Você está na página 1de 8

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO

ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA
REGISTRADO(A) SOB N°

*01434351*

PODER JUDICIÁRIO
SÃO PAULO

.2
o
c
•o ACORBAO
2

"AGRA VO DE INSTRUMENTO - tirado contra r. decisão


que deferiu liminar em sede de ação civil pública movida
pela Associação dos Adquirentes de Imóveis do
Empreendimento Villas da Penha contra a Cooperativa
Habitacional dos Bancários de São Paulo - BANCOOP -
Liminar deferida para impedir que a ré realize atos de
execução ou retomada dos apartamentos ou unidades, bem
como de alienar novamente os direitos sobre elas, até decisão
definitiva da demanda - Presença dos requisitos legais para
concessão da liminar - Decisão mantida - Agravo
improvido."(Voto 1119)

Vistos, relatados e discutidos estes autos de


AGRAVO DE JNSTRUMENTO N° 517.452-4/1-00, da Comarca de
São Paulo, sendo agravante Cooperativa Habitacional dos Bancários
de São Paulo - Bancoop e agravada Associação dos Adquirentes de
Imóveis do Empreendimento Villas da Penha.

ACORDAM, em Nona Câmara de Direito Privado do


Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, por votação unânime, negar
provimento ao recurso.

Trata-se de agravo de instrumento interposto contra a


r. decisão que deferiu a liminar para impedir a ré de "realizar atos de
PODER JUDICIÁRIO
SÃO PAULO

execução ou retomada dos apartamentos ou unidades, igualmente a


alienar novamente os direitos sobre elas, até decisão definitiva da
presente", proferida nos autos da Ação Civil Pública, movida pela
Associação dos Ádquirentes de Imóveis do Empreendimento Villas
da Penha, ora agravada, em face da Cooperativa Habitacional dos
Bancários de São Paulo - BANCOOP, ora agravante, e que tramita
perante a 32a Vara Cível Central (fls.681/682).

O recurso é tempestivo e foi processado sem o efeito


suspensivo pretendido pela agravante (fls. 693/694).

A agravada apresentou contraminuta às fls. 697/709.


u
As informações do R. Juízo a quo" foram
dispensadas (fls. 694).

A r. decisão agravada, a prova da intimação e a


procuração da agravante e da agravada encontram-se, por cópia, a fls.
681/682; 685; 690 e 249.

O preparo e a taxa do porte de retorno dos autos foram


recolhidos (fls. 26 e 27).

E o relatório do essencial.

O recurso não comporta provimento.

AGRV N° 51 7 452-4/1 -00 - SÃO PAULO - VOTO 1119 - CPC


PODER JUDICIÁRIO
SÃO PAULO

A agravada ajuizou uma ação civil pública em face da


agravante, com pedido de antecipação de tutela, em defesa dos direitos
dos inúmeros associados que celebraram um "termo de adesão e
compromisso de participação" com a cooperativa agravante, visando a
aquisição de unidades habitacionais do empreendimento denominado
"Villas da Penha", através de sistema de autofínanciamento a preço de
custo.

Postulam, no mérito da referida ação civil pública,


essencialmente, a prestação de contas pela Bancoop; o reconhecimento
de relação de consumo entre as partes; a revisão dos contratos para
afastar a capitalização de juros; restituição, em dobro, de qualquer valor
pago a maior pelos cooperados em razão da ilegal aplicação da Tabela
Price e conseqüente capitalização de juros (fls. 239). Em caráter de
antecipação dos efeitos da tutela, pleitearam expedição de oficio ao 17°
Cartório de Registro de Imóveis, para que o mesmo proceda as
averbações dos "Termos de Adesão e Compromisso de Participação" dos
adquirentes dos imóveis junto as matrículas descritas na petição inicial; a
determinação cie retomada das obras no prazo máximo de 30 (trinta) dias;
a determinação de suspensão dos vencimentos de prestações dos
adquirentes que ainda não quitaram seus imóveis, até que se comprove a
retomada das obras e, ainda, que a requerida se abstenha de realizar
"cobrança, negativação, protesto ou interpelação análoga" em relação ao

AGRVN°517452^/1-00-SÃOPAHLO-VOTO IM9-CPC / / O
PODER JUDICIÁRIO
JpsliiL SÃO PAULO

nome dos adquirentes do referido empreendimento, sob pena de multa


(fls.238).

