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Programa e Objetivo da
Organização Secreta
Revolucionária
Irmandade Internacional
Mickail Bakunin
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• A bancarrota do Estado;
• A cessação do pagamento das dívidas privadas pela
intervenção do Estado, deixando a cada devedor o
direito de pagar as suas, se quiser;
• A cessação dos pagamentos de qualquer imposto e
do adiantamento de todas as contribuições, sejam
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diretas ou indiretas;
• A dissolução do exército, da magistratura, da
burocracia, da polícia e do clero;
• A abolição da justiça oficial, a suspensão de tudo o
que juridicamente se chamava direito, e o exercício
desses direitos;
• Por conseqüência, a abolição do auto-de-fé de todos
os títulos de propriedade, formais de herança, de
venda, de doação, de todos os processos, de toda a
papelada jurídica e civil, em uma palavra. Em todo o
lugar e em todas as coisas o fato revolucionário, em
vez do direito criado e garantido pelo Estado;
• O confisco de todos os capitais produtivos e
instrumentos de trabalho em proveito da associação
de trabalhadores que deverão produzi-los
coletivamente;
• O confisco de todas as propriedades da Igreja e do
Estado assim como dos metais preciosos dos
indivíduos em benefício da Aliança Federativa de
todas as associações operárias, Aliança que
constituirá a comuna. Em troca dos bens confiscados,
a Comuna dará o estritamente necessário à todos os
indivíduos que foram despojados, que poderão mais
tarde, com seu próprio trabalho ganhar mais se
puderem e se quiserem.
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Plataforma
Organizacional
Nestor Makno
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Introdução
É muito significativo que, apesar da força e do
caráter indiscutivelmente positivo das idéias libertárias, da
nitidez e da integridade das posições anarquistas diante da
revolução social; enfim, do heroísmo e dos inúmeros
sacrifícios realizados pelos anarquistas na luta pelo
comunismo libertário, o movimento anarquista continua
fraco e com freqüência tem figurado, na história das luta da
classe operária, como um evento menor, um episódio, e não
como um fator importante.
Essa contradição, entre o fundamento positivo e
incontestável das idéias libertárias e o estado miserável em
que vegeta o movimento anarquista, explica-se por uma
série de causas, das quais a mais importante, a principal, é
a ausência de princípios e práticas organizacionais no
movimento anarquista.
Em todos os países, o movimento anarquista é
representado por algumas organizações locais, que
defendem teorias e práticas contraditórias. Não têm
qualquer perspectiva de futuro nem de continuidade da
ação militante, habitualmente desaparecem sem deixar o
menor traço de sua passagem.
Tal é a situação do anarquismo revolucionário que, se
a tomarmos em seu conjunto, só podemos qualificá-la como
uma "desorganização geral crônica".
Como a febre amarela, a doença da desorganização
apossou-se do organismo do movimento anarquista e o vem
minando há dezenas de anos.
Sem dúvida, essa desorganização deriva de alguns
defeitos da teoria: notadamente, numa falsa interpretação
do princípio da individualidade no anarquismo; este princípio
tem sido com muita freqüência confundido com a total
ausência de responsabilidade. Os amantes da auto-
afirmação, que visam unicamente o prazer pessoal,
agarram-se obstinadamente ao estado caótico do
movimento anarquista e se referem, para defendê-lo, aos
princípios imutáveis do anarquismo e seus mestres.
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Parte Geral
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A negação da democracia
Democracia é uma das formas da sociedade
capitalista.
A democracia se baseia na manutenção das duas
classes antagônicas da sociedade moderna: a do trabalho e
a do capital, e sua colaboração fundada sobre a propriedade
privada capitalista. A expressão dessa colaboração é o
parlamento e o governo nacional representativo.
Formalmente, a democracia proclama a liberdade de
opinião, de imprensa, de associação, enquanto não
ameacem os interesses da classe dominante, ou seja, a
burguesia.
A democracia mantém intacto o princípio da
propriedade privada capitalista. Portanto, dá a burguesia o
direito de controlar toda a economia do país, toda a
imprensa, educação, ciência, arte, o que de fato, torna a
burguesia dona absoluta do país. Possuindo o monopólio da
vida econômica, a burguesia pode estabelecer seu poder
ilimitado também na esfera política. Efetivamente, o
governo representativo e o parlamento nada mais são, nas
democracias, do que os órgãos executivos da burguesia.
Consequentemente, a democracia é apenas um dos
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A negação da autoridade
Os ideólogos da burguesia definem o Estado como o
órgão que regula as complexas relações políticas e sociais
entre os homens na sociedade moderna, protegendo a lei e
a ordem. Os anarquistas estão em perfeita acordo com esta
definição, mas a completam, afirmando que as bases dessa
lei e dessa ordem é a escravidão da maioria da população
por uma minoria insignificante, e que para tal serve o
Estado.
O Estado é, simultaneamente, a violência organizada
da burguesia contra os trabalhadores e o sistema de seus
órgãos executivos.
Os socialistas de esquerda e, em particular, os
bolcheviques, também consideram a autoridade e o Estado
burguês como lacaios do capital. Mas sustentam que a
autoridade e o Estado podem se tornar, nas mãos dos
partidos socialistas, um meio poderoso na luta pela
emancipação do proletariado. Por este motivo, esses
partidos são a favor de uma autoridade socialista e um
Estado proletário. Alguns querem conquistar o poder
pacificamente, através do parlamento (os social-
democratas); outros, por meios revolucionários (os
bolcheviques, os socialistas-revolucionários de esquerda).
O anarquismo considera-os, ambos,
fundamentalmente equivocados, nocivos para a tarefa de
emancipação do trabalho.
A autoridade está sempre ligada à exploração e à
submissão das massas populares. Ela nasce da exploração
ou surge no interesse da exploração. A autoridade sem
violência e sem exploração perde toda a razão de ser.
