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ebb. Fs, ive ye ¢ iar rf ie a) Le | eae mo iy “> Tr renee au ee Le aera Been pt et) UOTE SET arte a Serves Senay aXsKeve anes cen ft ee mE) Ce ambientar cron SMG de um Baa Al(e [oY art auch iit i t+ erie ta rare vt eons | } % a n ath ln pos ae ip rae ana ido de te eu 0, nadia pre ae Baa c aE Nera ie raat LCE Lia a MLSE Sct PRG ry ig Ma Gi ue qtie er ode md 8: es Preparacac, en are verte A reportagem Teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalistica NOTA DO AUTOR Este livro resulta de cursos que ministrei em disciplinas de técnicas de jornalismo na Universidade Federal de Santa Catarina, entre 1992 € 1999. Foi produzido com tempo disponibilizado para pesquisa aca~ démica (dez horas semanais) no segundo semestre de 1999 e pri- meiro de 2000. Destina-se aos cursos de graduacao em Jornalismo mas pode ser lido (gostaria que fosse) também por colegas em atividade: eles re- conhecerao, aqui e ali, sua propria experiéncia e talvez se surpreen- dam ao saber que muita teoria recente tem-se preocupado com 0 assunto. No momento em que a reportagem se transforma — OU se amplia —, com a entrada em cena dos computadores, da Internet e dos bancos de dados, creio que € conveniente uma reflexdo sobre nossa atividade. Ela néo se faz aqui (até porque os fatos tecnoldgicos avangam depressa demais para o tempo de produgéo e a durabilida- de previsivel de um livro), mas espero dar elementos para que se efetive, Cumpre-me agradecer aos jornalistas Hélio Schuch, Francisco ot Copne elaralima aie me forneceram material de SUMARIO Serrepérter 9 Pautas & pautas 29 Fontes & fontes 49 Entrevistador & entrevistado 73 Reparteres & ética 89 Reportagem especializada 109 Repérteres & Pesquisa 133 Reportagem assistida por computador | 53 Apéndice — A formacio universitéria dos jornalistas 169 Bibliografia 185 SER REPORTER Se perguntarmos as pessoas em geral que figura humana é a mais caracteristica do jomalismo, a maioria responderé, sem divida: 0 repérter. Se interrogarmos um jomalista sobre quem é mais impor tante na redagio, ele — excetuado 0 caso de algum projetista grafi- co ou editor egocéntricos — dir que € © repérter. No enttanto, a reportagem como atividade no existiu ou era imrelevante em 200 dos quase 400 anos da histéria da imprensa. ‘Quando 0 jomalismo surgiu, no nko do século XVI, 0 paradigma do texto informativo era o discurso retérico, empregado desde tem- os remotos para a exaltagio do Estado ou da fé, As linguas nacio nals européias vinham surgindo, cada qual com seus grandes autores lterdrios (Camées em Portugal; Cervantes e Quevedo na Espanha; Shakespeare e Milton na Inglaterra; Racine e Moliére na Franga)—e este era o padro que se buscava imitar, 10 NILSON LAGE 1. O PUBLICISMO Os primeiros jornais circularam, a partir de 1609, em centros de comércio, ligaclos & burguesia, © os primeiros jornalistas incumbiam= se de difundir as idéias burguesas. Algumas décadas mais tarde, os aristocratas também promoveram a edi¢So de jornais que, de sua parte, divulgavam temas caros a aristocracia, dedicando muito espa- 0, por exemplo, aos casamentos, viagens de principes e festas da corte, Fazer jornal era atividade barata: bastavam uma prensa, tipos méveis, papel e tinta, As tiragens possiveis — centenas, talvez pou- cos milhares de exemplares — correspondiam a um piiblico leitor restrito de funcionétios piblicos, comerciantes e seus auniliares ime- diatos. Foi nesse contexto que a profissdo fixou a sua imagem mais anti- gae renitente: a do publicisma, Por muitas décadas, 0 jornalista foi essencialmente um publicista, de quem se esperavam orientagdes e interpretacio politica. Os jor- nais publicavam, entdo, fatos de interesse comercial e politico, como. chegadas e partidas de navios, tempestades, atos de pirataria, de guerra ou revolugao; mas isso era visto como atragdo secundaria, j& que 0 que importava mesmo era o artigo de fundo, geralmente edi- torial, isto &, escrito pelo editor — homem que fazia 0 jornal pratica- mente sozinho. A pretensao de orientar e interpretar estava sem diivida ligada a0 estilo, que era parecido com o dos discursos e proclamagées. A sss AREPORTAGEM 11 narrativa surgia as vezes — tanto de acontecimentos reais quanto de eventos ficticios ou alegéricos — e os registros menores lembramo ‘tom seco dos enunciados informativos conhecides na época (anais, atas, relatérios, as relagdes de episddios listados em ordem cronolé- gica que tinham © nome de crénicas), mas a linguagem dominante ficava entre a fala parlamentar, a andlise erudita e o sermio religioso, Muitas grandes figuras da revolugéo de Cromwell, na Inglaterra do século XVII, ou da Revolugéo Francesa, no século XVIII, eram Publicistas. O conceito publicistico do jormalismo perdura até hoje. E nesse sentido que Lenin, que escrevia artigos na iskrae na Pravda, ditando diretrizes para a Revoluggo Russa de 1917, foi um grande jornalista, No Brasil, exemplo modemo de publicista é Carlos Lacerda, jor- nalista experiente que montou seu préprio jornal, a Tibuna da /m- prensa, e, na década de 1950, galgou, a partir dele, posigées pollticas importantes, chegando a governador da Guanabara, 0 antigo Distri- to Federal, que depois se juntaria ao Estado do Rio de Janeiro, A Tri buna teve alguns bons repérteres, mas a grande maioria de seus leitores comprava 0 jornal para ler o artigo de Lacerda: eram os lecerdistas. ‘As pessoas que detiim algum poder ouse estabelecem em éreas de influéncia social costumam sustentar uma vis4o publicistica do jomalismo. € por causa dessa concep¢io que politicos, economis- tas e dirigentes sindicais lutar para impor aos drgios que contro- lam © palavrério empolado de seus discursos; e os intelectuais er geral, incapazes de distinguir informacio de propaganda, imaginam 12. NILSON LAGE que os jornalistas t&m poder absurdo sobre o piiblico, que eles chamam de massa, quando Ihes & hostil, e pove, quando thes & simpatico. Muitas dessas pessoas costumam avaliar 0 joralisro por um critério singular: Independent da qualidade da informagfo, ele é bom quando os fatos relatados apontam para interpretagio favordvel a suas idéias € mau quando ocorre © contrério, Assim, para a média dos intelectuals progressistas, 0 jomalismo foi étimo no Vietnd, quando houve codices de mostrar a guerra de perto, com cenas vivas de sua tragédia humana, e péssimo na cobertura das intervengées ame- ricanas subseqtientes (na Libia, no Iraque, na Somla, na lugoslévia...), em que essas condig6es foram suprimidas, 2. SENSACIONALISMO E EDUCAGAO O século XIX europeu mudou radicalmente as condigées em que se exercia 0 jornalismo, Com a Revolugao Industrial, 0 ptiblco leitor ampliou-se rapidamente, A crise do modo de produgao feudal — destruido, entre outros fatores, pela concorréncia dos produtos vin- dos de regides recém-colonizadas da América, Africa e Asia — des- locou importantes contingentes de populagio para as cidades. O surgimento de instalagSes fabris concentrou, em condigées socials particularmente