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POEMAS

Midu Gorini
midugorinibook
A Imagem Idilista
Mídu Gorini
2003-2008
IDILISTA significa, segundo os dicionaristas: autor de idílio, utopista, fantasioso. IDÍLIO
significa pequeno poema fantasioso e utópico. Portanto A Imagem Idilista é a imagem
gerando fantasia e utopia, em forma de poema.
Primeiro vem à imagem, depois o poema, onde  as palavras foram lavradas, de forma
lúdica, sem as pretensões literárias, de um Neruda, Bocage, Drummont, Pessoa ou da
vizinha ao lado, escritora poetisa.
Mídu Gorini
Povo enzoneiro,
maroto, marouço
Em movimento
com movimento
 
Sem-terra
Sem-teto
Sem-bingo
Sem-BMW
 
Êta povo sem nada!
A cidade iluminada
pela lua
Na rua
os ruídos da noite
ferem a madrugada
sem maldade
 
Meu pensamento Sinto o desejo nos seus lábios
acaricia o seu corpo como a tarde que arde ao sol
com malícia Sol que nunca serei
com saudade minha lembrança em sua vida
descansa doce Sol que sempre serei
nos seus lábios  em seus lábios
 
Você me procura
como quem busca a cura
sacia os seus lábios
nos meus lábios
e parte na madrugada ferida
para o Sol de sua vida.
A flor do rosto
a falta do trabalho
e o peso do pão
as monótonas renúncias
e todos os sonhos na prece

 Para além desta sedução


as marcas da sobrevivência
tatuadas sem pudor
a flor da pele 
com a dureza transparente
do cristal

que não quebra


não trinca
apenas resiste
misturando sentimentos e
sensibilidade

Num balanço que voa


do infinito ao nada
dos erros
aos poucos acertos na vida
gerando breves frutos
humanos
de tristeza e de dor
No país da dívida social
onde a esperança venceu o medo
falta tudo, só não falta povo
no trem da crise nacional
 
Sempre lotado, gemendo vai
estou em crise, estou em crise,
estou em crise, estou em crise,
piuiiiiii, piuiiiiiii, estou em crise
Gemendo vai, sempre lotado
 
Sempre sonhando o povo vai
piuiiiiii, piuiiiiiii, piuiiiiii.
 
Esperando um elegante futuro
sonhado
Vivendo um grande sonho
QUEbraDo! 
quando o amor acontece...
do sorriso vem a alegria
o abraço e o beijo
do beijo a nudez
da nudez o sexo
do sexo o prazer
a pura felicidade
de olhos fechados
com a brancura do amor
... até o meu coração
falar chega
As chuvas agradaram as plantas
as flores sorriram para as abelhas
abençoadas águas santas
e tentadoras uvas vermelhas

Ah! Neste dia cor de chuva


meus lábios ficaram cor de uva
flores, folhas, frutas tantas
viva a alegria das plantas

Os sábios fizeram vinho


na baila eu fiz um versinho
uma pequena ousadia
para festejar este dia

de chuva, vinho e versos tolos


pena que só o dia seja para todos
Desde sempre fui poeta
desde as antigas cantigas
que alegravam as raparigas
fui poeta rimador meu amor

hoje você é parte da minha arte


dos meus cânticos românticos
da minha fantasia com poesia
hoje você é musa reluzente

formosura onipotente tão bela


tão bela pecado do meu pecado
minha paixão sinta-se adorada

sinta-se amada no meu coração


te amar foi como fazer rimas fáceis
em versos voláteis de amor
Crianças de rua
crianças de lua
filhos da fome sem piedade
garimpeiros do lixo da cidade

De rua a rua
com sofrimento muito
De lua a lua
com esperança pouca

Fome sem piedade


no lixo da cidade
Lesam os olhos
Lesam a razão

Crianças de rua
crianças de lua
Lesam a poesia
Cortam o coração
o silêncio solidão
que segura a bengala
ecoa pelas mãos
 
marcadas pela ação do tempo
enobrecidas pela mão de obra
humildes pela ação da sabedoria
bondosas pela ação do coração
 
mãos de poema com poesia
esperando o tempo passar

...e a vovó chegar 


A comida pouca
virou semente pouca
na terra seca pouca
rachada pela água pouca
 
O pai descalço semeou
a mãe descalça orou
a criança descalça chorou
e a fome só piorou 

