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E de repente foi o cordel

pelejas e narrativas nordestinas, em verso


Por Laura Benitez Brickmann

Resumo:

O milenar ofício de contar histórias sempre teve um lugar de destaque nas


culturas que valorizam os ancestrais e seus ensinamentos; no entanto, no Nordeste
brasileiro, cordel, repente, e xilogravura estão precisando do incentivo estatal e
privado para não cair no esquecimento e para continuar a expressar a alma e a
idiossincrasia desse povo. Embora muitos estudiosos considerem que esse tipo de
literatura e atividades anexas nada têm a ver com as expressões populares da
Península Ibérica, é possível reconhecer elementos comuns que vão além dos temas e
do tratamento que deles se faz na cultura nordestina. Porquanto a memória coletiva é
constituída em grande medida pela prática desses saberes, eles merecem ser
registrados como Patrimônio Cultural do Brasil, como primeiro passo na proteção que
lhes é devida.

Palavras-chave:
Cordel; Repente; Xilogravura; Patrimônio Imaterial; Poesia popular.

Abstract:

In cultures which value their ancestors' teachings, storytelling has always enjoyed high
prestige. Nowadays, however, in Northeast Brazil, “cordel” (chapbooks), “repente”
(sung improvisation) and xylography definitely need private and governmental support
to continue expressing this people's soul and idiosyncrasy. While many experts consider
this type of literature was born in Brazil and they find no relation to Iberian literary
pamphlets, a number of similarities can actually be identified, irrespective of
differences in topics or approaches. Since these cultural practices significantly
contribute to collective memory, their registration as Brazil’s “Patrimônio Cultural
Imaterial” (Non-material Cultural Heritage) is certainly the first step to be taken in
order to protect them as they deserve.

Key words:
Cordel; Repente; Xylography; Non-material Heritage; Popular poetry
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Oxente! Se chegue, freguesia!

Veja só que maravilha!


Dessa história da cultura,
entremos já na sustância:
será que o cordel perdura
e produz conhecimento?
Ele vem do descobrimento
e é mesmo Literatura!

“O cordel continua resistindo


porque ele realmente é novo.”

Antônio Queiroz
Presidente da Associação de Poetas
da Literatura de Cordel da Bahia
Entrevista - 2006

E ra-se uma vez um cego que ao cair da tarde, parado numa esquina de
Lisboa, cantava uma narrativa em verso ante uma plateia que o ouvia
hipnotizada. Todo mundo a conhecia: tratava-se da história de Pedro Malasartes. Um
dia de domingo, não muito longe daí, no interior, um vendedor de rua percorria a feira
oferecendo uns livrinhos coloridos. O cordel, jornal e literatura, encantava os fregueses
desde antes de ser escrito.

Embora culturas tão antigas como a anglo-saxã, a fenícia, a cartaginesa, a grega


e a romana já conhecessem o cordel, acredita-se que os primeiros romances chegaram à
Península Ibérica por volta do século XVI. Sá de Miranda foi quem introduziu em
Portugal a sextilha com rimas cruzadas, derivadas da oitava, de Ariosto. Essa inovação
possibilitou a Camões escrever “Os Lusíadas”.

Três séculos mais tarde, logo após a hora da novena, do outro lado do oceano,
no Brasil, podia-se assistir a uma cena semelhante, rostos também surpresos: uma avó
ensinava aos netos os mistérios de Nossa Senhora. O cordel chegara para ficar. A
prática tinha sido trazida pelos colonizadores, e por muito tempo, foi somente oral,
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fixando-se em livrinhos de folhas frágeis e às vezes mal impressas, apenas a partir de


fins do século XIX.

Vindos da península, os relatos de Carlos Magno, do rei Arturo, de João Grilo e


das vidas dos santos juntaram-se às lendas indígenas, às obras literárias clássicas, às
matérias noticiárias do Brasil e do mundo e –com o advento da TV– até à novela das
sete, para conformar uma miríade de histórias que habitaram primeiro o interior
nordestino e com a migração, chegaram ao Rio, a São Paulo, a Brasília, a Goiás,
enfurnaram-se em Mato Grosso e desembarcaram em Belém e Manaus.

O cordel é conhecido sob o nome de livrinho de feira, estória do meu padrinho,


folheto, romance (mais longo), ABC (no qual cada verso inicia com uma letra do
abecedário), livro de Ataíde e arrecife (derivados estes últimos da fama dos cordéis
impressos por João Martins de Ataíde, em Recife, na segunda metade do século XX).

