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Taubaté
2017
UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ
Taubaté
2017
TULIO DA COSTA MOREIRA
Data: _____________________
Resultado:_________________
BANCA EXAMINADORA
Assinatura_________________________
Assinatura__________________________
Assinatura________________________
Ao Deus Triúno; Criador, Redentor e Sustentador.
A minha família, de modo especial minha irmã, Melissa, e meus pais, Anderson e
Renata, por todo o suporte ao longo dos meus estudos, e também por todas as
vezes que me chamaram a atenção, perguntando se eu já tinha terminado meu
TCC.
A todos os meus amigos, de modo especial minha amada amiga Sarah Eliude, que
me auxiliou em minhas pesquisas e na organização deste trabalho, sem a qual não
o teria concluído, e meus grandes amigos e companheiros de estudos ao longo
desses três anos, Sidneife, David, Jonathan e Lincon. Obrigado por todas as
risadas, conversas, trabalhos em grupo e desesperos em dia de prova!
Aos meus professores do curso de História, de modo especial a Prof. Dra. Suzana
Ribeiro, minha orientadora, que me incentivou ao longo dessa pesquisa e de outras,
como o meu primeiro trabalho acadêmico, que tratava de Dietrich Bonhoeffer e a
Resistência da Igreja Confessante na Alemanha Nazista. Sou profundamente grato
por isso.
Também deixo meu agradecimento à Prof. Dra. Maria Fátima de Melo, por despertar
meu interesse em História da África e principalmente na História da América Latina,
e também ao Prof. Ms. Armindo Boll, que, me mostrou sobre a importância da
Cultura Popular no estudo da História, além de terem aceitado participar da banca
de avaliação deste trabalho, bem como pelo aprendizado que proporcionaram ao
longo desse curso.
Anualmente, judeus de todo o mundo comemoram o Tish‟a Be Av, data que marca a
destruição do Templo de Jerusalém, arrasado pelo Império Romano no ano 70 d.C.
Tal fato representou a vitória romana na Primeira Guerra Judaico-Romana, na qual
os diversos grupos sócio-políticos judaicos de toda a província da Judéia se
revoltaram contra os romanos, buscando independência e autonomia política.
Contudo, as revoltas judaicas contra Roma prosseguiram, encontrando seu ápice no
século II d.C, com a Revolta de Bar Cochba, a qual possuía contornos messiânicos.
A derrota judaica levou à transformação da Judéia em uma colônia romana,
eliminando os elementos culturais judaicos da região, bem como provocando um
grande êxodo dos judeus que ali habitavam, e consequentemente desarticulando o
etos judaico daquele período, gerando um contexto de reformulação cultural, social e
religiosa do povo judeu. O objetivo do trabalho é analisar o contexto das Guerras
Judaico-Romanas, os diversos grupos envolvidos e como se relacionaram com o
conflito. Além disso, será analisado o impacto desse processo histórico no
desenvolvimento e reforma do Judaísmo, bem como a separação entre esta fé e o
Cristianismo, a qual cimentou seu caráter universalista, tornando-se independente
das instituições judaicas, onde se originou. A metodologia adotada consistiu na
realização de análises documentais, primeiramente do relato de Flávio Josefo,
historiador judeu e testemunha ocular da guerra, seguida da análise iconográfica do
Arco de Tito, em Roma, construído em memória do Imperador Tito, o qual foi o
responsável pela vitória romana e destruição de Jerusalém. Por meio da pesquisa e
análise, foi possível percebermos o desenvolvimento das crenças e grupos sociais
judaicos, bem como tais ideias e contextos influenciaram na guerra contra Roma,
além da forma como a ideologia Imperial encarou o evento e percebendo o próprio
desenvolvimento religioso consequente.
Every year, Jews from the whole world commemorate the Tish‟a Be Av, date that
marks the destruction of the Jerusalem Temple, wrecked by the Roman Empire in the
year of 70 A.D. This fact represented the roman victory on the First Jewish-Roman
War, where the various socio-political Jewish groups of the province of Judea
rebelled against the romans, looking for independence and political autonomy.
