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Resumo: Este artigo traz uma reflexão sobre um trabalho realizado em parceria com
professores de matemática de escolas da Rede Estadual de Ensino de São Paulo. É
uma tentativa de contribuir com a discussão sobre o uso de tecnologia informática
nas escolas. Há uma seção sobre a Internet e seu uso nas escolas e então um relato
das atividades desenvolvidas nas cinco escolas, através do Projeto intitulado
“Projetando o seu futuro”. Utilizou-se o ambiente Teleduc como suporte para as
interações virtuais. A análise do trabalho realizado permitiu afirmar que em relação ao
uso da Internet não se conseguiu fazer com que a comunicação eletrônica tivesse o
alcance planejado. São muitos os problemas técnicos e falta de manutenção dos
laboratórios. Os alunos demonstraram interesse em utilizar a Internet, em especial o
fato de poder habitá-la com registro de sua própria produção. A experiência também
foi uma contribuição para o desenvolvimento profissional dos professores envolvidos.
INTRODUÇÃO
Neste artigo trazemos uma reflexão sobre um trabalho realizado em parceria com
professores de matemática de escolas da Rede Estadual de Ensino de São Paulo. A nossa
temática de trabalho nos últimos anos tem sido o uso de tecnologia da informação e comunicação
(TIC) nas escolas. Além do uso de software em situações de ensino e aprendizagem de um
determinado conteúdo matemático nos voltamos também para o estudo da Internet. Fala–se muito
da potencialidade dessa tecnologia para transformar a educação escolar. A possibilidade de
acesso a informações diversas e, principalmente, de aproximar pessoas que estão em territórios
distantes é algo pouco explorado no âmbito da escola pública. A reflexão que apresentamos aqui é
uma tentativa de ampliar e contribuir para a discussão sobre esta temática. Iniciamos com uma
seção sobre a Internet e seu uso nas escolas e então seguimos para um relato das atividades
desenvolvidas nas escolas, através do Projeto intitulado “Projetando o seu futuro”.
1
Professora do Departamento de Matemática, IGCE, Unesp, Rio Claro. Coordenadora do Projeto vinculado ao Núcleo de Ensino.
2
Professora de Matemática de uma das escolas participantes do projeto.
3
Alunos de graduação em Matemática do IGCE envolvidos no projeto.
388
A INTERNET NA ESCOLA
A Internet é considerada uma mídia aberta e descentralizada. Cada um pode
acessar o que melhor lhe convir e fazer contato com quem quiser. É possível criar seu próprio
ritmo de navegação2. Não importa a distância nem o local, uma vez conectados, podemos nos
comunicar com pessoas em qualquer parte do mundo. É crescente o uso da Internet nas
atividades diárias e esforços têm sido feitos no sentido de ampliar a possibilidade de seu uso. Hoje
em dia não ter acesso a Internet é um sinal de exclusão social.3
No que diz respeito às escolas seu uso também tem aumentado. No ensino superior
encontramos um destacado avanço. Hoje podemos encontrar várias faculdades que trabalham
com educadores e educandos em lugares diferentes, e horários mais flexíveis, vídeo aulas, vídeo
conferência. Algumas também oferecem plantões de dúvidas na Internet em que um professor
permanece on line durante um período de tempo para que o aluno faça contato. Neste nível de
ensino a Internet tem servido tanto para cursos totalmente a distância como para suporte aos
tradicionais cursos presenciais.
Em geral são muitos alunos para poucas máquinas. Além disso, mesmo as que
possuem um laboratório de informática adequado à realização de tarefas envolvendo a Internet,
nem sempre o fazem porque a simples disponibilidade de tecnologia não significa garantia de
sucesso desse tipo de atividade. A gestão escolar é fundamental aqui. Muitas vezes a falta de
planejamento da própria escola e as atitudes de coordenadores e diretores podem obstruir as
iniciativas dos docentes. Pode ocorrer intimidações, como por exemplo se a direção atribuir ao
professor a responsabilidade sobre qualquer dano causado nos equipamentos. Que professor de
escola pública quer se arriscar a assumir tal responsabilidade sozinho? Isso acarreta uma
sobrecarga de trabalho que poucos professores estão dispostos a enfrentar. Além da sobrecarga
de trabalho tem também o aspecto da formação. Muitas vezes, talvez na maioria dos casos, a falta
de envolvimento dos professores não é simplesmente para esquivar-se de mais trabalho, e sim por
não ter formação para isso. Por toda essa problemática, o sucesso do uso de TIC nas escolas
2
Esta é uma expressão bastante utilizada na literatura: “navegar pela Internet” que significa acessar os vários sites disponíveis.