dificels, os operdrios — cujos antepassados, os artf- fices, trabalhavam em suas proprias aldeias (na origem, a palavra f- brica quer dizer "a casa do operério"). A organizagéo do trabalho ea AREPORTAGEM 13 expansio do comércio exigiam grande nimero de administradores, capatazes e técnicos, necessariamente alfabetizados. AAs tiragens dos jornais, por tudo isso, multiplicaram-se por cem ou por mil. Para produzir ntimero tdo elevado de exemplares, a mecanizagiio — chave da Revolugio Industrial — chegou a indéstria gréfica. Surgiram, logo no infcio do século, as impressoras rotativas, de grande capacidade, A composigao automatica das linhas impres- sas teria que esperar até 1880, década em que Mergenthaler, imi- grante aleméo de Boston, inventouo linatipo. O século XIX fo, assirn, © século dos tipégrafos, que compunham as linhas a mio, catando 08 tipos das gavetas de estantes, Foi necessdrio mudar progressivamente o estilo das matérias que (05 jornais publicavam. A retérica do jornalismo publicista era impe- netrével para os novos leitores, herdeiros de uma tradigio de cultu- ra popular muito mais objetiva. Além disso, a guerra de opiniGes perdia interesse porque nio havia, como antes, aristocracia poderosa para se opor ao pensamento burgués e a organizacao dos operérios para @ ago poltica continua sempre esbarrou em grandes obstéculos — quando no a repressio policial, a recessio econdmica. O piblico — pessoas comuns, no os segmentos engajados — € pragmittico: para entusiasmar-se por uma idéia, ndo Ihe basta que pareca verdadeira; & preciso que seja exegiifvel, Assim, 0 discurso revolucionério costuma funcionar apenas, em termos de mobilizago ampla, quando apciado em estrutura politica suficientemente pode- rosa ou quando responde a uma situacao de real desespero. Coma mecanizagio, 0 custo de produgdo dos jornais havia au- 14 NILSON LAGE mentado. Eles j& ndo eram financiados pelos seus leitores, como antes: ‘omercado publicitério nascia e com ele a integragio da imprensa com 5 interesses gerais da economia, Precisavam de antincios e estes dependiam do ntimero de leitores. A luta pelo mercado desataria, nas décadas seguintes, forte concorréncia entre géneros distintos que cs jornais passaram a abrigar: as novelasou folhetins — textos liters rios extensos, que se publicavam em capitulos, nos rodapés de pagi- ina; os desenhos alegéricos ou satiricos, que dariam origem ao cartum, charge e as histérias em quadrinhos; as novidades, com énfase ora na vida real e na realidade imediata, ora em palses remotos, cujos estranhos costumes e paisagens ofereciam a dose necessiria de fan- tasia, O jornalismo dessa época pode ser considerado, de um lado, educadore, de outro, sensacionalista. A vertente educativa se explica porque a incorporagio dos no- vos contingentes populacionais & sociedade industrial implicava mudancas radicais de comportamentos e da compreensio das rela- gOes humanas. Em lugar do ciclo anual de atividade — plantio, co- Iheita. da servidio institulda — contrato tacito pelo qual o servo espera que ., arotina didria do trabalho nas fébricas e escrit6rios. Em lugar 0 patro 0 socorra em momentos dificeis —, 0 regime de saldrios sujeito a0 Cio arbitrio de leis que, entéo, sequer existiam. Em lugar da vizinhanga conhecida e estdvel, unida por lagos de solidariedade, a multidio de estranhos, que se solidariza em espasmos, numa gre~ ve, na torcida de um time de futebol ou na explosdo de raiva de um quebra-quebra, AREPORTAGEM 15. Avida em sociedade era bem mais dinamica do que antes; tudo mudava rapidamente. Dafo interesse que passaram ater, nessa época, 0s criticos — de literatura, de teatro, de moda, de costumes, O jor- nal ensinava as pessoas © que ver, o que ler, como se vestir, como se portar — e mais: exibia, como numa vitrina, os bons e, para escan- dalo geral, os maus habitos dos ricos e dos poderosos, Avertente sensacionalsta justiica-se porque, para cumprir a fun- do sociabilizadora, educativa, devia-se atingir 0 piblico, envolvé- lo para que lesse até o fim e se emocionasse. Precisava-se abordar temas que 0 empolgassem. O paradigma para isso era a literatura noveles : © sentimentalismo, para as mogas; aventura, para os jovens; 0 exético e 0 incomum, para toda a gente. A realidade deveria ser téo fascinante quanto a ficgio e, se néo fosse, era pre- ciso fazé-la ser 3. O NASCIMENTO DA REPORTAGEM Foi eto que nasceram a reportagem e seu instrumento, o repérter Do ponto de vista técnico, escritores de folhetins e jornalistas cobrigaram-se a reformar a modalidade escrita da lingua, aproximan= do-2 dos usos orais ou cultivando figuras de estilo espetaculares, ora exagerando no sentimentalismo, ora incorporando a invengSo léxica gramatical das ruas. Descobriu-se a importéncia dos titulos, que so como antincios do texto, e dos furos, ou noticias em primeira mi © jormal que publicasse primeiro o relato de um fato de interesse 16 WILSON LAGE piiblico seria lido em lugar dos concorrentes © ganharia pontos na preferéncia dos leitores em geral para as préximas edigSes. Confitos eram inevitveis. A medida que a figura do repérter se definia, que ele se tornava importante, que era mais vezes acionado para cobrir 0s fatos socials — 08 crimes, as agitacSes de rua, as guer- ras € 0s debates parlamentares —, mais se instauravam contradig6es entre os relatos jornalisticos e os preconceitos ou valores sustenta- dos pelas elites e pelos anunciantes. Jé no se podia, como antes, tratar os protestos populares como casos de policia, desviar fundos piblicos ou massacrar povos coloniais, mantendo tudo em segredo. A rist6ria oficial era desmentida antes mesmo de ser escrita, Poucos documentos relatam, por exemplo, a liquidacéo sistems- tica das culturas inca, asteca e maia, na América espanhola, nos sécu- los XVI, XVII e XVIIl. O século XIX, pelo contrério, foi um tempo de revelagSes, Todos ficaram sabendo das motivag6es reais de aventue ras bélicas como a guerra do Spio, que impds 0 comércio de entor- pecentes na China sobre controle inglés, ou de estratégias covardes, como 0 uso de metralhadoras contra 0 exército zulu, na Africa do Sul, pela mesma Inglaterra — o imperialism da época. A luta de clas- ses nfo péde ser mostrada como revolta da ralé social nem o desem- prego macico na Europa continental como mero fruto de acidentes climéticos, melandragem e incompeténcia dos italianos, irlandeses. alerdes ou poloneses. Em meio & propaganda de sempre, surgam por via da reportagem, 0s fatos reais. Repérteres passaram a ser bajulados, temidos e odiados. A re- portagem colocou em primeiro plano novos problemas, como AREPORTAGEM 17 discernir 0 que é privado, de interesse individual, do que é ptiblico, de interesse coletivo; o que o Estado pode manter em sigilo e o que ndo pode; os limites éticos do comércio € os custos socials da exe pansio capitalista. 