O Estado e a autoridade retiram das massas toda
iniciativa, matam o espírito criador e a atividade livre,
cultivam a psicologia da submissão: a expectativa, a
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O período transitório
Os partidos políticos entendem, pela expressão
"período transitório", uma fase determinada na vida de um
povo cujas características são: ruptura com a velha ordem
de coisas e instauração de um novo sistema econômico e
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Anarquismo e Sindicalismo
Consideramos artificial, privada de todo fundamento
e de todo sentido, a tendência a opor o comunismo
libertário ao sindicalismo e vice-versa.
As noções de anarquismo e sindicalismo pertencem a
dois planos diferentes. Enquanto o comunismo, isto é, a
sociedade de trabalhadores livres e iguais, é o objetivo da
luta anarquista, o sindicalismo, isto é, o movimento operário
revolucionário por profissão, é apenas uma das formas da
luta revolucionária. Unindo os operários nos locais de
produção, o sindicalismo revolucionário, como todo grupo
profissional, não possui uma teoria determinada, uma
concepção do mundo que responda a todas as complexas
questões sociais e políticas da realidade atual. Ele reflete
sempre a ideologia de diversos grupos políticos,
notadamente aqueles que militam mais intensamente nos
sindicatos.
Nossa atitude em relação ao sindicalismo deriva do
que já dissemos. Sem nos preocupar aqui em resolver com
antecedência a questão do papel dos sindicatos
revolucionários depois da revolução, ou seja, se eles serão
os organizadores de toda a nova produção ou se eles
deixarão esse papel para os conselhos de trabalhadores ou,
ainda, os comitês de fábrica, nós entendemos que os
anarquistas devem participar no sindicalismo revolucionário
como uma das formas do movimento operário
revolucionário.
Porém, a questão que se coloca hoje não é se os
anarquistas devem ou não participar no sindicalismo
revolucionário, mas sim como e com que fim devem
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participar.
Nós consideramos todo o período anterior, até o dia
de hoje, quando os anarquistas entraram no movimento
sindicalista na qualidade de militantes e propagandistas
individuais, como um período de relações artesanais com o
movimento operário profissional.
O anarco-sindicalismo, tentando forçar a introdução
das idéias libertárias na ala esquerda do sindicalismo
revolucionário, como meio cujo fim é criar sindicatos de tipo
anarquista, representa, sob este aspecto, um passo adiante.
Mas não vai além do método empírico. Porque o anarco-
sindicalismo não liga necessariamente a tarefa de
"anarquização" do movimento sindical com a tarefa de
organização das forças anarquistas fora do movimento. Ora,
é apenas mediante tal ligação que é possível "anarquizar" o
sindicalismo revolucionário e impedi-lo de descambar para o
oportunismo e o reformismo.
Considerando o sindicalismo apenas como um
movimento profissional de trabalhadores, sem uma teoria
social e política determinada, e, portanto, incapaz de
resolver por si mesmo a questão social, entendemos que a
tarefa dos anarquistas no movimento consiste em
desenvolver as idéias libertárias, orientando-o num sentido
libertário, para transformá-lo numa força ativa da revolução
social. É importante nunca esquecermos que, se o
sindicalismo não encontrar apoio na teoria anarquista, ele
se apoiará, então, concordemos ou não com isto, na
ideologia de um partido político estatista qualquer.
A título de exemplo, aliás chocante, podemos citar o
sindicalismo francês. Este, no qual brilhavam as táticas e
palavras de ordem anarquistas, logo sucumbiu à influência
dos bolcheviques, por um lado, e, sobretudo, por outro, à
influência dos socialistas oportunistas de direita.
Mas a tarefa dos anarquistas nas fileiras do
movimento operário revolucionário não poderá ser
cumprida, a não ser que seja estreitamente ligada e
conciliada com a atividade da organização anarquista fora
do sindicato. Resumindo, devemos entrar nos sindicatos
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Produção
Levando em conta o fato de que a indústria do país é
o resultado dos esforços de inúmeras gerações de
trabalhadores e que os diversos ramos da indústria são
estreitamente interligados, consideramos toda a função
produtiva atual como uma só oficina de produtores,
pertencendo totalmente ao conjunto dos trabalhadores, e a
ninguém em particular.
O mecanismo produtivo do país é global e pertence a
toda a classe operária. Esta tese determina o caráter e a
forma da nova produção. Ela será também global, comum,
no sentido de que os produtos pertencerão a todos. Tais
produtos, quaisquer que sejam, constituirão o fundo geral
de provisões dos trabalhadores, do qual todo participante na
nova produção receberá tudo que necessita, numa base
igual para todos.
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Consumo
Esse problema surgirá na revolução sob um duplo
aspecto:
1. O princípio da busca dos bens de consumo.
2. O princípio de sua distribuição.
No que diz respeito à distribuição dos bens de
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A Terra
Consideramos como principais forças revolucionárias
e criadoras na solução da questão agrária os camponeses
trabalhadores - aqueles que não exploram o trabalho de
outras pessoas - e o proletariado rural. Sua tarefa é fazer a
redistribuição da terra, para estabelecer o usufruto coletivo
da terra sob princípios comunistas.
Assim como a indústria, a terra, explorada e
cultivada por sucessivas gerações de trabalhadores, é o
resultado de seus esforços comuns. Ela pertence a todos os
trabalhadores e a ninguém em particular. Enquanto
propriedade comum e inalienável dos trabalhadores, a terra
não poderá ser comprada ou vendida, nem alugada;
portanto, ela não poderá servir como meio de exploração do
trabalho de outros.
A terra também é uma espécie de oficina popular e
comunitária, onde as pessoas produzem seus meios de vida.
