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1 Introdução
“A linguagem corporal fala mais alto do que qualquer palavra que você possa
pronunciar. Quer esteja a dizer às pessoas que as ama, que está zangado ou
que não se importa minimamente com elas, os movimentos do corpo revelam os
seus pensamentos, estados de espírito e atitudes. Consciente ou
inconscientemente, o seu corpo diz aos observadores o que realmente se passa
consigo” (p. 1) [1]).
Para se atingir tal objectivo, Stanchfield [12] menciona que o animador deverá ser como
uma esponja, observar e absorver tudo o que conseguir captar. Nesse sentido, Peace [13]
refere algumas soluções para quem necessita de investigar e observar o comportamento
humano não-verbal. Enumera os aeroportos que, por sua vez, são locais onde as pessoas
demonstram um vasto espectro de emoções e comportamentos, nomeadamente ânsia,
raiva, tristeza, felicidade, impaciência, entre outras, assim como observar televisão com o
áudio desligado, o que permite uma concentração total nos gestos e comportamentos.
Posto isto, e uma vez destacada a importância de toda a dinâmica da personagem para
uma correcta interpretação, por parte do receptor, serão tomadas com principal enfoque
as expressões corporais e sua categorização, no âmbito dos gestos não-verbais estudados
na cinésica (emblemáticos, reguladores, ilustrativos, adaptativos e emocionais), os quais
são examinados minuciosamente no artigo de Ferreira, Teixeira e Tavares [3].
2 Considerações Gerais
Lohmmet & Marsella [14] publicaram recentemente, no The Oxford Handbook of Affective
Computing, um artigo onde foi criado um ponto de situação sobre o estudo do
movimento corporal e o facto de existirem poucas referências que o relacione
directamente com uma determinada emoção. Começam por citar Gelger (cit. in [14]) que
conclui uma clara inclinação para as expressões faciais (95%) num universo de estudos
sobre comunicação não-verbal, ou seja, apenas 5% são direccionados a todas as outras
formas de expressão não-verbal. As autoras expõem algumas questões pertinentes, e
problemáticas, típicas de quem pretende iniciar um estudo sobre expressão corporal de
emoções:
Pergunta 4. Uma vez que existe o FACS (Facial Acting Code System), será que já existe
algum sistema semelhante para a expressão corporal?
Todas as questões anteriores expõem uma série de variáveis que merecem especial
atenção, por parte de quem efectua estudos sobre expressão corporal, e as mesmas serão
desdobradas em suma. A codificação atribuída pelo emissor, a uma determinada
expressão, poderá não coincidir com a descodificação do receptor, devido às mais
variadas interpretações possíveis considerando as normas sociais e culturais. Uma outra
agravante trata-se do facto de recorrerem a actores para estudos de expressões corporais
de emoção quando o principal exercício laboral diário é, precisamente, o estímulo de uma
correcta descodificação por parte dos espectadores, logo corre-se o risco de uma exibição
de gestos simulados e os resultados tornar-se-ão inconclusivos ou até mesmo irreais. As
diferentes combinações entre as propriedades do movimento, nos mais diversos graus de
manifestação e em várias escalas, podem prejudicar a identificação de uma determinada
emoção [14]. Por outro lado, considerando estudos com pessoas num ambiente
quotidiano, existe o problema das máscaras emocionais [11], ou seja, numa qualquer
interacção social, o ser humano poderá tentar esconder a sua verdadeira emoção e
expressar-se com gestos não coincidentes com a emoção do momento, o que resulta em
mais uma barreira.
Uma vez expostas algumas dificuldades no estudo de expressões corporais de emoção, e
como mencionado anteriormente, o presente artigo pretende ser um contributo que
resulta numa recolha de movimentos corporais que transmitem, indiciam ou estão de
alguma forma ligados a emoções específicas.
É, de todo, pertinente expor alguma da terminologia associada a este tipo de estudos.
Começando pela diferença entre movimento e gesto, McNeill (p. 4) (cit. in [14]) e Morris (p.
