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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

COMARCA DE SÃO PAULO


FORO REGIONAL I - SANTANA
7ª VARA CÍVEL
AV. ENGENHEIRO CAETANO ÁLVARES, 594, São Paulo - SP - CEP 02546-
000

SENTENÇA

Processo nº: 001.08.613047-2 - Possessórias Em Geral(reintegração, Manutenção,


Interdito)
Requerente: Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo - Bancoop
Requerido: Paulo Sérgio Polonio e outro

Juiz(a) de Direito: Dr(a). Carina Bandeira Margarido Paes Leme

Se impresso, para conferência acesse o site http://esaj.tj.sp.gov.br/esaj, informe o processo 001.08.613047-2 e o código 0100000015V38.
Vistos.

COOPERATIVA HABITACIONAL DOS BANCÁRIOS DE SÃO


PAULO - BANCOOP ajuizou a presente ação em face de PAULO SÉRGIO POLONIO E
OUTRO. Alega, em síntese, que as partes firmaram termo de adesão e compromisso de
participação, assumindo a cooperada a obrigação de contribuir com seus recursos para construção,
pelo sistema cooperativo regulado pela Lei Especial nº 5764/71 e pelo Estatuto e Regimento
Interno da cooperativa autora, do empreendimento identificado na inicial. Os cooperados,
entretanto, deixaram de efetuar os pagamentos devidos, prejudicando, assim, todos os cooperados

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participantes do empreendimento, mesmo após o encaminhamento de notificação extrajudicial.
Requer, assim, a eliminação dos cooperados com conseqüente rescisão da avença e reintegração
na posse do imóvel, nos termos da cláusula 12ª, § 1º, do contrato celebrado entre as partes.
Requer, outrossim, a condenação dos cooperados inadimplentes no pagamento de indenização na
forma da cláusula 10ª, § 7º. Juntou documentos (fls. 23/55).

Os requeridos ingressaram nos autos, apresentando defesa (fls. 61/84 e


255/261). Informam que a questão aqui posta é objeto de discussão em ação ajuizada pela
Associação dos Adquirentes de Apartamento do Empreendimento Morada Inglesa em trâmite
perante a 34ª Vara Cível Central, requerendo o reconhecimento da litispendência, conexão das
ações perante o Juízo prevento ou, subsidiariamente, a suspensão deste processo em função da
existência de prejudicialidade externa. Em preliminar, requereram o reconhecimento da
impossibilidade jurídica do pedido. No mais, depois de discorrerem sobre a natureza da relação
existente entre as partes, sustentam que quitaram integralmente as parcelas previstas no contrato,
inexistindo qualquer comprovação contábil da ocorrência de gastos excedentes, de resto, sem
aprovação em Assembléia. Requereram, pois, o decreto de improcedência da ação com

001.08.613047-2 - lauda 1
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condenação da ré pela litigância de má-fé. Juntaram documentos (fls. 85/177).

Réplica às fls. 189/216 e 78/204 e fls. 268/316.

A autora juntou novos documentos (fls. 219/237).

Manifestação dos réus às fls. 264/267. .

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É o relatório. Decido.

O processo comporta julgamento no estado em que se encontra na forma


do artigo 330, inciso I, do Código de Processo Civil.

A reunião das ações não se justifica porquanto a amplitude da discussão


posta na ação declaratória ajuizada pela dos Adquirentes de Apartamento do Empreendimento
Morada Inglesa, não será alcançada no julgamento desta ação, cujo objeto é a retomada do

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imóvel, com contornos próprios, impedindo, pois, a ocorrência de decisões conflitantes.
Idênticos fundamentos afastam a conveniência da suspensão desta até julgamento daquela. De
resto, sem tríplice a identidade, inexistente litispendência.

A matéria invocada sob a preliminar de impossibilidade jurídica do


pedido traz conteúdo meritório e como tal será apreciada.

Feitas essas considerações, passa-se ao mérito.

As partes firmaram termo de adesão e compromisso de participação,


assumindo os cooperados a obrigação de contribuir com seus recursos para construção, pelo
sistema cooperativo regulado pela Lei Especial nº 5764/71 e pelo Estatuto e Regimento Interno da
cooperativa autora, do empreendimento identificado na inicial.

A autora imputa inadimplemento aos cooperados, que não honraram o


pagamento de resíduos (CA fls. 245/246) apurados após a conclusão do empreendimento.

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A exigibilidade do valor correspondente aos resíduos - cujo não


pagamento, diga-se, motivado, não veio negado pelos réus - traduz-se em requisito indispensável
ao reconhecimento do direito à proteção possessória buscada nesta ação e, definitivamente, pelo
simples confronto entre as disposições do Estatuto Social e a prova documental dos autos,
dispensando outras digressões, revelou-se comprometida.