Mas é uma espécie de oficina onde cada trabalhador
(camponês) se acostumou, graças a certas condições
históricas, a realizar o seu trabalho sozinho, independente
dos outros produtores. Se, na indústria, o método coletivo
de trabalho é essencial e o único possível, na agricultura, a
maioria dos camponeses trabalha com seus próprios meios.
Consequentemente, quando a terra e os meios de
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A Defesa da Revolução
A questão da defesa da revolução está ligada ao
problema do "primeiro dia". Basicamente, o modo mais
possante de defesa da revolução é a solução feliz para seus
problemas positivos: a produção, o consumo e a terra. Se
esses problemas forem justamente solucionados, nenhuma
força contra-revolucionária será capaz de alterar ou
desequilibrar a sociedade livre dos trabalhadores. Contudo,
os trabalhadores terão que lutar duramente contra os
inimigos da revolução, para defender e manter sua
existência concreta.
A revolução social, que ameaça os privilégios e a
existência das classes não-trabalhadoras da sociedade,
provocará inevitavelmente, da parte dessas classes, uma
resistência desesperada que tomará a forma de uma feroz
guerra civil.
Como a experiência russa mostrou, tal guerra civil
durará alguns anos.
Por mais felizes que sejam os primeiros passos dos
trabalhadores, no início da revolução, a classe dominante
será capaz de resistir por um longo tempo. Durante muitos
anos, ela desencadeará ofensivas contra a revolução,
tentará reconquistar o poder e os privilégios que lhe foram
arrebatados.
Um enorme exército, estratégia e técnicas militares,
capital - tudo será lançado contra os trabalhadores
vitoriosos.
Para preservar as conquistas da revolução, os
trabalhadores devem criar órgãos de defesa da revolução,
contrapondo-se à ofensiva da reação com uma força
combatente à altura da tarefa. Nos primeiros dias da
revolução, esta força será constituída por todos os operários
e camponeses armados. Mas essa força armada espontânea
será eficiente apenas durante os primeiros dias, quando a
guerra civil ainda não alcançou seu clímax e os dois partidos
em luta não criaram organizações militares regularmente
constituídas.
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Parte Organizacional
Unidade Teórica
A teoria representa a força que dirige a atividade das
pessoas e das organizações por um caminho definido e para
um objetivo determinado. Naturalmente, a teoria deve ser
comum para todas as pessoas e organizações que aderirem
à União Geral. Toda atividade da União Geral Anarquista,
tanto em caráter geral como em particular, deve estar em
perfeito acordo com os princípios teóricos da União.
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Responsabilidade Coletiva
A prática que consiste em agir em nome da
responsabilidade pessoal deve ser condenada e rejeitada no
movimento anarquista.
Os domínios da vida revolucionária, social e política,
são antes de tudo coletivos por sua natureza. A atividade
social revolucionária não pode se basear na
responsabilidade pessoal dos militantes isolados.
O órgão executivo do movimento geral anarquista, a
União Anarquista, contrapondo-se decisivamente à tática
irresponsável do individualismo, introduz em suas fileiras o
princípio da responsabilidade coletiva: toda a União deverá
ser responsável pela atividade revolucionária e política de
cada membro; da mesma forma, cada membro será
responsável pela atividade revolucionária e política da União
como um todo.
Federalismo
O Anarquismo sempre negou a organização
centralizada, na vida social das massas quanto e em sua
ação política. O sistema de centralização atrofia o espírito
crítico, a iniciativa e a independência de cada indivíduo, e
promove a cega submissão das massas ao 'centro'. As
conseqüências, naturais e inevitáveis, desse sistema são a
escravidão e a mecanização da vida social e da vida dos
grupos.
Contra o centralismo, o anarquismo sempre
professou e defendeu o princípio do federalismo, que
harmoniza a independência e a iniciativa dos indivíduos ou
da organização com o interesse da causa comum.
Conciliando a idéia de independência e a plenitude
dos direitos de cada indivíduo com os interesses e
necessidades sociais, o federalismo incentiva toda
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Guy Debord, outubro de 1955.
Preliminares sobre os
Conselhos e a
Organização Conselhista
René Riesel
3 Publicado originalmente em Internationale Situationniste nº 11, outubro
de 67. Trad. de Juan Fonseca publicada en DEBATE LIBERTARIO 2 - Serie
Acción directa - Campo Abierto Ediciones Primera edición: maio de
1977. Traduzido do espanhol pelos editores do sítio
www.geocities.com/autonomiabvr Em
http://www.geocities.com/autonomiabvr/minima.html
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Comunalismo e
Autonomia
Jaime Martinez Luna
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Apresentação
Os trabalhos aqui apresentados são reflexões
elaboradas desde ângulos e perspectivas diferentes, que
incidem na necessidade de ordenar o conhecimento
regional. Sua importância está em poder ser utilizado como
material de consulta para o desenvolvimento de projetos
participativos voltados para o desenvolvimento e bem estar
regional.
Lidos de maneira integral, estes materiais se
apresentam como resultados de uma investigação
quotidiana, de uma atividade intelectual integralmente
comprometida com a vida comunitária.
Por estas razões apresentamos estes materiais
substanciais para a reflexão em torno da proposta dos povos
indígenas sobre autonomia e autodeterminação, mas
sobretudo para a compreensão da vida das comunidades
indígenas e seu modelo interno de organização sócio-
política, tudo isso em um momento de muita importância e
transcendência que se caracteriza pelo profundo
desconhecimento que possui a sociedade e o governo sobre
a problemática e forma da vida indígena.
Sirvam pois estes documentos para ilustrar o
processo dos povos Zapoteco, Mixe e Chinanteco em sua
luta por condições de vida mais justas, mais dignas.