4. O JORNALISMO COMO TECNICA Foi nos Estados Unidos do fim do século XIX e intcio do século XX —otempo da belle Epoque européia — que o sensacionalismo atin- giu seu paroxismo, O pals viveu um surto de desenvolvimento sem precedentes, a partir do fim da guerra civil que aboliu a escravatura, A socializag&o, ali, tornou-se imperiosa: eram ndo apenas os negros que, embora legalmente libertos, tiveram que esperar décadas para terem seus direitos minimos reconhecidos, mas muitidées de imi- grantes europeus, expulsos pela crise recessiva imposta & Europa. Gente que no falava, ou mal falava 0 inglés, disposta a quase tudo na luta pela sobrevivéncia, enfrentando condigées e situagées intei- ramente novas. A industria dos jornais prosperou com a América. Criou seus magnatas, Joseph Pulitzer (1847-191 1) e William Randolph Hearst (1863-1951), Levouao exagero tudo 0 que se fazia na Europa: Hearst &acusado de promovera guerra coma Espana pela posse de Cuba, sé para vencer seu rival, cuidando de ter exclusividade na cobertura jornalistica dos combates — para o que fretou e equipou um iate, As tiragens excediam tudo o que se vira até entio. Auta pelo fiuro, pela 18 NILSON LAGE conquista do leitor a qualquer prego, levou-o a plantar repérteres em toda parte — nas repartigées, nos sindicatos, nas empresas —e conduziu a relagdes progressivamente menos éticas entre jornalistas e fontes. Arreagio 20 jomalismo amarelo— 0 nome provém de uma tira em quadrinhos do Moning journal de Hearst, chamada Yellow Kid — surgiu no préprio meio profissional. Institufram-se 0s cursos su- periores de jomalismo e buscaram-se, por via da pesquisa académi- «a, padres para a apuracio e o processamento de informagées. O paradigma, imposto pela realidade da época, foram as ciéncias exa- tas, Estabeleceu-se que a informacéo jornalistica deveria reproduzir ‘os dados obtidos com as fontes; que os testemnunhos de um fato deveriam ser confrontados uns com os outros para que se obtivesse a verso mais proxima posstvel da realidade (a fe/ das trés fontes: se trés pessoas que niio se conhecem nem trocaram impress6es con- tama mesma versdo de um fato que presenciaram, essa versao pode ser tomada por verdadeira); que a relago com as fontes deveria basear-se apenas na troca de informagées; e que seria necessétio, nos casos controversos, ouvir porta-vozes dos diferentes interesses em jogo. ‘Anoticia ganhou sua forma moderna, copiando relato oral dos fatos singulares, que, desde sempre, baseou-se, no na narrativa em seqiiéncia temporal, mas na valorizagio do aspecto mals importante de um evento. No caso do texto publicado, essa informagao princi- pal deve sera primeira, na forma de /ead— proposigéo completa, isto é, com as circunstincias de tempo, lugar, modo, causa, finalida- AREPORTAGEM 19 de e instrumento, Deflagrou-se uma campanha permanente contra alinguagem retérica e destacou-se a importéncia da ética como fator de regulagio da linguager jomalistca, Esse programa, cuja implantagéo é lenta, parcial e depende de critica permanente, no assegura, nem poderia assegurar, que a so- ciedade americana evoluisse no sentido da perfeigo. Néo impediu, Por exemplo, que a luta operdria fosse sisternaticamente associada a0 banditismo; que se formassem preconceitos brutais contra des- cendentes de alguns povos (os negros, principalmente, depois os judeus, arabes, italianos e irlandeses, e, finalmente, os latino-ameri- anos); que se implantasse o mais desvairado consumismo; que, tor- nado sede de um novo império, o pals reproduzisse e até ampliasse, as suas ages internacionais, as piores praticas do imperialsmo inglés E erro crasso exagerar o papel do jornalismo como ditador da opiniéo pilblica, mas tornou-se axioma do offcio — algo que nds, jornalistas, consideramos auto-evidente — a convicgio de que ele contribui positivamente quando exercido de maneira correta, Isto significa que © jomalismo progressista no é aquele que seleciona apenas discursos tides como avangados em dado momento, mas o que registra com amplitude e honestidade fatos e idéias de seu tempo. O conjunto de técnicas surgido na América terminou sendo o mais adequado para a situaggo gerada na sociedade industrial madu- ra, Os procedimentos desenvolvidos ali difundiram-se rapidamente por todos os pafses industrializados, com adaptacées &s culturas lo- ais, Mesmo os crticos mais veernentes do positivismo ou do funcio- nalismo — como € 0 caso dos sistemas de informacio da Igreja 20 NILSON LAGE Catélica ou da Unido Soviética, enquanto ela existiu — terminaram adotando as normas bésicas da escola americana para a produgio de noticias e reportagens jornalfsticas. Elas séo versateis o bastante para conviver com diferentes ideologias; podem suportar linhas editorials fundadas em hard news — noticias pesadas, como as de politica nacional e internacional, ciéncias ou economia — ou em temas de entretenimento, como esportes e espeticulos. Tomadas como sig- no da modernidade, chegaram ao Brasil meio século depois € leva- ram mais duas décadas para se impor (como sempre, néo totalmente) aqui. A técnica moderna de redagio joralistica sobreviveu mesmo a mudangas nos processos de trabalho implantados, com ela, no inicio do século XX. Imaginava-se, entio, uma segmentagéo de fungdes, como numa linha de montagem — a transferéncia para a redacdo do modelo produtivo do taylorismo, baseado no principio de que quem cumpre sé uma pequena tarefa capaz de cumpri-la com a méxima eficiéncia. Imaginou-se, por algum tempo, que os repérte- res deveriam apurar, os redatores redigir, os redatores do copy-desk confrontar e corrigir, 0s diagramadores montar as paginas e os edito- res comandar isso tudo. Hoje, com os computadores, a responsabilidade do repérter cresce e se diversifica: ele néo apenas deve apurar bem, mas formu- lar seu texto como o melhor dos redatores e participar das tarefas de edigo; é inevitével comparar essa atividade miltipla com 0 mo- delo tojotista, que chegou & indéstria ocidental, com a voga dos pro- dutos asidticos, na década de 1970. Para adequar-se a esse modelo, AREPORTAGEM 21 © operirio deve ser versétile interessado pela totalidade do proces- so de produgio. Também o jornalista, 5. O REPORTER COMO TESTEMUNHA Se os séculos XVII e XVIII foram os do jornalismo publicista e o sé- culo XIX 0 do jornalismo educador e sensacionalista, o século XX foi o do jornalismo-testemunho. No quer dizer que todos o enten- dessemassim, RepresentagGes sociais perduram além das condiges que as fizeram nascer: tanto quanto a viséo publicistica do jornalis- mo, sobreviveram as vis6es sensacionalista e educativa, bem como priticas jornalisticas que se enquadram em cada uma dessas cate- gorias. O fato, porém, & que a informagao deixou de ser apenas ou principalmente fator de acréscimo cultural ou recreagdo para tornar- se essencial a vida das pessoas. E 0 mbito da informagio necesséria ampliou-se muito além da capacidade individual de acesso do ho- mem comum a outras fontes — textos didaticos, documentos oficiais etc, Para o planejamento de qualquer atividade pritica — da escolha de catreira profissional a uma compra a prazo, investimento finan- ceiro ou ida a uma casa de espeticulos —, as pessoas necessitam de informages que esto nos velculos de comunicagio ou podem ser inferidas a partir do que eles noticia, Caso particular é 0 do desenvolvimento cientlico e tecnolégico. 