Noticiam inúmeros fatos graves e atos ilícitos


envolvendo a ré, alegando que o empreendimento em questão é um nada
jurídico, pois não haveria sequer registro de incorporação imobiliária, e
que a Bancoop é uma cooperativa de fachada, empresa que age com
desvio de finalidade e dos recursos dos cooperados, comercializando
verdadeiros "imóveis fantasmas", posto que obras encontram-se
completamente paralisadas e abandonadas há mais de um ano. Alegam
que a Bancoop é conhecida no mercado como uma "empresa quebrada",
fato que está causando o ingresso de dezenas de ações judiciais, todos os
dias, contra a agravante. Denunciam a existência de investigações em
andamento perante o Grupo Especial de Apoio e Repressão ao Crime
Organizado - GAECO e pelo Ministério Publico Federal.

O MM. Juiz "a quo" proferiu a r. decisão ora


impugnada, atento para os esclarecimentos da autora, feitos por petição
(fls.658/659 e 665/667), notadamente onde alega que a Bancoop chega ao
absurdo de colocar a venda os mesmos imóveis, tentando fazer mais
vítimas, quando é certo que não conseguirá levar a cabo as construções,
ressaltando o receio de dano irreparável aos associados porque a
calamitosa situação financeira da ré, certamente, impedirá que os
adquirentes "eliminados" recebam a restituição daquilo que já pagaram.
A autora alegou que mais de duzentas famílias estão na iminência dp-

AGRV N° 51 7 4524/1-00 - SÃO PAULO - VOIO 1119 - CPC / / A


tsm PODER JUDICIÁRIO
SÃO PAULO

sofrer dano irreparável e irreversível, pois, para os adquirentes que já


habitam seus imóveis, a eliminação acarreta reintegração de posse do
imóvel, desalojando-os de suas moradias e, em relação aqueles que não
receberam seus imóveis, a eliminação acarreta a perda dos recursos - em
torno de R$ 100.000,00 - (cem mil reais), investidos para a aquisição dos
"imóveis fantasmas", além do fato de que a Bancoop irá vender
novamente estes mesmos, imóveis fantasmas, fazendo novas vítimas no
mercado e criando uma situação de difícil solução jurídica. Entendeu por
bem o Magistrado, em decisão fundamentada, impedir a ré de realizar
atos de execução ou retomada dos apartamentos ou unidades, bem como
de alienar novamente os direitos sobre eles. Deixou as demais questões
para analise após a contestação (fls. 682).

O MM. Juiz deixou consignado que: "A urgência


restringe-se, segundo esclarecimentos feitos por petição, à consideração
de impedimento de a ré, em face do possível entendimento da
inadimplência dos associados da autora, vir a se imitir na posse dos
apartamentos e realizar novas vendas das mesmas unidades. De fato, a
autora discute a existência efetiva, a eficácia e a pertinência dos créditos
reclamados pela ré, não haveria cabimento em autorizar a retomada dos
imóveis pela ré, assim se fazendo esvair o objeto da demanda. Tal tutela
tem cunho cautelar e não antecipatória. Os elementos presentes no feito
autorizam a concessão de liminar para tal finalidade. Assim, determino
que se notifique a ré, impedindo-a de realizar atos de execução ou,

4GRV N° 511 4524/1-00 - SÃO PAULO - VOTO 1119 - CPC / / R


^
PODER JUDICIÁRIO
SÃO PAULO

retomada dos apartamentos ou unidades, igualmente a alienar novamente


os direitos sobre elas, até decisão definitiva da presente"(fls. 681/682).