However, the Jewish revolts against Rome continued, with its peak in the Second
Century A.D, in the Bar Kokhba revolt, that possessed messianic features. The
Jewish defeat led to the transformation of Judea in a Roman colony, eliminating the
Jewish cultural elements from the region, as well causing a great exodus of the Jews
who inhabited there, disarticulating the Jewish ethos of that time period, allowing a
context of cultural, social and religious reformulation. The objective of this research is
to analyze the context of the Jewish-Roman Wars, with the various groups involved
and how each related to the conflict. Beyond analyzing the impact of this historical
process in the development and reformation of Judaism, there is the separation
between this faith and Christianity, the cemented its universalistic character and
independence os the Jewish institutions, where it originated. The adopted
methodology is that of documental analysis, first Flavius Josephus‟ account, who is a
Jewish historian and ocular testimony of the war, followed by an iconographic
analyses of the Arc of Titus, in Rome, made in memory of the Emperor Titus, who
was responsible for the Roman victory and destruction of Jerusalem. By this research
and analysis, was possible for us to understand the development of the Jewish
beliefs and social groups, how this ideas and contexts influenced in the war against
Rome, also noticing the Imperial ideology represented the event and the consequent
religious development.
INTRODUÇÃO...........................................................................................................12
4.2 O CRISTIANISMO................................................................................................62
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................74
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................76
LISTA DE IMAGENS
INTRODUÇÃO
Para alcançar esse objetivo, dois tipos distintos de análises documentais foram
realizadas. Em um primeiro momento foram selecionados textos do historiador
Judeu Flávio Josefo, o qual foi testemunha ocular dos eventos da Primeira Guerra
Judaico-Romana, para que por meio da análise proposta fosse possível trabalhar-se
a apresentação, contextualização, interpretação e análise dos documentos escritos
resultantes das narrativas deste indivíduo histórico.
CAPÍTULO I
E completa:
Isto porque:
Faz-se necessário então responder quem foi Flávio Josefo, seu contexto
e obra, para então nos debruçarmos sobre seus escritos para que, por meio de uma
análise crítica dos documentos, possamos compreender o contexto histórico
abordado. Posto que, a relação com o vivido estabelecida pela memória é fixada
pela história:
tendenciosos, como Johnson afirma, porém Josefo “começou sua carreira como um
apologista dos romanos e terminou-a próxima de ser um nacionalista judeu.”
(JOHSNON, 1996, p.147).
LIVRO SEXTO:
500. Assim terminou Jerusalém, no dia oito de setembro, no segundo ano do reinado de
Vespasiano. Ela tinha sido antes tomada cinco vezes, por Azoqueu, rei do Egito, Antioco
21
Epifânio, rei da Síria, Pompeu, Herodes, com Sósio, e Nabucodonosor, que a destruiu,
mil quatrocentos e sessenta e oito anos e seis meses depois da sua fundação.
Depois que Davi, rei dos judeus, expulsou os cananeus, lá instalou os da sua nação e
quatrocentos e setenta e sete anos e seis meses depois, ela foi destruída pelos
babilônios. Mil cento e setenta e nove anos passaram-se, desde o tempo em que Davi
reinou até quando Tito a tomou e destruiu, dois mil cento e setenta e sete anos depois
da sua fundação. Assim vemos que nem a sua antigüidade, nem as suas riquezas, nem
a fama difundida por todas as partes da terra, nem a glória que a santidade da religião
1
lhe havia conquistado puderam impedir-lhe a ruína e a destruição.
1
JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. Tradução de Vicente Pedroso. 8ª Ed. Rio de Janeiro: CPAD,
2008. p. 1384.
22
2
A tradição deuteronômica se refere, nos estudos bíblicos, aos livros bíblicos subsequentes à Torá, os quais
desenvolvem sua teologia baseados no livro de Deuteronômio, sendo eles Josué, Juízes, os Livros de Samuel e
dos Reis.
23
Salomão cercou seu reino com todas as marcas externas de uma grande
potência: construiu grande número de palácios luxuosos para os quais teve
de importar trabalhadores especializados e matérias-primas. Coroou suas
atividades de construção com um suntuoso Templo, erigido no monte Mória,
que adornou com esculturas e obras de arte. (EBAN, 1982, p.36).
24
LIVRO SEXTO
470. Embora não se possa saber, sem pesar, da destruição do edifício mais esplêndido
que jamais existiu em todo o mundo, quer pela sua estrutura, sua magnificência e suas
riquezas, quer pela sua santidade, que era como o cúmulo de sua glória, há, entretanto,
motivo de nos consolarmos, se considerarmos a necessidade inevitável do fim, que
depois de um certo número de anos sobrevém à vida de todos os animais; assim, não há
nada sob o sol cuja duração seja perpétua. Não poderíamos, porém, não nos
admirarmos bastante, de que a destruição desse incomparável Templo, tenha acontecido
no mesmo mês e no mesmo dia em que os babilônios outrora o haviam também
incendiado. Esse segundo incêndio aconteceu no segundo ano do reinado de
Vespasiano, mil cento e trinta anos, sete meses e quinze dias depois que o rei Salomão
o havia construído pela primeira vez; seiscentos e trinta e nove anos, quarenta e cinco
3
dias depois que Ageu o tinha feito restaurar, no segundo ano do reinado de Ciro.