22 NILSON LAGE Novas técnicas e produtos passam a fazer parte da rotina das pes- soas, exigindo conhecimentos que ndo € mais possivel adquirir no ritmo tradicional dos curriculos escolares. Em alguns meses, lig6es transmitidas em cursos regulares desatualizam-se ou séo inteiramente superadas. A sociedade modema & composta de especialistas. Quem atua ‘em um campo profissional ou tem determinado tipo de vida desen- volve conhecimentos muito profundos da especialidade ou de sua érea de interesse, mas tende a ignorar o que se passa nas outras especialidades e 4reas. Como, na pratica, profiss6es e atividades se interligam cada vez mais, & através do jomalismo que a informagéo circula, transposta para uma lingua comum e simplificada, menos pre- cisa mas com potencial bastante para permitir julgamentos e indicar caminhos de investigagio a quem estiver interessado. A informacio toma-se, portanto, matéria-prima fundamental e © jormalista um tradutor de discursos, jé que cada especialidade tem jargio proprio e desenvolve seu préprio esquema de pensamento (compare-sea fala de um diplomata coma de um militar ou a de um assistente social com a de um economista). Traduzir j4 nao é pouco: basta confrontar 0 efeito emocional de expresses como “hidrolato simples" e “perda de poder aquisitivo", por um lado, e "4gua" e “empobrecimento”, por outro, Mas 0 pro- cesso ndo pode ser reduzido a simples troca de itens léxicos. O processamento mental da informacao pelo repérter inclui a percep- Go do que é dito ou do que acontece, a sua insergao em um con- texto (0 social e, além desse, toda informagio guardada na meméria) AREPORTAGEM 23 ea produggo de nova mensagem, que seré levada a0 ptblico a partir de uma estimativa sobre o tipo de informacéo de que esse puiblico precisa ou qual quer receber: Em suma, © repérter, além de traduzir, deve confrontar as diferentes perspectivas e selecionar fatos e ver- 86es que permitam ao leitor orientar-se diante da realidade. 6. O REPORTER COMO AGENTE O repérter esté onde o leitor, ouvinte ou espectador néo pode es- tar. Tem uma delegagao ou representacio tacita que o autoriza a ser (© ouvidos e os olhos remotos do ptiblico, selecionar e Ihe transmitir ‘© que possa ser interessante. Essa fungio é exatamente a definida como a de agente inteligente. O conceito tem sido desenvolvido na drea da ciéncia da compu- tagdo e se aplica, em geral, a dispositives eletrénicos que assumem comportamento inteligente para desenvolver tarefas para as quais os Usuarios ndo esto adestrados, que so impossiveis para eles ou Ihes ‘ocupariam tempo no disponivel. Por exemplo: localizar na Internet sitios sobre um assunto, comparar pregos e caracteristicas técnicas de produttos ou executar séries varidveis de comandos numa opera- do qualquer, em ambiente néo controlado, Um agente inteligente deve ter autonomia, isto é, operar sem intervengéo direta de seu contratante; ter habilidade social, isto &, interagir com outros agentes, desenvolvendo, para isso, competén- cia comunicativa; ser reativo, isto é, perceber 0 meio em que atua e 24 NILSON LAGE responder em tempo aos padres de mudanga que ocorrem nele; © ser capaz de tomar a iniclativa, comportando-se de modo a cumprir sua tarefa. Os dispositives eletrénicos que tém essas capacidades sé podem: ser descritos em termos de intengio, crengas, deliberagdes, cons- éncia e habllidades, Seu procedimento pressupée, a cada instante, uma previséio do que pode acontecer nos instantes seguintes e escolha de caminhos que julgam mais adequados para cumprir uma farefa. Envolve, ainda, a construgio de estratégias e a confianga na propria capacidade de atingir os objetivos para os quais foram pro- gramados (se se pensa em termos de programacio linear) ou treina- dos (se se pensa em termos de redes neurais). Dispostives eletrénicos e homens sio diferentes, o que traz, para ‘estes, muitas vantagens e uma desvantagem importante, ‘As vantagens sio Sbvias: seres humanos, como os repérteres, sdo mais verséteis do que as méquinas atuais. Utilizam Iinguas natu- rais, que séo muito mais abrangentes, emibora, em geral, menos exatas, do que qualquer linguagem artificial; sua autonomia, habilida~ de social e reago ao meio sto mais eficazes, |JBadesvantagem é que, 20 contrério de qualquer maquina, agen- +tes humanos, como os repérteres, tm sua prépria tendenciosidade, Construtram, ao longo da vida, uma série de crengas e padrées de comportamento que nem sempre se adaptam a tarefa que execu- tam e, principalmente, as intengdes daqueles que esto represen- tando, isto é, os leitores. Tomemos um exemplo. Suponhames um profissional jovem, AREPORTAGEM 25 contratado para trabalhar em uma publicagdo que trata da vida de gente rica — modas, infidelidades conjugais, habitos e costumes. Os personagens so pessoas de vida devassada, que gostam de apare- cer em colunas socials e de gossips (fofocas): difcimente algum de- les se sentira ofendido com coisas que incomodariam outras pessoas, come ser fotografado com © dedo no nariz ou flertando com a mu- ther do préximo, No entanto, admitamos que o profssional, por formagéo, tenha sido condicionado a respeitar reigiosamente a pri- vacidade dos outros. Isso pode sera tal ponto determinante que tome impossivel 0 trabalho: ou seu texto serd sutil demais, e néo dard para entender o que est sendo dito, ou seré explicito demais, e se torna- v4 grosseiro, Quanto a inadaptacéo aos interesses dos leitores, © problema surge, em geral, quando 0 jornalista trabalha em veiculos destinados 1 grupos de pessoas muito diferentes dele mesmo — diferengas de classe social, etdrias, culturais ou de habitos. Geralmente a refer&n- cia para se saber 0 que o leitor gostaria de ler so pesquisas de opi- ‘ilio, quantitativas (estatfsticas) ou qualitativas (em grupos menores, que aprofundam um tema), No entanto, hé uma infinidade de situa ges que ndo podem ser previstas nesses levantamentos e diante das quais surgem diwidas e ocorrem erros estratégicos. ‘Até que ponto os detalhes de uma solenidade — desfile diante de tropas, hinos, cerimonial — interessam, por exemplo, a um leitor Jovern, de uma camada pobre da socledade? A exibicio de imagens de uma cirurgia cardiaca seré considerada informacéo valida, apela- glo sensacionalista ou agressio visual por um piiblico de donas-de- 26 NILSON LAGE casat A violencia policial é assunto palpitante ou fato corriqueiro para um favelado? Numa sociedade que assiste diariamente a uma infini- dade de cenas de violéncia em seriados de televiséo, a descrigio realista, passo a passo, de uma cena de violéncia real é aceitével numa publicacio destinada a adolescentes? Uma reportagem sobre perttea- dos sofisticados interessa a mogas que trabalham ou, exatamente porque trabalham, no tém tempo para se preocupar com essas coisas? 