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Primeiro
Nosso trabalho e nossos recursos naturais tem sido
entendidos unicamente como uma mercadoria, um valor e
um suor que só serve para enriquecer economicamente a
alguns homens nunca para enobrecê-los. O resultado desta
mentalidade tem sido a aprobiosa exploração de nossos
povos e a cruel e irracional exploração de nossos recursos
naturais. Temos constatado isso na mineração, na
silvicultura, na selvagem concentração do manejo de nossos
recursos aquíferos, e inclusive na utilitária exploração de
nossos alimentos em benefício de um desenvolvimento
industrial urbano e alheio a nossas necessidades de bem
estar.
Esta situação expulsou de nossas comunidades a
milhares ou milhões de nossos irmãos em busca do pão, do
abrigo, de condições de vida que de maneira sistemática
nos foram arrebatadas. Apesar disso seguiremos resistindo,
um exemplo dessa resistência, se bem que violenta, é
manifestado na atualidade pelos nossos irmãos do EZLN.
Não podemos dizer que nos orgulhamos de seu método de
trabalho, mas compreendemos seu desespero.
Para a solução desta insustentável situação em que vivem
nossos povos, fazemos a seguinte proposta:
1.- Que seja reintegrada a terra a todas aquelas
comunidades que demonstrem pelo ouso e pelo direito, a
posse de seu território. Que seja avaliada a capitalização de
seus recursos naturais usurpados e que com seu pago, estes
recursos sejam orientados pelos povos indígenas na direção
que mais considerem conveniente.
2.- Que o futuro uso, aproveitamento ou exploração, tanto
de seu território como dos recursos que nele existem, sejam
as comunidades que decidam o que fazer com base em suas
organizações tradicionais, tenham ou não um
reconhecimento governamental. Para a definição deste
procedimento pode-se apelar fundamentalmente à decisão
de suas assembléias e de suas autoridades tradicionais.
3.- Nos casos quando estes conflitos tenham que ser
dirimidos entre as comunidades, que se nomeie um
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Segundo
Não apenas neste período moderno trataram de nos
impor uma organização social alheia a nossa cultura, há
mais de quinhentos anos este fenômeno tem sido
observado. À luz da realidade atual, podemos afirmar que
não pode continuar essa homogeneização desta sociedade
tão diversa e plural. É tempo que se reconheça que é
precisamente nossa organização social e os princípios que
nela se reproduzem o que tem permitido nossa
sobrevivência. A eliminação de nosso território e das fontes
elementares de vida seguem e seguirão ameaçando nossa
existência. Nossa organização tem mostrado aspectos que
não apenas são úteis para nossos povos como também para
a sociedade em geral, por ela é recomendável recuperar e
dar um impulso verdadeiro em todos os âmbitos. É através
dela que temos resolvido nossas ancestrais necessidades
sem negar tampouco o útil que possa oferecer-nos as outras
sociedades contemporâneas. Quando afirmamos a riqueza
de nossa organização social estamos referindo-nos a nossa
vida assembleária, a nossos mecanismos de representação,
a nosso trabalho coletivo e comunitário, a nossos
conhecimentos, a nossas tradições e a nossas culturas
particulares.
A força e reprodução do EZLN se explica em razão
desta organização social, por isso para sua conservação e
desenvolvimento propomos o seguinte:
1.- Que a sociedade nacional aceite como legítima e legal
nossa organização social e política.
2.- Que os partidos políticos não sigam dividindo a nossas
comunidades e doutrinando-a com base em princípios
ocidentais e racionalistas que nada tem a ver com nosso
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comunalismo.
3.- Que seja esta organização que decida o futuro e as
características do desenvolvimento que desejamos para as
comunidades indígenas.
4.- Que a representação emanada desta organização seja
levada em conta no concerto político nacional. OU SEJA,
QUEREMOS AUTONOMIA POLÍTICA. Isto não que dizer que
queremos seguir a antidemocracia, pelo contrário,
consideramos que o respeito à nossa organização um
princípio fundamental para a democracia.
5.-Propomos também que as instituições
desenvolvimentistas e indigenistas desapareçam e que em
seu lugar estejam as organizações que diretamente se
relacionam com os técnicos na medida do necessário. Que
os meios de comunicação que operam em nossas regiões
passem ao poder de organismos civis que demonstrem
interesse e capacidade para sua operação.
Consideramos que em nossa região como em outras
do Estado de Oaxaca estas propostas são plausíveis e de
fácil realização. Embora também visualizemos sua
possibilidade em todas as regiões indígenas do país.
Terceiro
Desde sempre somos apelidados como índios frouxos
porque não buscamos a acumulação de capital e menos
ainda comodidades onerosas. Nos chamam de
anticapitalistas e de socialistas primitivos. Sem embargo a
realidade é distinta. Toda interpretação ocidental ou racional
de nosso comportamento, tem como essência central a
incompreensão de nossa filosofia econômica. Nossa relação
com a terra é harmônica, por isso convivemos com ela, por
isso não a utilizamos nem a exploramos. Não queremos
dizer tampouco, que a fome e nossa situação geral em
alguns casos nos tenha levado a casos extremos. A pressão
sobre nós, tem provocado que estes princípios não se
manifestem em toda sua intensidade e riqueza e que com o
passar dos dias esta se siga deteriorando em prejuízo de
nosso futuro e desenvolvimento.
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Quarto
Independentemente dos esforços que se tem feito
para que a educação leve em conta nossas particularidades
culturais. Consideramos que a educação em vez de
fortalecer-nos, tem minado ainda mais nossa organização,
nossos princípios e nossos conhecimentos. No que diz
respeito a nossos filhos obedece a alinhamentos
institucionais tanto em conteúdos como em métodos e
responsabilidades, a participação de nossas comunidades é
nula. Os impactos negativos deste sistema é visto no
desprezo que propicia ao nosso labor campesino, a
permanente contradição que existe entre o que querem
nossos professores e o que nós queremos, (se bem que haja
excessões) a pouca relevância que dá à conservação de
nossos recursos naturais, assim como a falta de respeito
que sistematicamente se tem pelas nossas tradições. Isto se
manifesta na mesma avaliação que se realiza da educação
ministrada em nossas regiões. Avaliação que sempre resulta
adversa e não leva em conta o outro lado da moeda.