3
JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. Tradução de Vicente Pedroso. 8ª Ed. Rio de Janeiro: CPAD,
2008. p. 1366.
25
O Exílio pode ser considerado tanto como o ponto final para a Monarquia
Judaica, quando de uma identidade fortemente tribal. Foi o momento em que a
identidade e o significado do que significa ser judeu passou a encontrar um
fundamento em algo mais abstrato do que concreto. Não se tratava mais, num
primeiro momento, de uma estrutura política e uma terra, mas sim na crença em
uma promessa.
Foi por meio do exílio que a religião judaica firmou, de uma vez por todas,
seu compromisso monoteísta, bem como sua identidade como povo e nação, em
Aliança com seu Deus. E isso deveria ser transmitido de geração em geração. “O
cativeiro que sofreram na Babilônia despertou nos hebreus um sentimento mais vivo
de sua nacionalidade que procuraram conservar mediante a educação.” (LARROYO,
1970, p. 87).
O Templo que foi destruído pelos romanos era fruto das grandes reformas
realizadas por Herodes, o qual transformou o Templo em uma grande obra
arquitetônica, buscando afirmar poder e autoridade em relação à população judaica.
Ainda sim, como veremos, a relevância da Sinagoga representava um núcleo de
poder paralelo.
4
Texto original: “That the temple was the „house‟ of God or the „gate‟ of heaven, that the cherubim
were the throne and that the ark was the footstool of God, and that Jerusalem was the dwelling place
of God and the navel of the earth – these claims are advanced by numerous biblical passages,
especially in the book of Psalms, on behalf of the Jerusalem temple”
27
Além disso, “ao descrever esta espiral de violência, Flávio Josefo vai
construindo uma situação tal que faz dos romanos a única salvação para os judeus”
(ROCHA, 2004, p. 250). Tal abordagem só será completa ao direcionarmos nossa
atenção ao próximo excerto documental.
LIVRO SEXTO
soldados pisavam-nos, para poder continuar a perseguir os que ainda tentavam fugir.
Por fim os revoltosos organizaram tão violento ataque que repeliram os romanos,
5
chegaram ao Templo exterior e de lá retiraram-se para a cidade.
(...) contra a revolta, e chega a considerar a guerra dos judeus uma luta não
apenas contra os romanos, mas também contra Deus (GJ 5,378-390); ele
lembra aos judeus que seus antepassados foram protegidos de seus
inimigos inúmeras vezes sem ter que pegar em armas. Refere-se
especialmente ao Êxodo do Egito e à libertação do jugo babilônico por obra
de Ciro. A invasão dos romanos deve-se, no entanto, segundo Flávio
Josefo, aos pecados do povo judeu (GJ 5,394-395). (ROCHA, 2004, p.246).
5
JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. Tradução de Vicente Pedroso. 8ª Ed. Rio de Janeiro: CPAD,
2008. p. 1366-1367.
29
CAPÍTULO 2
O Arco de Tito, por sua vez, possui um contexto particular. Foi construído
pelo Imperador Romano Domiciano em homenagem ao seu pai, o Imperador
Vespasiano, e seu irmão, o Imperador Tito, pelas vitórias na Primeira Guerra
Judaico-Romana.
“„O mais afortunado dos soberanos‟ pelas suas virtudes. Nunca assinou
uma única condenação à morte. Ao tomar conhecimento de uma
conspiração, repreendeu os conjurados e enviou uma mensagem
tranquilizadora às mães. Quando Pompéia foi soterrada pelo Vesúvio em 79
e uma terrível epidemia atinge a Itália, esgota o Tesouro e da pessoalmente
assistência aos doentes, motivo este causador da sua própria morte
(MONTARELLI,1997, p. 237).
32
A Judéia estava sob o domínio Romano desde o ano 63, quando o General
Pompeu, após conquistas a Síria e torná-la província romana, interveio em uma
disputa dinástica e instaurou o poder romano na região. Naquele contexto, a dinastia
Hasmoneia governava a Judéia, a qual havia conquistado o domínio político da
região após a Revolta dos Macabeus.