3
Uma discussão detalhada sobre esse aspecto é feita por Castells (1996)
389
pressupõe uma alteração na cultura do trabalho docente no sentido de um maior compartilhamento
das ações.4
Não queremos aqui fazer uma apologia ao uso da Internet como algo que vai
melhorar o sistema educacional. Na verdade pouco se sabe sobre as vantagens dessa adoção em
larga escala. É preciso pesquisar e conhecer melhor suas contribuições. Não podemos ter a
ingenuidade de crer que a Internet resolverá todos os problemas da Educação.
Certamente o uso de uma tal tecnologia implica um novo papel tanto para alunos,
quanto para professores. Abre possibilidades para novas abordagens metodológicas tais como os
trabalhos em grupos em torno de um tema. O professor deixa de ser o centro das informações
para o aluno. Muitas coisas o aluno descobre através de sua navegação e traz como contribuição
para a sala de aula. (BORBA & PENTEADO, 2001)
A nossa perspectiva para o uso de Internet na escola é para estimular que os alunos
trabalhem em grupos na investigação de determinados temas e que esse trabalho possa ser
realizado também com a colaboração de pessoas que estão distantes geograficamente da escola.5
A idéia é ampliar a rede de interlocutores dos alunos e professores.
Correio eletrônico
4
Penteado (2001) traz uma discussão detalhada sobre os riscos do uso de TIC para os professores.
5
Atividades denominadas de projetos telecolaborativos. Ver mais detalhes sobre isso em Penteado, Biotto Filho & Silva (2006).
390
Bate papo on line
Há o mural para divulgação de notícias. Existem ainda outras ferramentas tais como
portifólio para que cada participante disponibilize seu material. Segue abaixo uma tela do Teleduc.
6
http://teleduc.unicamp.br/teleduc/
391
A seguir descrevemos as atividades realizadas pelas escolas participantes de nossa
pesquisa.
Uma vez definida a equipe, passamos a fazer reuniões semanais para discussão de
como organizar as atividades com os alunos. Nossa idéia era trabalhar a Matemática com base em
problemas não necessariamente matemáticos8. A maioria da equipe já havia estudado aspectos
teóricos dessa abordagem e desenvolvido atividades dessa natureza em projetos anteriores. A
discussão girava em torno de como trabalhar colaborativamente com diferentes escolas.
Passamos um bom tempo discutindo se o tema deveria ser livre de forma que cada aluno
escolhesse sobre o que gostaria de pesquisar, ou seria um tema diferente por escola ou ainda se
seria um mesmo tema para todas as escolas. Decidimos que seria um mesmo tema para todas as
escolas pois achávamos que isso facilitaria a interação entre os alunos já que estariam tratando de
7
Iniciamos com quatro escolas em Rio Claro mas em uma delas o trabalho foi interrompido. Os motivos são expostos na seção sobre o
trabalho nas escolas.
8
Metodologia de trabalho com projetos ou aprendizagem baseada em problemas. Em Inglês a sigla é PBL – problem based learning
392
um mesmo assunto. Uma professora trouxe um material9 com sugestões de temas para trabalhos
dessa natureza. Dois foram os temas que nos chamaram mais a atenção. Um era sobre escolha
profissional, que envolvia pesquisar o mercado de trabalho, salário, vocações e influências. O
outro abordava o assunto consumo, que envolvia a pesquisa sobre Código de Defesa do
Consumidor, cesta básica, comparação de preços, despesas e prazo de validade. Inicialmente
pensamos em fazer uma reunião desses projetos e usar a proposta de atividades que os
acompanhavam. Mas de nossos estudos sobre o trabalho com projetos como prática pedagógica,
entendíamos que aquelas atividades propostas pelo livro eram muito diretivas. Precisávamos de
uma orientação mais aberta de forma a possibilitar diferentes caminhos de investigação por parte
dos alunos. Após muita conversa, decidimos por propor uma situação comum para todos mas a
forma de investigá-la seria discutida e decidida com cada grupo de alunos.