A agravante não se conforma com a r. decisão


argüindo, entre inúmeros outros argumentos, que não há plausibilidade
do direito e nem perigo na demora e que, ao contrário, a cautela
concedida pelo Juízo causará graves riscos para a saúde financeira da
Cooperativa, além de prejudicar os próprios cooperados do
empreendimento. Entende que a mera discussão em juízo dos valores
cobrados não basta para a concessão do "beneficio de inadimplência" ao
devedor e que a retomada das unidades representa direito previsto nos
contratos assinados conscientemente pelas partes.

Em que pesem as considerações da agravante, ficou


bastante evidente que os fundamentos do agravo de instrumento, a bem
da verdade, implicariam na análise do próprio mérito da demanda posta
em Juízo, o que é inadmissível nessa sede, sob pena de supressão de
instância.

A r. decisão recorrida foi prolatada no momento


processual em que o M M Juiz determinou a citação da ré. Para tanto,
considerou os argumentos expostos pela autora. Não era de se exigir,
naquele momento, um exame mais aprofundado do tema, até mesmo
diante da complexidade da questão.

O MM. Juiz atribuiu caráter cautelar à


antecipatório da tutela.

AGRV N° 51 l 452-4/1-00 - SÃO P'\ULO - VOTO 1119 - CPC


ísm PODER JUDICIÁRIO
SÃO PAULO

LUIZ ORIONE NETO, ao analisar o tema da tutela


jurisdicional cautelar, doutrina que: "Segundo a lapidar definição do
ilustre Prof. Donaldo Armelin, entende-se por tutela jurisdicional
cautelar aquela 'prestada ex officio ou por provocação das partes sem
caráter satisfativo e com a finalidade de assegurar, quanto possível, o
equilíbrio entre os litigantes no processo satisfativo e a eficácia da
prestação jurisdicional reclamada ou reclamanda'.(...) Merece aqui
destaque particular o termo eficácia. Como se sabe, a eficácia é a
produção de efeitos no mundo empírico, ou seja, o desencadear de efeitos
práticos almejados pelos jurisdicionados. Daí a afirmação de Pontes de
Miranda, no sentido de que 'a eficácia jurídica é a irradiação do fato
jurídico; portanto, depois da incidência da regra jurídica no suporte
fáctico'. Destarte, assirn gizado o termo eficácia, compreende-se
facilmente que a importância da tutela jurisdicional cautelar está
exatamente em assegurar a eficácia da pretensão material veiculada no
processo principal - ou no próprio processo em caráter incidental (v. art.
273, § 7o, do Código de Processo Civil) - ou seja, salvaguardar o
resultado útil e profícuo do processo de conhecimento ou de
execução"(Processo Cautelar, Editora Saraiva, 2004, págs. 17/19).

A r. decisão recorrida buscou salvaguardar o resultado


útil e profícuo do processo de conhecimento.

AGRV N° 51 i 452-4/1-00 - SAO PAULO - VOTO 1119 - CPC


£z&hn
PODER JUDICIÁRIO
SÃO PAULO

Tal decisão poderá ser revista a qualquer momento


pelo D. Juízo a quo, atendendo satisfatoriamente, por ora, à garantia da
efetividade dos direitos da coletividade envolvida, em virtude da própria
natureza jurídica da ação que intentaram.

Por tais fundamentos, nega-se provimento ao


recurso.

Presidiu o julgamento o Desembargador SÉRGIO


GOMES, e dele participaram os Desembargadores CARLOS
STROPPA e ANTÔNIO VILENILSON.

São Paulo, 02 de outubro de 2007.

<5/¥trm\ NICOLAU
Relator

AGRV N° 51 ' 452^/1-00 - SAO PAULO - VOTO 1119 - CPC


8

Você também pode gostar