O reino Hasmoneu foi fundado por Simão, último dos filhos de Matatias, um
pouco mais de duas décadas após seu irmão Judas Macabeu vencer os Selêucidas.
Porém, com a morte de Simão, o helenismo seria integrado e propagado pelos
líderes Hasmoneus. Com Alexandre Janeu (103-76 a.C), neto de Simão, a dinastia
hasmoneia apoiava judeus helênicos e chegou a perseguir os fariseus.
“Herodes fora conhecido como um dos vassalos mais ricos de Roma. Mas o
próprio esplendor do seu reinado levou o povo da Palestina à ruína. Ele taxara
pesadamente os pobres, e expropriara os ricos (...)” (EBAN, 1982, p. 84).
Com sua morte em 4 a.C., seu reino foi dividido entre seus três filhos, que se
tornaram tetrarcas. Uma dessas tetrarquias era a Judeia. Seu filho Arquelau foi
removido do poder pelo Imperador Augusto em 6 d.C, por apelo popular. Herodes
Antipas governou a Galileia e a Peréia até 39 d.C, sendo removido por Calígula,
enquanto Filipe governou a parte noroeste.
“Cada procurador tentou extorquir seu saque num período mais curto de
administração” (EBAN, 1982, p. 86), devido ao fato do Imperador mudar
constantemente o cargo buscando evitar exatamente esta cobiça.
36
É digno de nota que “(a) maior parte dos que se opunham a Roma pertencia
sempre à classe rural” (ROCHA, 2004, p.246), e que
Porém, Josefo mantém uma visão negativa em relação aos opositores mais
radicais de Roma e seus ataques ao longo da Judéia.
O que Flávio Josefo faz para justificar suas críticas aos rebeldes é
demonizá-los. Ele assim o faz identificando suas ações “violentas” como
desrespeito às leis religiosas; colocando-os em choque com os valores
judaicos, ele nega destacadamente aos líderes da revolta a nacionalidade
judaica, tornando- os inaptos para representar o sentimento nacional diante
dos romanos, e logicamente, perante as lideranças locais. Mas o que Flávio
Josefo não revela é que a maioria da população – empobrecida – quer a
eliminação da velha estrutura de Estado encabeçada pelo Sinédrio –
composto pelos sumos sacerdotes e grandes proprietários, juntamente com
o nepotismo e enriquecimento à custa do povo – agora fortalecida pela
aliança com os romanos. (ROCHA, 2004, p. 248).
Contudo, isso não exclui o conflito de interesses e a busca por poder presente nos
próprios movimentos de guerrilha, seja os Zelotes, Sicários e suas diversas divisões,
como veremos a seguir.
Flávio Josefo utiliza o termo lêistês para se referir aos membros desse
grupo, com o significado ora de “bandidos”, ora de revolucionários, devido à
violência de sua ação no confronto dos romanos e de seus colaboradores
judeus. Outros grupos que tinham precedido os sicários em ataques contra
os romanos também são chamados de “bandidos” (lêistai) por Flávio Josefo
(2,254). (ROCHA, 2004, p.249).
Para a lei, quem quer que pertença a um grupo de homens que atacam e
roubam com violência é um bandido, desde aqueles que se apoderam de
dinheiro destinado a pagamento de empregados, numa esquina de cidade,
até rebeldes ou guerrilheiros organizados que não sejam oficialmente
reconhecidos como tal (HOBSBAWN, 2010, p. 35).
E também afirma:
Serão esses grupos que irão assumir a liderança do movimento de revolta a partir do
momento em que o conflito se intensificar contra Roma, dominando a cidade de
Jerusalém.
O governador da Síria, Céstio Gallo, uniu a Legião XII Fulminata, com outros
reforços, para sufocar os pontos de rebelião, reconquistando partes o território,
como o Vale de Jezreel. A ofensiva, porém, não conseguiu penetrar no Monte do
Templo após uma decisiva vitória judaica em Bete-Horon, encorajando a população
da Judéia a aderir à revolta, se tornando uma das piores derrotas romanas
registradas.
Os fariseus, por sua vez, “estava muito mais preocupada com a religião do
que com problemas políticos” (EBAN, 1982, p. 88). Apesar das diferenças entre os
interesses de cada grupo, “a guerra prosseguiu intermitentemente por sete anos,
sustentada pela devoção dos líderes e o sacrifício de seus seguidores” (EBAN,
1982, p. 88).