Semente na terra seca


esperando a chuva ama seca
para germinar em verde esperança
 
do pai que de sol a sol semeou
da mãe que de lua a lua orou
da criança que de sono a sono chorou
da terra seca que de sede rachou

Choveu a chuva ama seca


molhou a terra seca
terminou a negra desesperança
 
O pai calçado colheu
A mãe calçada agradeceu
A criança calçada sorriu
E a fome triste morreu 
Ah‼ no velho e bom grêmio
1ª Parte me disperso desse mundo de
sandice
lá só tem gente bamba
que faz samba p′ra boêmio
lá meu olhar repousa feliz
em sua fina meiguice
espreito seu corpo lindo
loira! a beleza te bendiz
aceita uma vodka com tamarindo?
de repente do nada,
um sintoma, um sinal
e a suspeita do mal
feito um raio que reluz
corri para a fila do SUS
consulta inevitável
com exame intolerável
e a verdade
desvelou-se sobre a vida
diagnóstico esclarecido
o mal está bem estabelecido
e o futuro
descortinou-se sobre a vida
estou cardíaco, a loira
despedaçou meu coração
em mil pedaços de paixão
me chamou de velho centenário
só tenho 60‼ dentro do peito!!!
Cheio de preconceito
fui rezar no igrejário...
Quatro sinos coralinos 2ª Parte
anunciam a Santa Missa
Na celebração o padre
a madre e o coroinha insatisfeito
A solidão da Palavra lavra o conceito
Os féis com fé cega e rostos caídos
imóveis como anjos subtraídos
deliciavam-se no imaginário
Quando vêem-se
desafiados no doutrinário
na medida dos pesos
e na medida das forças
Exibindo suas belas coxas
a loira do grêmio com seu rosário
entrou perfumando o igrejário
balançando como um líquido colorido
desfilando um vestido distraído
sentou-se sem reza nem defesa
e foi retalhada em pedaços de tristeza
pela madre que soltou todo o bestiário
feio, frio e farto no relicário
pondo fogo no povo e na religião
As mulheres histéricas gritavam
vai embora, vai embora
loira de íntima extração
Os homens boquiabertos admiravam
devorando com os olhos o anjo
decaído
o coroinha bem ouvido
murmurando rebola mais, rebola mais
De queixo caído, a loira afrodisíaca
como um relâmpago azul
se retirou cardíaca, rumo ao sul
Não vai, não vai suplicavam
hipnotizados
os homens perdidamente apaixonados
com sede de sangue e fome de sexo
as mulheres espumam ódio perplexo
com ciúmes do padre e desejo de rosto caído o padre faz o sinal da Cruz
reprimido teme que não lavrou a Palavra com Luz
a madre tem seu coração remoído De alma em alma Eu preconceito voei
ruborizado e satisfeito com o pecado como um vil pássaro virgem me retirei
o coroinha murmurando um beijo, um para o velho e bom grêmio
beijo lá só tem gente bamba
que faz samba p′ra boêmio
lá encontrei uma festiva flor nativa
com aroma e beleza crua
me encantou nua
3ª Parte minha doce ruiva
Ruiva
de doce abrigo
Olhos
da cor dos meus desejos
com sua beleza crua
mostra-se nua
em suas formas
mais delicadas
Põe brilho
em meus olhos
água
em minha boca
e aroma em meus lábios
Respira com gosto
a natureza sem censura
Transpiro com gozo
o presente sem futuro
Ruiva doce
de doce abrigo
para o meu encantamento
você basta
Em você está os amores
as paixões e os prazeres
de alguma madrugada
que amanhece eterna
dentro do peito

Parte Final
a fúria dos infernos infernais com maestria
escondida nas terras despertou a ira irracional
profundas do deserto do super cow-boy passional
adormecida em suas areias e crucificou seu pobre povo pobre
pálidas e opacas na cruz dos desesperados
sonhou com a paz sonhada depois foi dormir feliz
morta em cacos a insônia de algum infeliz
de infantil esperança verde-doce escondida nas trevas
com um cínico sorriso profundas do deserto
ofertado ao paraíso adormecida em suas areias
se vestiu de fundamentalismo pálidas e opacas
cego sonhou que mudou o mundo
afiou as armas com mão de ferro
lançou chamas pelos olhos da fé
rasgou o amor no coração de
Maomé
lambeu seu povo descente
com vil veneno incandescente
e correu como um líquido
voou em céus que não eram seus
derrubou torres com atrocísmo
bebeu sangue de gente inocente
alterou a geometria do pentágono
com fanatismo
bebeu sangue de gente inocente
um pássaro rebelde
caí do céu com heroísmo
bebeu sangue de gente inocente
cuspia na cara da humanidade
com alegria
Nina