A situação apresentada aos alunos foi a seguinte: Título: Projetando o seu futuro.
"Imagine que você já é adulto, tem uma profissão e precisa investigar sobre as condições para
morar sozinho e se sustentar de forma a viver bem’”.
Investigar isso implicava, dentre outras coisas, escolher e pesquisar uma profissão,
o mercado de trabalho, o que consideravam como viver bem, o que precisavam para morar
sozinho, que gastos teriam e qual um salário para manter uma vida como aquela.
É importante observar que para chegarmos a esta decisão foram necessários vários
encontros, discussões, negociação e simulação do que aconteceria com os alunos. Fizemos isso
presencialmente e também pela Internet. O próximo passo foi pensar na operacionalização. A
primeira questão a ser resolvida era: trabalhar com uma classe toda ou com um grupo de alunos
num horário extra? Tendo em vista o número reduzido de computadores nas escolas e também o
fato de que queríamos uma participação voluntária dos alunos, resolvemos que faríamos em
horário extra-aula com um grupo de nove alunos em média por escola, na faixa etária entre 14 e
17 anos. O trabalho teria a duração aproximada de dez encontros. Durante o desenvolvimento, os
alunos de uma escola fariam contato com os de outra através da Internet. Para isso utilizaríamos o
Teleduc como base de integração do trabalho das cinco escolas. Os grupos deveriam armazenar e
disponibilizar tudo o que produziam durante o projeto, para que se pudesse conhecer o que estava
sendo feito em cada uma das escolas. Podia-se saber o que outros grupos estavam
desenvolvendo, dar sugestões, fazer perguntas e comentários. Ao final do trabalho nas escolas,
haveria um encontro presencial com todos os participantes. Vejamos a seguir o rumo que cada
escola perseguiu.
Escola A
9
Livros da Coleção Educação Matemática, 5ª a 8ª série, Célia Carolino Pires, Edda Curi e Ruy Pietropaolo. Atual Editora, São Paulo,
2002.
393
Esta escola se localiza ao lado da universidade, num bairro afastado do centro da
cidade, e trabalha há muitos anos em parceria conosco. Possui uma boa sala de informática com
cerca de 10 computadores e conexão com Internet banda larga. Muitos professores costumam
usar esta sala para dar aulas, e a direção incentiva e apóia bastante esse tipo de atividade.
Aqui contamos com a participação de dez alunos e foram realizados dez encontros.
Iniciamos com a apresentação da proposta. Em seguida eles escolheram as profissões e
começaram a planejar as atividades que desenvolveriam para projetar o futuro. Nesta escola o
principal instrumento de pesquisa foi a Internet. A maioria dos alunos não tinha acesso a ela em
casa, assim poder usá-la na escola foi essencial para a pesquisa. Ao final de cada encontro, eles
acessavam o Teleduc para arquivar e compartilhar o que descobriam. Vale lembrar que houve um
momento de familiarização com o Teleduc o que não ocupou muito tempo pois ele é muito fácil de
ser usado.
O primeiro passo dos alunos foi pesquisar sobre profissões. Entre as escolhidas
estavam: professor de matemática, engenheiro mecânico, jornalista, dona de loja de roupas,
bióloga, veterinária e ator. Depois eles pesquisaram que estudos eram necessários para
exercerem aquelas profissões, e escolheram as instituições em que estudariam. Também
pesquisaram o mercado de trabalho e o salário. Interessante que durante essas pesquisas muitos
mudaram de profissão e outros optaram por ter duas profissões: uma para se manter, outra para
‘fazer o que gostavam’.
Após a pesquisa das profissões, cada um dos alunos construiu uma tabela (tabela
1) com a previsão de seus gastos mensais. Eles incluíram gastos com produtos de limpeza, de
higiene pessoal, comida, energia elétrica, água, gás, roupas, transporte, produtos pessoais,
aluguel e telefone. Alguns incluíram gastos com Internet (banda larga), plano de saúde e lazer.