Foi nesse contexto em que um conflito interno tomou conta dos diversos
grupos revoltosos de Jerusalém, entre os movimentos representados por Anannus
ben Anannus, contra os Zelotes. Os Zelotes que haviam vindo da Galiléia haviam se
instalado no Templo e o utilizavam como sua base, tomando o controle de diversas
partes da cidade. As animosidades entre os Zelotes e os outros grupos levaram a
desordem na cidade, e os Zelotes compartilharam uma mensagem falsa aos
Idumeus de que Anannus e seus homens estariam se comunicando com Roma. Os
Idumeus se aliaram às forças dos Zelotes, e os líderes de Jerusalém foram
executados pelos Zelotes, e o controle da cidade ficou em suas mãos até o ano 70.
6
Josefo informa aproximadamente 100.000 Judeus mortos ou escravizados
41
Nesse contexto, a inimizade entre João Giscala e Simão Bar Giora foi deixada
em segundo plano, para combater o Cerco. Como tentativa de recrutar mais
combatentes, os Zelotes queimaram os suprimentos da cidade dos suprimentos da
cidade, armazenados pelos líderes saduceus e fariseus, levando a um grande
número de pessoas aderindo à luta. Apesar disso, a falta de suprimentos levou
muitos à fome e desnutrição, enfraquecendo as forças do exército rebelde.
levando a batalha para as ruas, até conquistarem a Fortaleza Antônia, que era um
ponto estratégico para atacar o Templo.
CAPÍTULO III
Além disso, se torna evidente o uso deste projeto arquitetônico como uma
forma de propaganda imperial, sendo que “numa primeira fase, a ornamentação
esculpida em relevo podia existir ou não; mas na época imperial, quando se tornou
em um claro programa propagandístico” (TARELLA, 1985, p. 17).
É nessa perspectiva que Carvalho se localiza quando afirma que “estes arcos
triunfais considerados como os mais ilustres refletem um significado ideológico da
arquitetura romana revestida de grande simbolismo” (CARVALHO, 2009, p.5).
Portanto, descreve os arcos e sua função da seguinte forma:
7
(Fonte: Web Gallery of Art)
7
Disponível em: <https://www.wga.hu/frames-e.html?/html/p/pannini/ideal_la.html> Acesso em Nov.
2017.
47
8
(Fonte: Royal Collection Trust)
8
Disponível em: < https://www.royalcollection.org.uk/collection/401002/the-arch-of-titus> Acesso em
Nov. 2017.
48
Imagem 3: PIRANESI, Giovanni Batista. Veduta dell'Arco di Tito (Vista do Arco de Tito).
9
(Fonte: The Metropolitan Museum of Art)
9
Disponível em: <https://www.metmuseum.org/art/collection/search/363083> Acesso em Nov. 2017.
49
10
(Fonte: Galeria Nacional da Dinamarca)
11
(Fonte: A. D. White Architectural Photographs, Cornell University Library)
10
Disponível em <http://www.smk.dk/udforsk-kunsten/soeg-i-smk/#/detail/KMS3679> Acesso em Nov.
2017
50
12
(Fonte: Wikimedia Commons)
Inscrições:
11
Disponível em < https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Rome._Arch_of_Titus_(3611957674).jpg>
Acesso em Nov. 2017
12
Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Arc_de_titus_frontal.jpg> Acesso em Nov.
2017.
51
13
(Fonte: Ancient History Encyclopedia)
SENATUS
VESPASIANO AUGUSTO
13
Disponível em: Acesso: <https://www.ancient.eu/image/1289/> Acesso em Nov. 2017.
52
Além disso, a atribuição de “Divo” já indica que o próprio Tito já estaria morto,
sendo que os Imperadores, desde Otávio Augusto, ganhavam contornos a
atribuições divinas após sua morte, reforçando a ideia de divinização e culto ao
Imperador. Esse fator também será visto posteriormente neste capítulo analisarmos
a Apoteose do monumento.
Há também outra inscrição, a qual foi adicionada após as reformas pelo Papa
Pio VII em 1821:
VETVSTATE FATISCENS
PIVS SEPTIMVS PONTIFEX MAX(IMVS)
NOVIS OPERIBVS PRISCVM EXEMPLAR IMITANTIBVS
FVLCIRI SERVARIQVE IVSSIT
Pio Sétimo, Supremo Pontífice, por novos trabalhos no modelo do exemplar antigo,
ordenou-o reforçado e preservado, no ano 24ª de seu governo sagrado.