corpo de menina
carinho de mulher
alma feminina
 
Linda
menina-mulher
 
Nina

que ilumina a esquina


nos lençóis da vida
ambição feminina
 
Sonha
menina-mulher
 
Nina
 
jeito funk, sorriso dark twist
mas, a vida insiste
e passa triste
 
Pena
menina-mulher 
As vezes me disperso
desse mundo de sandice
fico à sombra submerso
Espreito a sua meiguice

florente, fina, feliz


O mundo para por um momento
a beleza te bendiz
Os segundos transformam-se em acalento

o momento em vodca com tamarindo


Você é poema com poesia
Eu semente de ilusão sorrindo

Mas o mundo é urgente, insiste


e volta a girar sem fantasia
ao som do velho e bom twist
Virei a vida do avesso
e não virei um poema
com poesia: virei tema
um Zumbi com maresia

abstrato como um traço


de esperança mansa
abissal como um passo
de caminho sem chão

absurdo como um laço


de fome e desnutrição
Virei a vida do avesso
e não virou um poema

sem a cadência do
fonema
sem o ritmo do
compasso
virei um Zumbi no
espaço
Rosa é teu nome
Margarida ou estrela
mãe da vida
foi se fazendo
serena
morena flor
morena de alfazema e açucena
de poema com poesia
flor de rima e verso
com aroma, gosto, tato e emoção
foi se fazendo poesia
que se entrega ao poema
sem alterar a natureza da água doce
que busca o sal a meio mar
sem alterar o destino da lágrima salgada
que busca o doce na esperança mansa
Rosa é teu nome
Margarida ou obra-prima
estrela mãe da vida
tua lágrima
é gota divina da natureza
O dia disse se há bingo eu vou
morrer e mais triste que envelhecer quermesse não vou
Que dia é esse dançar nem pensar
envelhecer é juventude acumulada falta o vovô
   
mais eu digo com todas as palavras anoitece floresce a lua
lavradas em alto e bom som as estrelas e meu versinho
hoje eu acordei com pouco ou deixa os olhos cheios de vazio
nenhum talento para acordar e o coração cheio de saudade 
 
A velhice desliza suave sobre o tempo
mas não se iludam
mesmo ao amanhecer
não há poesia no envelhecer
 
há café, jornal e tédio
há médico, prevenção e médium
há pastor, promessa e remédio
dentista só para ajustar a dentadura

a tarde já arde com o aborrecimento contente


dos netos, das noras, das juntas que juntas
reclamam e clamam com eco e mais eco
aos olhos, aos ouvidos e a paciência dos santos 

a noite no silêncio atencioso


floresce a lua com carinho
as estrelas e meu versinho
com talento bem fraquinho
No mundo atrás dos muros,
só existe gente feliz
todo poderoso cercado por muros,
canta feliz
sem consciência além muros,
vive feliz
sem olhos além muros
para quem chora infeliz
 
No mundo atrás dos muros,
só existe gente feliz
Com luxúria a madame de saia justa
a miséria fica além muros
Com ganância o patrão
de colarinho branco
a favela fica além muros
Com suor a esperança
de quem chora infeliz
a lágrima fica além muros
 