Littérature de colportage (na França), pliegos sueltos (na Espanha), chapbooks


(na Inglaterra), volksbücher (na Alemanha) e folhas volantes (em Portugal) foram os
nomes dados à literatura popular em verso escrita em algumas partes da Europa. Por
outros lugares da América, também se espalharam, vindas da península, formas de
imprimir e de cantar essas narrativas em verso. Por exemplo, na Argentina, existem
pelejas de estilo semelhante ao brasileiro chamadas payadas, e o desafio mexicano é o
corrido ou contrapunteo. Contudo, muitos pesquisadores de prestígio acreditam que o
cordel nordestino nada tem a ver com a poesia popular europeia, baseando-se em que
tanto os temas como o tratamento que deles se faz no Nordeste não se corresponde com
aquela.

Para quem acredita na origem europeia, os longos poemas heroicos, que


sofreram refundições (reduções) junto aos causos e lendas autóctones, foram a primeira
substância do cordel brasileiro. Não pode se esquecer, no entanto, a contribuição da
Igreja Católica que sempre usou o cordel –entre outras formas literárias– para doutrinar
seus fiéis. Nos albores, foi também a principal forma em que se publicavam histórias
infantis, porque as folhas volantes eram mais baratas e não precisavam de autorização
para ser publicadas.
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O modo de venda continua sendo o mesmo: cantar um pouco da história e fazer


com que o freguês compre o livrinho para ler em casa, pendurá-los de um cordel ou
barbante, ou simplesmente colocá-los em tabuleiros classificados geralmente levando
em conta o gosto do comprador que frequenta a feira ou a praça na procura desse título
que estava-lhe faltando. Antigamente, os cegos –que ganharam o privilégio de ser
vendedores desse tipo de literatura por ordem do Rei Dom João V, em 1789– também
carregavam esses tabuleiros pendurados ao pescoço como alguns dos camelôs de hoje.

Banca de cordel. Carnaval na Bahia, 2004 (Foto: LB)

O poeta-trovador compõe os versos que ele mesmo ou um repentista cantará


acompanhado da sua viola (dez cordas). Como acontecia na antiguidade, nem sempre
esses jograis repetem a história completa, não precisam decorar tudo. Lembram a
essência e a rima. Vale dizer que muitos poemas surgiram do próprio repente e só
depois foram fixados em folhetos de cordel.

Os repentistas bem podem musicar histórias deles mesmos ou alheias. Esse


ofício não existe apenas na América ou na Europa. Na África, as negras velhas
contadoras, chamadas akpalô, perto da fogueira, passam para os mais novos, através dos
versos, a sabedoria de seus ancestrais, as lendas e a história de sua cultura.

Nos começos, quase nenhum cantador se preocupava com a medida dos versos,
mas pelo menos uma incipiente rima era mantida pelos repentistas. As possibilidades
quanto à medida dos versos vão do menor –já esquecido– de quatro sílabas (chamado de
Parcela) até a Meia Quadra, de quinze. As estrofes podem ser quartilhas, sextilhas,
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septilhas, oitavas, décimas e ainda o longo alexandrino; mas a preferida, segundo


Rodolfo Coelho Cavalcante, é sem dúvida a sextilha.

Alguns dos poetas de cordel mais conhecidos e prolíferos são: O Cego Aderaldo,
Franklin Maxado Nordestino, Leandro Gomes de Barros, João Martins de Ataíde, Cuíca
de Santo Amaro, Rodolfo Coelho Cavalcante, Patativa do Assaré. Mas seria injusto
tentar fazer uma listagem representativa, pois hoje existem numerosos poetas e
cantadores que espalham com diverso método e sucesso a prática cordeliana e a cultura
nordestina, pelo mundo. Também não deve se esquecer que o cordel é objeto de
pesquisa até na Europa, onde a cultura chamada popular é valorizada e estudada com
grande interesse.

Dentre os gravuristas –alguns deles também poetas– poderiamos salientar: José


Francisco Borges, José Costa Leite, José Stênio Silva Diniz, Erivaldo Ferreira da Silva e
muitos outros.