53
14
(Fonte: Ancient History Encyclopedia)
Os Relevos:
Segundo Flávio Josefo (L. VII, 120, p.22) a procissão da vitória foi assistida
por quase todos os habitantes da cidade. Vespasiano e Tito saíram às
portas do Palatino coroados com laurel e vestidos com o tradicional traje
“púrpura” e se dirigiram aos Pórticos de Otávio. Foram recebidos pelo
Senado e em seguida o exército o aclamou. De acordo com o historiador o
cortejo triunfal é indescritível pela sua magnificência e demonstração da
grandeza do império (prata, ouro, marfim, tecidos bordados com técnicas
babilônicas com representações figurativas de grande realismo).
(CARVALHO, 2009, p.11).
14
Disponível em <https://www.ancient.eu/image/1284/> Acesso em Nov. 2017.
54
15
(Fonte: Wikimedia Commons)
15
Disponível em:
<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Arc_Titus_Forum_romanum_Rome_Italy.jpg> Acesso em
Nov. 2017
55
16
(Fonte: Wikimedia Commons)
16
Disponível em:
<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Arch_Titus,_relief_triumph,_Forum_Romanum,_Rome,_Italy
.jpg> Acesso Nov. 2017
56
Apoteose:
17
(Fonte: Ancient History Encyclopedia)
18
(Fonte: Wikimedia Commons)
Além disso, o Arco ainda possui outros detalhes, os quais veremos a seguir:
17
Disponível em <https://www.ancient.eu/image/1285/> Acesso em Nov. 2017.
18
Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Arc_titus_relief_voute.jpg> Acesso em Nov. 2017.
58
19
(Fonte: Wikimedia Commons)
20
(Fonte: Ancient History Encyclopedia)
19
Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Arc_titus_frise_face_est.jpg> Acesso em Nov.
2017.
20
Disponível em <https://www.ancient.eu/image/1285/> Acesso em Nov. 2017.
59
CAPÍTULO IV
Essas mudanças alcançaram seu ápice por meio da Revolta de Bar Cochba,
com um massacre da população judaica e a reorganização do território como colônia
romana, com o desterro dos Judeus.
21
Texto original: “The failure of the Jewish revolt against Rome (66–73/4 CE) brought about a
comprehensive transformation of life in Palestine: the old political system was replaced by direct
Roman rule, the Roman army became a permanente presence, the size of the population and the ratio
of Jews to pagans changed. And these changes necessarily caused further changes in social,
economic, and religious life (...).”(SCHWARTZ, 2006, p. 23)
61
Porém, Beek afirma que o “golpe da destruição do templo foi suavizado pela
existência da sinagoga que, pela concentração das Sagradas Escrituras e sua
interpretação, moldou o judaísmo em nova forma, tanto na Palestina como na
Diáspora” (1982, p. 181).
Um fato curioso e importante é que “Tito permitiu que o Rabino Joanã bem
Zacai, que fugira de Jerusalém antes do cerco, fundasse uma escola de estudos da
Torá em Jâmnia (ou Yabne), ao sul de Jafa” (BEEK, 1982, p. 181).
religiosas ou culturais judaicas, sendo que a maioria dos sobreviventes fugiu para a
Galiléia.
Foi com Antonino Pio (138-161), sucessor de Adriano no Império, que as leis
anti-judaicas foram revogadas. A nova situação judaica gerou mudanças marcantes
para o povo judeu naquele período. Porém, tais mudanças não se restringiram
apenas ao contexto imediato palestino dos séculos I e II d.C., pelo contrário, os
impactos dos conflitos entre o Império Romano e os judeus alcançariam todas as
estruturas políticas e religiosas do Ocidente por meio da reestruturação da
identidade e religião Judaica, além da consolidação do Cristianismo, que se tornaria
crença hegemônica no Império e no Ocidente, das quais ambas se mantêm até os
tempos atuais.
4.2 O CRISTIANISMO
O Senhor havia vindo não para destruir, mas para cumprir; e a missão dos
Cristãos era trazer seus compatriotas Judeus a reconhecer como Ungido,
ou „Messias‟, de Deus aquele a quem, em ignorância, as autoridades
22
Texto Original: “The first Christians were Jews. They differed from their fellow-countrymen by their
faith that in Jesus of Nazareth the Messiah of the nation‟s expectation had now come. They took it for
granted that his coming, being a fulfilmente, must be continuous with the past revelation of God to his
people and could not mean a break either with the old covenant made with Abraham, symbolized by
circuncision, or with the Law given to Moses on Mount Sinai. If something new had happened, it was
the action of one and the same God, Creator of the world, Lord of history, the Godo f Abraham, Isaac
and Jacob, and the twelve patriarchs. His new word to his people must be consistente with that
spoken in the past by the prophepts.”