No mundo atrás dos muros,
só existe gente feliz
com ouro e mais ouro e mais muros
canta feliz
no conforto da verde consciência,
vive feliz
Para quem chora infeliz
um lamento feliz 
Dedicado
a Rosa Regina - 2008
As mulheres foram imperfeitas
Compridas, curtas
fracas de cabeça
tristes de facha
magras
as vezes foram rios de celulite
vôos de tristeza e ilusão
Mas gota a gota
foram se recompondo
em paisagem lúdica
Charme, graça
e beleza
A Rosa
só a Rosa Regina
surgiu das mulheres
Perfeita, completa
repleta de orgulho
bonita
nobre sabe o que quer
Nasceu completamente terminada
desorientou a natureza dos homens
que aos seus pés
não passam de leãozinhos desorientados
o Biomédico quer ser poeta
o Professor estuda para ser marido
o Poeta trata de imitar Neruda
pois só Pablo Neruda
seria capaz de compor
algo digno dos olhos
e do coração de Rosa Regina
Pela calma banida
no coração da mão bandida
com olhos de alma homicida
voa a bala perdida
com o brilho do esmerilho
voa o fogo selvagem
com o cheiro forte da morte
no lamento do vento ao norte
Voa a bala selvagem
sem bem, sem o bem
sem meu bem, sem alguém
no coração ninguém
Voa o fogo perdido
riscando os céus
das antigas terras sagradas
das modernas favelas faladas
por onde Noé
navegou com Fé
com medo
Pela calma banida
e tristeza suave
no coração da mão bandida
a vida cai com tristeza
sem defesa, nem reza
sem o estribilho da valentia
nem o rastilho da covardia
Fica apenas o cheiro forte da morte
no lamento do vento ao norte
Sempre te amando
sempre no seu sorriso
Sempre te cantando
sempre na tua paz
Sempre no meu peito
a tua luz de néon
Sempre nos meus olhos
Você! Morena de bom-tom
Sempre nas minhas mãos
macia como pompom
Sempre nos meus lábios
gostosa como bom-bom
Sempre no meu peito
delicada como crepom
Sempre no meu sempre
seus lábios com baton
neste verso de Drummond
Morena de bom-tom
gostosa como bom-bom
macia como pompom
tua luz é de néon
delicada como crepom
Sempre no meu sempre
Você! Morena de bom-tom
Raizes profundas
da natureza humana
fora do eixo sem rumo
desleixo sem prumo

Como dizer o silêncio?


Será capaz?
Toda a paz na natureza
sem a natureza humana

Sem o egoísmo humano


sem prumo sem rumo
Sem a ignorância humana
desleixo fora do eixo

Como dizer a cor do vento?


Será capaz?
Escrevi dois versos
preto no branco
dois olhares
um azul outro verde
dois amores
com suas cores e dores
preto no branco
sombrio colorido impreciso
macio que anestesia
que tolhe pela distância
a presentificação do meu canto
a minha musica
a minha mão
tocando o sabor
da sua paixão sinestésica
em idas e vindas
percorrendo longas curvas
e retas
em aclives e declives
montanhas e planícies
com temperaturas altas
altíssimas
caminhos deliciosamente quente
é úmido
que caminhei
com passos perdidos de prazer
e amor 
existem ratos, ratinhos e ratões
todos escondidinhos nos porões
dos escritórios e das repartições
cometem erros, errinhos e errões

consomem pedacinhos de licitações

diz o minirreygatus sem brilux


com autoridade nobre e atitude pobre
esbraveja alto, rouco e rápido: povus,
povus, assim o myzerê não redux

o povus sabe que está sifux


ninguém tá nem aí, beija-pé
nem o xypanzé é tão mané
não, não há lux no fim do tunel

reflexivo, não vivo mais

isto é coisa para samurais


em dia que só tem pó
passeando pelo ar
sem xilyndró de bras ylha
Por veias verdes
e caminhos de cidadania arrepiada
cheias de raizes respiratórias
e folhas definitivas
com suas flores bissexuais roxas
Encontrei estranhos
pés de árvores
furiosas pelo descaso
da natureza humana
Árvores verdes
com seus longos esqueletos
de pequenos gestos
lagrimejando o orvalho
da manhã fria
Maltratadas
metamorfoseavam-se ao sol
Na pontas dos pés
uma madame de saia justa dançou
alucinadamente com o pé de valsa
antes do pé de briga
e bem antes da separação
com desejo verdadeiro
1ª Parte
fez amor sem amor
Saciada em seus instintos
mais primitivos
com pés de anjo ignorou
a enchente no pé d’água
a fome ao pé da mesa e a favela
em pé de guerra no pé do morro
Mas seduziu o povo pé de chinelo
com pés de sapato de doce brilho
e amargo voto político
A madame com malícia plantou
seu pé de cana no planalto central
Fez, protegida
pela sombra da corrupção
a lei, só para os pobres
a justiça de sentimentos nobres
com a lentidão das grandes
tartarugas
e só então, a sombra da lei e da
justiça
as árvores se tornaram humanas
e colocaram seus pés
em cima da mesa do poder 2ª Parte
Brincadeira brincadeirinha
brincadeirinha de adultos
é um vai e vem de prazer
que deixa o meu corpo refém