1. Tentativa de classificação:
À hora de tentar fazer uma classificação, é fundamental considerar tanto a
intenção estética, quanto a informativa e a apelativa. São muitas as categorias propostas
para diferenciar as narrativas populares em verso. No entanto, pareceria apropriado
partir da base que estabeleceu o paraibano Ariano Suassuna (1986):

Repente (poesia improvisada)


Literatura de cordel

O repente, como poesia improvisada, pode versar sobre um acontecimento que surja
de alguma coisa que o cantador está vendo: um pai ensinando alguma coisa para a filha,
um homem paquerando uma moça, e acaba –no dizer de dom Antônio Queiroz– quando
“o destino desencalha” (2006). Se for um desafio, pode ser combinado para acabar
segundo um plano previsto com antecipação. É claro que os repentes mais bonitos são
os políticos ou aqueles de sátira social.
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Senhor Antônio Queiroz,Presidente da Ordem Brasileira dos Poetas da Literatura de Cordel,


Salvador, Bahia, janeiro, 2006 (Foto: LB)

Sem o intuito de cair numa taxonomia rígida, podemos dizer que é possível falar
de folhetos de cordel de vários tipos.

Noticiários ou de acontecido (circunstanciais): narrativas histórico-informativas do


acontecer brasileiro ou internacional que mereceram a atenção popular. Ex. O grande
incêndio da Feira de Água dos Meninos, de Rodolfo Coelho Cavalcante (Bahia). Eis
aqui algumas estrofes:

Dia cinco de setembro Cinqüenta e tantas pessoas


Na capital da Bahia Ali foram vitimadas
Às 15 horas de sábado Umas pelo “ruge-ruge”
Foi um doloroso dia Do povo foram pisadas
Nos mais tristes desatinos Outras por vítimas da chamas
Feira de “ÁGUA DE MENINOS Envolvidas pelas flamas
Numa fogueira se ardia. Porém logo medicadas.
RIMA

“ÁGUA DE MENINOS”, era Feira de “ÁGUA DE MENINOS”


Da cidade a maior feira tinha a sua tradição
E aos sábados, justamente, A Meca dos Folcloristas
A população inteira Perdeu a sua atração
Ia ali se abastecer Cobriu-se de luto a cidade
Para poder obter Na grande fatalidade
Seus cereais de primeira. Que não há explicação.

Históricos: tratam de temas da História Antiga. Ex. Os últimos dias de Pompéia, de


Antônio Alves da Silva.
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Anti-heroicos: falam em anti-heróis do sertão e do mundo, adivinhões ou tapeadores,


mestres nas artes de sobreviver. João Grilo, Pedro Malasartes, Canção de Fogo, etc.

Propagandísticos: saúde e política principalmente, veem-se beneficiadas deste veículo


de inegável prestígio. Ex. Pela Reforma Agrária no Brasil, de Rodolfo Coelho
Cavalcante (1986), Bahia, eterna Bahia, de João Sabino Nascimento –JOSAN– (1990).

Maravilhosos (ou de fadas): trata-se, frequentemente, de histórias orientais, como por


exemplo A lâmpada de Aladim, na antiga versão –que respeita o conto tradicional– e
ainda na moderna –em que o herói até assiste à TV–. Mesmo que as histórias de
metamorfoses sejam de teor maravilhoso, seria bom analisar a intencionalidade do
autor, pois geralmente essas poderiam se juntar à categoria de exemplares.
Cabe salientar que a maioria destas narrativas (Ex. Chapeuzinho vermelho) foram
escritas para adultos, e só depois de muitas transformações acabaram sendo a delícia da
meninada do sertão.

Exemplares: podem ou não ser histórias maravilhosas. São narrações que ensinam o
que não deve ser feito. Ex. A moça que bateu na mãe e virou cachorra, de Rodolfo
Coelho Cavalcante (1976).

Romances peninsulares: segundo Diegues Júnior (1958), poderiam-se classificar em


Históricos (Ex. Carlos Magno) e Populares, como a História da Imperatriz Porcina ou
A Donzela Teodora.

Histórias de animais: bois e cavalos, entre outros, são os personagens de uma série
muito popular de folhetos de cordel. Ex. A glorificação do Boi Misterioso.