64
Por ressucitá-lo da morte, Deus havia vindicado ele como „Senhor e Cristo‟,
o Messias esperado. Para a objeção de que os profetas haviam esperado
um Messias que viria em glória e poder, não na fraqueza da crucificação, a
resposta era que os sofrimentos de Jesus, assim como aqueles do Servo
Sofredor da profecia de Isaías, eram redentivos. Sua morte inaugurou uma
„nova aliança‟ entre Deus e seu povo, de acordo com a esperança de
24
Jeremias (xxxi, 31-34). (CHADWICK, 1967, p. 13).
23
Texto Original: The Lord had come not to destroy but to fulfil; and the mission of the Christians was
to bring their fellow-Jews to acknowledge as God's anointed o r ' Messiah' him whom in ignorance the
authorities had brought to a shameful judicial murder under Pilate the Roman governor.
24
Texto Original: By raising him from the dead, God had vindicated him as 'Lord and Christ', the
Messiah of expectation. To. the objection that the prophets had expected the Messiah to come in glory
and power, not in the weakness of crucifixion, the reply was that Jesus' sufferings, like those of the
Suffering Servant in Isaiah's prophecy, were redemptive. His death inaugurated a 'new covenant'
between God and his people, in accordance with the hope of Jeremiah (xxxi, 31-34).
65
25
Texto Original: “Round many synagogues of the Dispersion there gathered a penumbra of devout
Gentiles commonly called „God-Fearers‟ (the term applied to any good synagogue member). A Gentile
might undergo circumsicion and, more commonly, the baptism required of would-be proselytes, but
this was rare and the hellenized Jews of the Dispersion, to the regret of the stricter Palestinian
authorities, were normally content to welcome Gentile adherents without insisting on circumsicion as
generally necessary to salvation. Among these Gentile groups the Christian missionaries found their
first converts outside the number of the circuncised.”
66
É curioso notar que a literatura cristã não faz praticamente nenhuma menção
à destruição de Jerusalém, exceto em Jerônimo, no quinto século, comentando
sobre as peregrinações ao Muro das Lamentações.
26
Os Evangelhos Sinópticos consistem nos três primeiros Evangelhos Canônicos; Mateus, Marcos e
Lucas, os quais partilham de uma perspectiva similar e provavelmente utilizaram fontes comuns,
como sugerem muitos eruditos atuais.
27
O texto referido se encontra nos Evangelhos de Mateus, cap. 24; Marcos, cap. 13; Lucas, cap. 21.
67
Os inícios da sinagoga devem ser vistos nas reuniões do povo nos pátios
do Templo nos dias de Esdras e Neemias, onde escutavam as palavras
da Torá como modo de culto ao Senhor e a partir disso a prática parece
ter-se espalhado para as cidades restantes da Palestina e tornou-se
depois difundida na Diáspora. Assim a sinagoga foi de fato, de fato, o
resultado do aprofundamento da experiência religiosa pública. Nos dias
posteriores à Segunda Reunião encontramos muitas sinagogas
construídas em Jerusalém e algumas até mesmo nos pátios do Templo.
(UNESCO, 1996, p. 172).
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Texto original: “Foreign domination and the poor economy of Palestine had led to a general
emigration of Jews all over the Mediterranean world, the „Dispersion‟, so that Jewish colonies could be
found almost anywhere from Cadiz to the Crimeia. At Rome in the first century A.D. they had eleven or
twelve synagogues. At Alexandria they formed a particular large proportion of the population; they
were always a factor in municipal politics, even though their social exclusiveness prevented them from
becoming a pressure-group for the acquisition of power. Everywhere they refused to be merged with
the Gentile inhabitants, but adhered to their own beliefs and practices, meeting each Saturday for
psalms, readings from their Scriptures, followed by an exegetical sermon, and prayers. (...) Though
dispersed far afield, they retained their sense of unity with the land of their fathers by frequent
pilmigrimage to the holy city of Zion and by sending anual contributions for the unkeep of the temple.”