21) [15] referem que todos os gestos são movimentos, mas nem todos os movimentos
são gestos, ou seja, um gesto tem uma função comunicacional e só é identificado como
tal se se estiver na presença de uma outra pessoa, seja efectuado consciente ou
inconscientemente (seja sinal ou índice – vide (p. 1) [3]). Morris [15] propõe uma estrutura
de vários tipos de acções, com características particulares, e que em muito poderão
contribuir para organização de um estudo deste tipo. Refere as acções inatas
(movimentos realizados sem nenhuma experiencia prévia; nascemos com elas), acções
descobertas (movimentos que não são inatos mas que vamos adquirindo devido às
nossas características anatómicas: cruzar as pernas e braços, etc.), acções absorvidas
(movimentos copiados inconscientemente de pessoas que nos são próximas ou com
elevado estatuto), acções treinadas (conscientemente adquiridas através da prática e
análise de acções observadas ou ensinadas: estalar os dedos, assobiar, etc.) e acções
mistas (movimentos adquiridos por herança genética, descoberta pessoal, etc.).
Prosseguindo com as, já mencionadas, propriedades dos movimentos, existem alguns
códigos, sistemas ou estudos que propõem categorizações específicas com vocabulários
assentes numa concisa estrutura conceptual. O Sistema Stanislavski consta num estudo
pioneiro, realizado por Constantin Stanislavski (1863-1938), e propõe procedimentos
específicos para interpretação de personagens, no teatro. Os seus princípios são tomados
como referência até aos dias de hoje, inclusive no cinema. Michael Chekhov (1891-1955),
o melhor aluno de Stanislavski, adicionou uma abordagem psicológica à representação
instruída pelo seu mentor e adoptou técnicas como evocar memórias, momentos
passados, para estimular emoções reais nos actores. A pantomima é uma técnica que faz
uso apenas de linguagem corporal e facial e dispõe de listas de gestos universais que
permitem identificar emoções específicas. Existe também o Alba Emoting, estudo iniciado
por Susana Bloch, que foi desenvolvido para beneficiar a representação de actores,
partindo da respiração característica de cada estado emocional. A Bioenergética é uma
forma de terapia entre corpo e mente, desenvolvida pelo psicoterapeuta americano
Alexander Lowen, que envolve tensões musculares e tipos de personalidade que podem
ser reconhecidos pelas suas aparências externas. “Ajuda na criação de corpos físicos que
estão embutidos na experiência emocional e psicológica, adicionando realismo ou hiper-
realismo às personagens” (p. 119) (cit. in [22]). O Body Action and Posture Coding System
(BAP) consiste num estudo com um tipo de codificação específica para identificação de
emoções corporais, atentando vários níveis, nomeadamente anatómico, de forma e
funcional. O Laban Movement Analysis (LMA) “(…) providencia uma estrutura conceptual
através da qual conseguimos observar, descrever e interpretar a intencionalidade do
movimento” (p. 27) [17]. No LMA, corpo, esforço, forma, espaço e phrasing são as cinco
categorias do movimento, ou seja, factores que influenciam a interpretação do mesmo. A
categoria corpo determina aspectos estruturais do mesmo em movimento, ou seja, quais as
partes que estão em movimento ou paradas, a fluidez do movimento de uma posição
para outra, como acontece a articulação e a coordenação dos vários membros e ainda a
linha de acção. O esforço determina o tipo de transições entre o início e o fim de uma
acção, com base em quatro variáveis: Fluidez (libertação ou controlo de sentimentos),
peso (mobilização delicada ou ríspida), espaço (pensamento amplo ou focado) e tempo
(paciente ou emergente tomada de decisões). A forma identifica o processo de alteração
da mesma ao longo do tempo. O espaço determina o alcance dos gestos nas três
dimensões, cujo limite é identificado como cinesfera. O phrasing consiste na sequenciação
e estratificação dos componentes do movimento ao longo do tempo e é composto por
três fases, nomeadamente preparação, acção e recuperação [17] 1.
3 Expressão corporal
3.1 Surpresa
Cabeça e peito inclinados para trás, torção abdominal, braços levantados [14]. Mãos
acima da cabeça [16]. Eisner [20] revela algumas das poses corporais, as quais utiliza em
banda desenhada, que poderão induzir a emoção de surpresa (fig. 4).
1 Todas estas propriedades podem ser consultadas, com maior detalhe, no artigo de Leslie Bishko,
onde a mesma elabora um estudo sobre a ligação entre o LMA e os princípios da animação, assim
como a relação entre as referidas propriedades, uma clarificação sobre as subcategorias das
mesmas e ainda vantagens de aplicação do LMA na animação.