para uns é pornografia


para mim é pura poesia
outros dirão é indecência
eu direi é pura essência

pena dos que não tem parceiros


pois estes brincam sozinhos brincando eu quero sentir
para muitos isto é duro nojo a vida beijar o seu rosto
para eles isso é puro gozo o calor acariciar o teu corpo
o tesão tecer a sua pele e nela
para uns é amor e paixão
para outros sexo sem nexo o seu corpo estremecer brincando
não me falem em vulgaridade neste vai e vem que me deixa refém
pois falarei que é celebração mas no fundo tudo isso: não passa
disso é brincadeirinha,
brincadeira de adultos
Ágnus-dei está nu
aqui el-rey está nu
e torce por nós
O fora da lei está nu
o decreto-lei não
não precisa
a lei já é nua e crua
 
O frei está nu
aqui el-grei está nu
e reza por nós
Começarei a ficar nu
a madeira de lei não
não precisa
a madeira já é nua e crua
 
O poeta ficou nu
e canta por nós
de sentimento aberto
de coração aberto
O poema com poesia não
não precisa
a poesia já é nua e crua
 
sangue e carne
corpo e alma 
Um dia do nada

um sintoma
um sinal
e a suspeita do mal

consulta inevitável
com exame intolerável
A verdade inaceitável
desvelou-se sobre a vida

Diagnóstico esclarecido
o mal está bem estabelecido
prognóstico padecido

e o futuro adoecido
Descortinou-se sobre a vida

Catapora!
madrugada calada no sentimento
da poesia e da fantasia
a esperança dança perto dos olhos
procura a cura nas águas profundas
do oceano revolto e insano
busca a pétala, das rosas preciosas
a vida que vive com graça
o coração que bate sem ameaça
(posso ouvi-lo no silêncio tranqüilo)
nos beijos menos inocentes
dos lábios mais ardentes
nos amantes que transpiram
tentadores e perdidos amores
e deixam no leito o aroma de flores
que misturam deliciosas cores e dores
a vida é um mar de rosas preciosas
que foge na madrugada apiedada
do antigo e cruel castigo
do gato sobre o rato
do grave sobre o suave
da sobrevida que agoniza perdida
mas ainda há vida!
no ar louco do mar rouco
o grito aflito da esperança
dança perto dos olhos
sem fantasia e sem poesia 
Paixão
é o pensar com o coração
posso ouvi-lo
no silêncio tranqüilo
é o sonhar na madrugada
apiedada com os gritos
aflitos da esperança
que dança perto dos olhos
com fantasia e poesia
é o desejar com medo
e a fúria dos oceanos
revoltos e insanos
querer estar junto
como unha e carne
beijo e abraço
corpo e alma
falar ao ouvido
que a vida passa com graça
sentir a respiração
tão próxima que parece uma só
buscando no ar louco
do mar rouco
a pétala
das rosas preciosas
é desejar sentir
os lábios quentes
nos beijos menos
inocentes
para depois sentir
o calor do corpo
transpirando tentadores
e perdidos amores
que deixam
no leito perfeito o aroma de flores
que misturam
deliciosas cores e tremores
em suas pétalas.
Paixão
é o pensar é o sonhar
é o desejar
querer estar junto
falar ao ouvido
sentir a respiração
tão próxima que parece uma só
é desejar sentir
os lábios quentes
o calor do corpo
no leito perfeito
Na hora mais incerta
subtraio do raio
a ilusão iluminada
com a esperança mansa
de quem busca a paixão

Na hora mais incerta


curta como um relâmpago azul
a sabedoria cala a dor não fala
o dia é utopia
poesia e fantasia

A vida respira
as cores das flores
depois de tantos
amores e desamores
deseja seus sedutores suores

Com alarde covarde


a tarde arde ao sol
a vida passa sem graça
respirando desilusão iluminada
antes da prece que adormece ao luar
Noites ilícitas, Aberratio humani!
as meninas bonitas
ejaculadas e mal pagas
iluminam a esquina
perigosa e gostosa
o pivete
o canivete
e mais um sangue
acima de qualquer suspeita
cheio de birita
no meio do mangue

Noites ilícitas, Vexata Questio!


