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[Alex Mendes] – [Atualidades]

[Lei – Ficha Limpa]

A aprovação do Projeto de Lei Ficha Limpa no Senado, ocorrida no dia 19 de maio de


2010, foi considerada um avanço na política brasileira, no sentido de criar
mecanismos para combater a corrupção no país. O projeto de lei, que foi elaborado
por cidadãos comuns, só entrou na pauta de votações neste semestre e recebeu aval
do Congresso devido à pressão popular, o que demonstra a rejeição do brasileiro aos
políticos desonestos.

O Projeto Ficha Limpa torna mais rigorosos os critérios que impedem políticos
condenados pela Justiça de se candidatarem às eleições. Apesar de ter recebido
emendas na Câmara dos Deputados e no Senado que amenizam seu impacto, ele
contribui para mudar o comportamento da classe política.

A medida vai atingir políticos


condenados por crimes graves, cuja
pena de prisão é superior a dois
anos, e aqueles que renunciarem o
mandato visando escapar do
processo de cassação.

Falta definir se a norma será válida


para as eleições de outubro deste
ano, que irão eleger presidente,
governadores, deputados federais e
estaduais e senadores. Também se
discute se políticos já condenados pela Justiça perderão o direito de se candidatar ou
se a lei só irá valer para os que receberem sentenças a partir da vigência das novas
regras.

Pressão popular
A proposta chegou ao Congresso por meio do Projeto de Lei de Iniciativa Popular (PLP),
que é quando o projeto tem origem na sociedade civil.

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Existem cinco tipos de propostas de leis que são apreciadas pelo Poder Legislativo:
emenda constitucional projeto de lei complementar, lei delegada, decreto legislativo e
resolução. Cada iniciativa possui ritos próprios dentro das Casas legislativas e
depende de um número mínimo de votos para ser aprovada.

No caso do Projeto Ficha Limpa, trata-se de uma lei complementar. Esse tipo de
projeto é feito para complementar ou regular uma regra já estabelecida pela
Constituição Federal de 1988. Para ser aprovado, precisa de votos da maioria absoluta
da Câmara dos Deputados e do Senado.

Os projetos de lei complementar e ordinária podem ser apresentados por um


deputado ou um senador, por comissões da Câmara ou do Senado, pelo presidente da
República ou pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por Tribunais Superiores e pelo
procurador-geral da República.

Um caminho mais difícil é ser


apresentado pelo cidadão, por
meio do Projeto de Lei de
Iniciativa Popular. Para isso, é
preciso a assinatura de 1%
dos eleitores brasileiros
distribuído por, no mínimo,
cinco unidades da Federação.
Em cada Estado e no Distrito
Federal é necessário o apoio
mínimo de 3% do eleitorado.

A proposta do Ficha Limpa foi


encaminhada à Câmara dos
Deputados pelo Movimento de
Combate à Corrupção Eleitoral
(MCCE) em setembro de 2009.
Foram coletadas mais de 1,6
milhão de assinaturas. A campanha começou em abril de 2008.

O que diz a lei


O Projeto Ficha Limpa altera a Lei Complementar nº 64 de 1990. Esta lei, atualmente
em vigor, estabelece critérios de impedimento para a candidatura de políticos, de
acordo com a Constituição. O objetivo, segundo o texto, é proteger a "probidade
administrativa" e a "moralidade no exercício do mandato".

O Ficha Limpa proíbe que políticos condenados por órgãos colegiados, isto é, por
grupos de juízes, se candidatem às eleições. Pela lei atual, o político ficaria impedido
de se candidatar somente quando todos os recursos estivessem esgotados, o que é
chamado de decisão transitada em julgado. O problema é que o trâmite pode demorar
anos, o que acaba beneficiando os réus.

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Um processo cível ou criminal começa a ser julgado no Fórum da cidade, onde
acontece a decisão de primeira instância, que é a sentença proferida por um juiz. Se
houver recurso, o pedido é analisado por juízes do Tribunal de Justiça dos Estados. Há
ainda a possibilidade de apelar a uma terceira instância, que pode ser tanto o Superior
Tribunal de Justiça (STJ) quanto, em se tratando de artigos da Constituição, o Supremo
Tribunal Federal (STF).

De acordo com a Lei Complementar nº 64, somente quando esgotados todos esses
recursos o político que responde a processo poderia ser impedido de se candidatar.

Já o Projeto Ficha Limpa torna inelegível o réu que for condenado por um grupo de
juízes que mantiver a condenação de primeira instância, além daqueles que tiverem
sido condenados por decisão transitada em julgado.

Quando ao prazo de inegibilidade, ele varia hoje de acordo com a infração cometida e
o cargo ocupado pelo político. Com as alterações do Ficha Limpa, o prazo é de oito
anos após o fim do mandato, incluindo as eleições que ocorrerem durante o restante
do mandato do político condenado, e independe do tipo de crime cometido.

Outra mudança diz respeito aos crimes que tornam o político inelegível, caso
condenado. O Ficha Limpa mantém todos os delitos previstos na lei em vigor (como
crimes eleitorais, contra a administração pública e tráfico), e inclui outros, tais como:
crimes contra o patrimônio privado, contra o meio ambiente e saúde, lavagem e
ocultação de bens, crimes hediondos e praticados por organização criminosa.

Eleições de outubro
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou o projeto e o Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) decidiu que as regras já são válidas para o pleito deste ano.

Polêmicas
Segundo especialistas, emendas na proposta, feitas pelo Congresso, amenizaram o
impacto da redação inicial do Ficha Limpa.

Talvez a alteração mais importante seja aquela referente ao dispositivo de "efeito


suspensivo" de recursos. De acordo com essa emenda, um político condenado em
segunda instância por um órgão colegiado pode apelar junto ao STF e conseguir a
suspensão do recurso. Entretanto, essa medida dará mais agilidade ao processo, que
terá prioridade na tramitação.

O texto original do Ficha Limpa também foi abrandado na Câmara dos Deputados, no
artigo relativo à condenação do político. De acordo com o projeto apresentado, o
político ficaria impedido de concorrer às eleições se fosse condenado na primeira
instância. Com a emenda parlamentar, a inegibilidade é aplicada somente em decisão
colegiada ou de última instância.

No Senado, foi apresentada uma emenda que determina que a proibição de


candidaturas só vale para sentenças proferidas após a lei ser editada. A mudança na
redação substituiu o tempo verbal: de "sido condenados" para "forem condenados".
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Ou seja, somente políticos que forem condenados depois da Lei Ficha Limpa entrar em
vigor serão impedidos de disputar as eleições, de acordo com a interpretação de
alguns especialistas.

Políticos como o deputado Paulo Maluf (PP-SP), que não poderia se candidatar às
eleições deste ano segundo o Ficha Limpa poderão fazer isso graças à emenda feita
ao projeto.

Na prática, o Projeto Ficha Limpa afeta um quarto dos deputados e senadores que
respondem a inquéritos ou ação penal no STF. Porém, a lei sozinha não basta. As
urnas ainda são a melhor forma de barrar os maus políticos.

J. Salatiel com adaptações.

Org. Prof. Alex Mendes

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