Fig. 4 – Surpresa [20]
3.2 Medo
Cabeça inclinada para trás, sem torção abdominal, ombros e braços levantados e
direccionados para a frente, ou braços esticados para os lados [14]. Braços e/ou pernas
cruzadas [19]. Mãos acima da cabeça e alguns gestos emblemáticos 2 [16]. Mãos podem
tremer e será altamente provável uma retirada repentina, perante a ameaça, ou uma
postura de retirada, perante uma eventual imobilização corporal, a inspiração e expiração
são efectuadas usualmente pela boca, o que causa uma sensação de aperto no peito, o
corpo está excessivamente tenso e todos os músculos estão rígidos [11, 22].
2 O autor utiliza a expressão italianate gestures que é um sinónimo de gestos emblemáticos, ou seja,
gestos que traduzem palavras ou ideias (McNeil cit. in [18]).
Uma vez mais, recorremos a exemplares de Will Eisner [20] para confirmar ou adicionar
sugestões de gestos corporais relacionados com medo. Na fig. 7 consta a emoção de
medo em si e, na fig. 8, Eisner exemplifica várias acções de retirada, as quais foram
inseridas devido à relação que Ekman faz entre o medo e este tipo de acção, embora
possa ocorrer com outro tipo de emoção.
Na fig. 7 são evidentes os gestos já mencionados por outros autores assim como uma
clara evidência de algumas poses de submissão. Morris [15] menciona que, numa situação
de submissão, a vítima contrai-se, iludindo um formato de corpo mais pequeno e frágil,
com os ombros direccionados para a frente, a face estremece, as mãos afastam-se e a voz
torna-se aguda podendo até emitir gemidos.
Morris (cit. in [13]) refere que o acto de inserir os dedos na boca (fig. 9), significa estar
sobre pressão, presumimos com algum nervosismo ou ansiedade os quais estão
directamente ligados ao medo. Segundo Faigin (cit. in [8]), a ansiedade trata-se de um
determinado grau de manifestação de medo, logo, decidimos analisar a imagem que o
mesmo disponibiliza. Neste caso, mantendo apenas a boca (fig. 10), percebemos que o
significado de medo, ansiedade, nervosismo, neste gesto corporal, está altamente
dependente da expressão facial, pois sem os restantes elementos faciais, o medo esfuma-
se e poder-se-á deduzir uma série de outros significados, incluindo uma mulher que olha
de forma sensual para outra pessoa, que está a posar para uma fotografia, que olha
atentamente um filme ou novela mas não implicando nervosismo, podendo transformar-
se num gesto adaptador de forma a pousar confortavelmente a cabeça sobre a mão, pode
ser apenas vício de roer as unhas, etc.
Fig. 9 – Dedos na boca [13] Fig. 10 – Dedos na boca (editada) Fig. 11 – Medo [21]
McCloud [21] apresenta uma situação de medo (fig. 11) numa postura de tronco
ligeiramente recuado, com gestos de braços e mãos geralmente utilizados para jurar, e
complementado com a expressão facial de medo.
De seguida apresentamos dois exemplos indiciadores de medo, ainda que,
aparentemente, numa intensidade reduzida. Nos homens, quando as mãos se juntam ao
centro do corpo, tapando os genitais, indicia uma maior segurança em caso de ameaça
(fig. 12). Nas mulheres (fig. 13) um braço atravessa o corpo para agarrar ou tocar no
outro braço formando uma barreira. Este gesto, segundo Peace & Peace [9], é geralmente
manifestado em situações onde a mulher se sente desconfortável ou com pouca
confiança, tais como encontros sociais aos quais ela é estranha e assemelha-se a um auto-
abraço. Enquanto crianças somos acariciados, abraçados e confortados pelos nossos pais
e, segundo Peace & Peace [9], à medida que crescemos essa atenção parental vai-se
esvanecendo e recorremos a gestos semelhantes numa tentativa de “auto-conforto”.