Pelejas: chamadas também conversas ou desafios entre dois personagens sabidos em


algum tema. Em se tratando de repente, o assunto e o final podem ter surgido na hora ou
ter sido concertados entre os colegas da dupla. Na realidade, ainda que alguns possam
ser escritos, esse tipo particular de romances é mesmo para ser cantados, mais do que
lido.
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Banca dos Trovadores - Antônio Queiroz e colega cantando


no Mercado Modelo, Salvador, Bahia, 2003 (Foto: LB)

“Literatura culta” –reelaborações– e lendas tradicionais: o povo que não tem acesso
à “grande literatura” ou mesmo aqueles que desconfiam, que precisam ver tudo sob a
ótica do poeta de cordel para entender e acreditar, pode tomar contato com a obra dos
eruditos ou saber de lendas indígenas de comunidades muito distantes através dos
folhetos.

De ‘putaria’: trata-se de enredos safados, muitas vezes proibidos, mas que continuam
sendo vendidos.

Educativos: praticamente esquecidos com o avanço do ensino público estatal.


Antigamente funcionavam como cartilhas. Ex. A gramática em cordel, de José Maria
Fortaleza (2001).

Religiosos: episódios bíblicos, antigos romances peninsulares que relatavam a vida dos
santos, histórias de milagres no novo mundo, exemplos piedosos e martírios. Milagres
de São Francisco das Chagas de Canindé (Ceará), Senhor do Bonfim (Bahia).

Heroicos: todos aqueles personagens de outras categorias de literatura de cordel que


sejam modelo de valentia, coragem, trabalho, poderiam se re-agrupar nesta classe. Por
exemplo, os folhetos que glorificam a figura de Getúlio Vargas, de quem se escreveram
–segundo entendidos– milhões de folhetos. Antônio Conselheiro –herói de Canudos–,
Lampião e Maria Bonita, todos eles são belos exemplos dos romances heroicos.
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Segundo Mark Curram (1973), o verdadeiro herói devia vencer ao velho (coronel) sem
o matar e casar-se com a filha do mesmo. O final de O auto da compadecida, de Ariano
Suassuna, sem ser literatura de cordel, mas por estar por ela constituída, tem um final
semelhante. Chicô casa-se com a filha do major Antônio Morais, depois de inúmeras
complicações e de que João Grilo –amigo de Chicô– vença o fazendeiro num teste
tipicamente cordeliano, de perguntas e respostas no qual a sua própria vida está em
jogo.

Se levarmos em conta o formato, poder-se-iam distinguir, seguindo mais uma


vez Ariano Suassuna (1986), entre romances (longos), canções, pelejas e abecês.
Contudo, essa simples classificação não é mais do que um instrumento para aproximar-
nos do cordel e tentar, depois, estudá-lo mais profundamente, consultando arquivos que
ainda esperam por uma definitiva catalogação.

A pesquisa neste campo é mais uma atividade que precisa do apoio firme e
concreto tanto estatal quanto privado, para construir de vez a História do cordel e
sistematizar a teoria dessa querida poesia popular nordestina. É necessário que
pesquisadores universitários tentem novamente coletar registros fonográficos do repente
e que poetas, músicos e artesãos possam se dedicar a contar a história do povo que
amam num marco de profissionalismo que garanta para eles e para sua família um
sustento e segurança dignos de qualquer trabalhador. Ser poeta, cantador ou gravador
são mesmo ofícios que precisam ser resgatados e elevados definitivamente à categoria
de Patrimônio Imaterial do Brasil. É por isso que foi pedido no início de 2009 o tão
almejado registro como saber cultural imaterial. Tomara que o IPHAN, através da
Superintendência Regional da Bahia julgue chegado o momento de conceder esse
privilégio à arte do povo nordestino que tão amorosamente guardou na memória a
ventura e desventuras do povo brasileiro.

2. Oxente! Se chegue, freguesia...

Infelizmente, tanto o cordel e o repente quanto a arte de estampar o gravado nas


capas dos cordéis hoje estão em perigo de esquecimento. As capas de papéis coloridos
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deixaram passo a versões feitas em ofsete que mostram desenhos realizados com a ajuda
dos avanços tecnológicos. Mesmo assim, o entendido, o colecionador, o eterno amante
do cordel, continua preferindo a feitura tradicional. Os carimbos que servem para
realizar essas belas ilustrações são verdadeiras peças de arte e não passaram
despercebidos para os garimpeiros da cultura popular. Muitas dessas matrizes perderam-
se para sempre, nas mãos de sujeitos sem escrúpulos que as compraram por moedas. É
por isso que os clássicos muitas vezes têm de ser impressos em fotocopias para publicar
os folhetos com as capas tal como apareceram na época das primeiras tiragens. Também
nessa arte houve inovações: matrizes feitas de zinco ou borracha substituem, muitas
vezes, as tradicionais em madeira de cajá, pinho, cedro ou alguma outra que estiver
disponível.