7. © INSIGHT DA REPORTAGEM Anatureza humana e inteligente do agente-repérter manifesta-se por outro traco dificil de reproduzir, com qualquer tecnologia previsivel, ‘em um equipamento: o insight: Uma suposi¢go comum € que as hipsteses que se formulam sobre um fendmeno baseiam-se na experiéncia objetiva. Diz-se que, se dois fatos coincidem em casos particulares uma, duas, trés, muitas vvezes — por exemplo, a lua nova € 0 inicio de um perfodo de chu- vas —, acreditamos que isso ocorrerd sempre: a cada lua nova ha- verd chuva. No entanto, as coisas nem sempre se passam assim. Diante de fenémenos complexes, & preciso imaginago e apoio vago na reali- dade — em indicios e no conjunto das circunstfincias envolvidas — para se formular uma hipétese plaustvel. Isso explica como a queda da magi deflagrouem Newton a hipstese da gravitagao universal ou AREPORTAGEM 27 como, a partirdo quadro cientlico de seu tempo, Einstein concebeu a Teoria da Relatividade. Uma das conseqiiéncias dessa capacidade humana de conside- Far conjuntos amplos e imprecisos — eventualmente indiziveis — de indicadores é a importéncia do ambiente para a construgio de uma narrativa capaz de signficar Imaginemos um redator baseado em Londres, com acesso a todos os dados possiveis — relatos militares, testemunhos civis € Suporte na informagio geogréfica e histérica das melhores enciclo- ias — sobre um conflito numa regio da Turquia ou da Roménia, Em tese, ele teria condigies de produzir reportagens iguals ou me- thores — jé que dispSe de tranqtilidade — do que um correspon- dente situado no lugar do conflto, Isso ndo acontece, em geral. © emissadrio no local do confito ‘ordena melhor as informagées, tem maior nogio do que é ou no relevante, porque sente 0 alma do que acontece: esté diante de pessoas reais, com representagées variadas e pecullares dos aconte- cimentos, percebe como essas pessoas — militares, civis, revoltosos — reagem, o quanto esto envolvidas na luta e © que cada episédio significa no contexto, Esse conjunto difuso de representagdes — um quadro — é 0 diferencial entre uma reportagem viva — portanto mais palpitante —e um relato construido segundo uma Iégica que seré a do am- lente londrino, no do cenério turco ou romeno, O repérter é, portanto, mais do que um agente inteligente, tal Como 0 descreve a atual teoria da inteligéncia artificial. Além de pro- 28 NILSON Lace cessar dados com autonomia, habilidade e reatividade, modela para si mesmo a realidade, com base no que constréi sua matéria, Pode-se chamar isso de intuigfo, faro ou percepgio. Mas nada tem de mégico ou misterioso: & apenas uma competéncia humana que, como todas as outras, pode ser aprimorada pela educagéo e pelo exercicio. 8. PARA LER MAIS Sobre os primeiros jonals, TERROU, 1963, p. 19. HA uma inter- pretagio da evolucio da imprensa em LAGE, 1981, Sobre a histéria da imprensa brasileira, a obra cldssica é SODRE, 1966. Para a histd- ria da imprensa americana, EMERY, 1965. Hé dezenas de biografias € textos sobre Hearst e Pulitzer na Internet. Quanto ao jornalsmo como forma de conhecimento, sugere-se GENRO FILHO, 1987; MEDITSCH, 1992 e 1998, Sobre agentes inteligentes, recomenda- se WOOLDRIDGE & JENNINGS, 1995. Aexposigio cléssica sobre © papel do insightra produgéo de teorias cientficas estd em POPPER, 1999, PAUTAS & PAUTAS Velculos impressos (e também, naturalmente, os servigos jornalisticos de radio € televisio, desde que surgiram, no século XX) sempre pla~ hejaram de alguma forma suas edigGes, mas a instituigio da pauta como procedimento padronizado é relativamente recente. Insti- tucionalizou-se, a principio, nos magazines: a razio é que revistas, f10 contrério de jomais, néo tm o compromisso de cobrir todos os assuntos de sua érea de abrangéncia: devem selecioné-los, sob pena de ter fantéstico excesso de produgio — e perda de investimento. ‘Aobrigagio de selecionar ressalta a importincia do planejamento da edigio. Além disso, matérias de revista so feltas a partir de enfoques fditoriais especficos, que precisam ser considerados previamente. ‘A revista, bem mais do que o jornal, obedece a um discurso institucional que Ihe & préprio: magazines sobre automéveis vendem A cultura do automével (no necessariamente produtos de uma fé- bbrica ou marca); os de informatica, a cultura dos computadores; as de arquitetura, certos padrées de gosto e estilo; as erdticas, alguma 30 NILSON LAGE estética e certa ética, ainda que liberal. A identificagao pelo letor dessa ideologia ou forma de ver 0 mundo o segredo de marcas como Time, Playboyou The National Geografc Magazine. 1. HisTéRICO Arevista Time, pioneira em seu género e uma das primeiras a onga- nizar-se como indistria de informagio, realiza semanalmente, des- de oiniciodo século XX, sua reunido de pauta, presentes os editores de Sreas eo editor-chefe, que é o delegado da diregio (do boardde diretores) da empresa. As matérias so, entdo, programadas, no apenas quanto aos fatos a serem apurados, mas, principalmente, quanto & linha de orientagio do texto: a politica da revista é reunir volume de informag#o muito maior do que aquele que seré publica do, exatamente para permitir selegio de fatos que d&em apoio a linha editorial (escolhem-se e ampliam-se os que a sustentam; desprezam- se Ou minimizam-se os que a contrariam). A linha editorial da Time reflete geralmente os interesses do establishment americano: mais republicana do que democrata, articulada com o Pentégono (0 co- mando militar) e a Secretaria de Estado (0 ministério das relagGes exteriores), Difclmente a orientagio tragada com base nessa linha editorial serd alterada no processo de produgéo. Com maior ou menor tolerancia, expressando correntes de pensamento mais ou menos explcitas, € esse o modo de produgéo de qualquer revista — e, particularmente, daquelas chamadas de AREPORTAGEM 31 informagéo gerel, que seguem o modelo Time. Em magazines se- manais, quinzenais ou mensais, pode haver mais de uma reunizio de pauta — em cada editoria, com os repdrteres, € a decisiva, congre- gando os editores de rea, Cada editor propée suas matérias e a revista é concebida como unidade que leva em conta diferentes fa- tores: agressividade, beleza pléstica, atualidade, assuntos exclusives etc, Quando a linha editorial esté introjetada (ela ¢ uma espécie de Tegra técita do jogo), © debate concentra-se em tomo de detalhes de confeccao. Indicam-se fontes, produzem-se orientagdes para a apresentacéo, ilustragdo e complementagéo das matérias, oque pode envolver a mobilizacéo de varios profissionais, de sucursais, corres- pondentes ou agéncias. A pauta generalizou-se nos jornais diérios brasileiros na esteira da reforma editorial iniciada, na rea gréfica, pela Ultima Horae, na uestio do tratamento do texto, pelo Didrio Cartoca, do Rio de. Ja- neiro — todos na década de 1950, Uhima Hora, fundada por Samuel Weiner com 0 patrocinio de Getilio Vargas, que buscava apoio na imprensa para seu segundo governo (1951-1954), chegou a formar uma rede nacional de jor fils, com tiragem didria de mais de 700 mil exemplares, até ser liqui- lida, nos anos que se seguiram ao golpe de Estado de 1964. © Dizrio, tle