Deduzimos que este trata-se de um gesto intuitivo, o qual poderá indiciar medo, e com a
função de proteger zonas sensíveis, ou mais expostas, numa situação de ameaça, ou seja,
os seios no caso das mulheres e os genitais no caso do homem. No entanto, verificamos
que apenas o gesto da mulher (fig. 15) poderá, eventualmente, manter o seu significado
enquanto expressão corporal. No caso do homem (fig. 14) sem uma expressão facial
complementar, poderá indiciar uma simples pose estática de um qualquer segurança ou
policial na sua função laboral, ou alguém com uma vontade súbita de urinar.
Fig. 12 – Defesa [13] Fig. 13 – Defesa ([13]) Fig. 14 – Defesa (editada) Fig. 15 – Defesa (editada)
3.3 Raiva
Cabeça inclinada para trás, sem inclinação do peito para trás e torção abdominal, ombros
subidos, braços erguidos e direccionados para cima, para a frente ou para os lados, o
movimento do cotovelo poderá atingir a sua amplitude máxima e a uma velocidade
elevada [14]. Subida rápida das mãos e possível ocorrência de gestos emblemáticos [16].
Tensão muscular nos braços e pernas, postura rígida, eventual posição de ataque ou
retirada, corpo erecto e poderá existir um ligeiro impulso de avanço em direcção ao
infractor, a respiração é tensa e acelerada, por norma efectuada pelo nariz, e a inspiração
assim como a expiração têm sensivelmente o mesmo tempo de duração [11, 22]. Nos
exemplos seguintes (fig. 16 e fig. 17), de Eisner [20], são evidentes as mãos cerradas, a
angulatura do tronco, os braços tensos e a rotação da cabeça.
Fig. 16 – Raiva [20]
Peace [13] refere que o gesto exemplificado na (fig. 18) também poderá ocorrer numa
situação de raiva, adicionando um forte movimento de mão ascendente e descendente na
zona de trás do pescoço.
Fig. 18 – Mão no pescoço [13] Fig. 19 – Braços Cruzados [13] Fig. 20 – Braços Cruzados [13] Fig. 21 – Braços Cruzados [13]
Nas figuras 19, 20 e 21, segundo Peace [13], constam três exemplares indiciadores de
raiva, no acto de cruzar os braços. Na fig. 19 Peace descreve a existência de raiva na
ligeira inclinação ou deslocação descendente de quase todos os elementos faciais,
nomeadamente as sobrancelhas, a direcção do olhar, os cantos da boca, a rotação da
cabeça e ainda, segundo Peace & Peace [9], uma atitude defensiva no acto de cruzar os
braços. Mencionam que resulta numa posição de total desaprovação relativamente ao que
a mulher observa. Nas figuras 20 e 21 um ataque físico poderá estar iminente pois
revelam hostilidade e agressividade. No entanto iremos examinar sem o elemento face
para perceber qual consegue manter o seu significado apenas com expressão corporal.
Fig. 22 – Braços Cruzados (editada) Fig. 23 – Braços Cruzados (editada) Fig. 24 – Braços Cruzados (editada)
A única imagem eventualmente capaz de transparecer raiva é a fig. 23 devido aos punhos
cerrados e a consequente elevação dos cotovelos. Na fig. 22 poderemos deduzir a
existência de alguma raiva, na mulher, apenas pela ligeira inclinação da cabeça para baixo,
mas também poderá corresponder a aborrecimento ou apenas ligeiramente chateada. A
fig. 24 é algo alusiva ao gesto típico universal de “auto-conforto” ou aquecimento
quando se tem imenso frio, ou numa situação de medo ou nervosismo [9, 13], e poderá
ser a única, das três imagens, que revela insuficiência clara na indução de raiva sem a
expressão facial.
As figuras seguintes (25 e 26) determinam uma tentativa de autocontrolo numa possível
situação de raiva, embora na fig. 26 o homem estará mais próximo da partida para a
acção. No entanto, esta última expressão poderá ser igualmente entendida como
nervosismo elevado.
O gesto presente na fig. 27, segundo Peace [13], pode ser manifestado aquando na raiva.
Com um movimento certamente mais expressivo que o exemplo, este gesto terá o intuito
de fazer circular o ar, presumimos, interna e externamente, devido às propriedades
características da emoção de raiva [8].