os meninos travestidos
iluminam o marido enrustido
disfarçado de cabra-macho
mais um grande cambalacho
O viciado traficante
a viciada nauseante
e mais um sangue
acima de qualquer suspeita
cheio de AIDS
no meio da pop-gangue
Noites ilícitas, Primum Vivere!
o bangue-bangue
ilumina a esquina
perigosa e gostosa
a polícia policia
a navalha
o canalha
e mais um sangue
acima de qualquer suspeita
cheio de maracutáia
no meio do mangue

Noites ilícitas, Deinde Philosophari!


silêncio macio
do lado calado
ilumina a esquina
perigosa e gostosa
no fundo do mundo
na boca loca
e mais um sangue
acima de qualquer suspeita
cheio de prazer
no meio do langue-langue
Extra, extra, extra!!!
Em vez de dinheiro, uma surra
Extra, extra, extra!!!
Em vez de dinheiro, uma surra
Noticia escrita com nervos,
músculos e sangue
Extra, extra, extra!!!
Em vez de dinheiro, uma surra
Sem uma lástima a polícia no local
Sem uma lágrima a notícia no jornal
Extra, extra, extra!!!
Em vez de dinheiro, uma surra
O esquecimento em dois minutos
a impunidade em eternos minutos
Extra, extra, extra!!!
Em vez de dinheiro, uma surra
Cai a noite nasce o medo
com todas as luas em todas as ruas
Extra, extra, extra!!!
Em vez de dinheiro, uma surra
Leia também: marido voador!!!
voou do edifício Jafé
com dor no coração
pegou mulher com Ricardão
p′ra que tanta dor Mané?.
Extra, extra, extra!!!
Em vez de dinheiro, uma surra  
...é o lado calado
da vida vivida
na boca loca
do fundo do mundo
as meninas prostituem-se às claras
os meninos traficam às escondidas
os senhores sofridos, as mães recém paridas
e o caboclo retorcido, recém foragido
trocam palavras lavradas
com esperança mansa e meio luto puto
na longa fila que dobra a esquina da vila
depois preenchem as fichas sem rixas
com identificação, Fé e desnutrição,
trêmulos entregam os currículos sabendo
que o trabalho é o máximo, o salário é o mínimo
mas hoje não há vagas, talvez amanhã de manhã
o retorcido aborrecido voltou para o crime
os outros lamentaram com seus gritos aflitos
as meninas continuam nas esquinas
os meninos continuam ás escondidas
é o lado calado
da vida vivida
na boca loca
do fundo do mundo...
Morena flor seu sabor
é diferente é superior
 
Tem corpo de menina
carinho de mulher
tem alma feminina
linda menina mulher
 
meus poemas são seus poemas
seus sorrisos são meus sorrisos
 
De mãos dadas
Trocam olhares
Trocam palavras
Trocam bocas
Trocam gostos
 
De mãos dadas
Esbarram-se os narizes
Sem timidez
Com flictena
Esbarra-se os pés
Sem nudez
uma pena
 
De mãos dadas
Dispara o coração
Com calafrio
Açucara a pele
Com arrepio
 
De mãos dadas
Esbarram-se, esbarram-se 
O Brasil colônia
com ganância e rudeza
foi explorado e massacrado
pela coroa portuguesa

Na chuvosa e fria região


central da terra mineira
a primeira revolução
social brasileira

“Liberdade ainda que tardia”


era o lema que ardia
nos corações e mentes
dos poucos inconfidentes

das minas gerais evaporavam tumultos


os escravos em fuga exalavam motins
os inconfidentes tacavam desaforos
e TIRADENTES vomitava insolências

com seu DNA enforcado e


esquartejado
dos versos à história gerou no povo
varonil a semente precursora
da independência do Brasil
Dedicado à minha prima Cissa - 2006
sem alarde
a tarde arde
ao sol
 
o que fazer
antes da prece já me tiraram
que adormece do rosto a cor
ao luar do peito o amor
  e do corpo a dor
talvez um beijo  
sem paixão feito um cisne
talvez um sexo de plumagem tisne
sem camisinha o tempo insiste
por puro e simples em passar triste
tesão ao som deste velho
  e bom twist
não sei, não sei  
realmente não sei tenho apenas
  poéticos relampejos
já me tiraram
da cor dos meus desejos
o dinheiro do jarro
uma serena Cissa
o carro e o cigarro
  morena flor de açucena
já me tiraram e duas rosas vermelhas
a mulher pata um tesouro mais que
a gata e a vaca 
perfeito
guardado dentro do peito
 
