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Série Mitologia - Celtas

Fernando Martins – ofernando@globo.com


Terapeuta Holístico – CRT 37.039
http://fmth.webnode.com

DAGDA, LUG E OS OUTROS DEUSES

Entre os Tuatha Dé Dannan, encontramos representadas as principais divindades irlandesas


e, por extensão, as celtas. Os relatos de suas aventuras sustentam a tese de que no início
deveriam tratar-se de grandes heróis ou caudilhos que com o passar do tempo "melhoraram
de categoria", assimilando sua imagem à de seus colegas do continente. Das quatro grandes
festas celtas do ano — Samhain, Imbolc, Beltaine e Lughnasa —, esta última está
diretamente relacionada com um dos mais conhecidos entre estes deuses.
Mas vamos por partes. Para os celtas, o dia começava com a noite e terminava com o
nascer do sol — exatamente o contrário do que interpretamos nos dias de hoje — porque
assim o sol derrotava a escuridão e encerrava cada data reinando no céu. Seu calendário era
iniciado em 1º de novembro — Samhain — e para festejá-lo, os celtas reuniam-se em
grandes assembléias às quais compareciam todos: ricos e pobres, nobres e servos, reis e
druidas, homens, mulheres e crianças. Nessas datas comemorativas — e principalmente na
noite entre o último dia de outubro e o primeiro de novembro —, o véu que cobre o Outro
Mundo se rasgava e era muito perigoso aventurar-se fora da proteção da tribo. Esta festa
chegou aos dias de hoje transformada no Dia de Todos os Santos e no Dia de Finados.
Imbolc é a festa dedicada a Brighid (Santa Brígida), uma data de purificação.
Beltaine era festejada em 1º de maio para celebrar a chegada da primavera no hemisfério
norte e estava ligada ao deus Bel, ou Belenos, o "Brilhante". Fogueiras eram acesas para
comemorar a força da vida em eclosão após a superação de um rigoroso inverno. Perto
dessa data, os casais empregavam todas as suas energias para que a mulher ficasse grávida
para se somar ao carrossel da existência, assim como faziam muitas das espécies quando
chegava aquela época do ano.
A Igreja Católica nunca viu com bons olhos a desinibição no que diz respeito ao ato sexual
e condenou essa data e os festejos ligados a ela como se fosse algo diabólico, como uma
reunião de bruxas. A Igreja transformou a data na sinistra noite de Wal-purgis, na qual "as
esposas do demônio" assassinavam bebês inocentes para cozinhá-los e depois entregavam-
se a orgias e bacanais inenarráveis.
Por fim, Lughnasa era a festa celebrada em 1º de agosto. Era a comemoração da colheita,
celebrada por Lug, em quem os romanos quiseram reconhecer Mercúrio, apesar de ser
necessário levar em consideração que um estudo mais profundo do personagem o coloca a
meio caminho entre o mesmo Mercúrio e Apolo, pois se trata do deus do sol por excelência
entre os gaélicos.
Ele descende de uma linhagem mista — Tuatha e Fomore —, mas foi com sua
imprescindível ajuda que os primeiros conseguiram derrotar os segundos. Sua mãe é
Tailtiu, a própria Irlanda. Ele é o guerreiro mais completo de toda a ilha, pois sua
habilidade com as armas se une à maestria em diversas atividades, como ferreiro,
carpinteiro, poeta, historiador, estrategista militar, artista, druida, médico e metalúrgico,
entre outras. Da profundidade de seu culto, diversas cidades da Europa adotaram nomes
cuja origem significa cidade de Lug ou dedicada a Lug. É o caso de Lyon, Leyden e Lugo.
Série Mitologia - Celtas
Fernando Martins – ofernando@globo.com
Terapeuta Holístico – CRT 37.039
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De certa forma similar ao Júpiter romano, apesar de não se encontrar, como este, somente
na cúpula do Olimpo, ele é Eochaid U Oathair, mais conhecido pelo apelido de Dagda, "o
bom deus". Trata-se de uma divindade poderosa e um tanto bonachona representada
principalmente por um grande martelo — o que o tornou parecido com o gaulês Sucellos,
literalmente "aquele que golpeia duro" com seu martelo — e às vezes por uma lança
mágica de duas pontas: com uma matava e com a outra era capaz de ressuscitar os mortos.
Essa capacidade também foi atribuída a seu caldeirão mágico, no qual banhava durante a
noite os guerreiros mortos em batalhas durante o dia para que recuperassem a vida ao
amanhecer do dia seguinte. O mesmo caldeirão era fonte inesgotável de alimentos para suas
tropas.
Da união de Dagda com Boann, a mulher do deus das águas, Nechtan, nasceu Oengus,
ou Mac Og. Ele é o mais parecido com um deus do amor que podemos encontrar entre os
celtas. Mais tarde, sua mãe violou a proibição de visitar a fonte de Nechtan e, em
conseqüência disto, apareceu afogada. Og metamorfoseou-se com o objetivo de se
transformar no Boyne, o rio-modelo da mitologia irlandesa.
Nuada é o grande rei dos Tuatha e talvez seja um precedente mítico de Artur. É o melhor, o
mais valente e o mais justo. E o caudilho de seu povo, sempre em posição de liderança, cuja
espada é seguida pela dos demais. Mas ele perdeu sua mão direita durante um combate e,
para que pudesse continuar sendo o rei — ele precisava estar "inteiro" —, o médico
Dianchecht construiu para ele uma maravilhosa prótese de prata, o que rendeu a Nuada o
apelido de "Mão de Prata". Miach, filho de Dianchecht, mostrou que sua capacidade era
superior à de seu pai quando criou para Nuada uma nova mão de carne e sangue com a qual
o rei voltou a ficar "inteiro" de verdade. O maior êxito de Miach foi também responsável
por sua perdição. Seu pai não controlou o ciúme e a inveja e terminou matando o próprio
filho.
As armas mágicas dos deuses eram fabricadas à mão por Goibniu (Govannon), responsável
pelo ferro e o fogo, e Credne, o caldeireiro que fazia trabalhos em bronze. A única forma de
escrita conhecida entre os celtas era o alfabeto Ogam, inventado por Ogma, parente do
gaulês Ogmios, que provavelmente teria como obrigação ajudar as almas a chegar ao Outro
Mundo.
Manannan Mac Lir é o deus do mar — como seu pai Lir — e, como tal, é capaz de
caminhar sobre as águas.

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