Ora, extrai-se do artigo 39 do Estatuto Social que compete a

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Assembléia Geral Ordinária deliberar sobre a destinação das sobras ou o rateio das perdas
decorrentes da insuficiência das contribuições para as coberturas das despesas da sociedade .

A única ata exibida com a inicial refere-se a Assembléia Geral Ordinária


realizada aos 04/02/05, oportunidade da aprovação das contas/balanço geral, relatório da diretoria
e parecer do conselho fiscal do exercício de 2004, não seguida de qualquer outra contemporânea
ao início da cobrança, absolutamente imprescindível para comprovação da aprovação dos dois
rateios cobrados em 2006/2007 (fls. 42/44 e 245/24622/23 e 24/44).

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Aliás, de outra forma não poderia dispor o Estatuto Social da
Cooperativa, que, com esta previsão, curvou-se à necessidade de transparência e de respeito à
justa expectativa dos cooperados de obtenção de efeitos liberatórios ao final do pagamento
integral do preço ou, em hipótese diversa, depois de quitado eventual saldo, porém conhecido e
justificado, o que não foi providenciado pela autora, ao arrepio da função social do contrato e da
boa-fé, valendo-se, como se não bastasse, desta via com propósito nitidamente coativo.

E tanto é verdade que a Diretoria da Cooperativa desviou-se do espírito


corporativista e de todas as disposições necessárias e suficientes a garantir a lisura na
administração dos recursos pertencentes aos seus cooperado definidas no Estatuto Social, que o
Ministério Público ajuizou ação civil pública, na defesa dos interesses patrimoniais dos
cooperados, buscando sanear, no possível, a gestão lesiva e obscura dos diversos
empreendimentos.

Neste ponto, consigna-se que o acordo celebrado entre a autora e o


Ministério Público não socorre, para fins de obtenção da proteção possessória aqui reclamada, a

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autora, que definitivamente deixou de obter a aprovação dos valores ditos inadimplidos em
necessária Assembléia Geral Ordinária; ao contrário, os termos da cláusula sexta do mencionado
acordo escancaram a falta de transparência ao exigir a disponibilização de informações
explicativas acerca de rateios de custo adicional, que, repita-se, não substitui a realização de
Assembléia Geral Ordinária, no caso não realizada apesar da conclusão do empreendimento ter
ocorrido há mais de ano.

Ademais, os resíduos, se superada a exigência da aprovação em

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Assembléia Geral, sequer foram provados, até a presente data, quanto à existência e ao quantum.

A propósito, confira-se: Cooperativa Habitacional Contrato de


Compromisso de Compra e Venda Declaratória de inexigibilidade de débtio Omissão na
realização das Assembléias pertinentes e obrigatórias Cobrança de saldo residual sem respaldo
legal Cálculo produzido unilateralmente sem a necessária prestação de contas documentada
Consumidor em desvantagem excessiva Obrigatoriedade da outorga de escritura definitiva
Recurso improvido (Ap. 582.881.4/0-00, rel. Joaquim Garcia, j. 05/11/08). No mesmo sentido:
Cooperativa que cobra, seguidamente, resíduo dos compradores O fato de a cooperativa

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invocar o regime da Lei 5764/71, para proteger seus interesses, não significa que o cooperado
esteja desamparado, pois as normas gerais do contrato, os dispositivos que tutelam o consumidor
e a lei da incorporação imobiliária, atuam como referências de que, nos negócios onerosos, os
saldos residuais somente são exigíveis quando devidamente demonstrados, calculados e provados
Inocorrência Não provimento (Ap. 478.060-4/0).

Neste contexto, sem aprovação em Assembléia Geral, inexigíveis são os


valores ditos inadimplidos e, portanto, inexistente o estado moratório, compromentendo a
proteção possessória e o direito indenizatório reclamados nesta ação.

Condeno a autora pela litigância temerária na medida em que buscou


suplantar toda a discussão já posta sub judice - ação civil pública e ação declaratória mediante
a exigência do pagamento de resíduo não aprovado em Assembléia Ordinária e sem definição
inconteste do respectivo quantum, tudo sob pena de mal iminente e grave, qual seja, a retomada
do imóvel.

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Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTE o pedido. Condeno a


autora no pagamento das custas, despesas processuais e honorários advocatícios fixados, à luz do
artigo 20, parágrafo 4º, do Código de Processo Civil, em R$ 2.500,00. Condeno a autora, em
razão da litigância de má-fé, no pagamento de indenização correspondente a 10% do valor dos
resíduos cobrados.

São Paulo, 31 de julho de 2009.

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