Para impedir os permanentes abusos que se
expressam nesse aspecto e com a finalidade de afiançar
nosso desenvolvimento educacional e cultural que responda
a nossas verdadeiras aspirações, propomos o seguinte:
1.- A criação de conselhos educativos, comunitários,
mircroregionais e regionais, para o desenho dos conteúdos
educativos que devam ser trabalhados. Estes conselhos
educativos serão os responsáveis em verificar se a
educação está orientada para o trabalho, para o respeito de
nossos valores, para a participação em nossas tradições e
para o tratamento dos valores nacionais que também nos
sejam úteis.
2.- A nomeação de professores em cada comunidade deverá
ser responsabilidade destes conselhos, que deverão ser
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Quinto
É evidente o divórcio entre os preceitos
constitucionais, e nossas práticas tradicionais de justiça,
apesar do agregado ao artigo quarto constitucional. Isto é
mais dramático na aplicação das leis. O nível de corrupção
nos encarregados de ministrar a justiça do Estado é tal que
tem assustado nossas comunidades. O que sucede em
Chiapas é uma resposta extrema ao que aqui ocorre, mas
em todas as comunidades indígenas padecemos esta
mesma situação. A tortura, o encarceramento injusto assim
como a formação dos advogados nas Universidades vão
nessa direção. Os governos estatais nem sequer dão conta
da abordagem que se realizam a nível de nossas práticas
tradicionais. O centros de readaptação, está mais que
demonstrado, são centros de aniquilamento social, cultural
e econômico. Sem embargo existe cegueira e ouvidos
surdos para nossas experiências que poderia tratar estes
assuntos de melhor maneira que qualquer preceito legal.
Para a solução desta permanente violação a nossos
mais elementares direitos humanos, propomos o seguinte:
1.- Que desapareçam os centros de readaptação social e
que em seu lugar se integrem centros ou conselhos de
justiça comunitária e regional.
2.- Que nas Universidades desapareçam as escolas de
direito, ou que estas tenham uma nova especialidade como
o Direito Comunitário ou Tradicional.
3.- Que desapareçam todas as agências do ministério
público e juizados assentados nas áreas indígenas, e que
dêem lugar aos conselhos comunitários e conselhos
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regionais de justiça.
4.- Que os conselhos comunitários e regionais de justiça não
tenham nenhum intermediário ante o governador e que os
recursos econômicos destinados a esta tarefa sejam
administrados por estes conselhos. Estes determinarão se é
necessário uma equipe auxiliar ou fazer as coisas de acordo
com nossas tradições. QUEREMOS AUTONOMIA JURÍDICA
DENTRO DE UM ESTADO DE DIREITO QUE RESPEITE NOSSO
DIREITO COMUNITÁRIO.
NOSSA REGIÃO TEM SE COMPORTADO ATÉ ESTE MOMENTO
MUI CONSERVADORA COM A NAÇÃO, PORQUE TEMOS
HERDADO O ESFORÇO E A CONVICÇÃO DE BENITO JUÁREZ.
NO ENTANTO, NÃO SE DEVE ESQUECER QUE SOMOS UM
VULCÃO LATENTE QUE EM QUALQUER MOMENTO PODE
ENTRAR EM ERUPÇÃO, SE NÃO ATENDEREM AS VELHAS
REIVINDICAÇÕES DE JUSTIÇA PELA QUAL TANTOS SERRANOS
TÊM DADO SUA VIDA.
Tudo o que foi acima delineado é um primeiro rascunho
sujeito à análise dos intelectuais, técnicos, autoridades e
cidadãos em geral, em toda a região das montanhas
zapotecas e chinantecas de Oaxaca. A região agradeceria
sua opinião e suas correções.
Guelatao de Juárez. 13 de fevereiro de 1994
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maneira imediata.
Enquanto não houver esse entendimento e enquanto
houver o envolvimento com a promoção de programas
assistenciais como Procampo e programas de solidariedade,
não vamos conseguir assumir nossa verdadeira
personalidade econômica. Sei em vez da assistência com
milho da Conasupo, elevassem nossos preços de garantia de
tal modo que o pudéssemos vender a preços respeitáveis,
ou melhor, se em vez do uso da propriedade como garantia
para pagamento de créditos nos permitissem desenhar
nossos próprios programas de produção, a coisa mudaria.
Sem embargo o modelo já está estabelecido, é mais
importante o índio como mão-de-obra barata no centro,
norte e no país vizinho, do que na comunidade. Isto não vai
resolver os problemas para alcançar a democracia, menos
ainda se as medidas econômicas implementadas
continuarem adotando critérios como rentabilidade,
produtividade, capitalização, e se nossos próprios
intelectuais "imparciais", continuarem nos qualificando de
agentes antieconômicos.
De novo surge diante de nós a contradição entre
pluralidade e uniformidade. A economia atual, representa o
intento de globalizar, de uniformizar, de alinhar, e nossos
afazeres, fortemente ligados à proteção de nossos recursos
naturais, seguem reivindicando uma relação social
harmônica, horizontal, de partilha, de convivência. Além do
mais, seguimos considerando que esta é a proposta que
nós, os povos índios, temos e devemos reivindicar, embora
para o estado seja mais fácil lançar-nos toneladas de
cimento, que só cobrem e asfixiam o solo e não resolvem os
problemas básicos.
Talvez para muitos de vocês, esta seja uma proposta
vulgar e utópica fora de tempo e sustentada em um
passado remoto. Não, não é certo. Anteriormente afirmamos
que nossos arrazoamentos obedeciam a condições deste
século e de maneira concreta as do presente ano. Se
consideram que nossa proposta comunitária se fundamenta
no ideal, na perfeição, estão equivocados. Nossas
comunidades não são puras, precisamente porque somos
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compartilhado.