Tabela 1 - Tabela de gastos mensais de uma aluna (em R$)
394
Este encontro em que foram planejadas as
Quadro 1 - redação de um aluno
despesas gerou muitas discussões que se estenderam
“(...) sou ator de teatro e produtor diretor,
por mais dois encontros.
(...) gasto por mês r$2000,00, sei que é
Uma delas foi sobre os valores a serem gastos:
com coisas banais, mas também com
“Quanto seria gasto por mês em comida? Em telefone?
coisas importantes, (...) e sempre lutando
Em aluguel?...” Eles davam opiniões nos gastos uns dos por uma vaga maior em um outro teatro, e
outros e chegavam a um consenso sobre o que é ‘gastar quem sabe talvez numa novela. (...) a
demais’ (ou insuficientemente) em cada item. minha casa é financiada (...), pago também
Também foi bastante discutido sobre o que eles o meu carro em 24 parcelas (...). mas
iriam possuir e como comprariam: “Vou ter automóvel? aonde eu tento economizar e não consigo é
Vou ter quais eletrodomésticos? Eles são econômicos? no supermercado (...) e todo mês tenho que
comprar pelo menos uma peça de roupa,
Como vou comprá-los: à vista ou a prazo?...”
pois é feio ir sempre ao teatro com a
Interessante que muitos mudaram suas escolhas depois
mesma roupa. (...) passei por situações
destas conversas.
críticas para estudar cinema e artes
Outro problema foi sobre a compra da casa: “O
cênicas. agora quero fazer medicina, afinal,
que é melhor: comprar ou alugar uma casa? Financiá- foi um dos meus primeiros sonhos. nos fins
la?...” Para os alunos, o aluguel de uma casa de semana vou visitar a minha mãe. e lá vai
aumentava muito o valor das despesas. E era muito gasolina. (...) quase não sobra nada para
caro comprar uma. mim, mas tenho tudo (quase) que sempre
Quadro 2 - Redação de uma aluna
Uma aluna até sonhei. (...) sempre que posso ajudo a
“(...) Tenho 25 anos. Cursei uma
chegou a dizer: “O minha mãe. (...)”
faculdade. (...) morei com meus
pais até conseguir um emprego fixo, melhor é eu ficar morando com meus pais!”
(...) hoje sou formada em
administração, tomo conta de minha No nono encontro, eles compararam seus salários e
própria loja que consegui com a suas despesas e analisaram quais os ajustes que poderiam
ajuda de meus pais. Tenho minha fazer, caso fossem necessários.
casa própria que consegui comprar
No décimo encontro foi solicitado que eles fizessem
com meu salário. Mobiliei minha
uma redação. Deveriam tratar sobre os planos para o futuro e
casa por partes, comprando uma
incluir o que tinham pesquisado nos encontros passados sobre
coisa por vez, sem pressa. Gasto,
os salários e as despesas10.
por mês, em média, R$ 1311,00,
com (...)”
10
Veja Quadro 1 e Quadro 2.
395
Escola B
Esta escola se situa na periferia da cidade e a maior parte dos alunos que a
freqüenta é de classe econômica não muito favorecida. Da mesma forma que na escola anterior,
aqui participaram dez alunos. A escola possui sala de informática, mas seus computadores não
são conectados à Internet. Na secretaria havia um computador conectado a Internet mas somente
em dois encontros eles conseguiram usar esse computador para conhecer o Teleduc. A maioria
das informações sobre o projeto era disponibilizada pela professora a partir de acesso a Internet
de sua casa. Durante os encontros, que aconteciam em período contrário ao das aulas dos alunos,
eles se reuniam e relatavam o que haviam pesquisado sobre suas profissões. O principal meio de
pesquisa deles foi entrevistar profissionais relacionados à sua escolha; também usaram guias de
profissões e ajuda de professores que conheciam melhor a profissão.
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Profissão escolhida: Administrador de Fazendas
Pessoa entrevistada: Um funcionário de uma universidade e um fazendeiro.
Formação: O funcionário da universidade o informou que poderia fazer um curso de Administração, de
Agrimensura ou de Zootecnia. Já o fazendeiro, disse que ele não precisa fazer nenhum curso: “é só ir ao
sítio, começar a trabalhar, aprender o serviço e tentar arrumar um emprego de administrador de fazendas”.
