coragem e essa dis-
crição, são d'e certo apreciáveis, mas duvido que tenham valo?
diante de uma mulher de espirito-.
PEDRO ALVES.
Luiz.
PEDRO ALVES.
Luiz.
PEDRO ALVES.
PEDRO ALVES.
Pois experimente.
22 —
Luiz.
Não; disse-lhe já que respeito muito a viuva do coronel e
estou longe de sentir por ella a paixão do amor.
PEDRO ALVES.
PEDRO ALVES.
S c e n a V.
PEDRO ALVES, LUIZ, D. CLARA.
CLARA.
CLARA.
Pagar o que ?
Luiz.
Pagar essas horas de felicidade calma que a sua graciosa
urbanidade me dá e que constituem os meus tios de ouro no
tecido da vida.
PEDRO ALVES.
CLARA.
Luiz.
Luiz.
CLARA.
'Oh!
Luiz.
Duvido.
PEDRO ALVES.
Duvida ?
CLARA.
Luiz.
De mais até.
CLARA.
Procure alcançal-as.
Luiz.
CLARA.
Luiz.
Luiz.
Luiz.
A phantasia ?
CLARA.
CLARA.
Porque ?
PEDRO ALVES.
CLARA.
PEDRO ALVES.
Luiz.
CLARA.
Luiz.
Luiz.
PEDRO ALVES.
Digo que estou muito fora do meu século. O que fazer con-
tra adversários que se contam em grande numero, numero in-
finito, a admittir a versão dos livros santos ?
CLARA.
Luiz.
CLARA.
CLARA.
Onde vai?
Luiz.
CLARA.
Scena VI.
PEDRO ALVES.
Estou contentissimo.
CLARA.
Porque ?
PEDRO ALVES.
Mas, quer que lhe diga uma cousa ? E' preciso acabar com
essas provocações continuas.
PEDRO ALVES.
CLARA.
PEDRO ALVES.
Nem sempre.
PEDRO ALVES.
PEDRO ALVES.
CLARA.
PEDRO ALVES.
Franqueza.
CLARA.
PEDRO ALVES.
PEDRO ALVES.
CLARA.
PEDRO ALVES.
CLARA.
PEDRO ALVES.
Nunca.
CLARA.
PEDRO ALVES.
Até quando ?
CLARA.
Até um dia.
PEDRO ALVES.
PEDRO ALVES.
Oh ! meu Deus 1
— 32 —
CLARA*
Admirou-se ?
PEDRO ALVES.
Vale.
S c e n a VII.
Luiz ( entrando ) .
Ah!...
PEDRO ALVES.
Chegou a propósito.
CLARA.
Luiz.
CLARA.
A resolução foi u:n pouco súbita, mas nem por isso deixa de
ser reflectida.
Luiz.
CLARA.
CLARA.
PEDRO ALVES.
Oh ! isso é de mais !
Luiz.
Até onde ?
— 3U —
Luiz.
Pretendo abjurar cm qualquer cidade mourisca e fazer depois
a peregrinação da Meca. Preenchido este dever de u n bom
niahometano irei entre as tribus do deserto procurar a excep-
ção que não encontrei ainda no nosso clima christão.
CLARA.
Luiz.
Vou tentar.
PEDRO ALVES
Está doudo !
CLARA.
Luiz.
CLARA.
Luz.
CLAMA.
Leva a lembrança dos amigos no fundo das malas, não ?
Luiz.
NA COUTE.
N e c 11 a I.
PEDRO ALVES.
CLARA.
PEDRO ALVES.
CLARA.
Prefiro a minha.
PEDRO ALVES.
Prefere...
CLARA.
CLARA.
PEDRO ALVES.
CLARA.
PEDRO ALVES.
Clara !
CLARA.
CLARA.
Vamos ao segundo.
PEDRO ALVES.
CLARA.
E depois ?
PEDRO ALVES.
CLARA.
Oh!
CLARA.
PEDRO ALVES.
CLARA.
PEDRO ALVES.
CLARA ( levantando-sc ) .
PEDRO ALVES.
Obrigada !
PEDRO ALVES.
CLARA.
PEDRO ALVES.
CLARA.
PEDRO ALVES.
Eslou.
CLARA.
Seena II.
PEDRO ALVES E UM CRIADO-
PEDRO ALVES.
O CRIADO.
PEDRO ALVES.
Fazc-a entrar.
Seena III.
PEDRO ALVES.
Que vejo !
Luiz.
PEDRO ALVES.
PEDRO ALVES.
PEDRO ALVES.
Luiz.
PEDRO ALVES.
Luiz.
Sim, com mais descanso. Está de saúde a Snra. D. Clara
Alves ?
— hh —
TEDRO ALVES.
Luiz.
Ah!
PEDRO ALVES.
PEDRO ALVES.
E lua cheia.
Luiz.
Luiz.
PEDRO ALVES.
PEDRO ALVES.
Luiz.
PEDRO ALVES.
De todo o coração.
Luiz.
Luiz.
Luiz.
Veja o que é o egoísmo humano. Como renegou da vida de
solteiro, quer que todos professem a religião do matrimônio.
PEDRO ALVES.
Eseusa moralisar.
Luiz.
PEDRO ALVES.
Luiz.
PEDRO ALVES.
PEDRO ALVES.
Luiz.
Tem razão.
PEDRO ALVES.
Luiz.
PEDRO ALVES.
Pensa bem.
Luiz.
S e e n a IV.
CLARA, PEDRO ALVES, LUIZ.