Fig. 25 – Bloqueio de braço [13] Fig. 26 – Bloqueio de antebraço [13] Fig. 27 – Alargar a gola [13]
3.4 Nojo
Ombros direccionados para a frente e cabeça para baixo (fig. 28) [14]. Subida lenta da(s)
mão(s) (fig. 29) [16]. Quando algo desperta nojo, o intuito é escapar, evitar ou
eventualmente tapar os ouvidos para bloquear um qualquer som desagradável. Em casos
de nojo extremo poderão ocorrer suspiros secos e a respiração é bastante audível. Estes
dois últimos gestos têm efeito de contágio e indiciam a presença de algo repulsivo [24].
Fig. 28 – Nausea [21] Fig. 29 – Nojo [21]
3.5 Desprezo
Fig. 30 – Superioridade [13] Fig. 31 – Superioridade [13] Fig. 32 – Superioridade [21] Fig. 33 – Tédio [13]
Fig. 34 – Insulto [21]
3.6 Alegria
Cabeça inclinada para trás, o peito não é inclinado para a frente, braços erguidos acima
dos ombros, também estes subidos. Elevada actividade e velocidade do cotovelo, braços
esticados para cima e para a frente [14]. Bater palmas [16]. Morris [15] refere que as
posturas mais comuns num ato triunfante caracterizam-se por se elevar o peso do corpo
de alguma forma e vão desde saltar de alegria, uma dança animada, o agarrar da zona
superior da cabeça e o esticar dos braços acima da cabeça o máximo possível. Morris
exemplifica com o festejo de um golo, no futebol, onde são notórios os gestos referidos.
A inspiração é usualmente efectuada pelo nariz e a expiração pela boca. O corpo assume
uma postura aberta, relaxada e descontraída [22].
Eisner [20] (fig. 35) coincide nas posturas e movimentos enunciados pelos anteriores
autores.
3.7 Tristeza
Cabeça e peito inclinados para a frente, sem torção abdominal, braços neutros ao longo
do tronco, postura descaída/sem rigidez. Movimentos morosos, pouca amplitude e
pouca velocidade no movimento do cotovelo [14]. Mãos sobre a cabeça [16]. A
inspiração é feita através do nariz e a expiração pela boca. A expiração é relaxada mas
longa, quase até ao limite do oxigénio nos pulmões, já a inspiração consta numa série de
pequenas e rápidas inspirações pelo nariz. O corpo está relaxado, com o peito tombado e
inclinado em direcção ao chão [22].
Tomando como referência novamente o futebol, Morris [15] exemplifica, desta vez, com
os derrotados. As cabeças estão inclinadas para baixo e em muitos casos olham em
direcção ao relvado, as expressões faciais são frias e solenes. Complementa com as mãos
nas ancas mas, como já mencionado anteriormente, poderá indiciar raiva, misturando-se
assim tristeza com raiva no momento da derrota. McCloud [21] exemplifica com três
imagens de tristeza (fig. 36), incluindo um exemplar que contrasta a derrota com a vitória
no, já referido, evento desportivo.
Fig. 36 – Tristeza [21]
4 Conclusão
Os vários estudos e sistemas existentes, a respeito de expressão corporal, permitem
reunir alguma informação no sentido da relação entre expressão e emoção. No entanto,
tal como Lhommet & Marsella concluem, não há disponível, até ao momento, um
código de gestos para a expressão corporal com a exactidão do FACS, para a expressão
facial. O presente contributo, nesse sentido, permite concluir a elevada importância da
expressão corporal enquanto modalidade única e conjunta (uni e multimodal), e que
existem gestos com um significado evidente apenas com recurso à expressão corporal e
facial, enquanto outros podem ser considerados universais recorrendo apenas ao corpo.
Denota-se, no entanto, que os gestos universais corporais possuem, num maior número
de casos, um significado ilustrativo ou emblemático do que unicamente emocional, ou
seja, a percepção da existência de uma emoção específica é conseguida com recurso a um
qualquer gesto ilustrativo ou emblemático adicional, ou às próprias expressões faciais
(nos exemplos analisados). Este resultado permite presumir a dificuldade em identificar
uma expressão emocional corporal com uma combinação única de gestos, cada um deles
sem um outro qualquer tipo de significado, e que a emoção será eventualmente
percepcionada apenas perante um conjunto de vários tipos de gestos.
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