Salário: Segundo o fazendeiro, o salário pode chegar a R$ 3.000,00. E segundo o funcionário, R$
10.000,00. O aluno ficou bastante entusiasmado com esses valores!
Escola C
Esta é uma das principais escolas de Rio Claro, situada no centro da cidade, que
recebe em sua maioria alunos de bairros próximos com um nível social um pouco mais elevado do
que os das outras escolas envolvidas no projeto. A sala de informática possuía oito computadores,
ligados em rede, mas sem acesso a Internet.
Oiiieeeeeee.
11
Meu nome é Maria , estou no 3°D na escola XXX.
Nasci em Bambuí –MG mas moro em Rio Claro há 8 anos.
Tenho como perspectiva do meu futuro fazer faculdade de DANÇA, mas prestar vestibular para
dança esse ano será quase impossível, porém estou indecisa entre Biologia ou Educação Física, mas eu
não sei nadar para prestar Educação Física. Contudo tenho preferência por Educação Física e depois me
especializar em dança e no futuro abrir uma Academia de dança Evangélica. e trabalhar com projetos
Sociais em Presídios, Febens e Favelas.
11
Nome fictício
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Devido ao grande número de alunos, as atividades foram mais dirigidas se
comparadas com as das outras escolas. Embora tenha havido uma boa participação, é importante
ressaltar que nem todos estavam interessados. Isso ficou explicito pela excessiva ausência dos
alunos nas aulas, em particular na véspera de feriados. É importante lembrar que na turma da
noite os alunos não tinham a opção de não participar do projeto.
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Posteriormente, a discussão girou em torno do que se entendia por “viver bem” e a
conclusão foi a de que era preciso ter uma harmonia entre boa situação financeira e boa saúde. A
partir dessa discussão cada um elaborou uma lista sobre o que necessitaria para viver bem. Essa
lista também foi objeto de discussão na sala. Por que precisamos disso ou daquilo? A seguir,
fizeram um levantamento do custo de vida que haviam planejado. Neste momento o acesso à
Internet na escola fez muita falta. Para auxiliar, foram fornecidos diversos jornais e panfletos de
lojas com artigos que continham nas listas.
Os alunos perceberam que várias listas eram impossíveis de serem mantidas com o
salário que receberiam. Alguns incluíram aplicação na poupança, e calcularam os juros para a
compra de um imóvel e o parcelamento em lojas. Fizeram até um ‘projeto de casamento’. Nesse
momento o conteúdo de matemática financeira foi importante. Utilizamos os computadores em
quase todo o projeto com planilhas de cálculos e produção de textos.
Chegou-se a um ponto em que os próprios alunos teriam que decidir sobre o ‘rumo’
de suas vidas, principalmente aqueles que concluíram que o salário não supria as despesas. A
solução tomada por alguns foi diminuir a lista de consumo. Outros, optaram por mudar a profissão.
ESCOLA D
Esta escola também está situada em um bairro de periferia de Rio Claro e tem aulas
nos períodos da manhã, da tarde e noite. Iniciamos nosso trabalho com alunos do período da
manhã. Neste período funcionam salas do 2º. Ciclo do Ensino Fundamental. Optamos por alunos
com mais de 13 anos, ou seja, os que cursavam as 7ªs e 8ªs séries. Eles deveriam voltar à escola
no período da tarde para desenvolver as atividades.
A seleção dos alunos foi feita pela professora de Matemática a partir de conversas
com eles na sala de aula. Nem todos os alunos podiam voltar para a escola para atividades extras,
porque trabalhavam ou porque não tinham quem os trouxessem até a escola. Com tudo isso
considerado, oito alunos manifestaram interesse em participar. A administração da escola
colaborou bastante com o projeto. Apesar de se interessar por este tipo de parceria, ela raramente
o faz, pois está localizada em um bairro muito distante da universidade.
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O segundo encontro contou com apenas quatro alunos, e foi dada a continuidade na
exploração de sites de busca na Internet e como utilizar o Teleduc. Houve uma conversa com os
alunos sobre a necessidade de presença nos encontros. A professora de Matemática se
comprometeu a auxiliá-los nas pesquisas em horário de aula.