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Texto original: “The synagogue has been and is one of the most important Jewish institutions, the
spiritual, cultural and religious centre of any Jewish community. It fulfilled a multitude of functions in
antiquity, of which the most important, besides those of prayer and worship, was the teaching of the
Law. It was where the Jews assembled to pray and to hear on the Sabbath the weekly reading and
interpretation of the Torah; it was where their children gathered to receive instruction from their
teachers; it was where they could get advice on everyday questions concerning the observance of the
commandments; it was where problems of the Halakah were discussed and resolved, and so on. In
addition to these religious functions, the synagogue also had an entirely secular role. (…) In other
words, the synagogue fulfilled the functions of a secular as well as a religious centre, and of a civil
administration.”
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Texto original: “It was the synagogue, not the temple, which ultimately became the home to both
statutory prayer and Torah study.”
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Texto original: “During the period of the second temple even the Jews of the Diaspora respected the
centrality of Jerusalem and its temple. They built synagogues but they streamed to the temple for the
pilgrimage festivals.”
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Hillel sustentava que “a Lei Escrita não representava o judaísmo em seu todo”
(EBAN, 1982, p. 85), além de ser famoso por “sua interpretação do “judaísmo em
poucas palavras”, que destilou numa só frase: Não faças aos outros o que não
quiseres que te façam” (EBAN, 1982, p. 85).
“A perda do Templo fora uma experiência traumática para o povo judeu (...).
Os rabinos introduziram o costume de assinalar todos os acontecimentos pela data
da destruição” (EBAN, 1982, p. 105). Fazia-se necessária uma unidade entre os
judeus, e isso materializou-se nas tentativas “reestabelecer controles espirituais
sobre os judeus da Diáspora” (EBAN, 1982, p. 105).
Uma das medidas mais interessante foi a abolição do uso do Aramaico nas
escolas superiores e sinagogas, como informa Eban (1982, p. 105), sendo que, nas
sinagogas, “igualmente, as orações permaneceram predominantemente hebraicas”
(EBAN, 1982, p. 105). Com isso, o Farisaísmo e suas estruturas de crença e
piedade pessoal assumiriam a hegemonia, se tornando o fundamento para o
Judaísmo Rabínico. É digna de nota a relação que o Judaísmo Rabínico já
desenvolvido faz com o passado farisaico, como aponta Schaper:
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Texto Original: “In rabbinic tradition, the Pharisaic sages are described as the successors of the
men of the „Great Synagogue‟ and, ultimately, of Moses: „Moses received the Law from Sinai and
committed it to Joshua, and Joshua to the elders, and the elders to the Prophets; and the Prophets
committed it to the men of the Great Synagogue. They said three things: be deliberate in judgement,
raise up many disciples, and make a fence around the Law.‟ Following this introduction, the Mishnah
commemorates famous sages, from Simeon the Just and Antigonus of Sokho down to Rabban
Simeon ben Gamaliel. Committed to writing well after CE 70, this short „history‟ of the Sages enabled
the rabbis to make sense of and systematize the development of Jewish religious teaching in the
aftermath of the catastrophe.”
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Texto Original: “The „rabbinization‟ of Jewish communities in Palestine, Babylonia, and elsewhere,
confirmed by the early Middle Ages, is difficult to trace because it occurred in obscurity, but in terms of
rabbinic literature it was quite a productive period between the last people whom the texts cite or
mention by name (some time after 350 CE in Palestinian texts; after 500 in Babylonian texts) and the
documents preserved in the Cairo Genizah (of which only relatively few are as early as the ninth
century).”
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Texto Original: “There is an uncharacteristic unanimity of opinion in rabbinic literature concerning
the existence and antiquity of the oral law. All hold that revelation at Sinai included a significant oral
teaching, which accompanied the written law. The extent of that oral revelation is, however, debated.”
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Toda uma família de palavras na base das quais está a raiz zekar (cf.
Zacarias em hebraico Zékar-Yãh: "Yahvéh recorda-se") faz do judeu um
homem de tradição que a memória e a promessa mútuas ligam ao seu Deus
[cf. Childs, 1962]. O povo hebreu é o povo da memória por excelência. (LE
GOFF, p. 444).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARR, E. H. Que é História. 8ª. Ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002
SCHWARTZ, S. Political, social, and economic life in the Land of Israel, 66–c.
235. In: KATZ, S. T. (org.). The Cambridge History of Judaism, Volume 4: The Late
Roman-Rabbinic Period. Cambridge, RU: Cambridge University Press; 2006.
YOUNG, F.; AYRES, L.; LOUTH, A. (Org.) The Cambridge History of Early
Christian Literature. Cambridge, Reino Unido: Cambridge University Press, 2004.