Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A sabedoria popular diz: “Quem deixa a Deus fora das suas contas, não
sabe contar”; essas contas não batem, não podem bater, porque se esquece
precisamente a parcela de maior importância. Os Apóstolos fizeram bem os
cálculos, contaram com toda a exactidão os pães e os peixes disponíveis...,
mas esqueceram-se de que Jesus, com o seu poder, estava ao lado deles. E
esse dado mudava radicalmente a situação; a verdadeira realidade era outra,
muito diferente. “Nos empreendimentos de apostolado, está certo – é um dever
– que consideres os teus meios terrenos (2 + 2 = 4). Mas não esqueças –
nunca! – que tens de contar, felizmente, com outra parcela: Deus + 2 +
2...”2 Esquecer essa parcela seria falsear a verdadeira situação. Ser
sobrenaturalmente realista significa contar com a graça de Deus, que é um
“dado” bem real.
O Senhor faz com que os fracassos na acção apostólica (uma pessoa que
resiste ou nos vira as costas, outra que se nega reiteradamente a dar um passo
muito pequeno que a pode aproximar de Deus, um filho que se recusa a
acompanhar-nos à missa de domingo...) nos santifiquem e acabem por
santificar os outros; nada se perde. O que não pode dar fruto são as omissões
e os atrasos, o cruzar os braços porque parece ser pouco o que podemos fazer
e grande a resistência do ambiente. Deus quer que ponhamos à sua disposição
os poucos pães e peixes que sempre temos, e que confiemos n’Ele. Uns frutos
chegarão em breve prazo; outros, o Senhor os reserva para o momento
oportuno, que Ele conhece muito bem; mas sempre chegarão. Temos de
convencer-nos de que não somos nada e de que nada podemos por nós
mesmos, mas que Jesus está ao nosso lado, e “Ele, a cujo poder e ciência
estão submetidas todas as coisas, nos protege através das suas inspirações
contra toda a estultícia, ignorância ou dureza de coração”6.
“Podemos imaginar o que aconteceria depois, quando alguns dos cinco mil
se encontrassem casualmente. A amizade suscitaria neles recordações
comuns: o lugar onde se tinham sentado uns e outros naquele dia memorável;
o temor de que as provisões não fossem suficientes; a alegria que tiveram
quando Pedro, João ou Tiago passaram por eles com as mãos cheias de
víveres; o assombro ao verem todos saciados e os doze cestos que
sobraram”10.
Ele volta a realizar milagres quando pomos à sua disposição o pouco que
possuímos. Ele tem outra lógica, que supera os nossos pobres cálculos,
sempre pequenos e insuficientes. Que vergonha se alguma vez guardássemos
para nós os cinco pães e os dois peixes, enquanto o Senhor esperava que os
entregássemos para fazer maravilhas com eles!
(1) Cfr. Mt 14, 13-21; (2) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 471; (3) cfr. Mt 28, 28; (4) A.
Ruiz, Anédoctas teresianas, 3ª ed., Monte Carmelo, Burgos, 1982, pág. 217; (5) São Josemaría
Escrivá, op. cit., n. 473; (6) São Tomás, Suma Teológica, I-II, q. 68, a. 2, ad. 3; (7) São
Josemaría Escrivá, Forja, n. 659; (8) G. Chevrot, Jesus e a samaritana, Aster, Lisboa, 1954,
pág. 145; (9) cfr. R. Knox, Ejercícios para sacerdotes, Rialp, Madrid, 1981, pág. 257; (10) ib.;
(11) B. Baur, En la intimidad con Dios, Rialp, Madrid, 1963, pág. 233; (12) São Josemaría
Escrivá, Forja, n. 341.