Na atualidade, contamos em algumas regiões com
emissoras, inclusive com centros de produção de vídeo.
Mesmo com poucos recursos, a resistência nesse campo
prossegue. Sem embargo, insistimos, não poderá haver
democracia enquanto houver o impedimento de nossas
sociedades exercitar sua própria liberdade de expressão, e
tampouco poderemos derrotar nossos eternos inimigos que
se fortalecem com o uso destes meios.
Em última instancia os meios estão aí, mais de fora
para dentro que de dentro para fora. De qualquer modo
nossa cultura não pode continuar sendo tratada como tem
sido até agora. Estamos de acordo que este país tem uma
raiz e que essa raiz somos nós. Sem embargo, pinta-la,
conta-la, dança-la, teatraliza-la, e não trata-la e enfrenta-la
faz dessa cultura uma caricatura e uma verdadeira
vergonha para quem a observa e a comenta. A melhor
forma de escrever nossa cultura não é em espanhol, nem
tampouco a maneira perfeita de escrevê-la é em zapoteco.
Nossa cultura é simplesmente nossa cultura. Não estamos
no mercado das melhores palavras, ou dos melhores
escritos. Estamos em nossa realidade e é essa que é nossa
cultura. E o que desejamos é que nossa realidade seja
contada para toda sociedade mexicana. Nossos médicos
aprendem diariamente, no dia-a-dia. Não em uma
temporada escolar, aprendem aos gritos, porque essa é a
escola que sempre tivemos, a escola das eternas
expressões. Mas o conhecimento que se obteve, como
sempre, é deixado de lado, depreciado, discriminado,
separado, o mesmo ocorre em todos os campos da
inteligência. O resultado é que "não contribuímos". Mas
continuaremos fazendo assim mesmo com nossa voz
sufocada pelo ruído dos motores, dos programas de
televisão, e das canções da moda.
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Comunalismo e Autoritarismo
Desde sua origem, os povos da Mesoamérica tiveram
que enfrentar diversas formas de autoritarismo. A harmonia
ou uma democracia plena em termos exatos nunca existiu.
As comunidades indígenas, por seu pensamento e ação, são
as que mais perto chegaram de alcança-la, ou seja, foram
elas que desenvolveram espaços, relações e instancias que
puderam favorecer o exercício da harmonia e do bom
governo.5
Com a chegada do ocidente nas terras indígenas do
novo continente, os espaços para o exercício da harmonia
foram violados e em boa parte eliminados. Não obstante, a
resistência de nossos povos permitiu a conservação
clandestina destas instancias que na atualidade evidenciam
um perfil das possibilidades mais desenvolvidas para
alcançar nosso bem estar e felicidade.
Diante da conquista espanhola, nossas comunidades
desenvolveram um forte sistema de resistência-adequação
que lhes permitiu em cada década desenvolver uma nova
imagem, sempre cambiante, onde os valores positivos de
ambas as culturas forram concatenando novas realidades.
Para nossa fortuna, neste processo, os valores, princípios ou
instancias que favoreciam a possibilidade de harmonia
foram se cristalizando apesar dos interesses econômicos
imperantes na mentalidade colonizadora. A adequação
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A geografia
O processo de despojo que nós, comunidades
indígenas, sofremos nos empurrou para as regiões mais
agrestes e arrinconadas do território, agora nacional. Nestas
regiões, onde ninguém imaginava que alguém pudesse
sobreviver, encontramos o apoio da fraternidade da mãe
terra e de seus filhos. Nestas zonas encontramos uma
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O território comunal
Um dos aspectos que nos deve fazer refletir para
compreender o atual pensamento dos povos originais, é o
fato de que é exatamente nestas zonas onde se tem
preservado com maior força a posse comunal da terra.
A posse comunal certamente é uma prática que os
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Conselho de anciãos
A participação na estrutura política permite ao
cidadão oferecer seus atributos pessoais. Os muito
trabalhadores, os sistematizadores da história, os
conhecedores da natureza, os rezanderos, os comerciantes,
os mestres, etc. Todos e cada um aportam sua experiência e
vão sendo eleitos para desempenhar uma atividade
especial: a de conselheiro. Ser conselheiro não significa
necessariamente ser ancião, fundamentalmente o
conselheiro deve ser compreendido como um trabalhador a
serviço da comunidade sem nenhum outro interesse a não
ser seu desenvolvimento.
Os conselhos de anciãos se integram de acordo com
a decisão da maioria da população, mas de maneira
específica por decisão da junta em turno. Nesta decisão a
junta declara suas preferências por aqueles que tem de ser
de quem vai pedir o conselho necessário para a tomada de
decisões. Não são chamados para nenhuma outra coisa. São
aproveitados para decidir questões complicadas, por
exemplo, a definição dos limites com outra comunidade,
para resolver casos de assassinatos, para superar, deixar de
lado ou adotar uma tradição, para os rituais mais
significativos, enfim para aqueles assuntos nos quais a junta
sente que necessita auxílio.
Os conselhos de anciãos tem resolvido problemas
vitais não apenas em nível comunitário como também em
nível regional. Um conselheiro se supõe ser dotado de uma
visão não normal, um conhecimento não mediano, um
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O tequio quotidiano
Todo afazer comunitário tem relação com o trabalho.
A preservação e a manutenção física é um trabalho
específico, chamado tequio.
O tequio é a tarefa que cada cidadão outorga, dependendo
das facilidades uma ou duas vezes por mês, é o trabalho
que permite a realização de obras de serviço geral: obras de
manutenção e de serviço tais como escolas, clínicas de
saúde, abastecimento de agua, etc. O tequio é programado
pela junta ou autoridade municipal sob a coordenação do
síndico municipal. Participam todos os pais de família, mães
solteiras e viúvas. Os primeiros têm o trabalho mais duro e
as mulheres são encarregadas de atividades de outra
ordem; trazer agua, comida, em muitos casos participam da
semeadura e também da colheita.