Muitas histórias rolaram em palcos improvisados ou de grande porte, muitas


foram também as notícias passadas pelos rádios em formato de cordel, mas ainda assim,
apesar da poesia popular ter alcançado a hierarquia de literatura que exprime o sentir do
povo sertanejo, estamos perante o perigo destas práticas desaparecerem. O governo
deveria se envolver ainda mais nos problemas do setor e incentivar tanto as produções e
apresentações, quanto a pesquisa especializada em cordel e atividades anexas. Chegou a
hora de que esses saberes sejam registrados, preservados e difundidos para que o
imaginário do povo nordestino não se veja diminuído ou empobrecido em sua riqueza e
particularidade.

A literatura de cordel é ainda considerada, por muitos, uma literatura menor. A


alma do homem não é mensurável e –desde que o cordel possa exprimir a história, a
ideologia e os sentimentos de qualquer homem– vai ser sempre o gênero literário
preferido de quem procura apreender o espírito nordestino. Os costumes, a língua, os
sonhos, os medos e as alegrias do povo estão no cordel.

A autoria foi, durante séculos, apenas uma questão de subsistência. Vendiam-se


os direitos por pouco dinheiro ou até roubavam-se. Atualmente, ainda que a luta pelo
reconhecimento continue, o mercado editorial –mais reduzido– pareceria estar melhor
controlado. Hoje em dia, muitas associações trabalham para resguardar os direitos dos
poetas, cantadores e gravadores: Ordem brasileira de poetas da literatura de cordel
(Salvador, Bahia), Clube Baiano de Trovas (Salvador), Academia Brasileira de
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Literatura de Cordel (Rio de Janeiro), A Casa da Xilogravura (São Paulo), União


Brasileira de Trovadores, Clube dos Trovadores Capixabas (Município da Serra ES),
Academia Brasileira da Trova, etc.

Na nossa época, apesar dos jornais e da TV –que poderiam ter feito diminuir o
interesse neste tipo de literatura– e da falta de apoio econômico, o cordel continua vivo
no interior e em cenáculos acadêmicos. No entanto, todas as impressões de folhetos e as
apresentações de repentistas são feitas à custa de muito esforço. Até caberia cobrar dos
estudiosos locais a atenção que os profissionais do exterior lhe dispensam. Mas qual
culpa poderia pesar sobre eles, se o próprio Estado ainda deve um olhar minucioso e
compreensivo a tão digna expressão da idiossincrasia nordestina? A Feira de Caruaru, o
samba de roda e o acarajé, por exemplo, já receberam o registro. É chegado o momento
de proteger o cordel e as atividades anexas, como o repente e a xilogravura registrando-
os como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil.

Muitos são os personagens envolvidos nessas atividades e muitas vidas


dependem dessas práticas. A literatura de cordel, as xilogravuras e o repente não foram
apenas um divertimento do povo. Cordéis e cantorias foram o professor que ensinava as
primeiras letras e o médico que falava para inculcar comportamentos sanitários. O
cordel e o repente fazem, muitas vezes, de um candidato o ganhador da banca de
deputado. E assim, lendo e ouvindo, foi-se formando a memória coletiva desse povo
alegre e trabalhador, que embora calmo, enfrenta o mar e o sertão com a mesma
valentia.

Por isso, precisa-se do incentivo estatal e também privado para que esses artistas
possam continuar com tão importante labor de educar, informar, divertir e passar a
essência da alma nordestina para a posteridade.

O cadastramento dos artistas, a promoção do ensino dessas práticas, a


profissionalização destes ofícios –com direito aos benefícios sociais– e finalmente, o
desenho de políticas culturais que favoreçam a publicação, expansão e difusão do cordel
e as atividades anexas, são ações que se deveriam implementar num futuro próximo, se
queremos preservar –como diz Júlio Braga– a identidade de um povo.
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© Todas as fotografias: Laura Benitez Brickmann.

Referências bibliográficas:

ACADEMIA BRASILEIRA DE LITERATURA DE CORDEL www.ablc.com.br. Acesso em: 1 de abril


de 2008.

