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em d o i s p o l o s : de um l a d o o mundo sensvel ou
visvel e de o u t r o o mundo invisvel. E s t e s po-
l o s , na v e r d a d e , so c o m p l e m e n t a r e s e o mundo
visvel s i n t e r e s s a n a m e d i d a em que signo,
smbolo do invisvel. A r e a l i d a d e sensvel que
n o s c e r c a c o n s t i t u i a q u e l a " f l o r e s t a de smbo-
los" d e que nos f a l a B a u d e l a i r e no seu soneto
" C o r r e s p o n d a n c e s " . Em Pellas et Mlisande, o
espao cnico o r g a n i z a - s e em funo d e s s a " a n a l o -
g i a " e n t r e o visvel e o invisvel. O teatro
t o r n a - s e , ento, o " l o c u s " a p r o p r i a d o p a r a as
manifestaes d o t r a n s c e n d e n t e na realidade
objetiva.
Na c e n a 1 do p r i m e i r o a t o , o paratexto
n o s d como espao a p o r t a do palcio. As s e r v a s
(do i n t e r i o r ) b a t e m p o r t a p a r a que o p o r t e i r o
a a b r a a f i m d e que e l a s possam lav-la. Esta
p o r t a que s e a b r e p a r a o pblico p a r e c e s e r um
c o n v i t e p a r a que e s t e p e n e t r e n o espao d o s s m -
b o l o s e a n a l o g i a s . N e s t a mesma p o r t a , m a i s tar-
d e , sero e n c o n t r a d o s Mlisande e G o l a u d feri-
d o s , a p o r t a estar manchada de s a n g u e . A lava-
gem da porta e aqui estamos diante de uma ce-
rimnia de purificao a n t e c i p a d a p o i s im-
possvel como s e n t e n c i a a ltima f a l a do p o r t e i -
ro que fecha a cena:
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O espao s o b r e t u d o f e c h a d o ( floresta,
g r u t a , s a l a s e q u a r t o s do palcio) o u circuns-
crito ( d i a n t e do palcio r o d e a d o p o r espessa
f l o r e s t a ) . Mlisande s e n t e - s e i n f e l i z n e s t e es-
pao f e c h a d o , s i g n o da priso em s u a prpria fa-
t a l i d a d e . Pellas, p o r s u a v e z , sempre est t e n -
t a n d o p a r t i r sem c o n s e g u i r l i b e r t a r - s e deste
mesmo espao. O r o m p i m e n t o com o espao f e c h a d o
s ser possvel com a m o r t e d o s a m a n t e s .
U m dos o b j e t i v o s c e n t r a i s d e Maeterlinck
a criao de um espao que s i g n i f i q u e . E pa-
ra i s s o , i n t r o d u z s i g n o s que d e i x a m transpare-
c e r um d o s m o t i v o s f u n d a m e n t a i s da pea: a pre-
sena c o n s t a n t e da m o r t e . O g r a n d e e estranho
nvio p r e s e n t e na cena IV do p r i m e i r o a t o lem-
bra o barco de Caronte; podendo-se ver nele um
s i g n o de morte. A s i m b o l o g i a da morte reafirma-
s e atravs d e o u t r o e l e m e n t o sempre p r e s e n t e , a
gua. T r a t a - s e de "guas d o r m e n t e s " , "guas mor-
t a s " que s e g u n d o G a s t o n B a c h e l a r d so "leons
matrielles p o u r une mditation d e l a m o r t " (L'
eau e t l e s rves).
H a i n d a o u t r o e l e m e n t o que c o n t r i b u i pa-
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