pertil politico conservador, fechou em 1965, depois de ter revo- \velonado a maneira brasileira de escrever para jornal. Sob a orienta- lo de Danton Jobim e Pompeu de Souza, no apenas introduziu na \imprensa brasileira a técnica do Jead, como a adaptou a lingua portu- uesa e introduziu uma série de reformas propugnadas pelo movi- 32 NILSON LAGE mento moderrista desde a década de 1920: as pessoas deixaram de morar “8 rua X" para morar “na rua X"; vereadores deixaram de ser chamados de edi, prefeitos de alcaides, e assim por diante. Uma das primeiras pautas estruturadas e completas em dirios brasileiros —talvez a mais estruturada e completa dente as primei- ras — foi, no inkcio da década de 1960, a do Jornal do Brasil, que levou adiante a reforma iniciada no Diério, Era redigida de véspera, abrangendo 0 jornal todo, e chegou a ser publicada, como servigo aoleitor, durante algumas semanas. A publicacéo foi interrompida por dois motives, um oficial e outro verdadeiro: (2) ajudava 0 trabalho dos jommais concorrentes ¢ (b) 20 expressar © ponto de vista da che- fia de reportagem, continha comentérios irreverentes. Quando a modernizacéo do jomalismo brasileiro se generalzou, a partir de Sao Paulo, na década de 1970, a pauta fol introduzida por toda parte, junto com as técricas de redagio, a programagio gréfica das paginas e os procedimentos gerencials que caracterizam a im- prensa industrial moderna, O modelo de modernidade escolhido deixou de lado algumas das formas de adaptago mais inteligentes do Dirio Carioca; preferiu-se frequientemente a cépia dos jornais americanos. Exemplo disso é o costume de colocar 0 nimero cor- respondente a idade das pessoas entre virgulas, depois do nome: & claro que isso cabe perfeitamente em inglés, lIngua em que a idade & tida como atributo ( “X years old’) € fic estranho em portugués, no qual aidade 6 tratada como propriedade, em genitivo ("de X anos"). Aestranheza se evidencia na leitura em voz alta — por exemplo, no radio. AREPORTAGEM 33 ‘Antes da instituigéo da pauta, apenas as matérias principais oude interesse da direcdo eram programadas. O noticiério do dia-a-dia dependia da produgio dos repérteres que cobriam setores. Estes se ‘brigavam a trazer diariamente sua cota de textos, © que significava, fa pratica, ter uma programagao de noticias frias ou reportagens adivets para os dias de menor atividade. De certa manera, o plane- Jjamento da edigéo era, assim, descentralizado. ‘Quem prestar atengéo a jornais antigos, particularmente edigdes dominicais, repararé que matérias sem atualidade ou ingenuamente lualizadas (com férmulas do tipo ‘A policia ainda néo descobriu o ‘assaltante que, na quinta-feira passada,...") ocupavam os pés das pd- Winas (as notas-pé), ao lado de antincios néo pagos (os calhaus) da propria empresa jomalistica ou de organizagGes a ela associadas. Isso resultava de duas deficiéncias: a de célculo gréfico (projegéo nas pa- sinas do tamanho das ratérias) e a de planejamento editorial (pro- jyamagdo de um volume de matérias compativel com o espago). © espaco dos jornais € geralmente fatiado entre editorias que ‘(vatam de diferentes assuntos: politica, economia, esportes etc. Sen- Wo rigida a atribuiggo de espagos e deficiente o planejamento, coe- xistlam as vezes, numa mesma edigio, paginas com fotos muito bertas e textos em corpo grande e outras com fotografias esmirradas f textos compactos, dependendo de se ter maior oumenor riqueza de assuntos na drea de cobertura de cada editoria. Deslocavam-se luntincios em pagina indeterminada (de prego mais baixo) para pagi- iis nobres quando era necessério cobrir espagos que a redagéo ndo podia preencher, em tal ou qual area de cobertura. Fazia parte da 34 NILSON LAGE rotina dos secretétios de redagéo (uma espécie de publishers ou editores executives) er todos os dias grandes ficadlas da edigio ante- rior (as matérias que sobravam), decidindo quais matérias seriam afs- tribuidas (dirlamos hoje deletadas) e quais deveriam permanecer & espera de lugar nas paginas. 2. OQUEE ‘A denominagio pauta aplica-se a duas coisas distintas: ) ao planejamento de uma edigéo ou parte da edi¢éo (nas reda- Ges estruturadas por editorias — de cidade, politica, economia etc,), com a listagem dos fatos a serem cobertos no noticidrio e dos assuntos a serem abordados em reportagens, além de even- tuais indicagdes log/sticas ¢ técnicas: &ngulo de interesse, dimen- sio pretendida da matéria, recursos dispontveis para o trabalho, sugestdes de fontes etc. a cada um dos itens desse planejamento, quando atribuido a um repérter. Ele dird ‘a minha pauta”, quer a tenha recebido como tarefa, quer a tenha proposto (o que é comum, particularmente com free lancers). Pautas caem quando néo é possivel realzé-las: ou estavam erra- das, ou 0 que previam nfo aconteceu por algum motivo, ou ndo se consegue apuré-las com os recursos disponiveis. Boas pautas sdo AREPORTAGEM 35 ajuelas que dé origem a matérias que devem sair com destaque e, supostamente, acrescentam algo ao currfculo do repérter. Pautas ruins OU podres so matérias eventualmente trabalhosas, mas que, presu- ie-se, vo resultar ern textos secundérios, de menor interesse. E claro que 0 &xito de uma pauta depende essencalmente de quer executa. O trabalho de reportagem néo é apenas 0 de seguir um foteiro de apuracéo e apresentar um texto correto. Como qualquer projeto de pesquisa, envolve imaginagéo, “sight a partir dos dados e IndicagSes contidos na patita, a busca do Angulo (8s vezes apenas su- gorido ou nem isso) que perrrita revelar uma realidade, a descoberta de aspectos das coisas que poderiam passar despercebidos. No entanto, nao hd divida de que existem matérias destinadas a fer manchetes e outras que dificilmente terdo essa honra. Quais, depende do momento: numa época, séo as dentincias que impor- lam; em outra, declaragées violentas ou ofensivas de politicos; mais iiante, tragédias sociais. © jornalismo é um discurso datado: cada texto parte de um continuo que reflete © conflito entre os interesses dle quem manda e as preocupagées e angtistias de quem obedece, fem cada campo de relagdes da sociedade: governo e povo, médi- 08 e pacientes, escolas e estudantes etc. §, OpseTiIvos © primeiro objetivo de uma pauta é planejar a edicéo. O princt- mesmo que no acontega nada néo previsto em de- 36 NILSON Lace terminado dia — por exemplo, no domingo de uma editoria po- iitica ou na segunda-feira de uma editoria de esportes —, 0 jornal sair& no dia seguinte, os boletins de rédio sero produzidos, as gravagées de televisio serdo editadas e as equipes das revistas estaro nas ruas. © planejamento tem todas as vantagens, do ponto de vista da administraggo. Garante interpretagéo dos eventos menos imediata, ‘emocional ou intempestiva. Diminui a pulverizagio de esforgos em atividades improdutivas, Permite a gestdo adequada dos meios e cus- tos a serem utilizados ou investidos numa reportage, o que é mui- to importante, por exemplo, para a televiséio, que desioca equipes com varias pessoas e equipamento caro, e