O tequio é a instituição que evidencia uma nova
forma de comportamento cidadão, aquele que não participa
tem que pagar uma multa ou fazer o serviço em outro dia.
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A solidariedade comunitária
Durante os últimos seis anos, a palavra solidariedade
virou moda no México. Nesta ocasião tentamos deslindar o
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Exposição de motivos
PRIMEIRO.- O atual Estado mexicano, fruto da Revolução
Mexicana e fundado na Constituição de 1917, conformou a
Sierra Norte do Estado de Oaxaca, como uma região
integrada de 74 municípios e cento oitenta e seis
comunidades dependentes destes, e administrados através
de três cabeceiras de distritos e regidas territorialmente
pelo estipulado no Artigo 27 da Constituição Federal.
SEGUNDO.- Ao longo de 77 anos, a Sierra Norte, tem
mantido uma pacífica e respeitosa relação política com o
governo do estado, cumprindo com as políticas
estabelecidas e as leis que regem esta relação. Tem
cumprido também com os acordos e os esforços que os
diferentes governos tem desenhado na busca de seu
desenvolvimento e plena satisfação.
TERCEIRO.- Este período histórico, permitiu assegurar
nossos bens territoriais, consolidar nossa organização social
e política, integrar e clarificar os elementos que constituem
nossa economia, definir as linhas que reclamam nossa
educação, administrar sobre bases federais a justiça,
fomentar e desenvolver nossa cultura.
QUARTO.- A avaliação deste período histórico, nos leva à
suprema necessidade de exercitar profundas mudanças no
pacto assinado com o governo estatal e federal. O
estabelecimento de um novo regime, fundado nos aportes
obtidos no passado, que garantisse a correção dos
desacertos e o logro de um pleno desenvolvimento diante
das necessidades atuais, futuras e urgentes da sociedade
regional, que reoriente as políticas de desenvolvimento
econômico e social, que à luz de sete décadas demonstram
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sua caducidade.
QUINTO.- Que o marco jurídico mais adequado é o
estabelecimento de um REGIME AUTÔNOMO para a região
pluriétnica de Sierra Norte do Estado de Oaxaca. Um Regime
Autônomo que pactue com o estado novas e diferentes
relações, sob princípios mui precisos de autêntica e mútua
responsabilidade.
SEXTO.- O Regime Autônomo, revela a segurança e a
maioridade que alcançou a região para fazer-se responsável
por sua livre e plena determinação econômica, territorial,
jurídica, educacional, política e cultural.
SÉTIMO.- A Sierra Norte do Estado de Oaxaca, como região
pluriétnica, considera que a regulação de seu patrimônio
territorial, já é uma faculdade que pode exercer. Que tem
uma racionalidade econômica que deseja desenvolver para
evitar a emigração e a extrema pobreza. Que tem princípios
de justiça próprios para a plena satisfação das relações
jurídicas. Que tem capacidade para ditar conteúdos
educativos acordes com cultura própria e diferente das
nacionais. Que conta com uma cultura que deseja consolidar
de forma a poder desenvolvê-la livremente, que tem uma
organização política sólida que assegura a estabilidade
social e pode pactuar organicamente sua relação com o
Estado.
Com base nos motivos assinalados, se apresenta a presente
iniciativa de lei para o estabelecimento de um Regime
Autônomo da região Pluriétnica de Sierra Norte do Estado de
Oaxaca.
Disposições preliminares
Artigo 1º.- A presente lei se funda no estipulado no Artigo 4º
e, 115 em relação com o 133 da Constituição Política dos
Estados Unidos Mexicanos, 20, 92, 94, e demais relativos à
Constituição Política do Estado de Oaxaca, assim como o
que estabelece o convênio 169 da Organização
Internacional do Trabalho para os Povos Indígenas.
Artigo 2º.- O executivo será responsável pela coordenação
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Disposições gerais
Artigo 3º.- A presente lei se refere aos povos que habitam
em Sierra Norte do Estado de Oaxaca, atualmente integrada
em 74 municipalidades, 186 localidades entre Agencias
Municipais e Agencias de policia; em total 260 centros
populacionais, que compartilham valores Culturais,
Organizacionais e possuem bens patrimoniais que integram
a região pluriétnica, para a aprovação da presente lei.
Artigo 4º.- O executivo Estatal, os Governos Municipais e o
Conselho de representantes, serão os responsáveis por
exercer a presente lei, cuidando e fazendo respeitar o que
ela estipula, para o bem dos povos que integram a região
que daqui em diante ostentará o nome de REGIÃO
AUTÔNOMA PLURIÉTNICA DA SIERRA Norte do Estado DE
OAXACA.
Artigo 5º.- Para a atenção dos problemas de toda natureza
que se chegaram a suscitar entre os Povos e Comunidades
Indígenas de Sierra Norte do Estado de Oaxaca; se integrará
um conselho regional de representantes comunitários que
será nomeado em Assembléia Geral de Autoridades
Municipais dos três distritos e sua ubiquação será no
Município que designe a própria Assembleia.
Território
Artigo 6º.- O território autônomo de Sierra Norte do Estado
de Oaxaca, integra a soma de superfície de terras comunais
com que conta cada Povo Integrante.
Artigo 7º.- A propriedade das terras comunais dos Povos e
Comunidades integrantes da Região Autônoma de Sierra
Norte, será inalienável, imprescritível, intransigível e
inembargável. Com isso se garante o livre e pleno
desenvolvimento dos povos indígenas.
Artigo 8º.- A máxima autoridade sobre o território de cada
Povo ou comunidade Indígena será sua Assembléia Geral
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Comunitária.