BENITEZ, Laura. E de repente, foi o cordel. Buenos Aires, 2006. 32 f. Trabajo final para el Programa de
Posgraduación en Cultura Brasileña - Universidad de San Andrés - FUNCEB.

CASCUDO, Luís da Câmara. Vaqueiros e cantadores. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.

______. Cinco livros do povo. Introdução ao Estudo da Novelística no Brasil. Rio de Janeiro: J.
Olympio, 1953. (Col. Documentos Brasileiros, 72).

CURRAN, Mark. História do Brasil em cordel. São Pulo: Edusp (Editora da Universidade de São Paulo),
2001.

______. A literatura de cordel. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 1973.

DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. LITERATURA DE CORDEL. Cadernos de folclore 2. Rio de Janeiro:


Ministério da Educação e Cultura, Departamento de Assuntos Culturais, Programa de Ação Cultural,
1958.

DIEGUES JUNIOR, M. et al. Literatura popular em verso ESTUDOS. 2a. ed. Belo Horizonte: Itatiaia -
USP - Fund. Casa de Rui Barbosa; [1ª. ed. Rio de Janeiro: 1973], 1986.

PISA, Clélia. Clothesline literature; stories told on a shoestring. UNESCO Courier.


December, 1986.
Disponível em: http://findarticles.com/p/articles/mi_m1310/is_1986_Dec/ai_4619886
Acesso em: 2 de abril de 2008.

RUBENIO, Marcelo. O Reino Encantado do Cordel – A Cultura Popular na Educação


Disponível em: http://www.secrel.com.br/jpoesia/rmarcelo13.html. Acesso em: 5 de abril de 2008.

LEOPOLDIANUM
Revista de Estudos e Comunicações da Universidade Católica de Santos
Ano 35, Janeiro - Abril/ 2009, n. 95
Editora Universitária Leopoldianum
Santos, 2009
www.unisantos.br/edul
leopoldianum@unisantos.br
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Título: REVISTA LEOPOLDIANUM Nº 95


Autor: Prof. Dr. Gilberto Rodrigues (org)
Número de páginas: 138 páginas
Formato: 180 X 270 cm
ISSN 0101-9635
http://www.unisantos.br/edul/detalhes.php?ckset=ok&tipo_material=R&categoria=4&cod=116

Novos dados - agosto 2010

IPHAM (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional)


Superintendente da Bahia: Carlos Antônio Pereira Amorim
Tel. 3321 - 0133
Fax 3322 - 3306
Site: ipham.bov.br
E-mail: 7sr@ipham.gov.br

PROTOCOLO Nº 01502.00 0008/2010-68


Documento: Solicitação
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Assunto: Pedido de registro do cordel


Data: 05/01/2010

Rua Visconde de Itaparica, 8 Centro - Barroquinha


SSA/BA CEP 40.024-080

Banca do Mercado Modelo


Ordem Brasileira dos Poetas da Literatura de Cordel
Banca dos Trovadores
Antônio Tenôrio Cassiano (Paraíba da Viola)
Presidente atual
71 91 28 7746 / 71 99 48 7510
Praça Cairu, Salvador (Mercado Modelo)

LEI Nº 12.198, DE 14 DE JANEIRO DE 2010.

Dispõe sobre o exercício da profissão de Repentista.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e


eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o Fica reconhecida a atividade de Repentista como profissão artística.

Art. 2o Repentista é o profissional que utiliza o improviso rimado como meio de


expressão artística cantada, falada ou escrita, compondo de imediato ou recolhendo
composições de origem anônima ou da tradição popular.

Art. 3o Consideram-se repentistas, além de outros que as entidades de classe possam


reconhecer, os seguintes profissionais:

I - cantadores e violeiros improvisadores;

II - os emboladores e cantadores de Coco;

III - poetas repentistas e os contadores e declamadores de causos da cultura popular;

IV - escritores da literatura de cordel.

Art. 4o Aos repentistas são aplicadas, conforme as especifidades da atividade, as


disposições previstas nos arts. 41 a 48 da Lei no 3.857, de 22 de dezembro de 1960,
que dispõem sobre a duração do trabalho dos músicos.

Art. 5o A profissão de Repentista passa a integrar o quadro de atividades a que se


refere o art. 577 da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo
Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943.

Art. 6o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.


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Brasília, 14 de janeiro de 2010; 189o da Independência e 122o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA


Carlos Lupi

Este texto não substitui o publicado no DOU de 15.1.2010

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