para anova midia (como a Internet Il, ou em banda larga), que integra produtos gréficos esté~ ticos e em movimento, imagens, texto escrito e som, No caso dos jornais, viabiliza a realizagao de pesquisa prévia para ampliar uma cobertura, a produgio de ilustragées e a concentragao de recursos em matérias consideradas de interesse maior, deslocando pessoal, financiando viagens e contratando servigos ser enlouquecer a ge- réncia de investimentos. Mas a pauta é capaz também de assegurar a conformidade da matéria do jornal ou revista com interesses empresariais ou poltti- cos, Esse tipo de controle é sempre menos eficaz no caso das noti- cias — mais ainda quando importantes ou inesperadas — e pode ser muito eficiente no caso de reportagens. Por exemplo, uma infor- magio objetiva — “o promotor X acusou © poltico Y da apropria~ «fio de n reais na obra Z” — pode transformar-se numa investigagao AREPORTAGEM 37 sobre a recente fortuna do poltico Y, numa exposigfo sobre a im- portiincia da obra Z para a comunidade ou em um levantamento que Aigira © quanto a promotoria vem ultimamente acusando pessoas ‘0m provas discuttveis. Uma pauta bem feita prevé volume de informagéo necessdrio ara a garantia de eventuals quedas de pauta e ainda matérias que pederdo ser aproveitadas posteriormente — por exemplo, no fim de semana da poltica ou da economia € no meio da semana dos @iportes. Evita, por outro lado, 0 consume intttil de homens-horas I produtos que jamais serao veiculados, 4, DECISOES DE PAUTA fim velculos diérios, cada editoria geralmente prepara sua pauta. A ncumbéncia, em citima instancia, & do editor, mas & comum existir umn pauteiro, por forga das limitagées de hordrio: pautas difrias cos- lumam ser preparadas ou atualizadas no infcio da manhé e editores precisa trabalhar a tarde e & noite, ‘Algurnas vezes, as indicagGes sto deixadas pelo editor & noite € locessadas pelo pauteiro de madrugada, junto com os assuntos que tolhe na leitura de rotina dos jornals. Em outros casos, © pauteiro ein maior autonoria: é uma espécle de editor de planejamento, o primeiro homem a pensar diariamente no jornal do dia seguinte. Quando a primeira turma de repérteres sai pela manhi, a pauta pode Alfa estar em preparo. Os assuntos do dia so em geral discutidos 38 NILSON LAGE ‘numa tinica reunigo de editores, mais tarde, e as questées duvidosas que surjam antes disso so resolvidas em contatos informais como editor de 4rea ou 0 editor geral, As pautas de noticifrios de rédio parecem-se com as de jormais. Jé.as de televisio lembram, pelo detalhe, as de revista: é que, neste caso, as matérias costumam envolver alguma produgéo e incluem dados relacionados com a captagdo de imagens. As entrevistas para gravagio devem ser marcadas e as locagées combinadas previamente: trata-se de evitar a paralisagio de equipes a espera de um entrevis- tado que se atrasou, est4 ocupado ou foi em casa trocar de gravata; e de obter permissdo das pessoas para a entrada, em suas casas, oficinas ou escritérios, de trés ou quatro homens com c&maras, mi- crofones e luzes. E por causa dessa perturbacdo (bem maior do que a causada pela presenga de um repérter de jornal com um livrinho de notas ou um radiorrepérter com um pequeno gravador) que a televisio tornou-se a principal responsdvel pelo aproveitamentto de situagGes rituais — inauguragées, cerimébnias e solenidades — para entrevis- tar personagens. Isso tornou-se uma rotina, a tal ponto que presi- dentes em viagem a0 exterior e ministros convidados para padrinhos de casamento so hoje preparados por seus assessores para res- ponder a perguntas que em geral nada t8m a ver com a visita ou coma festa. AREPORTAGEM 39 §. ORIGENS E SELEGAO AS pautas de noticias (noticia é a cobertura de fatos) incluem: a) even- tos programados (julgamento de acusados, votagSes em assemibiéias, inauguragSes de obras etc.) ou sazonais (inicio do ano letivo, vendas de fim de ano, mobilzagio de béias-frias para a colheita etc,); b) fyentos continuados (greves, festejos, pontos de estrangulamento io transito etc); ¢) desdobramentos (suites, continuagées) de fatos fieradores de interesse (acompanhamento de investigagées policiais, fecuperacéo de vitimas de atentados ou acidentes, repercussdo de Medidas econémicas etc.); € d) fatos constatados por observagio direta e que esto ld, esperando ser noticiados (mudangas nos cos- tumes, ciclos de moda, deterioracSo ou recuperagio de zonas urba- ‘fas etc.), Programa-se geralmente a pauta de reportagem (a reportagem Aborda um assunto em visio jomalistica) a partir de fatos geradores He interesse, encarados de certa perspectiva editorial. Nao se trata ‘apenas de acompanhar o desdobramento (ou fazer a sutte) de um vento, mas de explorar suas implicagées, levantar antecedentes — 617 Suma, investigar e interpreta, Um desastre aéreo, em termos ide cobertura noticiosa, pode gerar, nos dias seguintes, o acompa- Nhamento da remogao dos destrogos, da recuperacdo dos sobrevi- Yanites (se houver), do sepultamento dos mortos e do inquérito sobre M4 causas. Em termos de reportagem, motiva textos sobre a segu- tanga dos véos, inddstria aerondutica, servigos de salvamento, ope- fugjlo de aeroportos, atendimento médico de emergéncia ete.: ou 40 NILSON LAGE enti histérias pessoais com contetido trégico, dramstico ou comico relacionadas ao acidente. Sao, como se vé, coisas distintas. Nada impede, porém, que se programem reportagens sem gan- cho, principalmente em éreas relacionadas a servigo, comocomporta- mento ou temas ligados & satide, Em todo caso, pauitas de reportagens incluem 0 assunto; 0 fato gerador de interesse, se houver; a nature- za da matéria (se narrativa, exposigio de tema ete.) e 0 contexto; a linha editorial; uma definicSo mais precisa do que se espera em ter- mos de aproveitamento; recursos e suporte técnico disponiveis (em televisio, tempo e condigées de edi¢ao e sonorizagio, acesso a efeltos especiais e design gréfico, participagdo eventual de produtores etc.), Pautas de noticias devem conten: a) cevento; b) hora e local, ©) exigncias para cobertura (credenciais, traje etc.) e contatos para confirmagéo ou detalhamento da tarefas d) indicagéo de recursos e equipamentos (se com fotografia ou sem; condigGes para captagio de imagens etc.); €) 0 que se espera em termos de aproveitamento editorial (tarna- ho, duracéo, previsio de destaque ou ungéncia) e, no caso das redes de rédioe televisio, a possibiidade de errisséo local, regional ou nacional: @ localizagio dos eventos e até a identificagao de algumas pessoas ¢ feita diferentemente se a matéria é dirigida ao piblico de uma cidade ou se destina a um estado inteiro ou a todo o pats. AREPORTAGEM 41 Se for 0 caso, acrescentam-set fi) ©alinhamento editorial, com dados sobre 0 contexto. Por exem- plo, a instrugéo de relacionar a inaugurago da fébrica com 0 sur- to de desemprego, de suscitar na entrevista coletiva tal ou qual linha de questionamento ete.; 1b) a indicagio de fontes subsidiérias, consultores etc, @, EXcCESSOS E ESCASSEZ DAS PAUTAS A introdugéo da pauta € apenas um dos aspectos da utilizagio de Wenicas de administracao nas redagGes. Em que pesem todas as van- ngens desse aporte de modernidade, hé 0 risco de distorgées. Uma thos mais comuns é a rigidez do planejamento: pautas muito detalha- hs e precisas, linhas editoriais rigidamente definidas conduzem a uma siiuagio em que o repérter se limita a relacionar fatos, depoimentos ‘@dados estatisticos conforme as interpretagées que lhe chegam pron- ‘is — como se estivesse preenchendo um formulério, HA publicagées — principalmente aquelas politicamente en- Wphndas, mas também as que querem fazer jornal a partir de uma vi- tlle de marketing —em que as matérias dio a impressio de pautas ‘npliadas. O jomalismo perde, entio, 0 trago de novidade e se tor- IW Um discurso de divulgacao das idéias prontas — que no nasce- fam da consideracéo dos fatos, mas de ideologias ou crengas que um editor ou pauteiro dissemina, sem sair da redaggo. 