Artigo 9º.- O uso e a forma de aproveitamento das terras --
propriedade dos povos indígenas -- será decidido mediante
Assembléia Geral comunitária, sem que nela intervenha
nenhuma autoridade estranha à comunidade.
Artigo 10º.- Os problemas de limites de terras entre Povos e
Comunidades, serão resolvidos por um Conselho Regional
de Representantes, buscando sempre o acordo e a harmonia
entre as partes.
Artigo 11º.- Em cada comunidade haverá um corpo
consultivo consultivo que será designado mediante
Assembleia Geral Comunitária, para atender aos problemas
internos de sua população.
Artigo 12º.- Os problemas internos que não puderem ser
resolvidos pelas autoridades Municipais quando faça parte
ou tenha interesse no assunto poderão retornar ao corpo
Consultivo da Comunidade para sua atenção.
Artigo 13º.- O uso e o destino dos recursos naturais
renováveis ou não, existentes dentro do território de um
povo indígena será responsabilidade da Assembleia Geral
comunitária.
Artigo 14º.- A administração dos recursos Naturais de cada
Núcleo Populacional recairá em uma autoridade ou comissão
que previamente nomeará a Assembléia Geral Comunitária
Economia
Artigo 15º.- A economia dos povos indígenas será de livre
determinação individual, grupal ou coletiva.
Artigo 16º.- A racionalidade econômica em cada povo será
de livre determinação sempre e quando não afete a
terceiros e ponha em perigo a sobrevivência da
comunidade.
Artigo 17º.- Todo programa ou projeto econômico a realizar-
se em uma comunidade deverá surgir da Assembléia Geral
comunitária., cuidando que estes não obedeçam a
interesses pessoais.
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Educação
Artigo 35º.- A Assembléia Geral de Autoridades da Região
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Regime jurídico
Artigo 54º.- A administração da Justiça na região será
responsabilidade de seus habitantes de acordo com os usos
e costumes existentes em cada povo.
Artigo 55º.- Será a Assembléia Geral de Autoridades que
nomeará o corpo consultivo Indígena que estará presidido
por um Prefeito.
Artigo 56º.- Quem ocupa este cargo será cidadão da Região
que de preferencia haja cumprido com as obrigações que
marca seu comunidade.
Artigo 57º.- Será responsabilidade do Prefeito Regional
administrar a Justiça em todos aqueles casos que o solicitem
as Autoridades Comunitárias.
Artigo 58º.- Cada Povoado designará a um cidadão Bilingue
que será o tradutor da variante linguística de sua
comunidade, que será chamado a traduzir nos casos que se
lhe requeira.
Artigo 59º.- Na administração da Justiça, o Prefeito Regional
escutará a opinião das autoridades da comunidade donde
seja originário o infrator e juntos resolverão os conflitos que
se lhe apresentem.
Artigo 60º.- Nos casos de suma gravidade será consultado o
corpo consultivo, para encontrar a melhor solução aos
problemas individuais e comunitários.
Artigo 61º.- A tarefa imediata do Prefeito Regional, será a
avisar o Estado que guarda os expedientes de cada preso
indígena recluso nos cárceres desta região.
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Aspectos
Organizacionais
Protopia
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Tamanho
(Variáveis de Espaço e População a serem
apresentadas, não se deve deixar de lado a
historicidade)Platão falava que a pólis perfeita, para
preservar a "democracia", deveria ter "fatorial de 7"
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Interesse Coletivo
O princípio é simples: se um quer bolo, e o outro
biscoitos, o objetivo é conseguir bolo E biscoitos. Isso
significa: você pode (e deve) integrar todos os seus
interesses neste projeto desde que eles não sejam
conflitantes com o que está sendo discutido nos outros
tópicos.
Comunicalidade
Comunicalidade significa para nós a busca pela
compreensão do outro e do que o outro nos traz, antes de
censurá-lo ou mesmo criticá-lo. Todas as necessidades e
todas as habilidades passam pela capacidade de poder
expressá-las e entendê-las como tal. O que é necessário
para o grupo é manter sempre vínculos de comunicação, na
resolução de desentendimentos, bem como, de
planejamento e organização com a finalidade de realizar
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Ambiente e Socialidade
Uma ZA deve manter um ambiente feito para
sociabilidade. Isso significa que parques e locais cobertos
públicos devem ser priorizados. Afinal, o consenso e as
discussões não nascem tão-somente de espaços ditos para
isso, mas sim do convívio diário, do respeito mútuo, da
alteridade. Tomar um chimarrão, dividir um cigarro, tomar
uma cerveja ou um vinho são essenciais para uma estrutura
coletiva. Caso contrário o raciocínio meramente funcional irá
tomar conta da comunidade e, se está se fazendo uma ZA, é
justamente para não viver sob o jugo do império da razão
funcional. Além disso, devemos primar por um meio-
ambiente em que as pessoas se sintam bem. Pouco importa
que pra isso acontecer tenhamos que restringir o número de
habitantes ou nos esforçar economicamente pra conseguir
mais terras. O importante não é que a ZA se torne uma
cidade, mas sim que se torne um ambiente em que as
pessoas se sintam suficientemente bem para querer manter
aquele local como sua morada.
Ocultismo e Visibilidade
Pensando na historicidade do projeto precisamos
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Economia solidária
Possivelmente, uma vez notório, se necessite manter
a comunidade numa espécie de legalização, ao ponto de
que não se possa utilizar argumentos na imprensa contra
nós. Por exemplo: plantar maconha poderia ser o argumento
triunfal da imprensa ou do poder pra desmantelar uma
comunidade de "traficantes".
Estamos desenvolvendo um sistema de escambo
baseado na web que poderá ser utilizado em breve de forma
a criar um meio de troca de bens e serviços na ZA sem
depender da moeda corrente "oficial". Ele está sendo
desenvolvido com tecnologia Open Source e poderá ser
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