ESCOLA E
A escola E é situada no centro da cidade de Araras e recebe estudantes de vários
bairros da periferia e também do centro da cidade É uma escola que, assim como a maioria das
escolas, segundo os professores, apresenta muitos problemas de disciplina. Participaram do
projeto doze alunos, com faixa etária entre 14 e 16 anos de idade. Vale ressaltar que não houve
qualquer problema relacionado à indisciplina entre os participantes durante o projeto.
400
fichas para serem preenchidas a fim de facilitar a fase de registro das informações. As fichas
constavam do seguinte:
Sua profissão;
Seu salário;
Seu nível de escolaridade;
Mais detalhes que julgar importante sobre sua profissão.
Você vive sozinho e é o profissional que escolheu, diga o que é necessário para viver bem e descreva seus
gastos mensais.
Inicialmente, tentou-se utilizar a Internet para pesquisa na escola. Porém, isso não
foi possível porque dos dez computadores disponíveis apenas dois permitiam o acesso à Internet,
e mesmo esses, tinham a conexão muito lenta. No restante dos computadores a conexão era
interrompida antes mesmo de se conseguir acessar o Teleduc. Por isso, os alunos passaram a
usar a Internet em casa, e aqueles que não tinham esse acesso, o faziam em lan houses12. Além
da Internet, os alunos entrevistaram profissionais da área e parentes. Também pesquisaram em
jornais, revistas e publicações das universidades.
12
são lojas que cobram um valor por hora para se utilizar o computador com acesso a Internet.
401
ENCONTRO PRESENCIAL
O encontro presencial, para encerramento das atividades, aconteceu no dia 1 de
dezembro, nas dependências do Departamento de Matemática. Todas as escolas participantes
enviaram representantes. Muitos alunos não conheciam a universidade e estavam bastante
ansiosos com esta visita. Até mesmo um aluno que não participou do projeto pediu para ir ao
encontro.
Cada grupo liderado pela professora fez uma apresentação em power point. Depois
cada um dos alunos falava um pouco da profissão escolhida, do futuro planejado, e também da
sua própria atuação no projeto (como pesquisou, etc). Os que estavam assistindo podiam fazer
questionamentos.
402
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste artigo relatamos um trabalho que buscou inserir o uso da Internet para dar
suporte ao processo de interação entre alunos de diferentes escolas. Descrevemos como as
atividades ocorreram em cada escola e as dificuldades encontradas.
Outro ponto a ressaltar é o encontro presencial em que os grupos tiveram que fazer
uma apresentação pública como resultado do que discutiram nas escolas. Isso gerou ansiedade
mas de uma forma muito positiva. Eles expuseram algo que produziram. O trabalho de escola não
ficou guardado na gaveta do professor. Consideramos isso muito importante quando se trabalha
com projetos em escolas.
403
demonstraram interesse em utilizar a Internet, em especial o fato de poder habitá-la13 com registro
de sua própria produção. O fato de ser autor nos pareceu mais importante para os alunos do que o
de ser consumidor de informações disponíveis. A Internet nos possibilita essas duas opções.
Principalmente os alunos com poder aquisitivo menor, aqueles que não têm acesso
à Internet em casa, se sentiram valorizados por poderem participar desse trabalho. Não podemos
fechar os olhos ao que acontece fora dos muros escolares, o mundo todo se encontra interligado e
através da Internet é possível saber o que acontece do outro lado do planeta numa fração de
segundos. Nossos alunos sabem disso. A Internet pode ser utilizada de forma a promover novos
ambientes de aprendizagem na escola e também promover a inclusão digital de alunos com
situação econômica menos favorecida.
Cabe aqui também falar da relevância que esse trabalho teve para o
desenvolvimento profissional de todos os envolvidos: professores, alunos e pesquisadores. O
trabalho com projetos, embora bastante disseminado nas escolas brasileiras, implica em muitos
desafios e maneiras novas de organizar a aprendizagem. A inserção do uso de tecnologia
informática traz um elemento a mais que requer o enfrentamento de várias situações imprevisíveis
como pudemos ver na seção anterior. Para tudo isso é preciso ter profissionais disponíveis a
correr risco dessa natureza.
13
Aqui nos baseamos no trabalho de Garcia, 2005
404
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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