Isto ninguém me tira 
Estendido ao comprido
o vôo negro da graúna
com a graça da flor
e seu canto que encanta
pousou asas do amor
no silêncio-escuridão
do meu peito-solidão
seu olhar verde requintado
fez a tristeza partir
sem se despedir
seu sorriso de carícia sábia
faz meu peito enamorado
bater...bater todo abrasado
com movimentos ardentes
ofegantes, alucinantes
as vezes leves
suaves e tentantes
as vezes violentos
como os movimentos
das grandes tempestades 
Quem já viveu na pele o desengano
nos lábios sentiu
o grito do desespero vivo
sabe o que meus versos
estão cantando
 
Quem já viveu na pele o limite
no coração a Fé
porque só lhe restou a Fé
na alma recebeu o desprezo
porque só lhe sobrou o desprezo
sabe o que meus versos
estão cantando
 
Sabe que a dor cala
e a sabedoria fala
transformando a inteligência sábia
em sábia sabedoria
 
Quem já viveu nos olhos o vazio
sabe o que meus versos
estão cantando
sabe e vive vivo
com a esperança viva
com o desespero morto
tem Fé, tem gratidão
tem amor e perdão de sobra
para o canto dos meus versos. 
Mídu Gorini
Uma pequena homenagem
aos poetas citados
  
Neruda
Bocage
Drummont
Pessoa
 
20 poemas de amor Poema 1
Pablo Neruda

Corpo de mulher, brancas colinas,


coxas brancas
pareces com o mundo na tua atitude
de entrega
Meu corpo de lavrador selvagem te escava
e faz saltar o filho do fundo da terra
Fui sozinho como um túnel.
De mim fugiam os pássaros
e em mim a noite entrava a sua invasão
poderosa
Para sobreviver-me te forjei como uma arma
como uma flecha em meu arco, como uma
pedra na minha funda
Mas cai a hora da vingança, e te amo.
Corpo pele, de musgo, de leite ávido e firme.
Ah os copos do peito!
Ah os olhos da ausência!
Ah as rosas do púbis!
Ah tua voz lenta e triste!
Corpo de mulher minha, persistirei
na tua graça.
Minha sede, minha ânsia sem limite, meu
caminho indeciso!
Escuros canais onde a sede eterna continua,
e a fadiga continua, e a dor infinita.
Retrato próprio
Bocage
 
Macro, de olhos azuis, carão moreno
Bem servido de pés, meão na altura
Triste de facha, o mesmo de figura
Nariz alto no meio, e não pequeno
 
Incapaz de assistir num só terreno
Mais propenso ao furor do que a ternura
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno
 
Devoto incensador de mil deidades
(digo, de moças mil) num só momento
E somente no altar amando os frades
 
Eis Bocage, em quem luz algum talento
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento 
Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito
Do meu quarto ouço a fuzilaria
As amadas torcem-se de gozo
Oh! quanta matéria para os jornais
Desiludidos mais fotografados,
Necrológico dos desiludidos de amor escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
Carlos Drummont  Para o remorso das amadas.
Pum pum pum... adeus enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas nós veremos
Seja no claro céu ou turvo inferno.
Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas, tripas sentimentais
E um estômago cheio de poesia...
Agora vamos ao cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados competentemente
(paixões de primeira e de segunda
classe)
Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles.
Olha, Dayse: quando eu morrer tu hás de
dizer aos meus amigos aí de Londres,
embora não o sintas, que tu escondes
a grande dor da minha morte. Irás de
 
Londres pra Iorque, onde nasceste (dizes...
que eu nada que tu digas acredito),
contar aquele pobre rapazito
que me deu tantas horas tão felizes,
 
Embora não o saibas, que morri...
mesmo ele, a quem eu tanto julguei amar,
nada se importará.... Depois vai dar
 
a notícia a essa estranha Cecily
que acreditava que eu seria grande... Soneto já antigo  
Raios partam a vida e quem lá ande!  Fernando Pessoa
midugorinibook
As imagens fotográficas e os poemas de Neruda,
Bocage, Drummont e Pessoa, foram captados na
internet, em sítios de livre domínio, portanto são de
domínio público.

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Gorini, Romildo Filho, 1955
A Imagem Idilista ® primeira edição
l. poesia brasileira. l. título
 

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