PEDRO ALVES.
CLARA.
Oh!
PEDRO ALVES.
Veja isto !
CLARA.
PEDRO ALVES.
CLARA.
Luiz.
CLARA.
CLARA.
Te*ve saudades de ca ?
Luiz.
PEDRO ALVES.
Luiz.
CLARA.
Luiz.
Vale.
PEDRO ALVES.
CLARA.
CLARA.
PEDRO ALVES
Quem sabe ?
Luiz.
Tem razão ; dou por findo o meu capitulo de viagem.
PEDRO ALVES.
Seena V.
PEDRO ALVES.
CLARA.
PEDRO ALVES.
Se me lembro !
CLARA.
Acha ?•
PEDRO ALVES.
CLARA.
Tenha cuidado.
PEDRO ALVES.
Em que ?
CLARA.
PEDRO ALVES.
Ora, crime !
PEDRO ALVES.
CLARA.
PEDRO ALVES.
CLARA ( da porta ) .
Volta cedo ?
PEDRO ALVES.
S e e n a VI.
PEDRO ALVES.
Oh!
Luiz.
0 commendador não estava em casa, lá deixei o meu cartão
de visita. Aonde vai ?
PEDRO ALVES.
A' câmara.
Luiz.
Ah!
PEDRO ALVES.
Venha comigo.
Luiz.
Posso.
Luiz.
Pois conversemos.
PEDRO ALVES.
PEDRO ALVES.
Luiz.
O que lhe vou communicar é grave c importante.
PEDRO ALVES.
Não me assuste.
Luiz.
PEDRO ALVES.
Comprehendo a soffreguidão.
Luiz.
PEDRO ALVES.
Oh !
Luiz.
Luiz.
Luiz.
Tanto melhor.
PEDRO ALVES.
Luiz.
Graça a Deus r Cheguei a tempo.
PEDRO ALVES.
Luiz.
Sim ?
PEDRO ALVES.
PEDRO ALVES.
PEDRO ALVES.
Seena VII.
CLARA, LUIZ.
Luiz.
CLARA.
Luiz.
Estive com o Snr. Pedro Alves. Neste momento foi elle para
a câmara. Ouça : lá partio o carro.
CLARA.
Conversaram muito ?
Luiz.
CLARA.
CLARA.
Luiz.
CLARA.
CLARA.
CLARA.
Peccado ?
Luiz.
A imaginação.
CLARA.
CLARA.
Luiz.
CLARA.
Luiz.
I'.LA li A .
Luiz.
Luz.
Perdão, mas...
CLARA.
Luiz.
CLARA.
Onde vê o milagre ?
Luiz.
Na conversão de V. Ex
CLARA.
Luiz.
CLARA.
Pois será conversão. Não tem mais que bater palmas pela
ovelha rebelde que volta ao aprisco. Os homens tomaram
tudo e mal deixaram ás mulheres as regiões do ideal. As
mulheres ganharam. Para a maior parte o ideal da felicidade é
a vida plácida, no meio das flores, ao pé de um coração que
palpita. Elias sonham com o perfume das flores, com as escu-
mas do mar, com os raios da lua e todo o material da poesia
moderna. São almas delicadas, mal comprehendidas e muito
calumniadas.
Luiz.
Eu sei !
Luiz.
CLARA.
CLARA.
CLARA.
Luiz.
Cruel em que ?
CLARA.
Luiz.
E' que os homens que inventaram a expiação legal, consa-
gram também uma expiação moral. Quando esta não se dá, o
perdão não é um dever, porém uma esmola que se faz á cons-
ciência culpada, e tanto basta para desempenho da caridade
christã.
CLARA.
Luiz.
E' o remorso.
CLARA.
Luiz.
CLARA.
Luiz.
Valia.
Luiz.
CLARA.
Luiz.
No Oriente tudo é poeta, e os poetas dispensam bem a
gloria de espíritos sólidos.
CLARA.
Luiz.
CLARA.
CLARA.
Oh !
Luiz.
CLARA.
Luiz.
CLARA.
Ha.
Luiz.
Não acha ?
CLARA.
CLARA.
Luiz.
CLARA.
Luiz.
CLARA.
Obrigada ! E eu conheço-a ?
Luiz.
Tanto como a si própria.
CLARA.
CLARA.
De Clara !
Luiz.
Sim, minha senhora. Vi-a ha dous dias ; está bella como a
adolescência em que entrou. Revela uma espressão de candura
tão angélica que não pôde deixar de agradar a um homem
de imaginação, como eu. Tem além disso uma vantagem : não
entrou ainda no mundo, está pura de todo contacto social ;
para ella os homens estão na mesma plana e o seu espirito ainda
não pôde fazer distincção entre o espirito solido e o homem
do ideal. E'-lhe fácil aceitar um ou outro.
— 69 —
CLARA.
Luiz.
Posso considerar-me feliz ?
CLARA.
CLARA.
Ah!
Luiz.
Versou sobre isso a nossa conversa.
CLARA.
Luiz.
Ah !
Luiz.
Seena VIII.
LUIZ, PEDRO ALVES, CLARA.
PEDRO ALVES.
Luiz.
Tenho o consentimento de ambos.
PEDRO ALVES.
CLARA.
Luiz.
Consagrarei nisso minha vida.
PEDRO ALVES.
Luiz.
1. Você apenas deve utilizar esta obra para fins não comerciais.
Os livros, textos e imagens que publicamos na Brasiliana Digital são
todos de domínio público, no entanto, é proibido o uso comercial
das nossas imagens.