42 NILSON LAGE Preconceitos e pressupostos ajudam pouco & atrapalham muito em jornalismo. A crenga de que uma metrdpole é violenta pode ‘obscurecer a realidade de que boa parte das pessoas se diverte com tranqtilidade nas noites dessa mesma metrépole. Asuposigéo de que ‘9s jovens sao galhofeiros irresponséveis oculta o fato de que a maioria nfo o €. A tese de que os pafses ricos so mais civilizados desaba diante do espetaculo da brutalidade das torcidas de futebol, da recorréncia do fendmeno do fascism ou de excentricidades to- las, desde os leiles de quinquilharias até a luta por recordes sem qualquer sentido. Hé4 exemplos cSmicos e dramiticos disso. Velculos pautados a partir de versGes ou teorias sobre a realidade dao a impressao (os revolucionérios) de que 0 caos é sempre iminente ou (os conserva- dores) de que determinado pacto de dominagéo vigente numa so- ciedade é sempre o melhor e, portanto, imutdvel; na mesma linha, podem fazer crer que todos os cidados vivem para consumir, todas as mulheres adoram liquidagdes, todos os folides do carnaval sio devassos exibicionistas etc. A partir de conceitos universais como esses, nada mais haveria a descobrir no mundo além do que se ima- gina que ele seja — e, portanto, ndo se teria muito que fazer em matéria de reportagem. A esséncia do jornalismo, pelo contrario, € partir da observacao da realidade (do que ela tem de singular), esteja ‘ou nao conforme alguma teoria. Por mais énfase que se dé as vantagens do planejamento, épre- iso deixar margem a improvisacéo. Acontecimentos ocorrem inespe- radamente, prognésticos mudam diante dos fatos; por isso, repdrteres AREPORTAGEM 43 =e, obviamente, as chefias de reportagem e da redagdo — devem ‘ter, em determinadas circunsténcias, autonomia editorial e acesso 4 lidade dos recursos da empresa — © que envolve um contrato confianga. Pautas lacnicas ou imprecisas s4o outro problema que inferniza fepérteres. A pauta deve, tanto quanto posstvel, disponibilizar as in- -formagées que se tem previamente e indicar as fontes de pesquisa “eonhecidas para a preparacéo da matéria, Deve também avaliar 0 tempo necessdrio & apuragéo adequada, tendo em vista o que se _pretende, em termos de aprofundamento e exatidao. Isso significa ue 0 editor ou pauteiro precisa ter experiéncia de reportage, nogéo das dificuldades que podem surgir no trabalho e avaliagéo correta dos profissionais com que trabalha. A introdugao de técnicas de administracéo nas redagdes tem suas facetas anedéticas. Administradores adoram cenérios de gestéo de eonflitos. Dao, por isso, grande importancia a reunies planejadas, om ou sem aquelas curiosas manobras de relaxamento que trans- formam senhores e senhoras em criancinhas que cortam figuras, ‘eantarn “atirei o pau no gato” ou dangam em torno de grandes me- ‘gas retangulares. Adoram exposigées elaboradas, com slidesou pro- em datashowem que pessoas vendem suas idéias. Tender ‘A projetar esses eventos como se fossem a coisa mais importante do ‘mmundo —e a adoté-los em substituiggo a efetiva e honesta troca de “Opiniées no dia-a-dia. Reunides editoriais ou de pauta devem, tanto quanto posstvel, ‘Wispensar essas encenagGes. E nao sdo o lugar: adequado para se tra- 44 NILEON LAGE tar de formacéo de quadros, crtica do produto ou reflexdes sobre pollticas de longo prazo. As razées sio variast a) @ reunigo de pauta ¢ executiva, voltada para algo que ainda ndo se produziu, ¢ @ atitude necesséria contrasta com aquela que se espera nas avaliagdes e planejamentos institucionais; ao contrério do que acontece numa fabrica de miquinas ou de brinquedos, jornalistas tém responsabllidade plena pelo que fa- Zem (nao ha fornecedores ou situagSes de mercado sobre os quais possam langar a culpa), de modo que as crfticas e andlises © atingem pessoalmente, tendendo a levé-los a posigées defen- ‘sivas; ©) editores, repérteres e redatores sto mais que gerentes de pro- duto—devem ser criadores do produto e, portanto, seu espaco € a redagio, nio a sala de reuniées. Velculos que pretendem evoluir permanentemente devem or- ganizar circuitos parelelos com finalidades quer de aperfeigoamento da equipe, quer de controle de qualidade do produto: debates so- bre métodos de trabalho novas idéias, cursos e palestras de atua- lizagao para seus repérteres e editores (sobre a profissao; sobre instrumentos de trabalho, como idiomas e programas de computa- dor; e também sobre a érea em que atuam); sistemas de avallagio e crtica exteros & redagio. Devem dispor ainda de consultores para © planejamento de decis6es empresariais, AREPORTAGEM 45. 7. PROCEDIMENTOS PARA A ORGANIZAGAO DAS PAUTAS As fontes de informagdo com que se organizam as pautas so noti- cias publicadas em radio, jornal, televiséo e na Internet; press releases e informagées liberadas por fontes profissionais diversas, como assessorias de imprensa; dados que chegam ao conheci- mento dos repérteres em seu trabalho rotineiro; matérias reali- zadas em outras pragas e que podem ser adaptadas para a érea de cobertura do veiculo (a medigio de niveis de ruido em esqui- nas movimentadas de uma cidade pode ser repetida em outra: 0 uso de um novo tipo de lente pode renovar imagens de cartéo- postal etc.); cartas, telefonemas e e-mails de leitores ou de qual- quer outra origem. Muitas reportagens resultam da observagio de fatos que geral- mente passam despercebidos. E 0 caso de um stibito aumento do niimero de pedintes ou de camelés nas ruas, Outras decorrem de infer€ncias. Por exemplo, se determinado produto regional mantém prego alto e firme no mercado, isso deve gerar um surto de enri- quecimento, progresso e até mesmo alterar relacdes sociais; se a moda impde uma redugio acentuada no comprimento dos vestidos, & provdvel que a indistria de tecidos seja atingida; se uma persona- lidade conhecida sofre erfarte er uma academia de ginéstica, pode haver retragio na freqincia aos exercicios etc, Informagées, em suma, sdo matéria-prima abundante e a dificul- dade consiste em selecioné-tas, isto é, definir quais retinem as condi-

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